Esther ficou completamente paralisada, como se o chão tivesse sumido sob seus pés. Por um instante, acreditou que a enfermeira estivesse brincando com ela.Seu bebê não poderia simplesmente não estar ali.Ela tentou soltar um sorriso, mas tudo o que conseguiu foi uma expressão forçada e trêmula:— Senhorita, deve haver algum engano... Eu acabei de dar à luz. Se o meu bebê não está aqui, onde mais ele poderia estar?Mesmo que tentasse se manter racional, sua mente começou a levantar possibilidades preocupantes.— Talvez meu nome não tenha sido registrado corretamente... Mas o nome do pai, o nome do Marcelo, deve estar aí, certo? Por favor, confira novamente.Esther buscava desesperadamente uma explicação que fizesse sentido, se agarrando a qualquer vestígio de lógica. Porém, dentro dela, o pânico começava a se instaurar.A enfermeira acatou o pedido e voltou a verificar os registros. Após alguns minutos, respondeu com a mesma frieza de antes:— Não há nenhum registro, nem no nome dele.
Esther encarava Marcelo com olhos vermelhos de raiva e dor, as lágrimas escorrendo incessantemente pelo seu rosto. Sua voz saiu carregada de ódio e ressentimento:— Marcelo, até quando você vai mentir para mim? Por que você tem que mentir até sobre o nosso filho?Ele abaixou os olhos, respondeu num tom abafado:— Me desculpe.A palavra parecia ecoar vazia, sem nenhuma força para amenizar o que Esther sentia. Ela gritou, descontrolada:— Desculpa resolve alguma coisa? Desculpa traz o meu filho de volta? O que você fez? O que aconteceu com o meu bebê? Por que ele morreu? Marcelo, o que você fez com o nosso filho?!Os olhos de Marcelo estavam vermelhos, mas sua expressão permaneceu fria e tensa. Os lábios se mantiveram apertados, numa linha fina e rígida.— Ele nasceu morto.As palavras caíram como uma bomba. Esther ficou estática por alguns segundos, mas logo seus olhos se encheram de uma mistura de descrença e ódio.— Você está mentindo! — Ela gritou, antes de avançar sobre ele.Sem pen
Ela abraçava a caixa com uma força, chorando de maneira descontrolada. Suas lágrimas caíam em silêncio no início, mas logo deram lugar a soluços altos e angustiantes. Era uma dor que nunca havia sentido antes, algo que parecia arrancar sua alma de dentro para fora.Por mais que quisesse reagir, fazer algo para aliviar aquele sofrimento, ela sabia que era inútil. A sensação de impotência a esmagava. Tinha sido um sacrifício por outro, vida por vida. Então por que ainda estava viva? Por que ela estava ali, enquanto seu filho estava morto?A ideia era insuportável.Marcelo se aproximou dela. Seus olhos captaram imediatamente a cena devastadora à sua frente: Esther, destruída pela dor. A preocupação marcou o rosto dele, mas também havia um peso evidente. Ele sabia que a tragédia já estava consumada, que não havia como voltar atrás. — Esther, crianças ainda podem vir, mas você precisa se recompor. — Ele falou com uma firmeza contida, tentando abraçá-la.Mas Esther havia perdido qualquer tr
O rosto de Esther estava sujo, coberto de terra misturada com lágrimas. Era uma cena de pura desolação.No entanto, quando tentou se levantar, seu corpo não teve forças, e ela desmaiou ali mesmo.Marcelo a segurou antes que ela caísse completamente. Nos braços dele, Esther finalmente ficou em silêncio, embora as lágrimas ainda escorressem por suas bochechas.Marcelo, com o olhar profundo e sério, a observava atentamente. Com delicadeza, começou a limpar as lágrimas de seu rosto.— Capitão Marcelo.Ao redor, todos estavam presentes, atentos. Marcelo ajeitou Esther em seus braços, a segurando como se ela fosse feita de vidro.— Limpem tudo aqui.Rita, com a expressão tensa, hesitou antes de falar:— É isso? Só isso? Ela vai ficar devastada, você sabe disso.Marcelo respondeu com firmeza, mas sem elevar o tom:— Se não fosse assim, ela teria morrido. Se estiver viva, há esperança. Mesmo que este filho tenha partido, Esther precisa viver.Para Marcelo, a vida de Esther era mais importante
O olhar de Esther seguiu a direção do som.— Tem alguém chegando. — Rita se apressou para abrir a porta, e, ao fazer isso, revelou a figura de Gilberto entrando no quarto.Esther pensou que era Marcelo. Porém, quando seus olhos confirmaram que era apenas Gilberto, sua expressão mudou. Ela espiou discretamente pela porta aberta, mas não havia mais ninguém lá fora.Gilberto entrou segurando uma pasta de documentos. Sua expressão era séria e profissional, o que deixou Esther levemente desconfiada.— Senhora. — Ele inclinou a cabeça em um gesto de respeito, mas seu tom era contido, quase distante.Esther estreitou os olhos, o avaliando. Os pensamentos sombrios que vinham dominando sua mente nos últimos dias foram brevemente interrompidos pela curiosidade. Com a voz fria e carregada de impaciência, ela perguntou:— O que você quer aqui? Marcelo mandou você? O que ele quer agora?Havia uma irritação evidente em seu tom, como se ela já estivesse cansada de joguinhos e surpresas indesejadas. G
Gilberto não insistiu.— Então eu vou levar os documentos de volta. Mas a senhora precisa saber que, independentemente de assiná-los ou não, a transferência já foi legalmente concluída.Esther franziu ainda mais o cenho, a tensão evidente em cada linha de seu rosto. — Onde está Marcelo? — Ela perguntou novamente. — Por que ele não veio pessoalmente resolver isso? Por que mandou você em seu lugar?Era a terceira vez que ela repetia a pergunta, mas Gilberto permaneceu em silêncio.— Você acha que, não respondendo, eu vou deixar de suspeitar? — Disse Esther, um tom cortante na voz.Rita percebeu que manter silêncio só iria piorar a situação. Esther era esperta demais para não ligar os pontos e, mais cedo ou mais tarde, ela descobriria tudo.Rita respirou fundo e, com a expressão séria, finalmente decidiu falar:— O capitão Marcelo foi embora.Esther virou o olhar para ela, os olhos arregalados, enquanto tentava processar a informação.— Foi embora? Para onde?Rita hesitou antes de respon
Esther sentiu uma dor profunda tomando conta de sua garganta, um nó que parecia impossível de desfazer. Sua voz saiu em um tom quase inaudível, carregado de autodepreciação:— Era isso que eu queria?Gilberto permaneceu em silêncio, sem palavras para responder. Ele era testemunha do longo caminho que Esther e Marcelo haviam trilhado juntos nesses anos. Ambos tinham dado tudo de si um pelo outro, mas, naquele momento, ele não sabia como quebrar o silêncio que pesava entre eles.Esther, no entanto, não conseguiu conter a torrente de emoções que a dominava. Seu riso nervoso logo foi tomado por uma expressão amarga, e o sorriso em seus lábios se transformou em pura ironia.— O que eu quero não é nada disso!Sua voz estava cheia de emoção, e o tom desesperado ecoava no quarto. Era como se toda a dor guardada em seu coração tivesse encontrado uma brecha para escapar, deformando suas palavras e expressão.Gilberto ficou paralisado, chocado com a intensidade do momento. Para ele, Marcelo tinha
Antes de partir, Marcelo cuidou para que todos os detalhes fossem resolvidos. Ele não apenas deixou claro que Esther deveria seguir suas instruções, como também confiou a Gilberto a tarefa de cuidar dela em sua ausência.Alguns minutos depois, Gilberto finalmente deixou o quarto, mas Esther permaneceu em silêncio. Rita, ao seu lado, também não sabia o que dizer. O ambiente no quarto ficou completamente tomado pelo silêncio.Rita olhou para Esther, a inquietação crescendo a cada segundo. O semblante da amiga, tão frio e distante, lhe causava uma pontada de preocupação.— Esther, fala alguma coisa... Você assim está me assustando.A resposta veio curta e seca:— Estou bem.Por dentro, era como se um furacão devastador tivesse passado, deixando tudo em pedaços. Mas ela não era o tipo de pessoa que se entregava à autopiedade, e isso ficou evidente.— Que tal dar uma volta? Ou, se preferir, posso chamar alguém para vir te ver. O que acha? — Sugeriu Rita, cautelosa.Esther, no entanto, se de