Esther sabia que os seguranças tinham mais proximidade com Durval. Por isso, ela perguntou a eles.— O capitão Marcelo não voltou, senhora. Não sabemos a que horas ele chegará. — A resposta foi direta, mas sem qualquer informação útil.Esther franziu o cenho, impaciente.— Vocês têm ideia de onde ele foi?— Não sabemos, senhora. — A resposta seca parecia ecoar no vazio.Era como se ela estivesse falando com uma parede. Nenhuma das respostas esclarecia o paradeiro de Marcelo ou sequer dava um indício do que ele estava fazendo.Ela suspirou, sentindo o peso da solidão naquela noite. Era um momento em que ela precisava dele ao seu lado, mas ele estava ausente. A raiva inicial começava a se dissipar, mas deixava espaço para uma mágoa ainda maior.Se ele apenas explicasse… Se falasse a verdade, ela provavelmente o perdoaria. Mas esse silêncio, esse descaso, estava acabando com ela.“Será que ele simplesmente não me ama mais?” pensou Esther.Se fosse esse o caso, ele deveria ser claro. Ela o
— Eu não estou saindo porque ele não voltou para casa. — Esther disse, com o tom de tristeza.Depois de tantos anos ao lado de Marcelo, o peso da desconfiança e da frieza constante havia se tornado insuportável. Ele a chamava quando precisava, a ignorava quando queria, e Esther simplesmente já não aguentava mais esse ciclo.Por muito tempo, ela o perdoou facilmente, acreditando que isso fortaleceria o amor deles. Mas agora, percebeu que suas concessões só fizeram com que Marcelo a valorizasse cada vez menos.E, se ele não conseguia enxergar o quanto ela era importante, por que ela ainda deveria alimentar esperanças?— Senhora, por favor, fique mais um pouco. — Um dos seguranças quase se ajoelhou, tentando convencê-la a não sair.Esther já estava sem paciência. Os argumentos deles não faziam mais sentido. Sem hesitar, ela deu um passo à frente.Ela estava decidida. Mesmo com a barriga visivelmente grande, que parecia um lembrete silencioso de que deveria ter mais cuidado, Esther caminho
— Tudo bem. — Respondeu Diana sem hesitar, virando o volante para retornar ao caminho indicado por Esther.Esther, no entanto, ficou em silêncio, com o olhar perdido. Uma sensação de vazio se espalhava em seu peito.Amar alguém era isso, não era? Se importar tanto com as atitudes dele, esperando que suas próprias emoções também fossem reconhecidas. Mas, na prática, o que sentia era um abismo.O carro avançava pela estrada quase deserta, iluminada apenas pelos postes altos. Tudo parecia calmo até Diana frear bruscamente, os pneus rangendo no asfalto.— Puta merda! Quem diabos aparece na frente do meu carro assim? E, ainda por cima, com um monte de carros bloqueando a estrada! — Diana exclamou, visivelmente irritada. Sua paciência parecia ter sumido tão rápido quanto o carro parou. — Olha, ainda bem que eu sei dirigir, viu? Senão a gente já estava no hospital!Esther, presa ao banco pelo cinto de segurança, levou um susto enorme. A luz forte dos faróis de outros carros deixava sua visão
— Você acha mesmo que eu não consigo viver sem você? — Esther respondeu, a voz cheia de frieza. — Durante o tempo em que você estava com a Sofia, eu vivi muito bem. Se você está preocupado com o bebê, não precisa. Eu tenho amigos, tenho meus pais. Ele vai nascer saudável, e você não precisa se preocupar com nada.As palavras saíram cortantes, sem margem para dúvidas.Marcelo sentiu o peso das palavras dela, mas, no fundo, não conseguia afastar sua preocupação. Mais do que com o presente, ele temia o futuro. Ele sabia que, agora, poderia lhe oferecer felicidade. Mas e se, um dia, ele perdesse o controle? E se se tornasse alguém que só lhe causasse dor?O olhar frio de Esther o atingia como um golpe, e, mesmo assim, ele hesitava. Pensava se sua decisão de deixá-la ir não seria um erro. Ele tinha medo de ser a causa de mais sofrimento para ela.— Você vai para a casa dos seus pais? — Perguntou Marcelo, num tom neutro, quase calmo.— Vou. — Respondeu Esther, sem demonstrar emoções.Ele olh
— E além do mais, ele não volta para casa, solta a Sofia de novo, e quando fico brava, quando desabafo minha raiva, ainda estou dentro do aceitável, não é? Mas ele sempre escolhe ir embora. Mesmo vindo atrás de mim, ele concorda que eu volte para a casa dos meus pais. Isso não significa que ele está desistindo? — Esther disse, os olhos começando a ficar vermelhos, as lágrimas quase escapando.Ela respirou fundo, tentando manter o controle. Não queria chorar na frente de ninguém, não queria ser vista assim. Era melhor chorar sozinha, escondida em algum canto.Diana olhou para ela, tentando entender.— Olha, fica lá uns dias. Depois, vê o que ele diz. Talvez ele só esteja respeitando sua decisão. Às vezes, os homens têm medo de insistir, acham que vão ser mal interpretados, mas se ainda há amor, dá para superar essas diferenças. Não é impossível.— Não, não é impossível. — Esther soltou uma risada amarga. — Mas seria pedir demais que, pelo menos uma vez, ele cedesse por mim?— Ai, para c
Os pais de Esther, como era de se esperar, acabaram reclamando com ela. No entanto, por mais que reclamassem, ela ainda era a filha deles, era a maior preciosidade que carregavam no coração. Por isso, mesmo com as broncas, eles a mimavam e cuidavam dela. Afinal, em breve seriam avós, algo que aguardavam há muito tempo.Ter um neto era algo que eles sempre desejaram. Sabiam que, um dia, não estariam mais aqui, e queriam garantir que Esther tivesse uma companhia, uma ligação, algo que preenchesse sua vida. Assim, aceitaram a situação.— Não foi por mal, mãe. — Esther respondeu, com um tom calmo. — Naquela época, eu não estava pronta. Não sabia como contar. E por isso, me sinto muito culpada.Enquanto elas conversavam, Felipe apareceu na porta e, ao ver que Diana tinha trazido Esther de volta, soltou uma pergunta direta:— Não me diga que você e o Marcelo brigaram de novo?Ele acertou em cheio, mas Esther não queria falar sobre isso.— Não posso simplesmente voltar para casa sem que vocês
— É mesmo? — Esther murmurou, incerta. Ela não tinha certeza de nada, pois suas memórias estavam fragmentadas, como se fossem cacos de vidro espalhados após um acidente. As lembranças que possuía pareciam ter emergido apenas em momentos de grande tensão, formando um quebra-cabeça incompleto.Ela não sabia o que, de fato, tinha acontecido com ela naquele período.Felipe suspirou, como se as palavras fossem pesadas demais para serem ditas.— Filha, esconder a verdade foi um erro. Eu me sinto muito culpado por isso. Mas você precisa entender que quando você desapareceu, sua mãe e eu ficamos desesperados. Chamamos a polícia, que iniciou buscas intensas pela escola e arredores, mas, por meses, não tivemos nenhuma notícia. Então, um dia, você simplesmente apareceu na porta de casa... — Ele fez uma pausa, os olhos brilhando com memórias dolorosas. — Quando te encontramos, você estava coberta de ferimentos, toda encolhida no chão. Suas roupas estavam rasgadas, você parecia ter passado dias sem
Como pai, era impossível para Felipe não se preocupar.Mesmo sem mencionar suas preocupações na frente de Isabela, ele não conseguia afastar os pensamentos que rondavam sua mente. Ele temia que Esther enfrentasse os mesmos perigos novamente.Isabela, por sua vez, estava visivelmente abalada. Seu coração parecia bater mais rápido a cada preocupação que brotava.— Calma, mãe. — Esther a consolou pacientemente, enquanto a ajudava a se acomodar. — Você precisa descansar, vai ficar tudo bem.Depois de muita conversa e cuidado, Isabela finalmente começou a se acalmar, permitindo que Esther saísse do quarto.Na sala, Felipe a esperava. Ele estava sentado no sofá, segurando uma xícara de chá, a expressão serena, mas os olhos atentos denunciavam que estava esperando por esse momento.Quando Isabela se recolheu ao quarto, ele tomou um gole do chá e, com a voz tranquila, perguntou:— Esther, aconteceu alguma coisa nos últimos tempos?Surpresa com a pergunta direta, Esther se aproximou, se sentand