— Não é isso. — Esther respondeu, sem hesitar.Marcelo, que estava ao lado dela, fez uma expressão fechada, o rosto tenso. A voz saiu gelada, com um toque de frustração:— Logo ela vai se tornar minha ex-esposa.O médico ficou surpreso por um momento, mas logo retomou a compostura. Ele olhou para Esther e Marcelo com uma calma profissional e disse:— O estado da paciente é estável. Ela tem uma leve concussão e uma fratura no braço, mas com descanso, ela vai melhorar. Não há com o que se preocupar demais.Aliviada, Esther respondeu imediatamente:— Obrigada, doutor.— De nada. — O médico sorriu gentilmente e fez um gesto indicando que poderiam entrar no quarto.Esther e Marcelo seguiram Michele até o quarto, onde ela estava internada. Esther logo notou que os lábios de Michele estavam ressecados, e rapidamente foi até a mesa ao lado para pegar um pouco de água morna. Com a ajuda de um cotonete, ela delicadamente umedeceu os lábios de Michele.Marcelo estava quieto ao lado, apenas obser
Esther levantou o olhar e, de repente, percebeu um cheiro forte de desinfetante no ar. Ela olhou em direção à pessoa à sua frente. Ele estava vestido com um casaco preto, uma blusa de lã por baixo, calças sociais e sapatos de couro, tudo impecavelmente alinhado.O homem tinha um sorriso leve nos lábios e seus olhos castanhos fixavam Esther de maneira penetrante. Seu rosto era pálido, tão branco quanto as mãos que ela havia tocado antes. Usava óculos de aro dourado, seu semblante era limpo e suave, com um sorriso natural, como se tivesse sido moldado para sorrir. Era impossível não sentir simpatia por ele. Contudo, algo no fundo de seu olhar e na sua postura fez Esther sentir uma estranha sensação de frio. Não era o frio do ambiente, mas algo mais profundo, algo que ela não conseguia definir.— Estrella... — O homem murmurou um nome com uma voz baixa.Esther, tentando controlar a sensação de desconforto, se levantou rapidamente. — Você está chamando alguém? — Perguntou, tentando desv
Ao ouvir aquilo, o rosto de Sofia ficou rígido num instante, mas ela logo voltou a falar com firmeza:— De jeito nenhum! Eu jamais faria uma coisa dessas. Agora eu sou a Sofia, uma grande estrela. Como poderia me rebaixar a esse ponto?— Sofia... — Geraldo pronunciou seu nome com suavidade, quase como se estivesse saboreando as sílabas. Então, de repente, ele sorriu e disse. — Esse nome também não é tão limpo assim, sabia? Quem vive nas sombras não deveria almejar a luz, não acha?Ele olhava para Sofia enquanto os dedos longos batiam ritmicamente na mesa, como se pontuassem cada palavra que dizia. Ambos sabiam que estavam mergulhados na escuridão, e era impossível sair completamente limpo dela.Sofia ficou pálida, suas mãos se apertando com força.— Isso ficou no passado! Nós podemos ser limpos agora! — Ela falou com um desespero contido.Ela queria acreditar que estava limpa. Tudo o que tinha feito no passado estava enterrado, ninguém sabia de nada. Mesmo que suas mãos tivessem se suj
Esther estava parada na porta, sentindo o momento que esperava finalmente chegar. Ela havia colocado alguém para seguir Sofia, sabendo que, eventualmente, isso a levaria a descobrir algo importante. Era óbvio que Sofia não ficaria realmente surda, alguém devia estar ajudando-a por trás. A ida de Sofia a esse local era, no mínimo, suspeita. Talvez aqui ela pudesse encontrar respostas.Quando a porta se abriu, ela se deparou com uma figura alta à sua frente.— Você? — Exclamou surpresa.— Que coincidência. — Respondeu Geraldo com um tom tranquilo.O olhar de Esther rapidamente varreu a roupa do homem. Ele claramente estava vestido como um médico. Isso apenas confirmava suas suspeitas. Sem demora, ela olhou para dentro da casa, procurando por qualquer sinal de Sofia. As pessoas que estavam seguindo-a afirmaram que ela havia entrado, mas não saído.— Você é médico? — Esther perguntou casualmente.— Sou, sim. — Respondeu Geraldo calmamente.— Eu acho que uma amiga minha esteve aqui... — Es
Geraldo ainda sorria, e a pequena marca no canto do seu olho ficava ainda mais evidente.— Não é isso que você queria saber? Só estou dizendo a verdade.Esther olhou em volta, tentando entender a situação. O espaço à sua frente era amplo e claro, o suficiente para ter certeza de que Sofia não estava ali. Mas ela começou a duvidar das palavras de Geraldo.— Como posso acreditar no que você está dizendo? — Perguntou, desconfiada.— E o que eu ganharia te enganando? — Respondeu ele, voltando seu olhar para a mesa. — Aqui estão as provas de que Sofia veio me procurar. Você pode olhar se quiser.Esther pegou os documentos que ele apontou, sua mão trêmula ao folhear os papéis. Era um prontuário médico, confirmando que Sofia realmente havia solicitado a ajuda dele. Os médicos convencionais não conseguiam ajudá-la, mas Geraldo podia.Tudo fazia sentido. Ele tinha habilidade suficiente para fazer Sofia perder a audição, e também para restaurá-la.Quando Esther processava essas informações, Gera
— Sou eu! — Marcelo agarrou o braço de Esther.Ela levantou a cabeça, surpresa ao ver Marcelo à sua frente.— O que você está fazendo aqui? — Perguntou, desconfiada.Marcelo estava com o semblante sério e sombrio.— Essa pergunta eu deveria fazer a você. O que veio fazer nesse lugar?Esther sentiu o coração acelerar. Em suas mãos, ela ainda segurava firme o prontuário médico, algo que Marcelo não poderia descobrir de jeito nenhum. Sabia que, se ele soubesse, poderia tentar destruí-lo.— Vim encontrar um amigo. — Respondeu ela, tentando soar despreocupada.Marcelo a encarou com frieza, sem acreditar nem por um segundo.— Você acha que eu vou acreditar nisso? — Rebateu ele, incisivo.— E o que mais eu estaria fazendo aqui, então? — Esther insistiu, tentando manter a calma.Marcelo não cedeu. — Você entrou no quarto andar. — Disse ele, sua voz carregada de advertência. — Sabe qual é a consequência de invadir o território de desconhecidos?— E o que tem? Eu saí daqui perfeitamente bem! —
— Você vai negar que essa filha é sua? — Rebateu Joana, indignada.Vitor lançou a ela um olhar frio e cortante.— Eu nem queria esse casamento, acha que eu vou querer uma filha? — Respondeu com desprezo.O rosto de Joana ficou pálido. Era como se ela já soubesse o que ele ia dizer. Com a voz trêmula e os olhos marejados, desabafou:— Sabia que você diria isso, Vitor... Por que eu me casei com você? Se pudesse voltar no tempo, preferia não ter casado! Me arrependo de tudo! — E você acha que eu queria casar? Não foi você quem armou tudo para me prender nesse casamento? — Vitor, impiedoso como sempre, retrucou com frieza.O peito de Joana parecia prestes a se partir. Ela engoliu seco, segurando as lágrimas, mas os olhos vermelhos já não escondiam sua dor.— É isso mesmo, eu usei todas as artimanhas para me casar com você... E você vem se vingando desde então, não é? — Sua voz falhou.Desde o casamento, Vitor jamais a tratou como esposa de verdade. Ele passava noites fora, às vezes nem vo
Naquele momento, Joana sentiu que não tinha mais nada. Ninguém estaria ao seu lado....Esther voltou ao hospital.Naquele instante, Michele já havia acordado, mas ainda parecia exausta, deitada na cama, sem se mover.— Michele. — Chamou Esther ao entrar, carregando várias sacolas.— Ah, é você, Esther. — Michele virou a cabeça, um leve sorriso surgindo em seus lábios.— Como está se sentindo? Já melhorou? Se algo estiver te incomodando, me avise. — Disse Esther, demonstrando preocupação.Michele olhou para trás, onde Marcelo estava, hesitou por um momento e então respondeu:— As dores que eu preciso sentir, ainda estão aqui, mas dá para suportar. Não se preocupe, daqui a dois dias eu já estarei bem.Esther assentiu com um leve aceno de cabeça.— Marcelo. — Chamou Michele, voltando o olhar para o sobrinho. Ela ainda se sentia mal por algumas coisas ditas no cemitério. — Me desculpe, eu falei sem pensar, não leve para o coração.Ela estava brava com Marcelo, mas reconhecia que havia dit