— Seria tão bom se a Otília e o Adriano estivessem aqui com a gente. — Natacha comentou, um pouco melancólica, com o olhar distante. O pensamento de estar longe dos filhos a fazia sentir um vazio, uma falta que parecia aumentar a cada dia.Gabriel sentiu um leve desconforto ao ouvir aquilo, mas rapidamente disfarçou, tentando parecer tranquilo. — Eu já organizei tudo para os dois, e podemos revezar nossas folgas para estarmos com eles. — Respondeu ele com um sorriso que não alcançava seus olhos. No fundo, ele temia o momento em que Natacha decidisse trazer as crianças para perto. Se Joaquim descobrisse que eles eram seus filhos, certamente revelaria toda a verdade para Natacha. E quando esse momento chegasse, Gabriel se perguntava, com o coração apertado, se ela o perdoaria por cinco anos de mentiras, mesmo acreditando que foi por amor.Natacha hesitou, franzindo levemente a testa em preocupação. — Mas não seria muito cansativo para você? Talvez seja melhor trazer eles para perto.
Se fosse verdade, então ela realmente teria sido cega, errando completamente sobre quem confiar. O pensamento fez Natacha se sentir profundamente inquieta, uma angústia começando a crescer em seu peito.Gabriel estava visivelmente perturbado, passando a mão pelo cabelo em um gesto de frustração. Ele suspirou pesadamente antes de falar, seus olhos evitando os dela.— Ontem, um avião que estava indo para o País D sofreu um acidente, todos os passageiros e o piloto morreram. Entre eles, estava o Bryan. — As palavras saíram duras, como se fosse difícil admiti-las.Natacha ficou chocada, sentindo o coração disparar. Seus olhos se arregalaram, e ela instintivamente perguntou, quase sem pensar: — Então, com a morte dele, fica impossível descobrir a verdade? Gabriel respondeu com um olhar frio, quase impassível, como se estivesse controlando uma raiva interior. — Pode-se dizer que sim. Mas não se preocupe. — Ele disse, sua voz ganhando um tom sombrio e determinado. — Eu vou encontrar o verd
Natacha saiu uma hora mais cedo do trabalho, planejando mudar o visual para algo mais suave e elegante. Embora fosse sexta-feira, o hospital ainda estava lotado, e os elevadores estavam cheios, sem subir ou descer rapidamente. Com o cansaço começando a pesar, ela suspirou, frustrada, enquanto observava as portas dos elevadores se abrindo e fechando, sempre lotados. Depois de alguns minutos, Natacha percebeu que o elevador ao lado da ala de Obstetrícia estava praticamente vazio, então decidiu ir para lá, apressando o passo.Não muito longe dali, Rosana estava sentada em uma cadeira, suas mãos apertadas no colo, como se estivesse tentando se manter firme. A angústia a consumia por dentro, uma sensação de vazio que parecia aumentar a cada segundo. Naquele momento, o celular dela tocou, tirando ela de seus pensamentos. Ao ver o nome que aparecia na tela, seu corpo ficou rígido, e um arrepio percorreu sua espinha. Mesmo assim, ela atendeu, o coração batendo forte no peito.Do outro lado da
Rosana respirou fundo, tentando controlar a ansiedade que crescia dentro dela, e disse, com voz firme: — Então é isso mesmo? Você ainda é a Natacha! Mas você não se lembra de mim? E o Joaquim, você conhece ele? Você procurou ele desde que voltou? Os olhos de Natacha brilharam com surpresa, seus pensamentos se embaralhando. — Você conhece o Joaquim? — Perguntou baixinho, tentando entender o que estava acontecendo. — Claro que sim! Aquele desgraçado... Eu nunca vou esquecer o que ele fez. — Rosana respondeu, sua voz cheia de raiva, e o rosto ficando vermelho de indignação. Ela cerrou os punhos, revivendo a frustração de anos passados. — Naquela época, se não fosse por ele e pela Rafaela, que não se decidiam, com aquela relação de vai-e-volta, e se não tivessem tido um filho juntos, você nunca teria ido embora! — Ao dizer isso, Rosana olhou para Natacha com uma expressão de incredulidade, seus olhos arregalados. — Mas o que está acontecendo com você? Não se lembra de nada disso? O co
Natacha ouvia tudo, tremendo de cima a baixo, como se cada palavra de Rosana fosse um golpe direto em seu coração. A história que Rosana contava a ela era completamente diferente do que Gabriel havia dito, e o peso dessas revelações a fazia sentir como se estivesse sendo transportada para um mundo paralelo, um mundo que a fazia desmoronar pouco a pouco.Seus filhos eram do Joaquim?Ela tentou processar aquilo, mas a ideia parecia tão absurda, tão distante da realidade que conhecia. Seu coração se recusando a aceitar. Com uma voz abafada, cheia de incredulidade e desespero, Natacha perguntou, quase como se estivesse pedindo que Rosana desmentisse tudo: — Então qual era a minha relação com Joaquim? — Você era a esposa dele! — Rosana respondeu, frustrada, e sua frustração transparecia em cada sílaba. Ela não conseguia entender como Natacha havia esquecido tudo. — Vocês se divorciaram por causa daquela vadia da Rafaela, mas mesmo assim, continuaram indo e voltando por um bom tempo. Acho
— Que droga. — Rosana exclamou baixinho, sentindo a pressão do tempo enquanto rapidamente pegava sua bolsa. Ela lançou um olhar apressado para Natacha, quase se desculpando. — Eu preciso ir agora, tenho um compromisso urgente. Vamos trocar WhatsApp, e depois a gente se fala com mais calma.Ainda havia tantas coisas que precisavam ser ditas entre elas, tantas perguntas sem resposta, mas Natacha percebeu a pressa evidente de Rosana e decidiu não insistir. As duas rapidamente trocaram contatos, e Natacha, apesar de todo o caos em sua mente, olhou para Rosana com uma expressão de genuína gratidão, os olhos ainda umedecidos pelas emoções turbulentas que acabou de experimentar. — Obrigada. — Murmurou ela, sua voz suave, mas carregada de emoção.Se não fosse por Rosana, ela ainda estaria no escuro, sendo manipulada por todos ao seu redor.Rosana, sempre descontraída, deu um sorriso caloroso e acenou com a mão, desconsiderando a formalidade. — Agradecer por quê? Você é minha melhor amiga! —
No caminho, as ruas da Cidade M estavam completamente congestionadas. O trânsito parecia uma metáfora perfeita para o caos que se passava na mente de Rosana. Ela ligou para Manuel incontáveis vezes, os dedos tremendo enquanto tentava disfarçar o desespero crescente. Mas ele não atendeu. No final, ele desligou o celular. Ela sabia que ele estava furioso. Um arrepio percorreu sua espinha, se lembrando de como Manuel podia ser implacável quando estava irritado.Quando finalmente chegou ao Hotel Kim, o quarto já estava vazio. Seu coração acelerou com a ansiedade, um suor frio começou a se formar em sua testa. Sem outra opção, ela voltou para casa, a tensão em seu corpo crescendo a cada quilômetro.Ao abrir a porta de casa, encontrou Manuel sentado no sofá com uma expressão sombria, o olhar fixo em algum ponto invisível à sua frente. Parecia que ele também havia acabado de chegar, pois ainda estava vestido com a camisa e a calça social, apenas o paletó azul estava jogado de qualquer jeito n
Rosana realmente não tinha o que responder. De fato, Manuel nunca a bateu ou xingou. Mas as coisas que ele fazia com ela eram muito piores do que qualquer agressão física ou verbal. Ele sempre encontrava um jeito de destruí-la, pedaço por pedaço, sem levantar um dedo....Naquela noite, como era de se esperar, Manuel a fez passar por um verdadeiro tormento. Quando tudo terminou, ela mal conseguia emitir som, tremendo como um animalzinho assustado nos braços dele. O corpo dela estava exausto, mas a mente ainda lutava contra as imagens que se repetiam em um loop interminável de horror.Satisfeito, Manuel acariciava a pele levemente avermelhada dela, um toque que para qualquer outro poderia parecer afetuoso, mas para Rosana era apenas mais uma extensão de sua tortura. — Por que tanto medo? Não pedi pra você fazer nada tão absurdo assim. — Comentou ele, com a voz rouca, enquanto passava os dedos pelos cabelos dela, aparentemente alheio ao sofrimento que causava.Os olhos de Rosana estavam