Natacha saiu uma hora mais cedo do trabalho, planejando mudar o visual para algo mais suave e elegante. Embora fosse sexta-feira, o hospital ainda estava lotado, e os elevadores estavam cheios, sem subir ou descer rapidamente. Com o cansaço começando a pesar, ela suspirou, frustrada, enquanto observava as portas dos elevadores se abrindo e fechando, sempre lotados. Depois de alguns minutos, Natacha percebeu que o elevador ao lado da ala de Obstetrícia estava praticamente vazio, então decidiu ir para lá, apressando o passo.Não muito longe dali, Rosana estava sentada em uma cadeira, suas mãos apertadas no colo, como se estivesse tentando se manter firme. A angústia a consumia por dentro, uma sensação de vazio que parecia aumentar a cada segundo. Naquele momento, o celular dela tocou, tirando ela de seus pensamentos. Ao ver o nome que aparecia na tela, seu corpo ficou rígido, e um arrepio percorreu sua espinha. Mesmo assim, ela atendeu, o coração batendo forte no peito.Do outro lado da
Rosana respirou fundo, tentando controlar a ansiedade que crescia dentro dela, e disse, com voz firme: — Então é isso mesmo? Você ainda é a Natacha! Mas você não se lembra de mim? E o Joaquim, você conhece ele? Você procurou ele desde que voltou? Os olhos de Natacha brilharam com surpresa, seus pensamentos se embaralhando. — Você conhece o Joaquim? — Perguntou baixinho, tentando entender o que estava acontecendo. — Claro que sim! Aquele desgraçado... Eu nunca vou esquecer o que ele fez. — Rosana respondeu, sua voz cheia de raiva, e o rosto ficando vermelho de indignação. Ela cerrou os punhos, revivendo a frustração de anos passados. — Naquela época, se não fosse por ele e pela Rafaela, que não se decidiam, com aquela relação de vai-e-volta, e se não tivessem tido um filho juntos, você nunca teria ido embora! — Ao dizer isso, Rosana olhou para Natacha com uma expressão de incredulidade, seus olhos arregalados. — Mas o que está acontecendo com você? Não se lembra de nada disso? O co
Natacha ouvia tudo, tremendo de cima a baixo, como se cada palavra de Rosana fosse um golpe direto em seu coração. A história que Rosana contava a ela era completamente diferente do que Gabriel havia dito, e o peso dessas revelações a fazia sentir como se estivesse sendo transportada para um mundo paralelo, um mundo que a fazia desmoronar pouco a pouco.Seus filhos eram do Joaquim?Ela tentou processar aquilo, mas a ideia parecia tão absurda, tão distante da realidade que conhecia. Seu coração se recusando a aceitar. Com uma voz abafada, cheia de incredulidade e desespero, Natacha perguntou, quase como se estivesse pedindo que Rosana desmentisse tudo: — Então qual era a minha relação com Joaquim? — Você era a esposa dele! — Rosana respondeu, frustrada, e sua frustração transparecia em cada sílaba. Ela não conseguia entender como Natacha havia esquecido tudo. — Vocês se divorciaram por causa daquela vadia da Rafaela, mas mesmo assim, continuaram indo e voltando por um bom tempo. Acho
— Que droga. — Rosana exclamou baixinho, sentindo a pressão do tempo enquanto rapidamente pegava sua bolsa. Ela lançou um olhar apressado para Natacha, quase se desculpando. — Eu preciso ir agora, tenho um compromisso urgente. Vamos trocar WhatsApp, e depois a gente se fala com mais calma.Ainda havia tantas coisas que precisavam ser ditas entre elas, tantas perguntas sem resposta, mas Natacha percebeu a pressa evidente de Rosana e decidiu não insistir. As duas rapidamente trocaram contatos, e Natacha, apesar de todo o caos em sua mente, olhou para Rosana com uma expressão de genuína gratidão, os olhos ainda umedecidos pelas emoções turbulentas que acabou de experimentar. — Obrigada. — Murmurou ela, sua voz suave, mas carregada de emoção.Se não fosse por Rosana, ela ainda estaria no escuro, sendo manipulada por todos ao seu redor.Rosana, sempre descontraída, deu um sorriso caloroso e acenou com a mão, desconsiderando a formalidade. — Agradecer por quê? Você é minha melhor amiga! —
No caminho, as ruas da Cidade M estavam completamente congestionadas. O trânsito parecia uma metáfora perfeita para o caos que se passava na mente de Rosana. Ela ligou para Manuel incontáveis vezes, os dedos tremendo enquanto tentava disfarçar o desespero crescente. Mas ele não atendeu. No final, ele desligou o celular. Ela sabia que ele estava furioso. Um arrepio percorreu sua espinha, se lembrando de como Manuel podia ser implacável quando estava irritado.Quando finalmente chegou ao Hotel Kim, o quarto já estava vazio. Seu coração acelerou com a ansiedade, um suor frio começou a se formar em sua testa. Sem outra opção, ela voltou para casa, a tensão em seu corpo crescendo a cada quilômetro.Ao abrir a porta de casa, encontrou Manuel sentado no sofá com uma expressão sombria, o olhar fixo em algum ponto invisível à sua frente. Parecia que ele também havia acabado de chegar, pois ainda estava vestido com a camisa e a calça social, apenas o paletó azul estava jogado de qualquer jeito n
Rosana realmente não tinha o que responder. De fato, Manuel nunca a bateu ou xingou. Mas as coisas que ele fazia com ela eram muito piores do que qualquer agressão física ou verbal. Ele sempre encontrava um jeito de destruí-la, pedaço por pedaço, sem levantar um dedo....Naquela noite, como era de se esperar, Manuel a fez passar por um verdadeiro tormento. Quando tudo terminou, ela mal conseguia emitir som, tremendo como um animalzinho assustado nos braços dele. O corpo dela estava exausto, mas a mente ainda lutava contra as imagens que se repetiam em um loop interminável de horror.Satisfeito, Manuel acariciava a pele levemente avermelhada dela, um toque que para qualquer outro poderia parecer afetuoso, mas para Rosana era apenas mais uma extensão de sua tortura. — Por que tanto medo? Não pedi pra você fazer nada tão absurdo assim. — Comentou ele, com a voz rouca, enquanto passava os dedos pelos cabelos dela, aparentemente alheio ao sofrimento que causava.Os olhos de Rosana estavam
Como Natacha dizia não ter forças para visitar a família Nunes, mas tinha energia suficiente para viajar ao exterior para ver as crianças? Toda a postura de Natacha naquele dia parecia estranha para Gabriel, despertando nele um sentimento inquietante. Era como se, de repente, um abismo tivesse se aberto entre os dois.Percebendo que ela não queria prolongar a conversa, Gabriel tentou esconder sua frustração e disse, com um sorriso forçado: — Tudo bem, podemos ir para minha casa em outra ocasião. Já que você está com saudades do Adriano e da Otília, hoje eu te acompanho de volta.— Não precisa, prefiro voltar sozinha. — Natacha, no entanto, recusou friamente.— Natacha... — Gabriel sentiu como se uma ducha de água fria tivesse sido jogada em seu coração. A frieza dela o atingiu em cheio, fazendo seu peito apertar de dor. Ele se remexeu, inquieto, a dúvida começando a se transformar em desespero. — O que aconteceu com você?Afinal, até o dia anterior estava tudo bem entre eles. Haviam c
— Mamãe, o que foi? — Otília ergueu o rosto de Natacha com suas pequenas mãos e perguntou, com os olhos grandes e preocupados. — Por que você está com essa cara tão triste? Natacha forçou um sorriso, tentando esconder a tristeza que transbordava de seu peito, e respondeu, com a voz embargada: — Mamãe está bem, só está se sentindo muito culpada por você e pelo seu irmão. Eu não cuidei de vocês como deveria. Ela acariciou os cabelos da filha, sentindo uma pontada de culpa ainda mais forte enquanto olhava para os olhos brilhantes da menina.— Quem disse isso? — Otília, sempre carinhosa, deu um beijo no rosto da mãe e sorriu com carinho, seus olhos brilhando como duas pequenas luas crescentes enquanto dizia. — Olha só, eu e o Adriano estamos bem gordinhos, temos roupas bonitas, vestidos, e um monte de lanches gostosos. Tudo isso foi você que conseguiu com seu trabalho duro! Mamãe é a melhor do mundo, é quem mais nos ama.As palavras da menina eram ditas com tanta convicção que Natacha s