No caminho, as ruas da Cidade M estavam completamente congestionadas. O trânsito parecia uma metáfora perfeita para o caos que se passava na mente de Rosana. Ela ligou para Manuel incontáveis vezes, os dedos tremendo enquanto tentava disfarçar o desespero crescente. Mas ele não atendeu. No final, ele desligou o celular. Ela sabia que ele estava furioso. Um arrepio percorreu sua espinha, se lembrando de como Manuel podia ser implacável quando estava irritado.Quando finalmente chegou ao Hotel Kim, o quarto já estava vazio. Seu coração acelerou com a ansiedade, um suor frio começou a se formar em sua testa. Sem outra opção, ela voltou para casa, a tensão em seu corpo crescendo a cada quilômetro.Ao abrir a porta de casa, encontrou Manuel sentado no sofá com uma expressão sombria, o olhar fixo em algum ponto invisível à sua frente. Parecia que ele também havia acabado de chegar, pois ainda estava vestido com a camisa e a calça social, apenas o paletó azul estava jogado de qualquer jeito n
Rosana realmente não tinha o que responder. De fato, Manuel nunca a bateu ou xingou. Mas as coisas que ele fazia com ela eram muito piores do que qualquer agressão física ou verbal. Ele sempre encontrava um jeito de destruí-la, pedaço por pedaço, sem levantar um dedo....Naquela noite, como era de se esperar, Manuel a fez passar por um verdadeiro tormento. Quando tudo terminou, ela mal conseguia emitir som, tremendo como um animalzinho assustado nos braços dele. O corpo dela estava exausto, mas a mente ainda lutava contra as imagens que se repetiam em um loop interminável de horror.Satisfeito, Manuel acariciava a pele levemente avermelhada dela, um toque que para qualquer outro poderia parecer afetuoso, mas para Rosana era apenas mais uma extensão de sua tortura. — Por que tanto medo? Não pedi pra você fazer nada tão absurdo assim. — Comentou ele, com a voz rouca, enquanto passava os dedos pelos cabelos dela, aparentemente alheio ao sofrimento que causava.Os olhos de Rosana estavam
Como Natacha dizia não ter forças para visitar a família Nunes, mas tinha energia suficiente para viajar ao exterior para ver as crianças? Toda a postura de Natacha naquele dia parecia estranha para Gabriel, despertando nele um sentimento inquietante. Era como se, de repente, um abismo tivesse se aberto entre os dois.Percebendo que ela não queria prolongar a conversa, Gabriel tentou esconder sua frustração e disse, com um sorriso forçado: — Tudo bem, podemos ir para minha casa em outra ocasião. Já que você está com saudades do Adriano e da Otília, hoje eu te acompanho de volta.— Não precisa, prefiro voltar sozinha. — Natacha, no entanto, recusou friamente.— Natacha... — Gabriel sentiu como se uma ducha de água fria tivesse sido jogada em seu coração. A frieza dela o atingiu em cheio, fazendo seu peito apertar de dor. Ele se remexeu, inquieto, a dúvida começando a se transformar em desespero. — O que aconteceu com você?Afinal, até o dia anterior estava tudo bem entre eles. Haviam c
— Mamãe, o que foi? — Otília ergueu o rosto de Natacha com suas pequenas mãos e perguntou, com os olhos grandes e preocupados. — Por que você está com essa cara tão triste? Natacha forçou um sorriso, tentando esconder a tristeza que transbordava de seu peito, e respondeu, com a voz embargada: — Mamãe está bem, só está se sentindo muito culpada por você e pelo seu irmão. Eu não cuidei de vocês como deveria. Ela acariciou os cabelos da filha, sentindo uma pontada de culpa ainda mais forte enquanto olhava para os olhos brilhantes da menina.— Quem disse isso? — Otília, sempre carinhosa, deu um beijo no rosto da mãe e sorriu com carinho, seus olhos brilhando como duas pequenas luas crescentes enquanto dizia. — Olha só, eu e o Adriano estamos bem gordinhos, temos roupas bonitas, vestidos, e um monte de lanches gostosos. Tudo isso foi você que conseguiu com seu trabalho duro! Mamãe é a melhor do mundo, é quem mais nos ama.As palavras da menina eram ditas com tanta convicção que Natacha s
Natacha refletia, cada vez mais convencida de que Joaquim era um homem bastante egoísta. No passado, ele já havia traído o casamento, e agora continuava a ser infiel, mesmo casado novamente. Quanto a Rafaela, que estava ao lado dele… Natacha lançou um olhar complexo em sua direção, o rosto carregado de uma mistura de desprezo e perplexidade. Como ela podia agir com tanta confiança depois de roubar o marido de outra pessoa? O pensamento lhe causava uma revolta silenciosa, e Natacha sentia que precisava pensar bem em como faria essa mulher pagar por suas ações.Enquanto considerava suas opções, a atmosfera foi subitamente quebrada pela voz inocente de Domingos.— Doutora, hoje você está sozinha? Cadê aquele médico bonitão? — Perguntou ele, olhando ao redor como se esperasse vê-lo surgir a qualquer momento.Natacha sorriu, tentando afastar os pensamentos sombrios, e acariciou a cabeça do menino com carinho. — Ele está atendendo no ambulatório hoje. Então, sou eu quem vai cuidar de você.
Rafaela sabia que não podia arriscar perder tanto o marido quanto o filho. Mas, por enquanto, apenas Natacha tinha o poder de salvar a vida de Domingos. Ela decidiu que, quando Domingos estivesse completamente recuperado, faria de tudo para que Natacha pagasse caro por cada uma das afrontas.Mesmo depois que Natacha deixou o quarto, Joaquim não conseguia desviar o olhar, ainda processando as palavras que ela havia dito. “Ela disse que gosta de homens como eu... Será que isso é verdade?”, pensou ele e não pôde evitar um leve sorriso cínico, se achando ridículo. Já com mais de trinta anos, ali estava ele, relembrando uma frase dita por alguém que ele mal conseguia tirar da cabeça, como se fosse um adolescente apaixonado. Joaquim balançou a cabeça levemente, tentando afastar os pensamentos confusos que invadiam sua mente, mas a sensação de que algo havia mudado em seu coração permanecia.Enquanto Joaquim ainda estava perdido em seus pensamentos, Rafaela quebrou o silêncio com um comentár
Ao ouvir Natacha chamá-la de “Srta. Rafaela”, o rosto de Rafaela ficou cheio de raiva. Já fazia muito tempo que todos a chamavam de “Sra. Camargo”, ninguém se referia a ela por seu nome de solteira há anos. O impacto daquelas palavras foi como um soco, fazendo sua raiva subir rapidamente, enquanto os olhos se estreitavam em um olhar de pura fúria. Ela encarou Natacha, sentindo o sangue ferver nas veias.— Agradecer você? E por que eu faria isso? — Rafaela se inclinou para frente, apertando os punhos ao lado do corpo. — Nós pagamos por esse tratamento! É sua obrigação cuidar do meu filho, isso é o mínimo que você deve fazer! — As palavras saíram cuspidas com desprezo, enquanto seus olhos faiscavam. — Não finja que não sabe por que estou aqui hoje.Natacha, mantendo aquele sorriso enigmático que poderia enlouquecer qualquer um, inclinou a cabeça ligeiramente, como se estivesse considerando o que Rafaela dizia. Depois, respondeu tranquilamente, com uma serenidade que só serviu para aument
Rafaela ficou apavorada. Se o que Natacha disse fosse verdade, como ela poderia continuar se relacionando com aquelas pessoas? Como manteria a pose de superioridade que sempre exibiu como “Sra. Camargo”? Rangendo os dentes de raiva, Rafaela sentiu o sangue subir à cabeça, e com uma voz firme, que mal escondia o tremor causado pelo medo, declarou:— Muito bem, se você não vai me dizer, eu mesma vou descobrir! Vou processar ela por difamação, isso eu prometo! Com essas palavras, Rafaela saiu furiosa do consultório de Natacha, quase esquecendo o motivo que a havia levado até lá em primeiro lugar. Natacha observou enquanto Rafaela saía pisando duro, o som dos passos ecoando no ambiente silencioso. Quando a figura de Rafaela desapareceu pela porta, ela murmurou com desprezo, um sorriso irônico se formando em seus lábios:— Que patética! Natacha se recostou na cadeira, cruzando os braços, satisfeita com o desfecho. Ela não imaginava que algumas poucas palavras suas bastariam para desesta