Como Natacha dizia não ter forças para visitar a família Nunes, mas tinha energia suficiente para viajar ao exterior para ver as crianças? Toda a postura de Natacha naquele dia parecia estranha para Gabriel, despertando nele um sentimento inquietante. Era como se, de repente, um abismo tivesse se aberto entre os dois.Percebendo que ela não queria prolongar a conversa, Gabriel tentou esconder sua frustração e disse, com um sorriso forçado: — Tudo bem, podemos ir para minha casa em outra ocasião. Já que você está com saudades do Adriano e da Otília, hoje eu te acompanho de volta.— Não precisa, prefiro voltar sozinha. — Natacha, no entanto, recusou friamente.— Natacha... — Gabriel sentiu como se uma ducha de água fria tivesse sido jogada em seu coração. A frieza dela o atingiu em cheio, fazendo seu peito apertar de dor. Ele se remexeu, inquieto, a dúvida começando a se transformar em desespero. — O que aconteceu com você?Afinal, até o dia anterior estava tudo bem entre eles. Haviam c
— Mamãe, o que foi? — Otília ergueu o rosto de Natacha com suas pequenas mãos e perguntou, com os olhos grandes e preocupados. — Por que você está com essa cara tão triste? Natacha forçou um sorriso, tentando esconder a tristeza que transbordava de seu peito, e respondeu, com a voz embargada: — Mamãe está bem, só está se sentindo muito culpada por você e pelo seu irmão. Eu não cuidei de vocês como deveria. Ela acariciou os cabelos da filha, sentindo uma pontada de culpa ainda mais forte enquanto olhava para os olhos brilhantes da menina.— Quem disse isso? — Otília, sempre carinhosa, deu um beijo no rosto da mãe e sorriu com carinho, seus olhos brilhando como duas pequenas luas crescentes enquanto dizia. — Olha só, eu e o Adriano estamos bem gordinhos, temos roupas bonitas, vestidos, e um monte de lanches gostosos. Tudo isso foi você que conseguiu com seu trabalho duro! Mamãe é a melhor do mundo, é quem mais nos ama.As palavras da menina eram ditas com tanta convicção que Natacha s
Natacha refletia, cada vez mais convencida de que Joaquim era um homem bastante egoísta. No passado, ele já havia traído o casamento, e agora continuava a ser infiel, mesmo casado novamente. Quanto a Rafaela, que estava ao lado dele… Natacha lançou um olhar complexo em sua direção, o rosto carregado de uma mistura de desprezo e perplexidade. Como ela podia agir com tanta confiança depois de roubar o marido de outra pessoa? O pensamento lhe causava uma revolta silenciosa, e Natacha sentia que precisava pensar bem em como faria essa mulher pagar por suas ações.Enquanto considerava suas opções, a atmosfera foi subitamente quebrada pela voz inocente de Domingos.— Doutora, hoje você está sozinha? Cadê aquele médico bonitão? — Perguntou ele, olhando ao redor como se esperasse vê-lo surgir a qualquer momento.Natacha sorriu, tentando afastar os pensamentos sombrios, e acariciou a cabeça do menino com carinho. — Ele está atendendo no ambulatório hoje. Então, sou eu quem vai cuidar de você.
Rafaela sabia que não podia arriscar perder tanto o marido quanto o filho. Mas, por enquanto, apenas Natacha tinha o poder de salvar a vida de Domingos. Ela decidiu que, quando Domingos estivesse completamente recuperado, faria de tudo para que Natacha pagasse caro por cada uma das afrontas.Mesmo depois que Natacha deixou o quarto, Joaquim não conseguia desviar o olhar, ainda processando as palavras que ela havia dito. “Ela disse que gosta de homens como eu... Será que isso é verdade?”, pensou ele e não pôde evitar um leve sorriso cínico, se achando ridículo. Já com mais de trinta anos, ali estava ele, relembrando uma frase dita por alguém que ele mal conseguia tirar da cabeça, como se fosse um adolescente apaixonado. Joaquim balançou a cabeça levemente, tentando afastar os pensamentos confusos que invadiam sua mente, mas a sensação de que algo havia mudado em seu coração permanecia.Enquanto Joaquim ainda estava perdido em seus pensamentos, Rafaela quebrou o silêncio com um comentár
Ao ouvir Natacha chamá-la de “Srta. Rafaela”, o rosto de Rafaela ficou cheio de raiva. Já fazia muito tempo que todos a chamavam de “Sra. Camargo”, ninguém se referia a ela por seu nome de solteira há anos. O impacto daquelas palavras foi como um soco, fazendo sua raiva subir rapidamente, enquanto os olhos se estreitavam em um olhar de pura fúria. Ela encarou Natacha, sentindo o sangue ferver nas veias.— Agradecer você? E por que eu faria isso? — Rafaela se inclinou para frente, apertando os punhos ao lado do corpo. — Nós pagamos por esse tratamento! É sua obrigação cuidar do meu filho, isso é o mínimo que você deve fazer! — As palavras saíram cuspidas com desprezo, enquanto seus olhos faiscavam. — Não finja que não sabe por que estou aqui hoje.Natacha, mantendo aquele sorriso enigmático que poderia enlouquecer qualquer um, inclinou a cabeça ligeiramente, como se estivesse considerando o que Rafaela dizia. Depois, respondeu tranquilamente, com uma serenidade que só serviu para aument
Rafaela ficou apavorada. Se o que Natacha disse fosse verdade, como ela poderia continuar se relacionando com aquelas pessoas? Como manteria a pose de superioridade que sempre exibiu como “Sra. Camargo”? Rangendo os dentes de raiva, Rafaela sentiu o sangue subir à cabeça, e com uma voz firme, que mal escondia o tremor causado pelo medo, declarou:— Muito bem, se você não vai me dizer, eu mesma vou descobrir! Vou processar ela por difamação, isso eu prometo! Com essas palavras, Rafaela saiu furiosa do consultório de Natacha, quase esquecendo o motivo que a havia levado até lá em primeiro lugar. Natacha observou enquanto Rafaela saía pisando duro, o som dos passos ecoando no ambiente silencioso. Quando a figura de Rafaela desapareceu pela porta, ela murmurou com desprezo, um sorriso irônico se formando em seus lábios:— Que patética! Natacha se recostou na cadeira, cruzando os braços, satisfeita com o desfecho. Ela não imaginava que algumas poucas palavras suas bastariam para desesta
Rafaela ficou completamente apavorada. O jeito como Natacha a encarava, com um olhar afiado e determinado, deixava claro que ela não era mais tão fácil de manipular como antes. Aquela mulher que um dia havia sido sua marionete agora parecia estar muito à frente, ameaçadoramente à frente. Com o perigo iminente para Domingos, Rafaela teve que engolir sua raiva e se controlar, mesmo que isso a deixasse à beira de um colapso.Ela olhou para o filho, ainda inconsciente na cama do hospital, o pequeno corpo tão frágil que seu coração apertou. A angústia explodiu em palavras afiadas que escaparam antes que ela pudesse se segurar:— Por que estão demorando tanto para fazer a transfusão? Se algo acontecer com o Domingos, você vai pagar caro por isso! Naquele momento, uma enfermeira entrou apressada, sua expressão séria contrastando com a agitação no quarto.— Dra. Susan, temos um problema. Há uma emergência na sala de cirurgia com um paciente em estado crítico de hemorragia. Todo o sangue do ti
Joaquim olhou profundamente para Natacha e disse:— Obrigado.Natacha deu um leve sorriso, mas o frio ainda pairava em seu olhar:— Sr. Joaquim, não precisa agradecer. Quando você me salvou, você estava disposto a arriscar a própria vida. Eu salvar sua filha foi apenas uma responsabilidade do meu trabalho como médica.Joaquim achou que, dessa vez, Natacha estava demonstrando um pouco mais de consideração.O ressentimento no coração de Joaquim diminuiu um pouco.— Você tem mais alguma coisa para falar comigo? — Natacha tirou o jaleco branco e disse, com indiferença. — Se não tiver, vou encerrar meu expediente.Joaquim hesitou por um momento e perguntou:— Como está você e o Gabriel?Natacha respondeu friamente:— Não te falei hoje de manhã? Gabriel não é o tipo de homem que eu gosto.As sobrancelhas de Joaquim se franziram levemente e ele disse:— Eu realmente estou cada vez mais sem entender você. Eu nem consigo mais distinguir o que você diz de verdade e o que é mentira!— Eu disse qu