Rosana precisava se acostumar e aceitar esse fato, por mais difícil que fosse. Manuel, percebendo a tensão no ar, falou calmamente: — Então espere um pouco por mim. Vou terminar o trabalho aqui e depois te levo para jantar fora, está bem? Rosana se sentou no sofá ao lado, ouvindo o som dos dedos de Manuel teclando no computador. Mas, enquanto o som de trabalho preenchia a sala, uma sensação de tristeza tomou conta dela. As cenas do dia passavam em sua mente. Ela lembrou da visita que fez junto com Isabelly à casa dos pais de Estêvão, os choros desesperados que presenciou, e as palavras que escutou momentos antes na conversa entre Manuel e Ronaldo. Inquieta, Rosana se levantou lentamente e caminhou até Manuel. Sem conseguir mais conter sua dúvida, perguntou: — O trabalho que você está fazendo agora... E sobre os acidentes de trabalho no Grupo Pereira? Manuel parou por um instante e a olhou com atenção: — Como você sabe desse caso? Rosana respondeu com sinceridade: —
Quando Rosana saiu do escritório de Manuel, se dirigiu diretamente ao editor de revistas. Já era o final do expediente, e todos os colegas de trabalho haviam deixado o local. Assim que entrou no escritório, Rosana ligou o computador. Sentada diante da tela, começou a registrar os acontecimentos do dia. Com dedos ágeis e, talvez, movidos por raiva ou excitação, Rosana digitava com força no teclado, preenchendo o ambiente com o som ritmado de suas teclas. Em meros vinte minutos, ela concluiu um artigo detalhado sobre o ocorrido em Acidentes de trabalho no Grupo Pereira. Contudo, ao redigir a última frase, Rosana começou a se acalmar. Observando o texto carregado de simpatia pela família de Estêvão e críticas ferozes ao Grupo Pereira, ela se deu conta de que havia traído sua ética jornalística. Hesitou por alguns segundos antes de tomar a decisão final: deletou o artigo. Afinal, como jornalista, sua responsabilidade era relatar os fatos com precisão, sem interferências emo
Isabelly finalmente falou em voz baixa: — Tudo bem, eu vou tentar. ... E assim, Isabelly, carregando a tarefa que Rosana lhe havia confiado, se dirigiu ao escritório Marques Advogados como se estivesse indo para um campo de batalha. No entanto, exatamente como ela imaginava, Isabelly nem sequer conseguiu ver o rosto de Manuel. Ela se lembrou da última vez que tinha vindo com Rosana. Naquela ocasião, Rosana também ficou esperando ali por um bom tempo. Determinada a concluir a entrevista, Isabelly decidiu que faria o mesmo: esperaria por Manuel o quanto fosse necessário. “Pelo menos o Sr. Manuel deveria me dar um pouco de atenção. Afinal, eu apoio ele ficar com a Rosana e até já conversei com ele sobre ela. Ele deveria me receber, nem que seja por isso.” — Isabelly! — Nesse momento, uma voz chamou seu nome. Isabelly levou um susto e, ao se virar, exclamou surpresa: — Cláudio? O que você está fazendo aqui? — Isabelly sorriu. — Eu vim resolver algumas coisas. Você mudou
Manuel finalmente desviou o olhar da tela do computador e fixou os olhos em Cláudio. Seu tom era sério: — Você não entende o que eu digo ou está com tempo de sobra, sem nada para fazer? Quer que eu arrume mais trabalho para você? — Não precisa. Vou sair agora mesmo. — Cláudio, repreendido por Manuel, saiu abatido. No andar de baixo, Isabelly ainda o aguardava. Quando viu Cláudio sair, Isabelly correu ao seu encontro: — E aí? E aí? Cláudio apenas deu um sorriso sem graça e respondeu: — O Sr. Manuel ainda prefere que o seu editor-chefe vá pessoalmente entrevistá-lo. Isabelly suspirou profundamente, decepcionada: — Eu já sabia. Não tinha como eu entrevistar o Sr. Manuel! — Cláudio estava prestes a consolá-la, mas, para sua surpresa, Isabelly logo abriu um sorriso radiante. — Mas, olha, essa minha vinda aqui hoje não foi em vão. Pelo menos, encontrei um colega do ensino médio e até adicionei seu número no WhatsApp! Isabelly piscou para Cláudio, dizendo: — Somos ambos
Rosana sentiu o coração acelerar de repente, quase saltando do peito. Imediatamente, ela pegou o celular, instintivamente querendo ligar para Manuel. Mas ao lembrar que estavam brigados, hesitou e acabou ligando para Natacha. Do outro lado da linha, uma enfermeira atendeu: — Olá, a Dra. Susan está em uma cirurgia no momento. Por favor, tente novamente em duas horas. Sem alternativa, Rosana resolveu ligar para Manuel. Logo, a voz grave e fria de um homem ecoou do outro lado da linha: — O que foi? A voz de Manuel era agradável, mas carregava uma frieza evidente. Rosana sabia que ele ainda estava bravo. Contudo, naquele instante, ao perceber que estava sendo seguida, ela já não se importava com discussões. Sua preocupação era muito maior. Com o telefone tremendo em suas mãos, ela respondeu com nervosismo, a voz trêmula denunciando seu estado: — Alguém está me seguindo. Você pode vir me buscar? — O quê? — Manuel respondeu calmamente e, em seguida, soltou uma risada
Rosana esperava nervosa enquanto os policiais olhavam as imagens das câmeras de segurança. No entanto, o resultado foi decepcionante: aquele beco ficava em uma área quase abandonada, prestes a ser demolida, e não havia câmeras instaladas. Ela insistiu para que eles verificassem as imagens ao longo da rua que levava ao editor de revistas, mas a resposta foi categórica: — Senhorita, se começarmos a checar todas as câmeras ao longo do trajeto, isso vira um caso enorme. Temos outros casos a atender além do seu. Por favor, volte para casa e aguarde pacientemente por uma notificação nossa. Assim que tivermos alguma novidade, entraremos em contato, está bem? Rosana queria um resultado imediato porque era a primeira vez que vivia algo tão assustador como ser seguida, e o medo a dominava. Ainda assim, ela não queria dificultar o trabalho dos policiais. Já que eles haviam sido claros, Rosana decidiu não insistir mais e concordou com a orientação. Antes de sair, porém, não pôde deixar
Joaquim finalmente se deu conta da situação. Mas, logo em seguida, ele segurou Natacha pelo braço e disse: — Por que é você que vai? E o Manuel? Você não disse outro dia que eles tinham reatado? Esse tipo de coisa, se não for para o Manuel resolver, vamos simplesmente trazer a Rosana para casa? Isso é apropriado? — O que tem de errado nisso? Eu sou amiga da Rosana! Se ela tem um problema, quem mais deveria ajudar? — Natacha deu um olhar impaciente para Joaquim e continuou. — Além disso, essa é a oportunidade perfeita para que Rosana perceba que não pode contar com o Manuel. Assim, ela não vai se apaixonar ainda mais por ele! A não ser que o Manuel esteja disposto a se casar com ela. Você acha que ele vai? Joaquim, com a paciência de sempre, tentou acalmá-la: — Escuta o que eu estou dizendo. Vamos deixar de lado, por um momento, se o Manuel vai ou não se casar com a Rosana. Agora pense: se você trouxer a Rosana para nossa casa, ela vai nos ver juntos todos os dias, eu, você e
Rosana chorou no abraço de Manuel por um longo tempo antes de levantar a cabeça, com uma expressão magoada, e dizer: — Por que você não acredita em mim? Eu já disse que fui seguida, mas você continua sem acreditar! Manuel usou a ponta dos dedos para limpar os vestígios de lágrimas no rosto de Rosana, respondendo com uma voz suave: — Desculpe, foi meu erro. Ainda assim, Rosana empurrou Manuel, como se estivesse irritada, e falou: — Não precisa fingir que se importa comigo! Eu já chamei a polícia. Quer venha me procurar ou não, tanto faz! Os olhos negros de Manuel brilharam com um traço de diversão enquanto ele fitava Rosana. — É mesmo? — Claro que é verdade. — Rosana ergueu o queixo, com uma expressão que exalava coragem, e disse. — Eu posso me proteger sozinha. Além disso, com a polícia por perto, mesmo sem você, não tenho medo. Manuel não conseguiu segurar o riso. De repente, ele envolveu a cintura de Rosana com o braço, trazendo ela novamente para o seu abraço. Com