Capítulo 2

Maria Isis

          Não pode ser.

Pode ser, é ele.

Eu engulo seco quando ele se vira e eu encontro seus olhos escuros e perco o fôlego. Eles são escuros como a noite e eu quero me perder neles.

Eu sou atraída por ele, e meus pés se movem sem eu ter ideia, e quando menos espero. Estou mais próximo dele até onde a grade nos permite.

Morde. Meu.

Eu me forço a dar um passo para trás e desvio o meu olhar do seu. Não posso ficar aqui. Não quando minha loba está por um fio para pegar o controle e ataca-lo.

De novo não.

Por favor.

Não.

Eu seguro um rosnado e viro de costas quando minhas presas começam a crescer e meu olhos mudaram para amarelados. Não preciso olhar no espelho para saber o que está acontecendo comigo.

Eu tenho o controle.

– Respire fundo e solte pelo nariz – ele diz e eu me surpreendo por gostar tanto da sua voz.

– Obrigada – eu digo antes de sair de perto. E na saída, eu me choco com meu avô. Ele não parece feliz.

– Maria Isis – ele diz.

– Precisamos conversar – eu digo e ele me leva para sua sala onde encontro minha mãe.

– Você sumiu – falou a mamãe sorrindo. Ela sempre sorri, isso é o que mais gosto nela. Já falei isso. Mas sempre amo repetir.

– Temos problemas – eu falo. Mas minha loba não concorda e eu quase concordo com ela.

– Você perdeu o controle novamente? – perguntou o vovô Dom.

– Não. Eu encontrei meu companheiro – eu digo baixinho, mas sei que eles escutaram. Minha mãe grita e meu avô resmunga.

– Você o atacou? Esse é o problema? – vovô fala.

– Não. Ele é o cara da foto... – eu digo olhando para minha mãe e depois olho para o vovô que ainda está prestando atenção em mim. – ... Ele está preso. Aqui.

– O que? – eles gritam juntos.

– Isso mesmo. E o pretinho é seu lobo. – Eu falo, mas eu mal tinha notado que pretinho ficou com ele e não veio atrás de mim, como sempre faz.

– Seu pai vai pirar – mamãe fala.

– Por que ele está preso? – eu perguntei ao meu avô e ele mexeu a cabeça em negação, mas eu não vou parar até descobrir. – não é mais só assunto humano, ele me pertence e eu tenho que saber.

– Ele foi preso por invadir a casa do Sr. Morais. E ameaçá-lo. – falou Vovô.

– Tem mais, né? – eu perguntei. E ele concorda.

– Não sei ainda, mas acredito que sim. – Vovô fala.

– Ele confessou o motivo da invasão? – perguntei.

– Ele não quer falar com ninguém. E nem quer chamar um advogado. Isso complica a sua situação. – falou Vovó.

– Sim, e o senhor Daniel não vai deixá-lo sair tão fácil assim. – eu falo. Nunca gostei daquele velho. – Eu sinto que tem mais nessa situação.

– Filha – mamãe começa a falar, mas eu paro com um olhar.

– Ele é meu companheiro. Eu vou ajudá-lo. – Eu falo, só não sei como.

–Vou chamar seu tio. Ele vai amar frustrar os planos de Daniel. – Falou mamãe saindo da sala. Espero que o tio Luca consiga isso.

– Eu vou descobrir mais sobre ele, já que ele vai fazer parte da família. – Vovô falou.

– Obrigada – eu falo o abraçando. – Sabe o nome dele?

– Liam. Ele deu esse nome.

– Sua loba? – ele pergunta.

– Controlada – Eu falo.

– A mantenha assim. Eu vou ajudá-la – ele falou e eu o abracei mais forte. Ele sempre me ajudou com toda a situação com a minha loba. Uma que não vale a pena lembrar, não agora.

Eu saí da sala um pouco melhor e fui em direção a saída mesmo querendo dar meia volta e correr para Liam. Esse é o seu nome. Gostei, mas não combina com ele, não sei explicar o motivo, só sei que não se parece com ele.

Eu encontro minha mãe e juntas vamos para casa dela, quero ir para minha casa, mas sei que minha mãe não vai me deixar sozinha nesse momento. E talvez seja melhor.

– Vem maninha – falou Trent quando eu entrei. Eu o abraço, e ele me leva até o sofá, e papai entra na sala e se senta ao meu lado e eu sorrio. Isso me lembra a minha infância. Meu irmão mais novo sempre agiu como mais velho, mesmo eu sendo a mais velha. E papai, sendo papai.

– Estou bem. – Eu afirmo.

– Você tem carinha de anjinho, mas sempre se mete em problemas – falou Trent e eu o soco.

– Eu não me meto em problemas. – Digo e ele mexe a cabeça.

– A sua loba perseguia os problemas – falou papai e eu concordo.

– E eu vou junto – eu digo rindo e eles acabam rindo. Amo minha família.

Eu acabo dormindo no meu antigo quarto. Mas ainda dentro da casa da minha infância e com minha família, não me sinto bem. Me sinto acuada, preocupada e raivosa. Quero proteger meu companheiro. E o quero para mim. Nisso eu concordo com minha loba.

Temos que tirá-lo dali.

Essa ideia apareceu na minha cabeça desde do minuto que fiquei sozinha, mas tentei ignorar, e fiz o máximo possível, mas não dá mais. Não posso controlar o desejo de mantê-lo seguro.

Eu me levanto quando escuto um ruído no andar de baixo. Sem me preocupar muito eu vou até a escada e escuto meu avô falar com meu pai.

– Aquele homem que está na delegacia não é Liam, as digitais não bateram. Ele se parece com Liam, com a última imagem dele há quatro anos atrás, antes que ele sumisse do mapa. Mas não é ele. É bom não falamos nada a Isis. Você sabe como ela é... – falou meu avô e eu engulo em seco, ele sabe que escutei, não tem motivo para continuar com discurso. Volto para o meu quarto e espero meu pai aparecer aqui, pois ele sabe que escutei, mas quando ele não aparece, eu fiquei aliviada, ele sabe que quero ficar sozinha, mas esse alívio não dura muito tempo.

Quem é meu companheiro?

Só sei de uma coisa, não vou descobrir ficando sentada aqui. Não mesmo.

Sem esperar mais tempo. Eu troco de roupa e sai pela janela, como já fiz dezenas de vezes quando não estava conseguindo dormir e minha loba queria correr, mas dessa vez eu não vou correr. Eu vou cometer um crime.

Eu corro na floresta sem me transformar. Sou bem rápida na minha forma humana e sempre ganhei as corridas que fazia contra meus primos.

Eu quero me transformar, realmente quero, mas sei, se minha loba sair, ela vai tomar o controle e isso será ruim. Não posso simplesmente a deixar no comando. A última vez não foi bom.

Luto contra as memórias ruins e continuo meu caminho pela floresta, para chegar mais rápido na cidade. Se passa uma hora até eu chegar.

A cidade está deserta e isso me acalma, eu vou até a delegacia, e olho de longe o movimento. São pessoas humanas, que estão hoje de plantão. Bom.

Nenhum lobo da matilha vai avisar ao meu pai ou ao meu irmão. Não por enquanto. Eu respiro fundo e tento arrumar um jeito de entrar sem ser descoberta pelos os humanos, eles ainda sabem quem eu sou.

Mas meus pensamentos são parados quando uma grande explosão atinge a delegacia. E eu fiquei sem reação, foi em um piscar de olhos.

Eu vejo vários policiais saindo e isso me faz sair do meu estado de choque e corro para dentro das chamas. A explosão foi bem perto de onde ficam as celas.

Não. Não, não.

Eu evito as chamas e com a mão na boca me aprofundo andando pela delegacia, e aos poucos eu vou me aproximando de onde ele está.

Eu posso escutar uma respiração fraca, mas ainda significa vida. Ele está vivo. Isso me motiva para ir mais rápido. Eu engulo uma tosse quando vejo o estado das celas.

Tudo está em chamas ou quase tudo. Tem buraco na parede e no teto, as portas da cela estão distorcidas e eu corro até onde a cela dele devia está. Mas lá só tem escombros.

Eu comecei a puxar as pedras e o localizei pelo o seu cheiro. É um pouco difícil com toda explosão e alguns cheiros fortes provocados por ela. Mas eu quase choro de alívio quando o vejo caído no chão com uma barra de ferro em sua barriga.

Eu passo pelo o buraco e vou até ele. Eu pego a barra de ferro e tiro da sua barriga e ele geme, mas não acorda. Sem muito esforço, eu o puxo para está de pé, ou melhor eu quase o carrego para fora.

Eu olho pelo o caminho que entrei, mas ele está impossibilitado de voltar por ele, então eu o arrasto até o buraco que a explosão fez na estrutura.

Eu o puxei com cuidado, e juntos nós saímos e um segundo depois o prédio desabou. Eu viro meu rosto e cubro o rosto dele com meu corpo, para nos proteger da grande poeira que vem do desabamento.

– Isis – gritou Derek, ele está lá.

– Temos que levá-lo ao hospital. – Eu digo vendo que seu ferimento está sangrando muito e um uivado me chama atenção e eu vejo pretinho. Ele está preocupado.

– Certo. Que merda! – Falou ele me ajudando com o meu companheiro.

Nós damos cinco passos até outra explosão acontecer e tudo que sei é que a escuridão me levou. 

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo