Capítulo 3

Louis não era como ela. Ok, isso pode não ser ruim, mas, quando se tem um outro peregrino por perto a intenção de assassinarem um ao outro é incrível. Então, porque estavam se dando ‘relativamente bem’? Sem nem mesmo trocar palavras rosnadas durante o dia? É uma pergunta que ela sempre fazia. Dois meses depois do encontro no trem, ela sabia tanto sobre ele quanto no início. Era um amigo próximo do seu avô, sem muitas raízes em lugar nenhum, mas, conhece gente por todo canto, vive sempre se mudando, é um dos observadores que foi enviado para nos manter sempre informados do que anda acontecendo em todo o mundo. 

Na real, ela adoraria enfiar uma bala na cabeça dele,  antes que ele pudesse bocejar quando acorda. Mas, precisava dele. Foi uma das condições de vir ‘sozinha’ caçar a bruxa má do seu conto de fadas.

Enquanto se preparava psicologicamente para mais um encontro com não-mortos, pensou em tudo o que já passou antes de chegar ali. De dormir em galpões abandonados a matar vampiros de tanto torturar, não sentia muita falta da segunda parte. Pacifista, no entanto, nem sempre quer dizer imune à necessidade de violência. E, no seu caso, ela queria muito arrebentar com o máximo de vampiros possível antes de cumprir o objetivo. Isso reforçava nela a ideia de Maquiavel, de que é mais prático escolher ser temido, ele era um cara que ela amaria ter como ‘amigo’.

Depois de descobrirem que a rainha má estava fora do reino, não restou outra opção além de sair caçando a vadia pelo mundo. Depois de uma rápida passagem pela Ásia, incluindo a Mongólia, acabaram se deparando com uma pequena mudança de percurso. Deveriam voltar para a Europa, pois era para lá que ela tinha ido, e, como voar não é a melhor das opções para nós, de trem e carros partiram de volta ao continente mais velho e infestado de todo o mundo. Isso seria com certeza uma aventura aterrorizante e muito emocionante para ela.

--

Caminharam por uma rua iluminada no centro de Paris enquanto de um pub chegava ao grupo uma balada dos anos 80, Gun’s and Roses tocando à todo volume, pelo vocalista era um cover bem ruim, mas, pelo menos era música de qualidade e pelo que ouviram, estavam numa área controlada quase exclusivamente por vampiros. Não havia divisão de poderes ali, e, nenhuma coroa valia. Era uma pena, ela poderia usar de uma coroa para conseguir algumas respostas. Na falta dela, torturas e batalhas sempre funcionam.

– Antes de entrarmos, queria deixar claro que esse plano não me agrada. - Louis precavido como sempre, um anjo da morte disfarçado em suas roupas de humano comum. O disfarce dele era praticamente perfeito, não fosse o lugar. Camisas sociais não fazem muito o estilo dos roqueiros que estavam à sua frente. Depois de passarem meses congelando o rabo em trens e carros, eis que seria um momento para relaxar, o início da noite fria no meio do outono em Paris só a lembrava sobre as próprias fraquezas e quão debilitantes elas podem ser. Seus dedos tocaram a gola do casaco preto e foram aos cachos ajeitando os caracóis em volta do rosto, quem a olhasse poderia dizer que era apenas uma transeunte em busca de bebidas e diversão e isso era excelente. – E, não gosto de te ter exposto dessa forma, vamos apenas entrar fazer a varredura do perímetro e voltar para o galpão.

– Ah, claro! E eu deixei de responder à uma rainha, para responder ao seu subordinado. Qual seria a graça disso, Louis?

Matteo que nunca os abandonava, parecia estar fazendo amizade com um mendigo próximo que os encarava com demasiada curiosidade. Eram um grupo interessante e destoante em vários sentidos. Ainda que parecesse uma engrenagem de relógio bem lubrificada marcando precisamente as horas, ainda discordavam em alguns pontos cruciais de tática, a mulher se pegou sentindo falta dos tempos em que tinha que discutir apenas com Matteo sobre o que fazer e ele a seguia cegamente.

– Só estou dizendo que não é o melhor ambiente para uma princesa, fora o fato de que podemos nos encontrar com personagens bastante desagradáveis nessa cruzada. Não custa ser precavido.

– Alteza. – A reverência veio do mendigo que estava sentado do lado de fora do pub, possivelmente havia ouvido parte do assunto sem se dar conta da importância de suas palavras. Os olhos dela brilharam em advertência, porém, antes que pudesse reagir de maneira apropriada Matteo se colocou estrategicamente entre eles, bloqueando sua vista da pobre alma.

– Ranielle, ele não sabe nem o que diz. Deixe o bêbado em paz e vamos prosseguir com o plano. Com sorte encontramos um tenente.

– Sim… Vamos.

E assim eles se foram. Na toca do não-morto o cheiro de cigarros, bebida barata e vômito preenchiam o lugar com densidade. Nesse ponto, seus sentidos aguçados não são nenhuma dádiva. Contrário à isso, as náuseas estavam fazendo a mulher suar frio dentro do casaco pesado. O seu desconforto foi replicado nos companheiros que estavam também começando a ficar verdes, seria cômico se não fosse trágico.

Indo para os fundos do pub, tomaram uma mesa vazia e observaram os movimentos dos transeuntes. Seus olhos pousaram numa mulher semi nua que estava com um short preto de couro e uma blusa de renda vermelha, a coleira em seu pescoço indicaria que ela era servente de sangue ou uma prostituta com benefícios por se deitar com o chefe da casa. Estava se acostumando a ver esse tipo de cenário sempre que entrava num covil, a prostituta mais nova geralmente era a escolha para o imbecil que comandava a casa.

– Certo, nada do não-morto ainda. Talvez ele não venha esta noite. Mais meia hora para conseguirmos alguma informação ou darmos o fora daqui.

– Três cervejas e dois shots de tequila por favor, doçura. – A voz melosa de Matteo os assustou e foi quando ela percebeu que Louis estava cochichando no seu ouvido as instruções e a garçonete se aproximava. Para qualquer pessoa, era como se estivessem se beijando discretamente ou ele estivesse sentindo o cheiro de seu perfume no pescoço.

– É pra já chefe.

Com uma piscadela exagerada para Matteo, ela se virou e voltou ao balcão. O cheiro de feromônios que ela exalava fazia o estômago da morena embrulhar, mais que o cheiro do vômito.

– Você come qualquer coisa que se move, deveria ter cuidado idiota.

– Ora, me considero mais um apreciador de mulheres, Ran.

Um sorriso pouco sincero brotou em seus lábios. Ela não costumava sorrir depois que saiu de casa ou antes da irmã caçula nascer. Ela costumava ser mais apática e taciturna, porém o humor fácil de Matteo a deixava mais leve, ainda que com as toneladas nas costas.

– Porque pediu os shots de tequila?

– Vamos lá… Lembre-se de Vegas, baby.

Num futuro próximo, Matteo vai se tornar apenas o fanfarrão que curte festas e mulheres, atualmente, se é que podia ser considerado assim… ele vai continuar sendo o segundo em comando com Louis atrás dele. Bem atrás, diga-se de passagem.

– Ok, vamos agitar então. – Ela deu de ombros com cara de poucos amigos, porque manter a pose faz toda a diferença quando você tem outros a comandar. Anotem isso crianças.

– Sabendo as responsabilidades que a aguardam, você devia cuidar mais da sua saúde, Ranielle. Não adoecemos com facilidade mas podemos padecer se não tivermos cuidado.

– Ora, seja mais humano pelo menos um dia da sua miserável vida. Ser idiota às vezes pode ser divertido.

– E, pode nos levar a ser mortos.

Com a chegada da garçonete os ânimos esfriaram e a discussão que nem havia se iniciado morreu antes mesmo de eles tomarem o primeiro gole de suas cervejas. A banda agora tocava Crazy Train de Ozzy, uma das favoritas de Ran que se levantou jogando o casaco negro no encosto da cadeira e puxando um resistente Matteo para dançar. Pareciam humanos se divertindo normalmente e enquanto sorriam um para o outro. Ela pode ver pela periférica a desaprovação inundando Louis que permanecia sentado como uma estátua. Ele não sabia se divertir, disso a mulher tinha plena certeza.

Foi quase no final dos graves que ela começou a sentir o cheiro de sangue podre. Aquela essência a preenchendo como um veneno e correndo à toda velocidade ao seu coração. O primeiro instinto foi puxar a arma que estava no bolso, do casaco, é claro. Ela estava apenas com uma faca na altura das costelas coberta pela blusa de seda verde escura. 

Não era muito prático num bar lotado enfiar as mãos dentro da roupa para tirar uma faca quando estava cercada de humanos, então ela fez o melhor que pode para manter a compostura e aguardar o fim da música, torcendo para que sua vítima se mantivesse dentro do bar. Matteo também sentiu a presença podre do não-morto e enquanto trocavam olhares indagadores, Louis saiu de seu assento e foi até a porta. Ótima tática, iriam encurralá-lo. No pior dos casos, ela começaria a atirar para cima até ter todos fora do lugar.

Cabelos lisos e curtos num tom de loiro escuro entraram no seu campo de visão enquanto ela ainda dançava. Um sorriso com presas brancas e perfeitas se fez naqueles lábios podres enquanto os olhos negros como a boca da onça a fitavam de cima a baixo. Ela poderia ser um pedaço de filé no prato dele no dia seguinte, caso não estivesse mais que preparada para essa conversa.

– Nos fundos.

Aquele sussurro frio a gelou até os ossos enquanto a banda dava os acordes finais do solo de guitarra. Rumando para a mesa e fazendo um aceno para Louis que aguardava na porta dos fundos, foi por fora até o local em que deveriam encontrar com a vítima. Pegou o casaco onde estava sua arma e a lâmina negra longa e foi para fora enquanto Matteo pagava a conta.

– Tome cuidado. – Foi seu aviso quando lhe deu as costas. O loiro já havia saído do seu campo de visão novamente mas, suspeitava que ele estaria lá fora esperando por ela.

– Tomarei.

Porta a fora, a escuridão se abateu sobre a cidade de forma aterradora, enquanto segurava firmemente o punho da arma e ia em direção ao beco nos fundos do bar, visualizou Louis conversando com o loiro. OK, isso não é nada próximo do que ela esperava, e, pior ainda, o aperto de mãos fez seu estômago embrulhar instantaneamente. O atordoamento da princesa foi percebido, quando Matteo chegou como se tivesse sido perseguido pelos cavaleiros do apocalipse até ali.

– Que porra está acontecendo aqui? – Falou com calma enquanto empunhava a arma direcionada para as cabeças à sua frente. - É bom alguém se explicar ou eu vou começar a matar até os meus.

O gatilho da arma fez um barulho que para eles era ensurdecedor, mas, não passou de um clique prático da bala na agulha.

– Ranielle, eu te disse que meu trabalho era viajar. Conhecer vampiros também fazia parte desse processo. Raoul é uma fonte importante de informações sobre os não-mortos. Agora abaixe essa arma e vamos conversar com ele. Tem coisas que você precisa saber.

– Ran… Eu não sei se podemos confiar nele. Com a debilidade da sua avó, ele seria um espião sem precisar se esforçar muito pra isso.

– Obrigada pela óbvia explicação do que estou pensando nesse momento, Matteo. Você está brilhando em entendimento.

– Quando concordei em falar com vocês, ninguém me disse que eu ia ter uma arma apontada pra cabeça, Louis.

Os olhos vermelhos de Ran fervilharam de ódio. Ele sabia que eles iriam? O que mais ela não estava sabendo dessa história maldita? Ela poderia dizer que desapontamento não passava nem perto do que sentia nessa merda de momento.

– Então, vamos começar do básico, seu lixo podre. Comece em ‘Motivos pelos quais não devo morrer em dez segundos…’

– Ranielle, seu avô estaria desapontado.

– Oito… Sete…

– Ran… Vamos ouví-lo.

– Cinco… Quatro… Três…

– Ok, eu falo. A Encantadora não está em Paris.

Como um balde de água fria, seu corpo todo ficou entorpecido. Esse demônio parecia água, a cada vez que ela achava que ia poder finalmente estrangulá-la, ela escapava por entre seus dedos.

– Certo… Mas, isso ainda não é motivo suficiente para que eu não acabe com a sua vida e com a desse traidor de merda.

– Seria se eu pudesse dizer os planos dela para o futuro próximo?

Aquilo a interessou. Ela poderia estar ficando louca, mas, estava bastante interessada em ouvir o que ele tinha a dizer. Sem baixar a arma, parou a contagem mental de segundos que se passaram, ela dera o ultimato a um não-morto totalmente diferente daquele que estava diante de si revelando segredos para poupar sua vida.

– Em primeiro lugar, princesa. Devo dizer que é uma honra – O forte sotaque francês a fez perceber que talvez ele tenha passado a semi vida miserável naquele lugar desde sempre. A vantagem de se mudar sempre era essa, ela não mantinha muitas raízes e se sentia livre num mundo louco. – E que não esperava menos da senhorita. - A reverência a confundiu bastante. Que raios estava acontecendo? Desde que entrou nessa caçada, ela se sentia perdida em 80% do tempo e só o foco no objetivo a permitia manter a sanidade. Mas, isso era demais até para ela.

– Ok, chega dessas firulas. E, não me chame de princesa novamente.

– Como desejar, Alteza. – Aquela porra de reverência de novo. Ela ia matar esse cara!

– Corta o papo e fala logo.

– Ranielle, ele deseja nos ajudar, Raoul é fiel à uma causa que você não entenderia nem se desenhássemos.

A mira da arma foi para o peito de Louis, o aço cromado e dourado brilhando nas luzes enquanto seus olhos se abriram levemente, ela sabia que era um movimento bastante arriscado mas tinha certeza de que ele prestaria mais atenção se estivesse sob ameaça.

– Quer começar por exemplo, pela sua traição iminente? Não precisaria nem mesmo me explicar.

– Ah, precisaria sim. –  Aqueles olhos castanhos como os de vovó costumavam ser, a encararam com uma firmeza assustadora para um Peregrino. Costumam, assim como seus destinos e objetivos, terem olhares mais incertos do que aquele. Mas, nem mesmo isso a demoveu do aguardado interrogatório.

– Então, comecem logo, porque eu já estou querendo atirar em alguém.

– Raoul luta, bom.. lutava ao lado do seu avô. Por mais paz entre nós. É um bom informante e toma doses consistentes de verbena antes de nos passar informações e pequenas doses diárias. Aquilo que aconteceu em Berlim, não foi uma coincidência ou um acidente. Você entende relativamente pouco sobre os que caça.

– Se queriam minha atenção, ela está totalmente voltada para vocês agora. –  Tomando a palavra voluntariamente pela primeira vez, Raoul olhou para ela com seus perfurantes olhos negros.

– A Rainha da região de Cerras, é a Lady Encantadora. Uma das mais velhas entre os vampiros. Ela tem governado por mais de 400 anos, se tornando uma potência. É muito habilidosa quando se trata de monitorar os seus sobre o que dizem para vocês ou sobre o que falam sobre ela. Pelas ordens dela, qualquer vampiro que for pego dando informações aos garou, são condenados à morte. Geralmente ocorre durante os próprios interrogatórios, como você presenciou mais de uma vez. Nós os dirigentes, somos encarregados de, por meio de nossas conexões mentais, exterminar qualquer um que ousar dar informações sobre ela.

O estalo da arma sendo desarmada foi como um grito que reverberava na mente dela. As coisas estão fazendo um pouco mais de sentido agora. Todos os que pegavam não falaram sobre ela. A única coisa que tinham e com muito custo, era um nome e uma ‘possível’ localização. 

– Não precisávamos sair do bar para que nos dissesse isso.

– Não, mas, imagine o que ocorreria se os humanos que são nossas bolsas de sangue, ficam sabendo que estou me encontrando com garou sem uma briga sangrenta por trás? Seria a minha cabeça numa bandeja na mesa dela mais rápido que um estalar de dedos.  –  Certo, ela entendia o ponto do não-morto. Só não estava muito animada para descobrir mais coisas que poderiam ser o fim de crenças. – Ela tem te observado, Ranielle. Através dos olhos das suas vítimas, ela sabe que você está indo por ela. E se acha que pode pegar a vadia desprevenida, precisa tomar mais cuidado com que sair matando vampiros inocentes.

– Inocentes? – Um sorriso cruel brotando nos lábios vermelhos da mulher e ela era a que quase iniciava uma gargalhada. – Inocentes? Vocês? Que usam humanos para se alimentar como se fosse um playground gratuito? Sério? Acredito que não.

– Não é tão diferente das suas práticas de caça. A diferença é que as nossas ‘vítimas’, ficam vivas quando finalizamos.

Era um bom ponto mas ela não estava ali para discutir pontos. Queria respostas e se possível antes de fazer 100 anos. E só obteria isso se ele deixasse de lhe dar explicações filosóficas sobre seus hábitos de vida. Com o seu sorriso mais brilhante e o cenho relaxado, abriu os lábios cantando para ele a pergunta crucial como se sua vida e jornada dependessem disso. E de fato dependiam, mas, ele não precisava saber disso.

– Então, Raoul. Eu gostaria de algumas informações se puder me fornecer te agradeço. Vamos começar com o motivo pelo qual não devo empunhar novamente a minha arma e fazer um buraco redondo na sua testa.

O alerta no olhar de Louis veio de forma automática. Talvez e, só talvez, ela realmente não quisesse lidar com um não-morto. Ou com um peregrino irritado.

– Ora, Lou… Vamos lá. Estou apenas estabelecendo nossas prioridades. E tendo a certeza de que ele sabe bem com quem está lidando.

– Eu sei, Alteza. – Sua voz veio cortante aos ouvidos da lupina, enquanto pensava provavelmente como poderia escapar dela por ter dito aquela palavra novamente. – A verdade é que a minha causa vai além do que você pode supor. Estou vagando por esta terra a quase 300 anos, sem rumo enquanto procurava algo ao que me agarrar, seu avô trouxe uma paz que merecia ser mantida. Minha revolta é contra a Rainha que causou a desavença entre nós.

Aquela era uma revelação que ela não esperava. Se ele realmente lutou com seu avô e de fato parece ter lutado, poderia ser uma fonte de informações importante. Acontece que ela queria mais informações sobre o avô e sua vida, vindas de uma fonte mais próxima do inimigo. A maneira como ele diria o que ela queria ouvir, poderia contar bastante a seu próprio respeito.

– Entendo, então sua revolta de um homem só está diretamente ligada ao fato de que ela fodeu com um sistema que estava funcionando entre nós. – A mulher começou a bater palmas sarcásticas enquanto os encarava. –  É, com certeza, uma bela história. Porém, não passa disso. Uma história.

– Ficaria feliz em saber, princesa, que não sou o único que pensa desta forma com relação à ela? E que nos últimos tempos, temos nos reunido para minar as forças dela por dentro? Temos aliados em todo o mundo, inclusive outros Lordes e Ladies que estarão felizes em juntar forças contigo para que essa matança sem sentido termine. Somos inimigos naturais, porém somos racionais o suficiente para entender que não precisamos mais viver desta forma. Era algo que seu avô entendia, mas, perigosamente, algo que seus tios não querem nem pensar.

Ok, ele compreendia alguns dos seus medos… A frase de Louis fazendo à cada dia mais sentido. Ela precisava pensar melhor no que fazer naquele momento, era muito para ser digerido de uma vez.

– Certo, onde ela vai estar nos próximos meses?

– Ranielle, não funciona assim. Você nem mesmo consegue se controlar corretamente e para poder vencê-la vai precisar de todo o controle sobre o garou em ti.

Sua mente girou por um segundo enquanto olhos vidrados de Matteo e Louis vinham ao seu encontro. Ela sabia que não era boa ainda em controlar a transformação completa. Mas, ouvir isso do não-morto só a deixou puta. Ela precisava contornar e virar o jogo.

– Se for atrás da Encantadora agora, vai apenas perder e desperdiçar essa linda teimosia e determinação em uma derrota vergonhosa. Não a subestime. Este foi o erro do seu avô.

– Como sugere que eu faça algo para melhorar minhas habilidades na transformação?

– Vamos chegar lá… Nos encontramos amanhã às 18 horas, agora tenho que ir. Louis, meu amigo. Cuide-se. Matteo, foi um prazer finalmente conhecê-lo. 

Com um sorriso de canto, o não-morto foi-se. Ótimo, ela não pode matar ninguém. Bom, pelo menos teve algumas respostas, é possível um novo aliado.

– Temos que ir, não é seguro para ti ficar aqui fora.

– Vá à merda, Louis.

– Sim… Vá à merda, Louis. – O mendigo bêbado da entrada do bar parecia estar os observando por mais tempo que o necessário. - Alteza…

Seus olhos fervilhavam em vermelho enquanto pensava nas frustrações dos últimos dias, e, suas unhas cresceram ao ponto de criar garras, com seus sentidos injetados de adrenalina ela  carregava ódio e mágoa sobre tudo o que perdeu nos últimos tempos e o que ainda parecia destinada a perder. Essa vida era uma merda atrás da outra. Os pêlos da sua face foram se pronunciando e as orelhas ficaram pontudas enquanto seus caninos cresciam. Ela não podia me transformar, dois fôlegos curtos para dentro… Um fôlego longo para fora.

– Ora, vamos lá, doçura, não é todo o tempo que vejo uma mulher tão linda assim na minha frente…  

Antes que pudesse notar, saltou na direção do humano com a destreza de sua raça, pulou nele, derrubando-o no chão e com as garras rasgou sua camisa esfarrapada. Matteo sabiamente se afastou da cena, enquanto Louis ia junto dela. Ódio, uma neblina vermelha de puro ódio penetrava e confundia sua mente e corpo. As presas deformavam seu rosto que ainda não tinha todas as características lupus. Ela não se transformava, nunca tinha tido tantos elementos da transformação de uma vez, na verdade, ela quase não os tinha.

Com as garras ela começou a cavar a carne humana enquanto as presas prenderam o nariz do bêbado e sua mandíbula deslocada era estilhaçada pela força da mordida, com as pernas ela o prendeu no chão. Ele berrava em agonia demonstrando a dor que ela queria tanto infligir, mas não era o suficiente, nada seria. Ela queria o corpo podre inerte a sua frente, juntamente com uma poça de sangue. Com muito custo, Louis conseguiu a afastar o mínimo e após o choque Matteo foi em seu auxílio e a puxou para longe do homem que em seu desespero tentava se afastar. Agora não tinha mais volta, ele precisaria morrer e ser queimado para que os ferimentos não denunciassem o tipo de ataque.

– Leve-a daqui. Antes que ela faça algo mais hediondo.

– Eu vou matá-lo!

Seus pulmões inchavam pelo esforço de continuar trabalhando enquanto ela lutava contra Matteo que em meu momento de desespero era mais forte que a mulher. Ela tinha ódio ao seu lado mas, nem isso foi capaz de tirar seu amigo do encalço. Enquanto saiam pelo outro lado do beco, ela pode ouvir Louis atirar no homem por duas vezes. Ele finalmente havia tirado o pobre coitado de sua miséria. O que ele faria com o corpo posteriormente não era da sua conta. Ela ainda podia sentir a adrenalina correndo nas veias a toda velocidade, mesmo quando entraram no galpão onde estavam temporariamente. Quase uma hora depois, Louis entrou com cara de poucos amigos, seu descontrole poderia ter os custado a vida, ela sabia disso mas jamais admitiria.

– Então, te chamar de princesa desencadeia essa fúria estúpida e cega? Queira ou não, você É uma princesa. A herdeira de uma matilha poderosa e antiga. Engula essa merda e siga em frente. Ou diga à sua avó para ir se danar. Não podemos mais ter esses descontroles, Ranielle. Você não é idiota à esse ponto, é ridículo até pra você.

Duas respirações pra dentro, uma pra fora. Duas pra dentro, uma pra fora. Duas pra dentro, uma pra fora.

– Não vai acontecer novamente.

– Não… Não vai, conversei com Raoul, ele disse que vai começar a treinar contigo, como treinou com seu avô. Você vai ter um não-morto de estimação a partir de amanhã à noite.

Frustração desce com um gosto forte na garganta, ainda mais quando esperamos matar alguma coisa. Mas, ela não admitiria que precisava desse treinamento de jeito nenhum. Poderiam torturar e ela jamais admitiria nada a eles.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo