LizandraEstou no sofá de casa, pronta para passar a noite em paz, longe de confusão, quando Daniel aparece. Ele insiste para irmos à boate Gemini. Tento recusar, mas ele tem essa capacidade irritante de me convencer. — Você precisa sair, se distrair. Não dá para viver presa nessa bolha — ele diz. Antes que eu perceba, estou me arrumando. Coloco uma blusa tomara que caia colada ao corpo, com um short que o cinto é um laço, faço uma maquiagem cuidadosa e deixo os cabelos soltos. Quando me olho no espelho, quase não me reconheço. Não sei ao certo o que espero dessa noite, mas algo no ar parece diferente.A Gemini está lotada. As luzes piscam, a música pulsa, e o cheiro de álcool e perfume caro paira no ar. Daniel me puxa para a pista de dança, e eu me deixo levar. Tento me soltar, me conectar com a energia ao redor. Mas então, algo acontece. Um arrepio sobe pela minha espinha antes mesmo de eu perceber o porquê.Quando olho em direção ao bar, meu coração para. David está lá. O homem q
DanielEu estava feliz em ver Lizandra finalmente saindo de casa. A ideia de levá-la à Gemini era apenas para animá-la, fazê-la lembrar como é viver de verdade. Desde que nos conhecemos, sempre quis ser o motivo do sorriso dela. Mas algo naquela noite estava diferente.Ela parecia mais linda do que nunca. Aquele shortinho lindo que ela vestiu, e a blusa tomara que caia abraçavam cada curva dela, e a maquiagem destacava os olhos, que sempre me prenderam. Meu coração acelerou só de vê-la ali, tão perto. Por um instante, imaginei que aquela noite seria o início de algo entre nós. Mas estava completamente enganado.Quando chegamos à boate, a música alta e as luzes ofuscantes nos envolveram. Puxei Lizandra para a pista de dança, tentando aproveitar o momento, mas percebi que ela estava distraída. O olhar dela desviou para o bar, e eu segui sua linha de visão. Foi quando o vi. David Lambertini.Meu corpo inteiro gelou. David sempre foi o tipo de homem que conseguia tudo o que queria, dinhei
LizandraMeu corpo ainda está em chamas quando abro os olhos e percebo onde estou. Deitada no peito de David Lambertini, com seus braços firmemente ao meu redor, sinto como se estivesse vivendo um sonho do qual não quero acordar. O cheiro dele, uma mistura de madeira e algo inebriante, ainda está na minha pele. Nunca me senti tão vulnerável, tão viva e tão completa ao mesmo tempo. É assustador, mas impossível resistir.Acaricio o peito dele suavemente, sentindo o calor da sua pele contra os meus dedos. Ele murmura algo incompreensível, entre o sono e a vigília, e eu sorrio. Como cheguei aqui? Uma garota tímida, sem nenhuma experiência com homens, agora nos braços do maior conquistador que já conheci. Mas com David, tudo é diferente. Ele me faz sentir única, como se o mundo inteiro desaparecesse quando estamos juntos.— Dormiu bem? — ele pergunta com a voz rouca, os olhos azuis me fitando com uma intensidade que quase me desarma.— Nunca dormi tão bem na vida — confesso, sentindo minha
DavidEstou com os punhos cerrados, mas mantenho meu tom controlado enquanto encaro Dante, o meu velho conhecido. Ele sabe exatamente onde cutucar para me tirar do eixo, e sua pergunta é uma faca cravada no meio de nossa recém construída paz.— Você realmente quer ir por esse lado, Dante? — digo, minha voz grave cortando o ar como uma lâmina.— Quero proteger a minha filha, Lambertini. Já me basta saber quem você é. Ela merece saber também.Respiro fundo e encaro seus olhos determinados. Ele não vai recuar. Inferno, não posso arriscar que Lizandra descubra isso por outra pessoa, ou pior, que ele continue jogando sujo.— Estou conhecendo a sua filha, começamos a namorar agora — respondo, com firmeza. — Mas não quero perdê-la. Já que você quer assim, vou explicar tudo a ela agora!Sem esperar resposta, seguro o braço de Lizandra com cuidado, mas com firmeza, e a conduzo até o meu carro. Sinto os olhos de Dante queimando em minhas costas, mas não me viro. Estou decidido. Lizandra está m
DavidEnquanto guio o carro em direção à casa de Lizandra, sinto a sua mão quente descansar suavemente sobre a minha perna. O gesto é pequeno, mas significa muito. Depois de tudo o que revelei, o fato de ela ainda estar aqui, ao meu lado, me faz sentir como se tivesse ganhado algo que jamais pensei que poderia ter, uma chance real com ela.Paro o carro em frente à sua casa, a minha expressão calma, mas carregada de uma satisfação que não faço questão de esconder. Antes de sairmos, olho para ela e sorrio.— Está pronta minha linda?Ela assente, mas há uma pontada de preocupação em seus olhos. Dou um leve aperto em sua mão, tranquilizando-a, e saio do carro, indo abrir a porta para ela. O gesto é calculado. Dante está ali, na porta, observando cada movimento meu como um falcão.Quando subimos a pequena escada até a entrada, Dante está de braços cruzados, a expressão fechada como uma tempestade prestes a desabar. Ao lado dele, Daniel Malta nos observa de forma quase derrotada, como se ca
Silvia Acordo com o som de passos firmes e vozes abafadas no corredor. Meu coração dispara, e por um momento, penso que ainda estou sonhando. Mas não, a realidade me atinge como um soco no estômago. Estou presa. Presa em um quarto que não é meu, em um lugar que exala poder e perigo por todos os cantos. Não sei como vim parar aqui, mas sei que tudo mudou desde o momento em que os homens da máfia invadiram a minha casa e me levaram, sem explicações, sem sequer uma chance de entender. O pior de tudo? Meu pai desapareceu, e o vazio dessa ausência está me matando por dentro.Ouço uma batida na porta. Meu corpo enrijece, o medo correndo pelas minhas veias como uma corrente elétrica. Respiro fundo, tentando reunir coragem, mas é inútil. Minhas mãos tremem quando giro a maçaneta.Darlan Lambertini está parado ali, com a sua presença esmagadora, o olhar penetrante e o tipo de autoconfiança que faria qualquer um se encolher. Ele entra sem pedir permissão, como se aquele espaço fosse dele. E ta
DavidEu acordo com um humor digno de abrir uma guerra. O sol que atravessa as cortinas me irrita mais do que deveria, e o silêncio da casa parece zombar da tempestade que carrego dentro de mim. Depois de uma noite mal dormida, com memórias e dúvidas me corroendo, a única coisa que consigo fazer é levantar e tentar me recompor.Entro no banheiro e tomo uma ducha longa, tentando lavar não só o corpo, mas também os pensamentos que parecem grudados em mim como uma segunda pele. Quando saio, com a toalha amarrada na cintura, me encaro no espelho enquanto escovo os dentes. Meu reflexo me devolve um olhar vazio, um azul tão escuro que nem parece o meu. Não gosto do que vejo.Ao voltar para o quarto, sinto gotas escorrendo pelo meu peito, mas antes que eu tenha tempo de me vestir, minha mãe invade o cômodo sem bater. Respiro fundo para não mandar uma resposta atravessada e me viro para encará-la. Ela não se importa, se joga na minha cama e bate no colchão ao lado, indicando que quer conversa
DavidO silêncio que preenche o carro enquanto sigo para a sede da máfia, a logística La Russa, é quase tão denso quanto os pensamentos que me atormentam. O motor ronca suavemente, e a cidade ao meu redor parece um borrão sem importância. Hoje, a tensão no ar é palpável, quase sufocante. Uma jovem, uma filha de traidor, está sob nosso domínio, e o futuro dela está em nossas mãos. Assim que chego, os homens da segurança me reconhecem e abrem os portões. Eles acenam com respeito, como sempre, mas meu humor está sombrio demais para retribuir. Subo as escadas com passos firmes até o escritório principal. A porta já está aberta, e o Don, meu pai, está sentado em seu lugar de sempre, com a autoridade estampada em cada linha de seu rosto.Darlan já está lá, encostado em uma das janelas, mexendo no celular com a expressão fechada. Ele me encara por um segundo quando entro, mas não diz nada. Eu me sento em frente à mesa do Don, observando-o. É inevitável pensar que, em breve, este lugar será