LizandraMeu corpo ainda está em chamas quando abro os olhos e percebo onde estou. Deitada no peito de David Lambertini, com seus braços firmemente ao meu redor, sinto como se estivesse vivendo um sonho do qual não quero acordar. O cheiro dele, uma mistura de madeira e algo inebriante, ainda está na minha pele. Nunca me senti tão vulnerável, tão viva e tão completa ao mesmo tempo. É assustador, mas impossível resistir.Acaricio o peito dele suavemente, sentindo o calor da sua pele contra os meus dedos. Ele murmura algo incompreensível, entre o sono e a vigília, e eu sorrio. Como cheguei aqui? Uma garota tímida, sem nenhuma experiência com homens, agora nos braços do maior conquistador que já conheci. Mas com David, tudo é diferente. Ele me faz sentir única, como se o mundo inteiro desaparecesse quando estamos juntos.— Dormiu bem? — ele pergunta com a voz rouca, os olhos azuis me fitando com uma intensidade que quase me desarma.— Nunca dormi tão bem na vida — confesso, sentindo minha
DavidEstou com os punhos cerrados, mas mantenho meu tom controlado enquanto encaro Dante, o meu velho conhecido. Ele sabe exatamente onde cutucar para me tirar do eixo, e sua pergunta é uma faca cravada no meio de nossa recém construída paz.— Você realmente quer ir por esse lado, Dante? — digo, minha voz grave cortando o ar como uma lâmina.— Quero proteger a minha filha, Lambertini. Já me basta saber quem você é. Ela merece saber também.Respiro fundo e encaro seus olhos determinados. Ele não vai recuar. Inferno, não posso arriscar que Lizandra descubra isso por outra pessoa, ou pior, que ele continue jogando sujo.— Estou conhecendo a sua filha, começamos a namorar agora — respondo, com firmeza. — Mas não quero perdê-la. Já que você quer assim, vou explicar tudo a ela agora!Sem esperar resposta, seguro o braço de Lizandra com cuidado, mas com firmeza, e a conduzo até o meu carro. Sinto os olhos de Dante queimando em minhas costas, mas não me viro. Estou decidido. Lizandra está m
DavidEnquanto guio o carro em direção à casa de Lizandra, sinto a sua mão quente descansar suavemente sobre a minha perna. O gesto é pequeno, mas significa muito. Depois de tudo o que revelei, o fato de ela ainda estar aqui, ao meu lado, me faz sentir como se tivesse ganhado algo que jamais pensei que poderia ter, uma chance real com ela.Paro o carro em frente à sua casa, a minha expressão calma, mas carregada de uma satisfação que não faço questão de esconder. Antes de sairmos, olho para ela e sorrio.— Está pronta minha linda?Ela assente, mas há uma pontada de preocupação em seus olhos. Dou um leve aperto em sua mão, tranquilizando-a, e saio do carro, indo abrir a porta para ela. O gesto é calculado. Dante está ali, na porta, observando cada movimento meu como um falcão.Quando subimos a pequena escada até a entrada, Dante está de braços cruzados, a expressão fechada como uma tempestade prestes a desabar. Ao lado dele, Daniel Malta nos observa de forma quase derrotada, como se ca
Silvia Acordo com o som de passos firmes e vozes abafadas no corredor. Meu coração dispara, e por um momento, penso que ainda estou sonhando. Mas não, a realidade me atinge como um soco no estômago. Estou presa. Presa em um quarto que não é meu, em um lugar que exala poder e perigo por todos os cantos. Não sei como vim parar aqui, mas sei que tudo mudou desde o momento em que os homens da máfia invadiram a minha casa e me levaram, sem explicações, sem sequer uma chance de entender. O pior de tudo? Meu pai desapareceu, e o vazio dessa ausência está me matando por dentro.Ouço uma batida na porta. Meu corpo enrijece, o medo correndo pelas minhas veias como uma corrente elétrica. Respiro fundo, tentando reunir coragem, mas é inútil. Minhas mãos tremem quando giro a maçaneta.Darlan Lambertini está parado ali, com a sua presença esmagadora, o olhar penetrante e o tipo de autoconfiança que faria qualquer um se encolher. Ele entra sem pedir permissão, como se aquele espaço fosse dele. E ta
DavidEu acordo com um humor digno de abrir uma guerra. O sol que atravessa as cortinas me irrita mais do que deveria, e o silêncio da casa parece zombar da tempestade que carrego dentro de mim. Depois de uma noite mal dormida, com memórias e dúvidas me corroendo, a única coisa que consigo fazer é levantar e tentar me recompor.Entro no banheiro e tomo uma ducha longa, tentando lavar não só o corpo, mas também os pensamentos que parecem grudados em mim como uma segunda pele. Quando saio, com a toalha amarrada na cintura, me encaro no espelho enquanto escovo os dentes. Meu reflexo me devolve um olhar vazio, um azul tão escuro que nem parece o meu. Não gosto do que vejo.Ao voltar para o quarto, sinto gotas escorrendo pelo meu peito, mas antes que eu tenha tempo de me vestir, minha mãe invade o cômodo sem bater. Respiro fundo para não mandar uma resposta atravessada e me viro para encará-la. Ela não se importa, se joga na minha cama e bate no colchão ao lado, indicando que quer conversa
DavidO silêncio que preenche o carro enquanto sigo para a sede da máfia, a logística La Russa, é quase tão denso quanto os pensamentos que me atormentam. O motor ronca suavemente, e a cidade ao meu redor parece um borrão sem importância. Hoje, a tensão no ar é palpável, quase sufocante. Uma jovem, uma filha de traidor, está sob nosso domínio, e o futuro dela está em nossas mãos. Assim que chego, os homens da segurança me reconhecem e abrem os portões. Eles acenam com respeito, como sempre, mas meu humor está sombrio demais para retribuir. Subo as escadas com passos firmes até o escritório principal. A porta já está aberta, e o Don, meu pai, está sentado em seu lugar de sempre, com a autoridade estampada em cada linha de seu rosto.Darlan já está lá, encostado em uma das janelas, mexendo no celular com a expressão fechada. Ele me encara por um segundo quando entro, mas não diz nada. Eu me sento em frente à mesa do Don, observando-o. É inevitável pensar que, em breve, este lugar será
LizandraÉ estranho como um simples perfume pode ficar impregnado na alma. David foi embora há poucos minutos, mas o cheiro dele ainda está aqui, misturado com o ar tenso da sala, como se ele tivesse deixado um pedaço de si para me atormentar. Eu sinto sua ausência como se fosse algo físico, mas antes que eu possa processar qualquer coisa, a voz do meu pai corta o silêncio como um raio em meio à calmaria.Mal tenho tempo de processar a ausência quando percebo o olhar perdido de Daniel Malta. Ele está ali, mas parece querer evaporar, completamente deslocado, até que balbucia algo como uma despedida e sai rápido, deixando-me sozinha com meu pai. Só que algo me diz que a verdadeira tempestade ainda está por vir.— Lizandra, entre. Agora. — Seu tom é uma faca, afiada e pronta para cortar.Minha primeira reação é de defesa, mas obedeço. Não porque estou intimidada, mas porque sei que isso vai irritá-lo ainda mais. Dante Hurst, o meu pai, está prestes a explodir, e eu... estou pronta para e
David Pode ter gatilho!O poder tem cheiro. Cheiro de pólvora, sangue e terra molhada. Ele pulsa como uma força viva, carrega um peso que só aqueles que o possuem entendem. Desde cedo, aprendi que ser poderoso não é apenas impor respeito, é também inspirar medo. Esse é o legado dos Lambertini. É o que meu pai, Don Vittorio, me ensinou.Meu pai não é apenas o chefe da máfia argentina. Ele é uma lenda, uma força bruta, um homem cuja presença é capaz de silenciar qualquer ambiente. Desde que assumiu o comando, após a morte brutal do meu avô, Don Vittorio governa com punhos de ferro e um coração de pedra. Mas no lar, ele é um homem diferente. Um pai amoroso. É como se houvesse dois homens em um: o mafioso cruel e o pai dedicado.Quando criança, eu não entendia como essas duas versões coexistiam. Até o dia em que ele me apresentou ao lado mais sombrio do nosso mundo. Foi a primeira vez que vi o Don em ação. E foi a primeira vez que percebi que, para sobreviver nesse mundo, é preciso ser im