7. Calma Fingida

Sophie Williams

Depois que os convidados foram embora, senti meu peito travar, como se o ar se recusasse a entrar. Meu coração falhou uma batida no instante em que me virei para subir as escadas e uma mão forte segurou meu braço, puxando-me sem aviso. Antes mesmo de processar o que estava acontecendo, uma ardência cortante se espalhou pelo meu rosto.

— Quem você pensa que é para escolher alguma coisa? As decisões serão minhas, tudo sairá conforme a MINHA vontade! — Victoria vociferou, suas unhas cravando minha pele.

O impacto das palavras doía quase tanto quanto o tapa. Engoli em seco, tentando manter a voz firme.

— Desculpe, Sra. Victoria, não foi proposital. Apenas imaginei que agir daquela forma fosse agradar a mãe do meu noivo. — A palavra queimou em minha língua. Noivo. O gosto amargo da realidade se instalou em minha boca. Casar com Mikhail Volkov significava entregar meu destino a um homem que escondia sua verdadeira natureza por trás de um terno impecável.

Mídia e sociedade o viam como um CEO respeitável, mas eu sabia o que se escondia sob essa fachada. Seu olhar afiado, sua postura predatória, o silêncio carregado de autoridade. Ele não era apenas um empresário. Ele era um homem da máfia, um homem que fazia o medo se espalhar como veneno. Como eu poderia conviver com isso? Como poderia viver ao lado de alguém cujo mundo era regido por sangue e violência?

— Não me interessa o que você pensa. Quem é você para pensar alguma coisa? — A histeria de minha mãe soava como um chicote, cortante e impiedosa.

Deveria querer agradá-la. Afinal, era minha mãe. Mas uma parte de mim se perguntava se um dia ela olharia para mim com algo além de desprezo.

— Sophie. — A voz firme de James ecoou no hall, seu olhar gélido fixo em mim. — Aja da maneira que sua mãe mandar. Ela decidirá tudo. Apenas aceite o seu destino e não discorde de nada, ou será punida novamente.

Havia um tom de desdém em suas palavras, um prazer frio na forma como me lembrava de que eu não tinha escolha. Para ele, eu não era uma filha. Era um investimento. Uma peça no tabuleiro que ele movia conforme sua conveniência.

— Você deveria agradecer por essa oportunidade — ele continuou, com um sorriso que não chegou aos olhos. — O casamento com Mikhail Volkov garantirá que tenhamos o que merecemos. Dinheiro, status, influência… Todas as mulheres sonhariam em estar no seu lugar, mas você? Você tem essa mania insuportável de se achar dona do mundo, aceite calada as decisões que tomarmos.

Meu estômago revirou.

— Sim, senhor. — Murmurei, observando-os se afastarem.

Subi as escadas, sentindo o peso da noite em meus ombros. Assim que alcancei meu quarto, fechei a porta e troquei toda a roupa de cama, tentando me livrar da sensação sufocante que sempre me acompanhava. No banho, esfreguei a pele com força, como se pudesse apagar tudo o que aconteceu. Mas a verdade era que as cicatrizes da alma não saem com água.

Por anos, desejei ter uma família amorosa como as das minhas amigas da escola. Nunca soube o que era sentir dedos gentis penteando meus cabelos ou uma voz carinhosa me guiando antes de uma apresentação de balé. Meu pai nunca esteve presente nos meus aniversários, e quando apareceu nas minhas formaturas, levou tempo até que eu entendesse: não foi por mim, foi pela imagem. Para o mundo, eu era Sophie Williams, a modelo internacional e herdeira do império que Victoria e James construíram. Mas, por dentro dos muros dessa mansão, eu não passava de um fantoche de luxo.

Deitei-me na cama, fitando o teto, perdida em pensamentos torturantes. O que me aguardava nesse casamento? Seria feliz? Amada? Descobriria, enfim, o que é ter uma família? Ou tudo não passaria de uma ilusão frágil, prestes a se despedaçar na primeira oportunidade?

Não se iluda, Sophie. Você não é digna de tanto. — Minha consciência sussurrou, cruel e impiedosa, silenciando qualquer esperança.

Fechei os olhos, exausta. O sono veio, mas não trouxe descanso. Mais uma noite atormentada por sombras e memórias.

Acordei antes do amanhecer, como sempre. Levantei-me e segui o ritual de me preparar para o dia. Vesti a melhor máscara que aprendi a usar e esperei. Esperei pela autorização para sair do quarto. Assim que a tivesse, daria minha desculpa e seguiria para o ensaio fotográfico com uma revista renomada.

Porque, no final, eu era apenas isso. Uma imagem. Uma ilusão.

E logo, seria a esposa de um homem tão perigoso quanto fascinante, um homem cuja presença me arrepiava a pele – não pelo desejo, mas pelo medo do desconhecido.

— Senhorita Sophie, o senhor Williams requisita sua presença no escritório.

— Obrigada, Jhow, estou descendo.

Ofereci um sorriso genuíno. Ele foi o único que, durante toda a minha existência, tentou cuidar de mim. Deixava remédios, pomadas, e, algumas vezes, me trazia refeições escondido quando eu estava de "castigo".

— Senhorita? — A voz de Jhow me parou já no corredor.

— O que aconteceu? — Perguntei ao notar sua expressão preocupada.

— Não o irrite, por favor.

Assenti, sorrindo triste.

— Irei pedir que preparem suas panquecas.

— Obrigada, Jhow. Por tudo.

Saí dali sem esperar resposta e segui para o escritório. Ao parar na frente da porta, bati e entrei após receber autorização.

— Bom dia. Mandou me chamar?

James estava sentado atrás da mesa, folheando um documento. Seu olhar levantou lentamente até mim, carregado com aquele ar de superioridade que nunca o abandonava.

— Mandei cancelar sua sessão de hoje. Irina está vindo tomar café com sua mãe, e você precisa estar presente. Mas lembre-se: não importune sua mãe. Ela tomará as decisões, e você só irá concordar.

Mordi a língua para conter o incômodo.

— Sim, senhor. Mais alguma recomendação? — Minha calma fingida nunca vacilava.

— Fale apenas o necessário. Se questionada sobre ser da sua vontade se casar, confirme. Se houver um erro, por menor que seja, farei você se arrepender de me envergonhar.

O tom calculado, a ameaça disfarçada de conselho. Isso era tão típico dele.

— Sim, senhor.

Balancei a cabeça em concordância e permaneci em silêncio. Afinal, nada é mais seguro do que o silêncio — e isso, eu sabia suportar.

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