Kimberley levanta-se do chão num susto, não sabia quanto tempo tinha ficado ali. Largada ao chão perto daquele muro. Ela ainda sentia um pouco de dor. Como se aquela experiência tivesse sido verdadeiramente real. Ela caminha sem rumo, sem saber para onde estava indo. Não sabia se estava voltando para casa, ou seguindo rumo à casa de Olinda.
Naquele momento isso não mais lhe importava, depois daquela cena que tinha visto, Kimberley tinha ficado chocada. Sentia náuseas, ao relembrar daquela cena, o feto destroçado sobre aquele berço coberto com uma mortalha. Aqueles olhos vermelhos como os dos corvos. A voz macabra que lhe atormentava. Kimberley estava surtando. Ela precisava de uma droga. Cocaína como da vez que abortou. Isso ela precisava de cocaína! - “Eu preciso cheirar”! – Pensava ela enquanto caminhava cambaleando e sem rumo. – “Preciso cheirar”!Kimberley fechou a tampa do vaso e se sentou. Ela abre o canivete e o segura perto do pulso da mão esquerda. Era estranho para Kimberley ter sobrevivido a uma overdose e agora ali sentada com aquela navalha contra a pele pronta para... Ainda bem que ela não se considerava uma cristã, pois os cristãos condenavam ao inferno quem comete suicídio. Ela [Kimberley] estava ali perto de cometer um. A beira do abismo, que separa a razão da loucura.Sua vida toda passava em câmera lenta aos seus olhos. A chuva que caiu no seu aniversario de seis anos e estragou a festa. O esporro de sua mãe quando ela ficou com um guri atrás da igreja aos doze. Podia se ver lá sentada com seu vestido branco com flores vermelhas e a sua mãe gritando:- “Tu é a filha do pastor Kimberley, não podes fazer essas coisas”! – Esbravejou. E olha que ela nem tinha visto onde aquele guri tinha metido as
Era uma noite densa e sem lua. O tempo parecia preparado para chuva, mas não tinha nem relâmpagos. Tudo estava calmo na casa dos Wolfgang. Rebeca fazia o jantar, Celso lia suas revistas em quadrinhos em seu quarto, Hyldon terminava seu sermão para a manha do dia seguinte, para ele [Hyldon] aquela semana parecia ter sido longa, ter passado de sete dias. E Kimberley estava...Enquanto terminava o seu sermão Hyldon Wolfgang avista a garrafa de vinho que o prefeito lhe tinha presenteado. Ainda estava embalado. Aquela garrafa sobre uma pilha de caixas lhe parecia tão chamativa. Fazia tempo que ele não degustava um bom vinho. Levanta-se de sua cadeira após por o ultimo ponto em seu sermão. Tinha conseguido acabar aquela droga. Caminhou até a pilha de caixas e pegou a garrafa, tirou o embrulho e largou o mesmo em cima do amontoado de caixas. Ver aquela garrafa de vinho tinto era uma felicidade para ele. ele tira o invólucro que envolvia a rolha e por fim acaba tirando a rolha com os den
Ao saírem do quarto de Kimberley, eles se deparam com um corredor cheio daqueles corvos malditos.- Atire neles homem! – Esbraveja Rebeca com ódio. Aquelas aves malditas tinha assassinado sua filha, ela tinha certeza disso. Podia sentir no fundo do que restou de sua alma, se um dia teve uma que aquelas aves, aqueles corvos eram os únicos responsáveis pela morte. Kimberley estava bem, não tinha por que e nem pra que ela cometer suicídio. Eles a induziram a isso. Kimberley estava limpa [das drogas] e bem. Não tinha por que! – Acabe com esses corvos do inferno Hyldon! – Grita Rebeca se babando de raiva.Hyldon atira contra aquele bando de corvos, mas parecia que as balas não os atingiam.- Que droga é isso?! – Indagou Hyldon assustado.- Eles não se ferem! – Bradou Celso se escondendo atrás de Rebeca.- Desgraçados! – Esbravejou aquela mulher empunhando a faca.- Como vamos passar por eles mãe? – Perguntou curiosamente Celso ainda escondido atrás de sua mã
Enquanto convalescia na cama do hospital, sedado, algemado e com uma bolsa de soro no braço, Hyldon Wolfgang escuta tudo o que se fala do outro lado da porta fechada. Parecia que cidade inteira estava naquele hospital lhe observando.- O que aconteceu com o pastor Wolfgang? – Indagou o prefeito ao velho Rhodolfo Hubner que responde:- Repetiu a historia do pastor Marcos!- Quem achou ele? – Insistiu o prefeito.- A irmã Dolores ouviu os tiros e chamou a policia e a emergência! – Respondeu novamente aquele velho.- Eu encontrei ele sentado no chão falando nada com nada! – Exclamou o policial se aproximando daqueles dois homens.- O que ele dizia? – Perguntou curiosamente o prefeito.- Alguma coisa com corvos! – Respondeu seriamente aquele policial.- Jesus! – Exclama o prefeito.- Estava sujo de sangue sentado perto dos dois corpos! – Explicou aque
O que mais chamou a atenção dos Wolfgang quando passaram com seu Opala Chevrolet 1973 pelo que seria a entrada da cidade de Galpões foi a grande quantidade de corvos. Eles estavam por todos os lugares; voavam sobre o carro, estavam parados em galhos de arvores, telhados de casas e cercas de arame. O que mais era estranho para aquela família vinda da cidade grande é que aqueles animais, aquelas aves pareciam os observar. Eles pareciam ser a recepção daquela família, na cidade. Na verdade até podia ser, já que Galpões era um pequeno vilarejo, se assim pode ser descrita, na serra do Rio Grande do Sul. Mantinha-se com o cultivo do vinho, claro que não era tão conhecida como suas vizinhas mais famosas, Caxias e Bento Gonçalves, mas tinha seu charme também. Com maioria de colonos italianos e alemães, Galpões tinha um jeito bem colonial de ser. E provavelmente tinha poucas pessoas. Os corvos seriam a sua recepção. os Wolfgang eram uma família de cidade grande. Hyldon Wolfgang, o patriarca,
Os dois primeiros dias naquele lugar tinha sido de arrumação. No dia seguinte a chegada Hyldon voltou a Caxias do Sul para buscar a mudança. Porém depois organizar tudo que era o mais difícil. Haviam coisas dos antigos moradores ainda ali. Parecia que eles tinham saído na presa, pois havia até fotos da família pelo chão. Rebeca juntos tudo e pós em caixas, para por num velho galpão de madeira que ficava nos fundos do terreno. Era um lugar caindo aos pedaços que fedia a bosta de corvo. Naquele lugar havia sobra de carcaça de ratos, pássaros e outros animais ela larga tudo rapidamente lá dentro e sai assustada. Tinha muitas coisas para organizar.Hyldon tinha um culto para organizar para domingo, só que não tinha tido tempo de pensar em um sermão tinha que ajudar, Rebeca e as crianças a organizar aquela droga de casa. Fazer uma mudança sempre era difícil, ainda mais nos primeiros dias. Ele nem tinha pego a bíblia para escolher um versículo para pregoar na manha de domingo. Talvez n
Ao quarto dia alguém bate a porta. Rebeca vai atender. Ao abrir a porta deu de cara com um velho alto, calvo, com poucos cabelos brancos, rugas e olhos azuis.- Irmã Rebeca Wolfgang? – Perguntou ele fitando aquela mulher ruiva, cheinha e de cabelos cacheados. Rebeca estava com um moletom cinza batido e uma calça jeans velha.- Sim! – Respondeu ela assustada.- Eu sou Rhodolfo Hubner. – Disse ele alcançando a mão para ela. – Sou o presidente da igreja! – Exclamou.- Entre irmão! – Exclamou ela convidando o velho para entrar.- O seu marido, o pastor Wolfgang está? – Indaga o velho, vestindo uma camisa de manga curta e uma calça jeans azul escura.- Sim, fique a vontade já vou chama-lo! – Respondeu ela saindo a sala. Em seguida ela volta com Hyldon, que já chega cumprimentando o velho.- Irmão Hubner? – Hyldon aperta a mão do velho.- Pastor Wolfgang! – Respondeu.- Eu estava lhe esperando, pois queria saber algumas coisas sobre a igreja. – Disse Hyldon.
Tinha chegado o domingo, o dia do primeiro e maldito culto de Hyldon Wolfgang como pastor daquela igreja no fim do mundo. Depois de uma longa oração e uns dez minutos de hinos, o então presidente da igreja Rhodolfo Hubner chama Hyldon Wolfgang a frente no púlpito e apresenta, ele, sua mulher e seus filhos aqueles fiéis que lotavam aquele templo.- Irmãos esse é o nosso novo pastor, o irmão Hyldon Wolfgang de Caxias do Sul. – Disse. – E também tem a sua esposa a irmã Rebeca e seus filhos Kimberley e Celso. – Apresentou eles a frente.As pessoas ali dentro se levantaram. Hyldon nem podia crer que tinham tantos fiéis naquele lugar. Era se como toda a cidade fosse membro daquela igreja. Será que não haviam outros grupos religiosos naquele lugar? Eles o saldavam com alegria. Ele estava feliz, eram os seus fiéis. Suas ovelhas, nada de outro pastor para lhe dar ordem. O que ele quisesse fazer naquele lugar ele faria. Sem ninguém pra lhe encher o saco e podar suas leis. Ele era o past