Rebeca resolve estender algumas roupas no varal. Era uma manha bonita de sol e ainda fazia um pouco de calor para aquele tempo. Ela põe todas as roupas em uma enorme bacia roxa e vai para o quintal estender as mesmas. A primeira peça de roupa que ela pega é uma calça jeans preta de Hyldon. Ela estande no varal que ficava no quintal da casa, entre o seu pátio e o do templo. Ela estende aquela calça no varal com raiva. Ela odiava ter que lavar as roupas daquele homem! ela odiava estar casada com aquele homem! o bom para ela, é que naquela tarde ela começaria a dar aula numa das escolas da cidade. Teria menos tempo para ver a cara de demônio de Hyldon. Ficar mais uma semana em casa vendo a cara dele não servia para aquela ruiva.
Na verdade ela nem se lembrava mais o motivo de ter se casado com ele. Hyldon era oito anos mais velho que ela. Ela havia nascido em 1975, e quando casou com ele tinha dezenove anos. Seu pai achou que Hyldon era um bom homem. ele o convenceu que a amava. Assim como Hyldon seu pai era um pastor e acabou se tornando o mentor espiritual daquele homem. eles se davam muito bem, o pai de Rebeca que deu o titulo de pastor a Hyldon e a sua mão.O maior arrependimento dela era ter aceito namorar com aquele homem. enquanto estendia uma camiseta de Celso pensava no homem cruel que era Hyldon. Aquele egoísmo que vinha do fundo da alma dele, se ele tinha alma. O jeito que ele a tratava e tratava as crianças. Ela não sabia explicar o por que dele ser assim! Na verdade ela não sabia muito sobre o passado do marido. Sabia que ele escondia algo, mas não sabia o que era. Sempre que ela perguntava para ele [Hyldon] o que tinha acontecido no passado dele, ele desviava de assunto, era agressivo ou lhe batia. As agressões de Hyldon a pessoa dela eram frequentes, bem, agora nem tanto, foram mais frequentes antes dele ter tido a ameaça de infarto. Parecia que nem a lei “Maria da Penha” o assustava. Claro que ele [Hyldon] sabia que ela não iria o denunciar pelas agressões, já que ela iria achar isso um escândalo. Um escândalo para a família dela. Imagina se o pai de Rebeca soubesse disso? Como ele se sentiria como pastor? E a igreja que ele cuidava seria um escândalo tão grande, se não maior que a neta dele usando drogas. O escândalo com Kimberley e as drogas tinha afetado muito a saúde do pai de Rebeca. Saber que a neta estava usando aquelas coisas e que seria internada fez com que ele adoecesse. Sua pressão foi lá em cima, e acabou lhe dando um derrame. Ela [Rebeca] sabia que isso poderia acontecer um dia. Seu pai era um homem que tinha problema de pressão alta, só que porém para ela havia um culpado: Hyldon Wolfgang! Aquele homem tinha sido o culpado pelo pai dela [Rebeca] estar em cima de uma cama vegetando. Se Hyldon tivesse sido um bom pai para Kimberley, aquela guria poderia nunca ter se jogado no mundo das drogas. Claro que ela tinha que concordar que Kimberley tinha sido uma criança problema, só que grande parte da culpa era de Hyldon. Ele nunca conseguiu ser um pai amoroso, nem com ela nem com Celso. Aquele homem sempre foi violento. Em sua cabeça a sua fama de pastor, era mais importante que a família que dependia dele. Tudo para ele terminava em surras, ele [Hyldon] nunca teve dialogo com os filhos. Tudo que ele queria é que um dia pudesse comandar uma igreja; ele desejava o cargo de pastor principal. Era um tipo de obsessão dele desde que entrou para o seminário. Na verdade desde que o pai de Rebeca um dia chamou ele em seu escritório e disse:- “Hyldon tu és um homem que fala bem, que é carismático e uma boa pessoa, creio que tu seria um bom pastor e por isso pedi a um amigo meu uma vaga no seminário, para que tu possas se estudar e se formar para ser pastor! Foi o erro do pai de Rebeca. Ser pastor então se tornou uma obsessão para aquele homem cruel. Sentar em uma cadeira pastoral era seu objetivo de vida. Comandar uma igreja sozinho era seu alvo. Ele chegava a não dormir a noite pensando nisso.O estresse da espera fez com que Hyldon se tornasse ainda mais agressivo com eles. Qualquer coisa era um motivo de briga e surras. Ele perdia a paciência muito rapidamente. E ai... Rebeca estende as meias dela no varal. Não podia deixar de culpar aquele homem por tudo de mal que tinha lhe acontecido. Ele era o inimigo em pessoa. Não tinha outro culpado. Nesse momento um corvo pousa em cima do arame do varal e fica lhe fitando.Ela não sabia explicar, por que aqueles corvos lhe davam tanto medo. Nunca tinha sentido isso vendo aquelas aves malditas. Porém aqueles corvos, daquela cidade pareciam mais negros, mais assustadores e mais arrepiantes. Eles não pareciam corvos normais, como aqueles que voavam sobre a carniça nos campos. Tinha algo naqueles olhos que pareciam cor de sangue. Eles grunhiam diferente.de corvos normais também. Ela ficava com muito medo daqueles corvos, a vontade era sair correndo de volta para dentro de casa. - “O que é isso Rebeca, é só uma ave” – Pensou. – “O que de mal ela pode te fazer”? – Se indagou em pensamento. Não podia ter medo de um corvo. O que ele podia lhe fazer de mal? Ela era bem maior que ele. e se ele a atacasse ela poderia vencer ele. continua então estendendo a roupa no varal. Até que houve aquela voz, vindo junto com o grunhido do corvo:- “Rebeca”!- Quem é? – Indaga ela se voltando para trás. Porém não havia ninguém ali atrás dela. Rebeca volta a estender as roupas no varal. - “Rebeca”! – insistiu aquela voz m*****a.Rebeca se volta para o corvo que grunhia pousado no arame do varal a sua esquerda.- Quem é? – Indaga ela novamente.- “Rebeca”! – Ela [Rebeca] conhecia aquela voz rouca e masculina, só que não podia acreditar que estava a ouvindo novamente. Seria como estar ouvindo a voz de um fantasmas e como cristã ela não cria em fantasmas. - Pare com isso demônio! – Gritou ela bravamente.- “Rebeca”! – Insistiu de novo a voz que parecia vir do corvo.- Pare com isso! - Gritou ela de novo.Nesse momento ela olha bem dentro dos olhos do corvo e começa a sentir uma dor muito forte em algumas parte de seu peito, como se tivesse queimando. Nesse momento ela cai ao chão pela dor. Parecia que ela tinha tomado alguns tiros. Aquilo queimava. O corvo da mais um grunhido e sai voando, enquanto a dor começa a cessar. Em alguns segundo Rebeca estava de pé novamente, porém sem saber o que tinha acontecido. Logo após ela volta a estender as roupas no varal.Enquanto corria pela cidade, Hyldon observa que além de casas e mais casas, alguns comércios [mercados, pequenas lojas, lanchonetes...] e os corvos não havia mais nenhum templo religioso pelo menos nas quadras que ele passou, além do dele. O que parecia muito estranho visto que haviam vários grupos cristãos e não cristãos no mundo. Só que ali havia somente o templo dele e os outros? Será que ninguém se interessava em evangelizar aquela pequena cidade? Ele corria olhando para as casas, mas...- O que essa cidade tem? – Indaga-se sozinho enquanto corre.Hyldon era acostumado a ver um templo em cada esquina, menos naquela cidade. Ali não tinha isso, o que poderia explicar o porquê de tanta gente no mesmo templo. As igrejas que ele tinha cuidado em Caxias do Sul mesmo tendo bastantes membros não tinham a mesma quantia que aquele templo. Na verdade ele não tinha v
O primeiro dia de aula na escola para Celso parecia se desenhar bem difícil. Ao sentar-se em sua cadeira logo a professora uma mulher magra, loira, de óculos e de seus quarenta e poucos anos usando calça jeans verde e uma camiseta de manga lhe disse:- Seja bem vindo Celso! – Disse. – Sou a professora Alice!- Obrigado! – Agradeceu ele seriamente fitando aquela mulher.- O pastor está melhor? – Indagou ela a frente de sua mesa. – Ontem ele passou mal, ele está melhor hoje? – insistiu.- Acho que sim! – Respondeu ele.- Que bom, ficamos todos preocupados com ele. – Disse a mulher fitando aquele guri de cabelo quase branco.- Deve ser! – Exclamou ele [Celso].- Seja bem vindo Celso! – Disse ela de novo. Dessa vez ele só mexe a cabeça confirmando.Nesse momento ele sente algo grudento lhe bater na nuca. E alguns risos atr&aacut
Ao bater o sinal do intervalo, do recreio, Celso sai da sala e após chegar ao pátio da escola é intimado por Laerte e mais dois outros guris.- E ai pastorzinho o que tu falou do eu pai?! – Chegou Laerte indagando e empurrando Celso.- Disse que ele é um frutinha que nem tu! – Respondeu Celso encarando aquele outro guri.- Tu pensas que é machão, não é pastorzinho?! – Asseverou Laerte sorrindo.- Mais do que tu seu bostinha! – Insistiu Celso fechando a mão direita.- Repete isso! – Gritou Laerte chamando a atenção dos outros alunos que estavam no pátio na hora do recreio.- “Briga! Briga”! – Eles gritavam.- Por que tu não cai pra dentro! – Brada Celso fitando aquele outro guri bem nos olhos.- Tu vai apanhar! – Gritou se babando Laerte. Nesse momento Celso acerta um soco bem no meio da cara do
A briga de seu filho com outro guri não tinha chegado nos ouvidos de Rebeca quando ela entrou na sua primeira turma ainda. Ela se apresentou como a professora de geografia. Claro que se apresentar naquela cidade pequena era apenas por simples formalidade, já que todos ali deviam saber que ela era a “esposa” do pastor. Aquela cidade era bastante estranha parecia que só tinha uma igreja na região. O diretor Tarcísio e caricato um alemão gordo o apresentou na sala dos professores com grande empolgação:- “Queridos essa é a nossa nova professora de geografia, a irmã Rebeca Wolfgang, esposa de nosso novo pastor”! – Disse sorrindo na sala dos professores com ela de pé.- “Bem vinda irmã”! – Saudaram os outros enquanto ela segurava sua bolsa e alguns livros nas mãos.Na primeira sala de aula não foi diferente ao passar pela porta da sala acompanhada do diretor Tarcísio. Ele parou em frente ao quadro negro, que ainda era um quadro pintado na parede de verde, e se escrev
O que Kimberley mais queria aquela noite depois de um dia cansativo, depois de uma manha de aulas na escola nova era fumar um “baseado”. Um bom e velho “baseado”. Mas onde conseguiria tal coisa. Ela estava sentada na cama enquanto pensava sobre isso. Aquele lençol rosa, não combinava com seu estilo. Na verdade o que tinha ali dentro refletia apenas a hipocrisia cristã de seu pai. Ele queria que ela [Kimberley] passasse aos seus fiéis uma guria que ela não era. Ele [seu pai] queria que ela bancasse a “santa” e “virgem”, mesmo que ela não fosse nada disso e nem se encaixasse no perfil.Kimberley Wolfgang sempre soube que era diferente. Ela não era a guria que seu pai queria que ela fosse. Foi assim que ela se apaixonou por Alexandro, vulgo “locão; “Locão” tinha sido seu primeiro amor. Quando ela o viu com aquela jaqueta de couro batida, aqueles spikes e
Depois que Hyldon saiu para correr, e as crianças para escola Rebeca ficou limpando a casa, quando ouviu umas leves batidas na porta da frente. Ainda com a vassoura na mão ela vai ver quem era. Ao abrir o pequeno vitro enxerga uma velha. Era uma velha bem enrugada, cabelo bem branco, de coque e um vestido azul com flores roxas. Nas suas mãos estava uma pequena forma com algo coberto com um guardanapo.- Olá irmã? – Disse a velha lhe fitando sorrindo. – Sou sua vizinha Dolores Hans! – Argumentou. – Moro na casa rosa aqui na frente, aquela com gramado e rosas! – Exclamou apontando para sua casa do outro lado da rua. – Vim lhe trazer uma cuca de boas vindas. – Completou destapando a cuca e mostrando para Rebeca.- Entre! – Disse Rebeca largando a vassoura de cabo verde encostada no sofá e abrindo a porta para receber aquela velha.- Desculpe eu vir essas horas irmã, mas é que eu andava muito doente! – Explica a velha enquanto entra na casa dos Wolfgang. – Não conse
Enquanto corria Hyldon passa pelo prefeito Adão Bierhals da cidade que está conversando com algumas pessoas. Ele [Hyldon] os cumprimenta e passa, mas logo volta para conversar com o prefeito, ele gostaria de saber o que tinha acontecido com o templo dos católicos romanos da cidade.- Prefeito posso falar com o irmão? –Pergunta Hyldon.-Sim pastor! – Respondeu o prefeito se despendido das pessoas e saindo caminhando com Hyldon.- Irmão o que houve com o templo dos católicos? – indagou Hyldon indo direto ao ponto. – Ele está todo depredado, cadê o padre? – Insistiu. – O que houve aqui? – Completou.O prefeito enquanto caminha põe a mão direita no ombro esquerdo de Hyldon e responde:- É uma historia muito longa pastor! – Disse.- Pode me contar então, por que pelo jeito somos a única igreja dessa cidade! – Retrucou Hyldon fitando o homem.- Como eu disse pastor Wolfgang a historia é longa! – Insistiu. – Nunca tivemos muita sorte com religiões, padres e
Naquela manha os períodos foram mais reduzidos, por que duas professoras haviam faltado. O motivo? Problemas de saúde! O que fez com que a escola dispensasse a turma de Celso mais cedo. Celso até tinha ficado feliz com isso, já estava feliz quando chegou na escola e não viu Laerte. O guri estava em casa se recuperando da surra que levara dele. Agora mais essa noticia para deixar seu dia mais feliz. Ao dar o sinal ele corre para sala de Kimberley para avisar a irmã. A sala dela ficava no pátio perto da quadra. Ele bate na porta de madeira da sala, quando a professora atende ele exclama:- Quero falar com a minha irmã Kimberley! – Disse fitando aquela mulher de cabelos negros e longos.- Sim. – Concorda a mulher. – Kimberley o seu irmão quer falar contigo! – Exclamou.Kimberley se levanta de sua classe que ficava no meio da sala e vem até a porta:- O que houve Celso?! – Indagou ela ao irmão.- Duas professoras minhas estão doente e faltaram! – Respondeu ele rapid