— Você fala pouco de sua avó. — Dr. Marcel Sharpe era um homem narigudo, com cabelos ruivos ralos e duas entradas bem grande em sua testa. Ele estava sentado em uma poltrona bem em frente a minha, vestindo um terno esquisito e quadriculado, marrom escuro e bege. — Acha que todos os seus problemas podem ter se originado de seu relacionamento com ela?
— Tenho pensado nisso desde a primeira visita de Remy nessa clínica. A forma com que ele me olha é de arrepiar a minha coluna, mas com frequência lembro de minha avó. Ela era uma mulher difícil, queria tudo para a hora que pedia, não esperava, atropelava você caso não fizesse na hora e as vezes não dava tempo, sabe? Depois, reclamava, fazendo você parecer um lixo de pessoa por
— Olha só quem resolveu dar o ar da graça! — Victor Thiers estava encostado na parede de tijolos perto da porta da delegacia segurando um cigarro fedorento. O vento fresco trouxe aquela fumaça em cima de mim.Eu tinha separado um bom terno para aquele dia. Retornar para a delegacia era uma vitória pessoal, especialmente agora que tinha sido condecorado com uma medalha de honra por ajudar nas investigações, mas confesso que havia vantagens em não ter mais aqueles jornalistas como vespas na porta querendo entrevistas. O problema ainda era andar pelas ruas de Brume Peak sem ser estigmatizado.Antes mesmo de chegar ali eu tinha passado na padaria para tomar café da manhã. Uma jovem de cabelos coloridos e camiseta de
Estacionei em frente a delegacia. A escadaria se erguia imponente e suspirei ao ver doze policiais no topo, esperando minha chegada. Ajeitei a gravata no pescoço e passei as mãos na lateral do cabelo loiro certificando-me de que estavam rigidamente puxados para trás em um rabo de cavalo. Peguei a pasta de trabalho, de couro caramelo e saltei da pickup aprumando o peito com orgulho.Os policiais fizeram cara de desgosto. É, eu os compreendo. Ninguém trabalha dura esfolando a bunda no asfalto para ver um criminoso como eu solto por aí, exibindo um distintivo de assessor forense. Mas o distintivo era meu.Subi todos os degraus, um policial cujo uniforme exibia os dizeres H. Cazal cuspiu no chão perto dos meus sapatos engraxados. Troquei olha
Entre uma pausa e outra, fui pegar café. A cafeteria estava animada e os homens conversando, mas quando me viram, pararam de falar e saíram dispersando. Ficou claro que estavam falando mal de mim, mas não liguei, até gosto da minha fama.Adentrei o pequeno recinto. As paredes eram decoradas com um ladrilho marrom claro, como os móveis antiquados. Os puxadores de aço estavam gastos e em alguns pontos, até enferrujados. Havia um micro-ondas e uma mesa de quatro lugares que ficava no meio do caminho até a geladeira que os policiais enchiam de donuts velho. O cheiro de café estava forte, na cafeteira dos anos 50 e tinha litros de café pronto para mais de um batalhão.De dentro de um dos armários peguei a can
Eu pretendia chegar no apartamento e ter uma boa manhã de sono ao lado de meu novo Terry. Financiei um apartamento localizado no Quarteirão Central de Brume Peak, é em um pedaço tranquilo da cidade com lojas perto, e longe da bagunça o suficiente para ter privacidade. Tenho um estilo de vida excêntrico.O local possui uma decoração simples, mas funcional. Deixei as chaves em cima da mesa perto da entrada e tirei o casaco, guardando no armário. Soltei a pasta em cima do sofá e fui para o quarto. Abri a porta e avistei Victor sentado na borda da minha cama. Seus olhos castanhos caíram sobre mim com ansiedade. Jean-Elói, estava nu sobre a cama, de bruços e com a bunda para cima, me esperando, enquanto sedado. Golpe baixo.
Coxas grossas envolviam meu pescoço e enquanto eu sufocava apenas conseguia pensar no quanto aquilo era malditamente sexy.A academia ficava nos andares inferiores da delegacia e havia pouco espaço. Um recinto sem janelas, com luzes artificiais brancas e cheiro de suor preso por mais de décadas. Os equipamentos eram antiquados, mas funcionavam. Eu estava sobre o tatame alcochoado, treinando o Krav Maga. Ou mais precisamente: falhando consideravelmente.O perfume de Remy me atrapalhava. O cheiro compenetrante amadeirado e sensual, um pouco picante, que escapava de sua pele era um afrodisíaco que arrancava a sanidade da minha alma e a força das minhas pernas. Eu fiquei excitado e, distraído, levei um soco no ombro sobre os nervos, que me jogou ao
Anos atrás um estudante de psicologia solicitou que eu fosse entrevistado para seu trabalho de faculdade. O policial que cuidava do setor em que eu estava encarcerado colocou as algemas de um jeito que minha pele parecia rasgar antes de eu ser retirado para uma sala de uso comum. A entrevista ocorreu em uma sala grande e em que esse tipo de coisa não acontece. Mas eu estava preso, não sentia que estava em mim.A prisão fazia uma década? Eu não estava contando, já não me importava com os dias. Eu estava reduzido a uma versão diminuta de mim mesmo: um leão enjaulado que perde a força de rugir, doente e moribundo. Lembro dos papéis amarelos que foram colocados na minha frente, lembro do terno com cheiro de amaciante e dos dedos delicados, mas n&
— Vai levar, pelo menos, dois dias para enviarem os dados do sistema central da loja e localizar as encomendas enviadas a Brume Peak nos últimos dois anos. — Hector passou as mãos nos cabelos, parecia cansado. — E a busca pela pick-up não deu em nada, por mais que eu odeie admitir.Havíamos pedido comida e as embalagens ainda estavam em cima da mesa competindo com os papéis do caso. Naudé, que momentos atrás estava cochilando no sofá, esfregou os olhos. Yvonne deu um gole na sua xícara de café velho.Remy suspirou irritado e girou a cadeira em que estava sentado de um lado para o outro, mordendo os próprios lábios, ansioso.— Vamos monitorar as ruas próximas da praça de forma vigilante. — Dylan disse. — S
Assim que chegou na delegacia Laurence foi algemado diante de todos os jornalistas. Hector fez questão de prendê-lo no instante em que pegou o mandato. Durante o ato, o homem de cabelos escuros e lisos, olhos castanhos da cor de mel, apenas sorriu. Ele estava usando Dr. Martens, os mesmos identificados na imagem.Em sua casa os policiais vasculharam e encontraram o diário, além de fotos da vizinha que indicavam que ele havia posto câmera em todos os cômodos de sua casa. Ele não era obcecado por ela, mas em se tornar ela… É, bem bizarro, especialmente quando achamos fotografias instantâneas dele usando as roupas dela quando ela não estava em casa.Laurence confessou seus crimes sem remorso e para nossa surpresa, ele