POR LINCY A fonte foi a primeira coisa que me veio à cabeça. O que eu não esperava era me teletransportar direto para cima de outra pessoa. — Cuidado! — Lunester me segurou pelos braços, evitando que eu caísse. — Me desculpe! — pedi, morrendo de vergonha. Trombar com a mesma pessoa duas vezes no mesmo dia... — Quando usamos teletransporte, não enxergamos quem está do outro lado. Minha tentativa desajeitada de justificar a situação não funcionou muito bem. Ele riu, soltou meus braços e pousou a mão sobre meu ombro. — Sim, eu sei disso. — Ele deu um passo para trás, e eu fiz o mesmo. — E por que você se teletransportou para cá? — Só queria sair um pouco. — A porta ainda está aberta, Lin. — Não era uma bronca, nem de longe; ele parecia estar se divertindo. — E o que faz aqui? — perguntei, tentando desviar a atenção de mim. — Gosto de admirar isso. — Ele apontou para uma das luas no céu, algo que não vemos em Halis. — O ambiente escuro é fascinante. — Se acha isso escuro, deveria
POR LINCYComecei a juntar todas as minhas coisas. Coloquei meu caderno e minha caneta na mochila às pressas e devolvi a veste halisiana que havia pegado emprestado no armário de Lenissya, colocando minhas próprias roupas de volta. Meu olhar percorreu o cômodo uma última vez para ter certeza de que não estava esquecendo nada. Com todas as dióxys em mãos, foquei em Lenissya, visualizando-a para poder abrir o portal. Ao que parecia, ela estava em um lugar e situação adequados.— Eu vou ou não vou? — ouvi-a dizer para si mesma assim que surgi do outro lado. Ela estava sentada na poltrona de uma sala, olhando para a porta e não me viu chegando. Vestia calças pretas e uma camisa vermelha estilosa.— Vai ou não vai aonde? — Ela virou o rosto ao ouvir minha voz e abriu um daqueles sorrisos angelicais.— Lin! Estava pensando em dar uma escapada para ir te ver. — Ela riu de forma travessa. — Zuldrax está em reunião com o rei Nicolas e a família dele. Sei que é meio doido falar sozinha, mas é a
POR LINCY— Espera, Lin! — pediu Lenissya. Eu já estava abrindo o primeiro portal. Atravessei-o, e ela veio logo atrás. Estávamos agora em uma região litorânea, onde as ondas batiam suavemente na costa.— Dentro do mar? Sério? — resmunguei.— Lin, por que você está de mau humor? Meu irmão foi tão rude assim com você?— Pior. — Coloquei a bolsa no chão, já me preparando para um mergulho daqueles… — Seu irmão é insuportável!— Mas o que ele te fez, Lin? — Ela se colocou na minha frente. Pelo visto, não desistiria tão facilmente de uma resposta. Pensei naqueles beijos e senti um arrepio, de uma forma ruim. Talvez nada disso tivesse acontecido se ele não tivesse uma pegada tão boa... — Lin!— Eu te respondo depois que me responder uma coisa — devolvi. — Qual é a dos uniformes? Por que os povos daqui só se vestem em cores específicas?Tanto Lenissya quanto Zuldrax estavam em combinações de vermelho e preto, e todos na sala de reunião, pertencentes a Salis, usavam uma paleta em torno do ver
POR LINCYUm misto de alegria e preocupação tomou conta da minha mente enquanto levava Lenissya de volta a Seradon, logo após a descoberta. Ela parecia nauseada e visivelmente exausta.— És uma pessoa de palavra — disse Zuldrax ao notar Lenissya com a cabeça deitada no meu colo, dormindo profundamente. — Obrigado!— Suponho que não voltará hoje — comentou Henry, parado ao lado dele. Após nosso retorno, eles ainda passaram quase uma hora na reunião, tempo suficiente para que até eu quase caísse no sono de puro tédio. — Podem dormir em um dos quartos de hóspedes.— Obrigado! — agradeceu Zuldrax, pegando Lenissya com cuidado nos braços para não despertá-la. — Boa noite, Lincy!— Boa noite! — respondi, bocejando e espreguiçando os braços.Henry acompanhou Zuldrax, mas antes de sair do cômodo, fez um gesto discreto com a mão na minha direção, como quem diz: "Espere!"Fechei os olhos, mais para lá do que para cá. Quando o primeiro vislumbre de um sonho começava a tomar forma, senti um toque
POR LINCYEstávamos em um terreno seco e desértico, cercado por rochas por todos os lados. Eu já conhecia o suficiente desse mundo para saber que estávamos perto da fronteira com Halis. Pelo menos duas dióxys estavam por perto. — O que está fazendo? — questionei Miridar, surpresa ao sentir sua mão agarrar a minha repentinamente, com força. — Apenas me deixe fazer isso, Alissya. Preciso disso... Não tenho me sentido bem ultimamente. Ele sabia como me atingir. Sua expressão abatida e aqueles olhos pidões acabaram comigo. Não tive alternativa. Se isso o faria se sentir melhor... — Mas nada de gracinhas! — adverti-o, sentindo meu rosto esquentar ao ver o sorriso vitorioso que ele me deu. Ele realmente não me largava mais. Se não era minha mão, era meu braço. Conseguiu me atrapalhar mais do que o Alister, coisa que eu nem achei que fosse possível.O ponto positivo é que, graças ao truque do portal que Lenissya me ensinou, consegui mais dióxys do que em qualquer outro dia, superando em
POR LINCYSe eu não estivesse racional e destemida ultimamente, acredito que teria chorado também. Afastei-me do trio e caminhei em direção ao príncipe Henry.— Assumo a responsabilidade por qualquer consequência que o atraso entre os turnos possa causar — brinquei, enquanto devolvia a pedra para que ele a passasse adiante.— Pelo que sei, você foi a responsável pela aceleração das buscas. Qualquer mero atraso não é nada se comparado a tudo o que já fizeste. Ele tinha razão. Se colocássemos na balança o meu esforço, julgo que acelerei muito mais do que atrasei. Henry retirou-se do salão levando a pedra, e, enquanto eu caminhava de volta ao grupo, fui interceptada pelo desagradável irmão de Lenissya. — Estás fugindo de mim? — perguntou ele, bloqueando meu caminho.— Por que eu fugiria de você? Te desconsidero totalmente para ter qualquer mínimo sentimento do tipo. Apesar da rispidez nas palavras, meus dedos formigavam de nervoso.— Você finge que me engana, e eu finjo que acredito —
POR LINCYA reunião foi encerrada de maneira ordeira, e o planejamento estratégico ficaria apenas entre os envolvidos diretamente. Os dias em Salis não se estenderam muito. Com todas as dióxys recolhidas, Lenissya e eu voltamos a encontrar Saitron.— Pedimos sua autorização para recolher as demais dióxys — solicitei, com Lenissya e eu em reverência diante de Saitron. — Partiremos para o continente negro em seguida.— Permissão concedida. Vejo que já estão se mobilizando para a defesa deste mundo.— Acreditamos que seremos invadidos em breve — afirmou Lenissya. — Eu sei. Sinto isso em cada uma das minhas células. Como refugiados, vocês têm uma obrigação para com este lugar. Não falhem! — declarou Saitron, conduzindo-nos à ala das dióxys. Enquanto Lenissya e eu concluíamos nosso trabalho, ele nos deu informações extremamente importantes: — Precisarão usar o poder total dessas dióxys se quiserem sobreviver no continente negro.— Por quê? — perguntei, engolindo em seco e interrompendo
POR LINCYEnfim, o dia de atravessar para o outro continente havia chegado. Precisamos de um tempo para revisar a estratégia e refazer o planejamento, percebendo que não seria possível levar suprimentos ou qualquer outra bagagem com o teletransporte. Seríamos apenas nós, com a roupa do corpo, e os zafisianos, com suas espadas.Ao sul de Zafis, há pântanos e, além deles, uma pequena ilha no oceano, o pedaço de terra mais próximo ao continente negro, segundo Saitron. Lenissya nos levou até lá, e foi com tristeza que me despedi dela.— Estar grávida não me torna inválida, Lin. Não precisava se preocupar tanto comigo. — Ela ainda estava inconformada, mas, depois da revelação, foi unânime a decisão de que ela ficaria. Ainda mais porque se tornaria a ômega, e nada poderia lhe acontecer.— E quem disse que eu estava preocupada com você? — Desfiz o abraço e cutuquei sua barriga. — É essa criança que me preocupa. Você pode sobreviver aos ataques, mas e o bebê? Não quer que ele nasça com sequel