Lucas Park
Quando já estava tranquilo o suficiente para pensar em outra qualquer coisa, que não fosse seu corpo em cima do meu, saí em disparada para a sala de segurança. Não queria correr o risco de qualquer pessoa ter acesso ao vídeo. E muito menos, escutar qualquer insinuação que pudesse, de algum modo, manchar a imagem de Gabrielle. Mesmo que seus seguranças tivessem nos visto, eu não daria brechas a eles para falarem disso por aí.
Éramos adultos e, ainda que tivéssemos nos rendido àquele momento em cima do capô do maldito carro, nenhum deles tinha o direito de me censurar. Quem eram eles, afinal, para me dizer o que era certo ou errado? Nem conseguia imaginar como alguém poderia achar aquilo errado de alguma forma, nem mesmo sabia a razão de estar pensando nessa possibilidade.
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Lucas Park Tentei controlar a irritação, mas a raiva latejava em minhas têmporas. Castillo claramente buscava abafar o fogo que já ameaçava incendiar a ambiente. Ele sabia que qualquer encontro inesperado entre nós poderia acabar em caos, especialmente se fosse em presença de Gabrielle, por essa razão armou nosso encontro em seu próprio território. Eu não tinha o costume de andar armado, mas a ideia passou pela minha cabeça desde que soube que Gadreel estava na cidade. Se ele ousasse sequer pensar em forçá-la a qualquer coisa... não hesitaria em meter uma bala em sua cabeça. Gadreel ergueu o olhar para mim, os olhos estreitos, desafiadores, e deu uma ordem, simples, mas carregada de tensão: ― Sente-se. Cada fibra do meu corpo instintivamente se enrijec
Lucas Park Ter um lunático como Gadreel interessado nela já era uma tortura, mas a ideia de Castillo, com todo seu poder e influência, se aproximar dela me fazia estremecer. Gabrielle era minha. Somente eu estava apto a ocupá-la em qualquer sentido. Mas Gadreel... ele seguia um código doentio. Chamava aquilo de “a regra dos três”. Seus encontros eram divididos em ciclos de três, cada ciclo mais invasivo que o anterior, e ele parecia levar essas etapas como um ritual sagrado. No primeiro ciclo, três encontros para conquistar o desejo e obter o primeiro beijo. No segundo, mais três encontros para ganhar a confiança e levá-la para a cama. No terceiro ciclo, mais três encontros para romper qualquer vínculo e destruir o coração da mulher com quem brincava. Para ele, cada uma era apenas um brinquedo, algo para ser usa
Lucas Park Antes de sair, Gadreel me lançou um olhar provocador, quase desafiador, enquanto caminhava para a porta. Esperava que eu o seguisse? A ideia de esmurrar seu rosto assim que saíssemos do apartamento me enchia de adrenalina. Mas eu não cederia; sabia que a primeira pessoa a atacar ficaria em dívida. Essa era outra regra. Apertei os punhos com força, sentindo a tensão percorrer meus músculos, enquanto a pergunta martelava minha mente: por que diabos passei tanto tempo chamando esses bastardos de amigos? A verdade era que havia algo perversamente excitante naquela dinâmica de apostas, uma mistura de adrenalina e desafio que corria nas minhas veias todas as vezes que nos colocávamos contra as nossas próprias lealdades. Eu gostava dessa adrenalina, mas estava cada vez mais claro que, por mais fundo que isso corresse, n&at
Gabrielle Quando desci as escadas, senti que havia algo errado. Lucas não estava lá novamente. Ele não voltou para casa na noite anterior, não ligou, não mandou mensagem. E agora, sua ausência se estendia pela manhã. Definitivamente alguma coisa estava acontecendo e ele não estava me dizendo. O silêncio da casa era quase opressivo. Aquela bancada da cozinha, que sempre parecia lotada pela manhã, estava vazia. Nenhum sinal de Leslie, Dave ou Jullian. Eu estava sozinha. E pela primeira vez em toda a minha vida, não gostei da sensação de não tê-los por perto, não somente Lucas, mas todos eles. Todos estavam magoados comigo, cada um por seu próprio motivo, mas não podiam simplesmente me abandonar, como se eu fosse um brinquedo que eles enjoaram de usar. Essa sempre foi a minha função. Era eu quem costumava me afastar e deixar os outros para trás — não o contrário
Art. Único: A herdeira terá posse absoluta, irrefutável e intransferível, após a maioridade de 21 (vinte e um) anos, sob o cumprimento das seguintes exigências: 1. A herdeira deverá ser apta ao cargo de CEO, tendo pleno conhecimento certificado das seguintes áreas: a. Administração de empresas e finanças corporativas b. Economia c. Engenharia d. Arquitetura e. Gestão de pessoas Essa foi a primeira das dez exigências de meu pai, nada fáceis de se cumprir. Ele era a pessoa que mais me conhecia no mundo, talvez soubesse mais de mim do que eu mesma, o que me deixava desconfortável, pois sabia exatamente como lidar com meu narcisismo. Não pude conter o riso quando li pela primeira vez, na verdade, eu ri alto e tão descontroladamente, que senti cada músculo do meu corpo vibrar. Me obrigar a ser social mediante um documento era tão John. Ele sabia que eu não gostava de participar de eventos sociais, sabia que eu não gostava das pessoas da minha idade, assim como sabi
Lucas Park, o típico herdeiro que toda garota sonha em ter como companheiro. Bonito, carismático e com uma conta cheia de dinheiro. Eu não me importava com sua simpatia, tampouco precisava de seu dinheiro, a única razão para eu não raspar sua cara no asfalto quente, é pelo simples fato que seria um desperdício. Sua simetria era assustadora quando observada por algum tempo. Com sua descendência oriental, era quase impossível não olhar em seus olhos escuros e profundos, seu nariz levemente empinado e fino, a boca era grande com lábios volumosos. Era possível ter aqueles traços naturalmente? Se a inocência tivesse um rosto, aos vinte e três anos, com certeza seria aquele. Até mesmo seu sotaque era charmoso, qual me deixou completamente surpresa. Era realmente um contraste agradável quando visto por inteiro. Exceto pelo cabelo, que estava todo brilhante, com um topete estilo John Travolta nos tempos da brilhantina. — Pode parar de me encarar agora — me censurou. Sorri
— Dave me pediu para cuidar de você — confessou Havíamos passado tanto tempo juntos no passado, que algumas perguntas não precisavam serem feitas. Dave era pai de Lucas, também era melhor amigo e sócio de meu pai, por esse motivo, passamos nossa infância inteira juntos. A mãe de Lucas havia morrido ao dar à luz, então eu emprestei a minha, simples assim. Crianças são tão ingênuas. — Como tem passado Gabrielle? — iniciou ele — Você esteve fugindo de mim desde que retornei. — Não sou uma pessoa nostálgica — confessei — Sinto muito se não te ofereci a recepção que gostaria. Ele sorriu. Não um sorriso de deboche. Ele realmente sorriu. Um sorriso envergonhado, quase escondido, que ao que parecia, eu não deveria ter notado. Ainda havia covas em suas bochechas, assim como quando éramos crianças. Olhar para ele sorrindo fez surgir um mix de emoções que eu nem sabia que era possível para alguém como eu. Senti falta daqueles dias em que passamos horas brincando e conversando
Eu não suportava mais tanto barulho. Não suportava mais olhar para aquele desconhecido. Mas o que me deixava mais infeliz, era aquele sentimento de posse que senti brotar em mim, assim como quando éramos crianças. Eu poderia detestar todas as pessoas, implicar com cada uma delas e maltratá-las, mas em nenhum momento em toda minha vida, consegui vê-lo da mesma forma que os demais. Lucas sempre foi importante demais para mim, tão precioso quanto meu pai. O destino me tirou os dois, um após o outro, e mesmo que tivesse me devolvido um, ele já não carregava toda a importância e carga emocional de antigamente, e mesmo se o fizesse, eu não era mais capaz de suportar nenhum volume de sentimentos. Me tornei um invólucro raso, incapaz de conter qualquer sentimento por muito tempo, sem deixá-lo escapar pelas paredes rachadas. Fiz o que deveria ter feito desde o momento em que cheguei. Me levantei e caminhei pelo gramado, ignorando o chamado de Lucas, que deixei me observando partir. C