Gabrielle
Quando desci as escadas, senti que havia algo errado. Lucas não estava lá novamente. Ele não voltou para casa na noite anterior, não ligou, não mandou mensagem. E agora, sua ausência se estendia pela manhã.
Definitivamente alguma coisa estava acontecendo e ele não estava me dizendo.
O silêncio da casa era quase opressivo. Aquela bancada da cozinha, que sempre parecia lotada pela manhã, estava vazia. Nenhum sinal de Leslie, Dave ou Jullian. Eu estava sozinha. E pela primeira vez em toda a minha vida, não gostei da sensação de não tê-los por perto, não somente Lucas, mas todos eles.
Todos estavam magoados comigo, cada um por seu próprio motivo, mas não podiam simplesmente me abandonar, como se eu fosse um brinquedo que eles enjoaram de usar. Essa sempre foi a minha função. Era eu quem costumava me afastar e deixar os outros para trás — não o contrário
Gabrielle Eu sabia que, naquele momento, algum segurança já havia notificado Jullian e Leslie sobre a visita de Gadreel. Se eles não chegassem em questão de minutos, significava que estavam lidando com algo mais urgente — o que seria tão crítico nas empresas que exigiria a presença de todos logo cedo? — Sua casa é linda — comentou ele, tirando-me dos pensamentos. — Maior do que eu imaginava. — E por que você imaginou como seria minha casa? — perguntei, com uma sinceridade descuidada, sem me importar com o tom. — Porque eu pensei que nunca me convidaria a entrar — ele respondeu, sorrindo de canto, com um olhar que parecia conhecer segredos que eu não sabia. Gadreel sentou-se na bancada da cozinha, no mesmo lugar o
Gabrielle Eu o observava enquanto ele dirigia. Seus dedos estavam tão tensos no volante que as juntas se esbranquiçaram, e sua mandíbula permaneceu travada como se ele estivesse controlando a raiva a todo custo. Eu sabia que ele estava tentando não perder o controle. Com Lucas, o silêncio era sempre a pior parte. Era o prelúdio da tempestade. — Não é nada do que você está pensando — soltei, antes que ele pudesse dizer qualquer coisa. Ele soltou uma risada seca, sem qualquer humor. — Você não sabe o que estou pensando. — Então me diga — pedi, contendo o tremor na voz. — Está me punindo, e eu nem sei o que fiz de errado. Foi então que ele pisou no freio com tanta força que m
Gabrielle Pensando melhor, em nenhum momento Gadreel disse que trabalhava para Jullian; eu simplesmente supus, e ele se aproveitou do benefício da dúvida. Afinal, para alguém ele deveria trabalhar. Ele havia deixado claro que sua função seria me proteger quando eu assumisse as empresas do meu pai. Teria sido John quem o deixou programado para isso? Era exatamente o tipo de contingência que meu pai adotaria. Aquela linha de raciocínio me fez estremecer. A maneira como tudo foi orquestrado parecia tão... familiar. Era o estilo de John, manipulando tudo dos bastidores. Meu estômago se revirou de novo, e senti o peso de uma angústia me apertar o peito. Mesmo morto, ele ainda conseguia manter controle sobre minha vida. — Me perdoe se te assustei — disse Lucas, tirando-me dos meus pensamentos. &
Gabrielle Meu corpo ficou paralisado. Eu queria entender o que ele estava pensando, mas não consegui ler nada em sua expressão. Naquele instante, tudo que eu sabia é que meu estômago deu um nó tão forte que senti o gosto amargo do arrependimento subir pela garganta. Não tinha tempo para pensar; se eu não saísse dali, vomitaria na frente de todos. Com uma mão na boca, corri pelo corredor até o banheiro mais próximo. Quando cheguei à toalete, não consegui segurar. Todo o sanduíche que comi mais cedo veio à tona, saindo de dentro de mim como se quisesse levar junto a culpa, a raiva e o desespero. Curvada sobre o sanitário, com o corpo tremendo, eu mal conseguia acreditar que aquilo estava acontecendo. Nunca, em hipótese alguma, imaginei que encontraria Murilo tão cedo. Muito menos daquela forma
Lucas Park Não havia mais espaço para dúvidas ou tempo para hesitação. Eu teria que reivindicá-la como minha, e todos deveriam saber a quem ela pertencia. Ela teria que saber a quem pertencia. Desde o momento em que Gadreel saiu do apartamento de Castillo, suas palavras dançam na minha mente, corroendo cada certeza e me fazendo questionar tudo o que achava que sabia sobre ele. Nunca o vi tão decidido, tão... calmo. Sempre foi o tipo que brinca com o fogo, se atira nas situações como um insano incontrolável. O caos é seu vício, a ordem nunca fez parte do seu jogo. Mas agora? Agora ele estava calculado, meticuloso. O que havia mudado? E desde quando ele a conhecia? Porque claramente Gabrielle não fazia ideia de quem ele era. Como diabos ele podia dizer que ela já era dele antes mesmo de eu surgir em sua vida? Claro, eu sabia que, de alguma forma perversa e obscura, Gadreel tinha um vínculo com Leslie e John. Mas se ele realmente possuía algum documento assinado pessoalmen
Lucas Park Se o desgraçado do Castillo tivesse feito o que eu estava temendo… Ele era o filho da puta mais inconsequente que já conheci. Aquelas drogas precisavam ser ministradas, dosadas com cuidado. Como ele pôde achar que batizar uma caixa de leite era seguro? Por Deus, o que ele estava pensando? Senti um calafrio percorrer minha espinha ao avistar o carro característico dele estacionado bem em frente à escadaria de entrada. Estacionei atrás, sem sequer me preocupar em fechar a porta ao correr para dentro da casa. Lá estava ele, debruçado na bancada da cozinha — o lugar onde Gabrielle costumava se encostar. Seu corpo projetado para frente, o rosto a centímetros do dela. Ele estava prestes a beijá-la? Claro que ele faria isso, e nem mesmo se importaria em checar se era reciproco. Porque era
Lucas Park Eu deveria levá-la pela garagem, entrar pelos fundos, longe da vista de Castillo, que provavelmente estaria assinando as últimas folhas da rescisão. E, se o conhecia bem, perderia alguns minutos na recepção, entretendo as recepcionistas. Gabrielle não poderia vê-lo ali — não agora. Suas perguntas viriam, e eu ainda não estava disposto a respondê-las. Mas quanto mais nos aproximávamos, mais a sentia escapando, a lucidez se desvanecendo de seu rosto. Precisaria correr o risco e colocá-la em minha sala antes que alguém percebesse seu estado. A ideia de levá-la a um hospital que não fosse o de Leslie estava fora de cogitação; não fazia ideia da quantidade de droga que havia consumido, e a última coisa que precisávamos era um escândalo. Que
Lucas Park Me senti tão impotente e fraco. Nunca senti tanta raiva de alguém ou de mim mesmo, por algo que ia além de meu controle. Eu apenas queria toma-la em meus braços e fugir, ir para longe de todo aquele caos, para longe de todas aquelas pessoas. Eu a amava mais do que minha própria vida, e estar diante dela, sem poder fazer nada para ajudá-la, me doía mais do que se estivesse sendo torturado por mil agulhas perfurando minha pele. Foi um verdadeiro milagre Leslie ter concordado em apenas leva-la para casa. Claro que Jullian se preocupou em mantê-la longe do hospital, ele não poderia correr o disco de descobrirem que foi ele quem trocou as caixas. A saída mais logica que encontrei no momento foi atribuir a Gadreel aquele infeliz incidente. Claro que corri o risco de tanto Leslie como Gabrielle não acreditarem, mas eu sabia que Jullian faria