Emma
A ideia de Francisco me deixava bem pouco à vontade, mas precisei concordar que parecia ser a que nos daria mais chance de êxito. Eu não poderia correr, nem pular, nem escalar árvores, então esconder deveria ser mais fácil.
O esconderijo dele era um local minúsculo, no chão, bem abaixo de sua cama. Feito por falhas no chão de madeira, mas que agora poderia ter alguma serventia.
Claro que ele não poderia ficar lá embaixo comigo. Primeiro porque, com a minha barriga, não haveria lugar para dois e, segundo, porque ele precisava empurrar a cama para o lugar novamente.
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Emma Fui colocada em uma cama dura que ficava em um outro cômodo sem portas, e adormeci quase de imediato, cansada demais para tentar entender as palavras que Francisco e Antónia trocavam aos sussurros. Cedo demais, fui acordada pela mão grande, mas muito delicada, de Francisco tocando meu ombro. Ainda parecia um sonho que ele estivesse mesmo comigo. - Precisamos ir, meu amor. – sussurrou depois de me dar um beijo na testa. Levantei, cansada demais, e percebi que ainda estava escuro. - Quanto tempo eu dormi? - Apenas umas duas horas.<
Guilherme Soltei o caderno de minha mãe apenas quando li a última página. Não consegui desgrudar os olhos das palavras, minha cabeça absorvendo a história da minha vida que ninguém nunca havia contado. Ao meu redor haviam copos vazios e pratos com migalhas. Todas as coisas que eu havia consumido noite a dentro enquanto virava página após página com o coração acelerado. Ergui os olhos. Logo iria amanhecer. Deitei no sofá com os olhos ardendo e a cabeça doendo ainda mais do que no início do sábado. Se eu soub
Guilherme Voltei para o carro arfando. Eu tinha acabado de interromper o casamento de dois completos estranhos. Talvez as pessoas estivessem perguntando para Emanuele quem era o maníaco, sujo e mal arrumado, que tinha protestado. Afundei no banco com as mãos no rosto. Eu precisava me acalmar e focar no que era realmente importante. Emanuele não estava se casando e eu poderia conversar com ela sobre o que havia descoberto, e depois pedir desculpas pela cena que tinha criado. Desci do carro poucos minutos depois porque precisava respirar, e claro, evitar os olhares curiosos dos convidados quando s
Emanuele A festa de Ester e Martim foi perfeita, tão animada que quase me esqueci do aparecimento de Guilherme e de suas palavras confusas. Será que era verdade? Que nós dois éramos primos e não irmãos? Cansada por todo o trabalho da semana, fiquei aliviada ao ver os convidados partindo em seus carros quando o sol começou a descer no céu. Eu precisaria de um longo descanso depois de toda a preocupação em fazer aquele dia o mais perfeito possível. - Tudo bem com você? – minha irmã passou pela porta da frente após se despedir de uma porção de parentes de Martim.
Emanuele Quando li a última palavra do diário de Emma, já de madrugada, eu estava chorando. A história era cheia de reviravoltas e momentos tristes, mas no fim tudo tinha ficado bem. Emma tinha conseguido escapar da fazenda e viver com o homem que realmente amava, Francisco, o pai de Guilherme. Eu consegui imaginar como foi quando ela o viu pela primeira vez, e pela descrição física já tinha dado para saber que Guilherme tinha me contado a verdade, e percebi que não havia sido tão diferente da maneira que eu conheci seu filho. Exatamente na mesma porta.
Emanuele Mamãe tinha razão. Não só em quinze minutos eu estava dentro do carro bem alimentada, como tinha conseguido vestir peças de roupa que combinavam e domado os nós dos cabelos com mais cuidado. Claro que o tempo parecia infinito, e eu precisava do mapa para achar a cidade de Guilherme, mas estava conseguindo manter a expectativa sob controle. Se tudo desse certo, ao final daquele dia, nós estaríamos tendo uma conversa clara sobre nós dois. Meu coração disparou assim que entrei na cidade, logo no começo da tarde. Agora era uma questão de achar a rua e o número corretos e Guilherme estaria bem na minha frente.
Emanuele Meus medos se mostraram infundados porque, depois de conversar com o médico e finalmente colocar meus olhos em Guilherme, percebi que mesmo muito machucado ele poderia se recuperar com cuidados e paciência. Consegui me aproximar dele depois de prometer que não faria nada que alterasse sua calma. Ele estava tomando vários medicamentos que o deixavam sonolento e confuso, e não deveria se estressar até que estivesse bem o suficiente para ter alta. Apoiei as mãos ao seu lado, no colchão, muito lentamente para que não acordasse. Seu rosto estava cheio de hematomas e havia um curativo bem grande logo acima da sobrancelha, o lábio inferior es
Emanuele Guilherme ficou plenamente ciente da minha presença vários dias depois. Antes disso, ele abria e fechava os olhos e parecia ter uma vaga noção de onde estava, mas ao passar os olhos por mim não parecia realmente me ver. Aconteceu em uma tarde. Eu estava sentada ao seu lado folheando uma revista, algo que eu tinha me habituado a fazer durante as longas horas apenas esperando o tempo passar, quando ergui a cabeça, como fazia de cinco e cinco minutos, e seus olhos estavam alertas mirando o teto. - Guilherme! – chamei, rapidamente largando a revista e me aproximando mais.&nbs