AMÉLIA— Eu pensei que você fosse diferente, Arthur. Pensei que, talvez, houvesse algo de bom em você, algo que as pessoas não viam. — Minha voz tremeu um pouco, mas eu continuei. — Eu achei que você pudesse ser mais do que isso.Ele soltou uma risada amarga, inclinando a cabeça para o lado enquanto me observava.— Diferente? Amélia, você é tão ingênua. Não tenho culpa se você ignorou todos os avisos. Todo mundo disse para ficar longe de mim, mas você escolheu ceder. Isso foi ótimo pra mim.A raiva cresceu dentro de mim, misturada com a dor.— Você só... brincou com os meus sentimentos? Fez tudo isso de propósito?Ele deu de ombros, um sorriso cruel nos lábios.— Eu não forcei você a nada, Amélia. Você se entregou porque quis. E posso garantir que você gostou do que aconteceu ontem tanto quanto eu, anjo.Ele deu um passo à frente, e eu recuei instintivamente, mas a parede atrás de mim impediu qualquer fuga.Ele se aproximou devagar, seu olhar fixo em mim, como um predador observando s
PESADELODeco estava no centro da rodinha, amarrado a uma cadeira velha, respirando com dificuldade. O sangue escorria do seu nariz e boca, marcas claras das sessões anteriores. Olhei pros meus parceiros – Maicon, Tiago e PH – todos prontos pra continuar. A escuridão da noite envolvia a favela, tornando o cenário ainda mais sombrio.A sala era pequena, iluminada só por uma lâmpada pendurada no teto, que balançava levemente. O chão de cimento estava manchado de sangue, um testemunho silencioso das torturas que já tinham acontecido ali. As paredes eram descascadas, cheias de grafites e marcas de tiros.Tinha dez homens ali presenciando a confissão que o desgraçado tava fazendo.Traidor de merda!Eu me aproximei de Deco, sentindo a raiva fervendo dentro de mim. Ele tinha traído a organização e, pior, passado informações pro Russo, o chefe do morro rival. Não havia perdão pra isso.— Você acha mesmo que pode trair a gente e sair ileso, né? — minha voz era fria, cada palavra um golpe que e
PESADELOAndava pelas ruas da favela, sentindo os olhares dos moradores cravados em mim. Era como se o medo deles fosse uma sombra, sempre presente. O sangue de Deco ainda manchava minha camisa, lembrando a todos o que acontece com traidores. Os sussurros e olhares nervosos me cercavam, mas eu seguia em frente.Era bom que soubessem o que esperar em caso de virem com trairagem.A favela estava quieta. As luzes fracas iluminavam as vielas, e o som distante de música se misturava com o murmúrio das conversas baixas. Eu sabia que minha presença ali era uma mensagem clara: ninguém mexe com a organização e sai impune.Cheguei ao carro e abri a porta, pronto pra ir embora. Foi quando ouvi a voz de Larissa.— Ei, Pesadelo! — ela chamou, se aproximando com um olhar sugestivo. — Ouvi dizer que teve um problema com o Deco. Talvez eu possa te ajudar a relaxar, esfriar a cabeça do jeito que só eu sei.Ela se aproximou ainda mais, passando as unhas pelo meu peito, tentando seduzir. Senti uma onda
AMÉLIAEu e Liliana estávamos prontas para mais um dia de trabalho. O sol mal tinha nascido, mas a comunidade já estava acordando. Descíamos o morro, conversando sobre coisas do dia a dia.Viramos uma esquina e lá estavam Pesadelo e Maicon, com armas penduradas nas costas. Meu coração disparou ao ver Pesadelo. Ele me olhou e parou no meio do caminho, bloqueando nossa passagem.— Tá indo pra onde, posso saber? — ele perguntou, com aquele tom autoritário de sempre.Respirei fundo, tentando manter a calma. Ele não ia me tirar do sério.— Trabalhar, Pesadelo. — mesmo querendo apenas ignorar ele, respondi. — Normalmente é isso que a gente faz logo cedo. Quer saber a hora que eu vou voltar também?Recebi um aperto de Liliana, decerto pedindo para eu manter a calma.Ele franziu a testa, visivelmente irritado.— E por que não me avisou que tinha um trabalho?A raiva cresceu dentro de mim. Quem ele pensa que é pra achar que preciso avisar ele de tudo?— Porque não é da sua conta. — respondi, t
AMÉLIA— Você tá bem? — perguntou, segurando meu braço e me puxando para longe de Pesadelo e Maicon.— Tô. — respondi, tentando sorrir para tranquilizar ela, mas minha voz tremia. — Vamos logo antes que ele mude de ideia.Caminhamos em silêncio por alguns minutos, até que Liliana finalmente quebrou o silêncio.— Amiga, você não devia ter falado com ele desse jeito. — disse, a voz baixa e preocupada. — Ele é perigoso, não dá pra brincar com isso, Amélia. É sério!— Eu sei. — suspirei, sentindo um peso no peito. — Mas eu não posso deixar ele pensar que manda em mim. Não posso voltar a ser controlada por ninguém, nem por ele.— Eu entendo você, mas olha o que aconteceu com o Deco… — lembrou.— Por isso mesmo, Lili. Imagina o que ele é capaz de fazer só porque decidiu sozinho que eu sou dele, que eu devo explicações, que a gente tem algum tipo de relação.— Que você é mulher dele. — adicionou e eu senti um arrepio.— Eu pensei que ele era diferente, Lili. Que poderia… melhorar, sabe? E qu
AMÉLIADesde o encontro tenso com o homem estranho na loja, minha mente não conseguia parar de pensar nas possíveis implicações da mensagem ameaçadora que recebi.Pesadelo não era o tipo de pessoa que deixava algo passar despercebido, e eu sabia que ele não ia deixar isso barato.Mal consegui descansar quando ouvi uma batida firme na porta. Meu coração acelerou instantaneamente.Só podia ser ele.— Lili…— Calma, amiga. Se for ele a gente dá um jeito. — tentou me deixar menos nervosa.Liliana, que estava na cozinha, veio até a sala e abriu a porta.— Cadê ela? — a voz de Pesadelo era baixa, mas carregada de uma intensidade que fez minha espinha gelar.Liliana me olhou, e eu caminhei até a porta, tentando controlar o tremor nas minhas mãos. Quando finalmente apareci, o olhar de Pesadelo cravou m mim, como se estivesse me desafiando a mentir.— É assim que você trabalha? — ele começou, sua voz baixa, mas cheia de tensão. — De papinho com um otário?— Eu…— Tá achando que isso é o quê, h
[AUTORA]📍Morro do Dragão, Rio de JaneiroRusso estava sentado atrás de uma mesa pesada de madeira, as luzes fracas lançando sombras sinistras sobre seu rosto. Ele estava com duas mulheres, ambas sentadas no colo dele, de forma íntima e provocante. As risadas delas e os sons dos beijos dos três preenchiam o ar.A porta se abriu com um rangido, e Lucas entrou, seus passos ecoando no silêncio. Ao vê-lo, Russo levantou a mão, interrompendo as risadas das mulheres e deixando claro que a diversão havia terminado.— Sumam daqui, agora! — ordenou Russo, sua voz fria e brutal, carregada de impaciência.As mulheres trocaram olhares assustados, se vestiram rapidamente com movimentos apressados e desajeitados, e saíram correndo da sala sem olhar para trás.Lucas entregou um celular a Russo, mostrando uma foto de Amélia. Russo deu um sorrisinho monstruoso ao ver a imagem, seus olhos brilhando com um prazer cruel.— Então, o que conseguiu descobrir sobre ela? — perguntou Russo, sem rodeios, sua v
AMÉLIA— Oi, Amélia. — disse ele, seus olhos fixos nos meus, esperando minha resposta.— Oi. — respondi, minha voz trêmula, mas decidida.Ele deu um passo à frente, ainda me encarando.— E então? — perguntou, sua voz cheia de expectativa. — Já decidiu?Respirei fundo, tentando controlar o turbilhão de emoções dentro de mim.— Eu... vou com você. — disse finalmente, quase sussurrando.Os olhos de Arthur brilharam. Ele estendeu a mão, e eu a peguei, sentindo a firmeza do seu aperto. Sem soltar minha mão, ele se virou para Liliana.— Trago ela amanhã bem cedo pra vocês não perderem a hora pro trampo. — disse com firmeza.Liliana apenas assentiu, me lançando um olhar de apoio antes de desaparecer para a cozinha.Ela não tinha aceitado completamente minha decisão, mas não falou mais nada.Arthur e eu saímos.Enquanto estávamos no carro, não consegui evitar o nervosismo. O silêncio estava ficando insuportável, então decidi falar:— Arthur... — comecei, olhando para ele de soslaio. — Será qu