PESADELOEu a observei, notando cada detalhe de sua expressão. Seus olhos estavam cheios de uma mistura de ansiedade e desejo, e eu podia ver o leve tremor de seus lábios.Acariciei seu rosto, sentindo a suavidade de sua pele sob meus dedos. Era como se todo o mundo tivesse se reduzido a esse momento, a esse toque.— Eu disse que você seria minha, Amélia. — murmurei, aproximando-me ainda mais dela.Ela fechou os olhos por um breve instante, respirando profundamente.O calor de seu corpo próximo ao meu era quase insuportável, e eu podia sentir seu coração acelerado através do fino tecido de sua roupa.Meu toque deslizou do rosto dela para a linha de sua mandíbula, descendo pelo pescoço delicado até pousar em seu ombro.Seu corpo respondeu ao meu toque, inclinando-se ligeiramente em minha direção.Era como se uma corrente elétrica passasse entre nós, carregada de expectativa.Nossos lábios se encontraram novamente, desta vez com uma intensidade que nos envolveu completamente.O beijo fo
AMÉLIAAcordei com a luz suave da manhã entrando pela janela. Ainda meio sonolenta, percebi imediatamente onde estava.O ambiente estava sereno, apenas o som dos carros ao longe quebrava o silêncio típico da favela.Senti o calor do lençol sobre mim, observando os detalhes do quarto: as cortinas balançando suavemente, os primeiros raios de sol iluminando o ambiente e o tom dourado que pintava as paredes ao redor.Arthur estava ao meu lado, dormindo profundamente.Seu rosto parecia mais tranquilo, livre das preocupações que sempre carregava. Eu sorri ao observar sua imagem serena.Ele era impressionante. Seus músculos eram bem definidos, as tatuagens cobriam quase todo o seu tronco, contrastando com seus cabelos negros e lisos. Ele também tinha algumas cicatrizes no peito que faziam eu me perguntar como tinham sido feitas.— Você é tão lindo, Arthur. — disse. — Obrigada por ter sido tão maravilhoso ontem a noite. — sussurrei, deixando um beija em seu rosto.Um sorriso bobo se formou
AMÉLIATentei me levantar e fugir, mas ele foi mais rápido, agarrando meu braço com uma força que fez meus olhos lacrimejarem de dor.— Por favor, Agenor, não! — supliquei, sabendo que era inútil.— Você precisa aprender a me respeitar! — ele gritou, levantando o cinto.O primeiro golpe foi um choque, a dor irradiando pela minha pele como fogo.Gritei, mas ele não parou. Os golpes vieram um após o outro, cada um mais doloroso que o anterior. Tentei me proteger, encolhendo-me, mas ele continuava, a raiva cegando-o.— Você nunca mais vai desobedecer! — ele rugia, cada palavra pontuada por um golpe. — Está ouvindo, sua vadiazinha?Finalmente, ele parou, ofegante. Eu estava no chão, as lágrimas escorrendo pelo meu rosto, a pele ardendo onde o cinto havia me atingido.A dor era insuportável, mas mais doloroso ainda era o sentimento de humilhação e impotência.— Você vai aprender, Amélia. Se não for por bem, terá que ser por mal. — ele disse, jogando o cinto no chão antes de sair do quart
AMÉLIA Me sentei num banco do ponto de ônibus, tentando segurar o choro enquanto ligava pra Liliana. Meu coração tava a mil, e eu não sabia o que fazer ou pra onde ir. — Amélia! Onde você se meteu ontem, menina? O que rolou? O Pesadelo apareceu aqui doido, querendo saber onde você tava. Vocês brigaram? — Liliana perguntou, preocupada. — Lili... Eu... Eu explico quando a gente se ver, tá? — falei, com a voz trêmula de vergonha e medo. Arthur e eu não devíamos ter feito aquilo. Minha mãe nunca mais ia me perdoar, nunca. — Amélia, o que aconteceu? — insistiu Liliana, mas eu não conseguia falar. Eu tava em choque, expulsa de casa pela minha própria mãe. — Minha mãe me botou pra fora de casa. — Consegui dizer, começando a chorar de novo. — E tudo isso depois do Agenor me dar uma surra, aquele... — nem consegui terminar. Liliana ficou em silêncio por um momento. Parecia não acreditar no que eu tava falando. — Onde você tá agora? — Ela perguntou. — No ponto de ônibus, pert
AMÉLIAEra domingo, e para minha sorte, Liliana e eu não precisávamos trabalhar na loja de roupas da Lia. As marcas do cinto ainda estavam visíveis no meu corpo, e eu me sentia aliviada por ter um dia para me recuperar.— Vamos aproveitar o dia para fazer uma faxina na casa? — sugeriu Liliana, já pegando os produtos de limpeza.Concordei com um aceno de cabeça e logo estávamos ocupadas limpando, varrendo e organizando. A casa estava ficando mais arrumada, e isso me dava uma sensação de controle em meio ao caos que minha vida havia se tornado.Enquanto esfregava o chão da cozinha, senti uma onda de gratidão por Liliana. Ela havia me dado abrigo quando eu mais precisava, sem hesitar.— Liliana, eu nem sei como te agradecer por me acolher. Prometo que logo vou encontrar um lugar para morar. Não quero te atrapalhar. — disse, minha voz carregada de sinceridade.Liliana parou de limpar por um momento e se virou para mim, com um sorriso acolhedor.— Você não está me atrapalhando, Amélia. Vai
PESADELOEu estava furioso.As marcas no corpo de Amélia eram um lembrete vívido da crueldade de Agenor.Eu não podia deixar isso passar.Com Maicon e PH ao meu lado, avancei pela comunidade até a casa de Agenor, que ficava num bairro próximo.Ao chegarmos à porta de madeira surrada da casa de Agenor, não hesitei. Bati com força, o som ecoando pelo corredor estreito. O silêncio que se seguiu foi tenso, até que a porta se abriu lentamente.Agenor, um homem robusto e com uma expressão endurecida pelo tempo nas ruas, olhou para mim com surpresa e uma ponta de medo. Antes que pudesse dizer uma palavra, o empurrei para dentro, Maicon e PH o seguindo de perto.— O que é isso? Quem são vocês? — Agenor tentou soar confiante, mas sua voz falhou ao ver meu olhar incisivo.— O seu pior pesadelo, filho da puta! — Rosnei, avançando com punhos cerrados.Ele recuou, tentando se defender, mas meus socos caíam com força.Maicon e PH seguraram Agenor contra a parede, impedindo qualquer tentativa de fug
ARTHUR (PESADELO)Eu tava no banco da frente do carro, ainda com a adrenalina correndo pelas veias. PH dirigia, enquanto o Maicon tava no banco de trás, rindo e debochando da surra que eu dei no Agenor.Era um palhaço mesmo.— Cara, que surra! — Maicon disse, soltando uma gargalhada. — O velho nem sabia de onde tava vindo!PH olhou pra mim, com um sorriso de canto de boca.Ele fazia o estilo mais contido. Quase nunca ria pra valer e botava medo em qualquer um por aqui.— E aquela velha lá, hein? Chamando você de filho de satã e recitando versículo da Bíblia no meio da confusão. "Resisti ao diabo, e ele fugirá de vós" — imitou Maicon, gargalhando.PH deu uma risada.— Nunca vi uma cena dessas, mano! — PH falou. — A velha tava possuída também, só pode.— Ela pode rezar o quanto quiser, mas o satã aqui vai continuar pertinho da filhinha dela. — declarei.— E aí, Pesadelo, qual é a dessa história da mina lá ser a tua mulher? — ele perguntou, ainda rindo. — Nunca vi você amarrado em mulher
AMÉLIA— Eu pensei que você fosse diferente, Arthur. Pensei que, talvez, houvesse algo de bom em você, algo que as pessoas não viam. — Minha voz tremeu um pouco, mas eu continuei. — Eu achei que você pudesse ser mais do que isso.Ele soltou uma risada amarga, inclinando a cabeça para o lado enquanto me observava.— Diferente? Amélia, você é tão ingênua. Não tenho culpa se você ignorou todos os avisos. Todo mundo disse para ficar longe de mim, mas você escolheu ceder. Isso foi ótimo pra mim.A raiva cresceu dentro de mim, misturada com a dor.— Você só... brincou com os meus sentimentos? Fez tudo isso de propósito?Ele deu de ombros, um sorriso cruel nos lábios.— Eu não forcei você a nada, Amélia. Você se entregou porque quis. E posso garantir que você gostou do que aconteceu ontem tanto quanto eu, anjo.Ele deu um passo à frente, e eu recuei instintivamente, mas a parede atrás de mim impediu qualquer fuga.Ele se aproximou devagar, seu olhar fixo em mim, como um predador observando s