Estávamos conversando sobre a minha tarde louca quando avistamos dois pequenos furacões chamadas Bia e Luz entrando quase derrubando Rick no chão.
– Luz, você vai machucar o seu tio. – Advirto minha pequena e ela pede desculpa muito envergonhada.
– Para de ser chata Cindy, a menina está brincando com o dindo dela. Não é, minhas pequenas?
Luz abre um sorriso e abraça o tio. Depois Bia se joga nos braços do pai e Luz fica observando a interação de pai e filha e sei muito bem no que ela está pensando. Nesse momento, uma lágrima escorre e eu tento limpar antes que ela perceba. Sei que ela gostaria de ter seu pai por perto e sei como isso é impossível, afinal, David deve estar casado e não vou procurá-lo. Ele nos rejeitou uma vez, nada impede ele de renegar a paternidade de Luz.
– Amiga, tá tudo bem? – Jô me olha preocupada e eu balanço a cabeça afirmando que sim.
Ricardo pega Bia no colo e estica o outro braço para pegar Luz também, que fica radiante com isso. Por mais que eu faça de tudo para mantê-la feliz, eu não posso lhe dar o que mais deseja que é ter seu pai ao seu lado.
– Cindy Laura, dá pra me explicar o que está acontecendo agora?
– Ah, Jô! Eu me sinto tão culpada por minha filha estar crescendo longe do pai. Nada que eu faça vai fazer com que ela esqueça isso. Tenho vontade de procurá-lo, não me importa se ele está casado ou tem outros filhos, eu só queria realizar o sonho da Luz de conhecer o pai. – Começo a chorar e antes que ela fale algo eu continuo. – Você acredita que a amiguinha dela do colégio disse que ela não pode participar da festa do dia dos pais porque ela não tem pai? Amiga, ela escondeu de mim com medo de me ver triste. Sabe, essa menina não existe.
Jô me dá um abraço e começo a chorar novamente.
– Eu sei que você está triste e que fica muito abalada com toda essa situação, mas pensa assim: A Luz nem existiria se você não fosse um “mulherão do cacete” para abandonar sua antiga vida e vir para uma cidade onde não conhecia ninguém, com pouco dinheiro e grávida. Muitas mulheres bem mais maduras que você, desistiriam, amiga. Mas você não se importou com dinheiro, luxo, nem nada disso, você se importou apenas com o serzinho que estava esperando e isso é maravilhoso Cindy, vou te confessar que não sei se teria essa sua força de encarar tudo que encarou sozinha. Comigo, mesmo tendo Ricardo ao meu lado, já foi tudo muito difícil. Luz é pequena e como toda a criança, quer ter o pai por perto. Deixa ela ficar maior e você conta toda a verdade sem omitir nenhum detalhe e se depois de ouvir tudo ela ainda quiser conhecer o pai, nós te ajudamos a procurar ele, mas não vai agora de cabeçada para não se arrepender e voltar mais machucada do que já foi e ainda machucar o coração da Luz nesse processo.
Todas as palavras que minha amiga me diz me dão o conforto que preciso e assim vejo que não estou fazendo nada de errado. As meninas vem correndo e eu disfarço rapidamente.
– Tia Cindy, tia Cindy, o meu pai vai na festa do dia dos pais pra mim e pra Luz. Eu disse pra Luz não ficar triste, agora ela pode participar da festa. – Abraço Bia, que sorri.
– Obrigada viu, Bia. Isso significa muito para mim e para a Luz.
– De nada, tia. Você estava chorando? Tá tristinha?
– Não meu amor, estou bem, de verdade. Estou chorando de felicidade por Luz ter uma amiga tão legal como você. – Ela me abraça novamente e depois vai brincar com a amiga, olho para meu amigo e me levanto para abraçá-lo.
– Obrigada por tudo que está fazendo por minha filha, Rick.
– Não precisa agradecer, vocês são parte da nossa família e nunca deixaria alguém da família na mão.
– Eu agradeço ao universo por ter me posto no caminho de vocês. – Jô se junta ao nosso abraço e ficamos conversando.
Luz e eu nos despedimos do pessoal e vamos para casa, no meio do caminho Luz me chama.
– O que foi, filha?
– Mãe, eu te amo, mas eu ia achar legal ter um pai como a Bia tem o tio Rick.
Minha vontade de chorar aumenta a cada vez que ela toca no assunto, a culpa não é dela, afinal, crianças querem ter os pais presentes. Poderia ter mentido dizendo que seu pai morreu, mas não seria o correto a se fazer, já pensou se um dia ela conhece o pai? Como iria explicar que menti? – Sorrio para ela obrigando-me a ser forte por minha filha.
– Filha, um dia você vai conhecer seu pai, eu prometo.
– Tudo bem, mãe. Um dia o papai vai voltar, eu sei disso. Mamãe, vamos brincar de chá de princesas quando chegar em casa?
– Claro que podemos brincar de chá de princesas, mas só vamos brincar se você prometer guardar todos os brinquedos que espalhar. – Ela levanta o mindinho e faço o mesmo. Brincamos até tarde e quando ela estava cansada, foi dormir.
Na manhã seguinte, o sol traz esperanças e vou acordar Luz para nos aprontarmos. A deixo na casa de Jô e vou rumo ao meu trabalho. Chegando lá, converso com alguns clientes como seu Euclides, que tem cada história para contar... neste momento ele está contando como conquistou a sua primeira namorada.
– Minha filha, naquele tempo, para conquistar um broto era só usar uma lambreta, tinha que ver como elas ficavam doidas.
– Então é como ter uma moto hoje?
– Ah menina, as lambretas eram muito melhores. – Trabalhar no bar é cansativo, mas ao mesmo tempo é divertido.
A tardinha seu Zé e Dona Guta me chamam para uma conversa e fico apreensiva quando eles dizem que irão se ausentar do bar por um mês.
– Cindy, vamos passar um tempo na casa do Gustavo, mas não queremos te deixar na mão, sabemos que você tem suas contas para pagar e entre eles o colégio da Luz, então queremos saber se você está disposta a ficar no bar nesse tempo que estaremos fora.
– Vocês tem certeza disso? Eu ficaria com todo o prazer.
Dona Guta me explica que semana que vem eles partirão para Santo Antônio de Jesus, tirar umas férias e fazer um check up. E eu torço para que tudo dê certo para eles e para mim.
Já se passaram dez dias desde que assumi o bar enquanto os donos estão em outro estado e hoje estou em uma correria sem tamanho, ainda mais que acrescentei café da manhã e lanches variados ao bar e a freguesia aumentou ao ponto de ter que por mesas para o lado de fora do bar.Ontem Logan veio aqui e tomou café, elogiou muito a comida e me deixou uma gorjeta bem generosa. Ele ficou me olhando e eu me senti estranha e logo fui me ocupar de servir os outros clientes, mas a sensação de ser observada por ele continuou. Talvez eu esteja louca.Estava atendendo uns clientes quando ouço gritinhos animados que logo me deixa feliz.– Mamãe, mamãe, olha!! O meu dente caiu!! – vejo minha filhinha banguelinha mostrando o dentinho em uma toalhinha.– Desculpa Cindy, mas Luz não parou quieta até eu trazê-la aqui para te mostrar o dentinho. – Dou um sorriso p
Já se passou um mês e meio e nada de dona Guta e seu Zé voltarem, só não fico tão preocupada porque eles me ligam quase todos os dias. Hoje eles me disseram que iriam estender as férias mais um pouco. Logan apareceu novamente. Na verdade, tem se tornado um hábito tê-lo aqui todos os dias, pelo menos duas vezes ao dia.Às vezes ele não come nada, apenas pede um café e fica conversando comigo, depois vai embora e deixa uma boa gorjeta. Já falei com ele sobre isso, mas ele diz que faz em qualquer lugar.Dona Branca chega e faz um pedido grande.– Hoje a senhora vai querer cinco marmitas?– Minha filha, meu netinhos vieram me visitar sem avisar e estou na correria, nunca vi um bando de crianças comerem tanto. E meu outro filho chegou também e não têm nada preparado e eles estão reclamando de fome.– Nossa, d
Fecho o bar e vou à casa de Rogéria, mãe de Viviane. Chamo no portão e logo a menina aparece.– Oi, tia.– Oi, meu amor, sua mãe está em casa?– Tá, sim. Pera que vou chamar ela. Mãe!! A tia Cindy tá aqui.Não demora muito Rogéria aparece com aquele sorriso falso de sempre.– Oi, meu bem, como você está? – tenho vontade de revirar os olhos, mas não os faço.– Vou muito bem, Rogéria. Preciso conversar com você.– Tem que ser bem rapidinho, estou com a manicure me esperando.– O que me traz aqui é o comportamento da Viviane. Ela tem dito coisas nada agradáveis para Luz e isso a tem magoado muito. Gostaria que conversasse com ela.– Mas o que ela disse? Minha filha é sempre muito verdadeira.– Há verdades que
(Anos antes na casa dos Campellos).A mãe de Cindy arruma a casa e prepara a comida para a chegada do esposo, que está no trabalho. No trabalho, o esposo pensa o quanto gostaria de dar uma vida melhor para a esposa e a filha que irá nascer em breve.Ele chega em casa cansado e vê a sua humilde casa muito bem arrumada, a comida pronta e perfumando o pequeno lugar e se sente abençoado por ter aquilo. A esposa, muito feliz por sua chegada, o beija apaixonadamente e ele por sua vez, a abraça e diz que a ama. Se agacha e, pondo a mão na ventre protuberante da esposa, fala com sua filha que, assim que ouve a voz do pai, começa a dar piruetas de alegrias.– Meu amor, eu gostaria de dar uma vida melhor para vocês duas, uma casa maior onde nossa filha pudesse ter seu próprio quarto.– Não esquenta com isso, Sérgio. A nossa f
– Mamãe, estamos para ir onde? – Luz, como sempre, curiosa.– Vamos sair com o Logan, mas ele não me disse onde.– Eba! O tio Logan é legal, eu gosto dele. – Luz é uma menina que gosta de todas as pessoas. Ela é exatamente como eu antes de tudo que me aconteceu.Ouço buzinas e sou transportada para o passado, acorda Cindy Laura.– Vamos, Luz. – Pego a bolsa e um lanchinho para a minha pimenta. Ao sair de casa, vejo Logan com um sorriso.– As minhas meninas estão lindas. – Ele abre a porta de trás para que eu acomode minha pequena, assim que vejo ela segura, sento-me no banco da frente.– E então, para onde vamos? – pergunto curiosa e ele me olha e dá uma piscadela.– Vamos a um lugar que vocês
Depois de brincarmos muito na água, decidimos que era hora de descansar um pouco. Luz, como sempre, reclamou de não querer sair da água, mas como até mesmo ela estava cansada, acabou cedendo e não demorou muito para dormir.Olho dentro da cesta para ver o que tem de bom e me animo quando vejo um pouco de tudo que Luz e eu gostamos. Pego um pouco de morango e Nutella e começo a comer, Logan olha para mim e se senta bem perto dando mais espaço para Luz se esticar.– Posso te fazer uma pergunta? – ele está um pouco hesitante.– Pode perguntar, sem problemas. – Ele respira fundo e então faz a sua pergunta.– Como foi a gestação da Luz? Sei que você é mãe solteira, mas onde está a sua família? – essas são perguntas difíceis de responder, mas tentarei ser a mais honesta possível.
O bar está uma loucura, sinto uma falta dos conselhos de dona Guta e das reclamações de seu Zé. Estava limpando uma mesa quando alguém me abraça pela cintura.– Você está linda como sempre. – Sorrio ao ouvir a voz de Carlos.– E aí, estranho! Está sumido? Como anda o trabalho? – Me viro para abraçá-lo.– Me serve um café que te conto as minhas aventuras. – Lhe sirvo o que ele pede e Carlos começa a me contar sobre seu novo emprego em uma multinacional e de como agora está sem tempo para nada. Atendo Marina e seu filho, Bruno, que é amiguinho da sala de Luz e Bia. Assim que lhes entrego os pedidos, Carlos volta para mim.– Sabia que ganhei uma promoção? Irei trabalhar em outro estado a partir do mês que vem.– Que notícia maravilhosa! Sentirei a sua falta.&nd
(Logan).Eu preciso contar a verdade a Cindy, mas como fazer isso sem que ela fique com raiva de mim? Sinceramente, eu não posso conviver com isso. Passo no bar para vê-la e não gosto da cena que vejo, aquele cara estava cheio de sorrisinhos para ela e sei que ele tem sentimentos por Cindy e se não fosse o amor que ela ainda sente por David, talvez os dois estariam felizes e pensando bem, isso seria o melhor para ela.Eu não a mereço, porém o meu egoísmo fala mais alto. Eu a amo e preciso mostrar isso de todas as formas que eu puder.Depois que a vi, finalmente entro no carro para ir ao Rio de Janeiro, e como esse trajeto é extenso, ele me dará mais tempo para pensar.Muitas horas depois, chego ao meu destino e assim que abro o portão, sou saudado pe