Chegamos a casa de Jô e assim que ela nos vê abre o portão.
– Oi, tia Jô. Eu e minha mãe fizemos bolo pra todo mundo e ela guardou um grandão pra você.
– Que bom, Chapeuzinho Vermelho. Tem uma lobinha vendo televisão que vai adorar te ver. – Minha amiga nem precisa terminar e minha pimenta já sai correndo para ver a amiga, me pergunto se elas não se cansam de passar tanto tempo juntas.
– E aí amiga, como você está? Vejo que deu um jeito em você... gosto de te ver assim, sabia?
– Obrigada, amiga. Hoje foi um dia perfeito, tirando a parte do que aconteceu no sítio do falecido seu Toninho. – Rapidamente sua curiosidade se aguça e sei que ela vai querer saber de tudo.
– Deixa eu passar um café e aí você me conta tudo. – Ela corre para a cozinha para fazer café e eu vou para a sala ficar com as meninas, dar um beijinho na Bia e agradecer a ela por ter defendido minha filha.
Jô aparece com o café tão rápido que não consigo evitar brincar com ela.
– Espero que esse café não seja requentado. – Ela fecha a cara na hora e começo a rir.
– Nem se atreva a dizer que sirvo café requentado, sabe que eu não gosto disso. – Me aproximo dela e beijo seu rosto.
– Relaxa amiga, estou apenas brincando com você.
– Uma brincadeira idiota. Mas deixando isso de lado, agora vem, vamos tomar café e comer esse bolo que está com um cheiro bom.
– É o cheiro ou a fofoca que está te deixando com pressa? Deixa eu levar um pedaço de bolo para as meninas, aí eu te conto tudo.
Levo um lanchinho para as meninas e quando chego na sala vejo Bia com sua fantasia da Elsa.
– Chapeuzinho Vermelho e princesa Elsa, eu trouxe um lanchinho para vocês. – As duas vem correndo para pegar o lanche e sentar para ver desenho das princesas. Volto para a varanda e vejo Jô impaciente batendo o pé, me sirvo de café e começo a contar sobre tudo que aconteceu no sítio nos mínimos detalhes enquanto ela só observa para depois dar a sua famosa análise final. – Obrigada. Continuando, quando nos encaramos percebi em seus olhos um certo arrependimento, mas quando eu disse meu nome seus olhos se encheram de brilho e marejaram, ele tentou até disfarçar, mas eu percebi. Você não acha isso estranho?
– Eu acho. – Diz ela fazendo um sinal com a mão para que eu esperasse ela acabar de engolir. – Eu acho que ele viu uma gata de sutiã e calcinha tomando banho na nova propriedade dele.
– Ah! Pode parar. Um homem como aquele já viu mulheres bem melhores que eu.
– Por que você se rebaixa tanto Cindy? Você é linda e determinada, que lutou e conquistou as coisas que possui hoje e que cuida muito bem de sua filha sozinha.
– Obrigada pelas suas palavras, amiga... mas mesmo assim não quero saber de homens, vivo apenas para Luz.
– Quer saber a verdade? Você ama o David mesmo após todos esses anos e mesmo após tanto tempo, não conseguiu tirá-lo do coração.
– Não amo nada. – Fico emburrada e ela se diverte com isso.
– Ama sim.
– Quem ama quem? – escuto a voz de Ricardo, marido de Jô e meu grande amigo.
– Cindy ama o David, ex dela.
– O que te largou grávida? Não posso acreditar que isso seja verdade. – Ele faz uma cara que chega ser engraçada.
– Quem está dizendo isso é a sua mulher, não eu. – Rebato porque é a verdade, eu não disse nada, pelo menos em voz alta.
– Se eu vejo esse cabra safado na minha frente eu pego ele de pau. – Diz Rick com seu sotaque nordestino, arrancando risadas minhas e de Jô. – Nossa, cheguei com uma fome! Vou pegar um pedaço desse bolo.
Ele se serve e assim que come uma garfada e engole, ele elogia.
– Meu Deus, Jô! Que bolo delicioso! – ele lambe os dedos enquanto fala parecendo uma criança.
– Na verdade, quem fez foi a Cindy.
– Por Deus, Cindy! Que bolo mais gostoso! Nem parece que não sabia cozinhar.
– Pois é né! A aluna superou a mestre. Quando eu cheguei não sabia varrer o chão e fritar um ovo era um desastre, foi sua esposa quem me ensinou tudo, então só ando aprimorando o que aprendi.
– Já que tocou no assunto Cindy, filhos de rico não fazem nada? – minha amiga, como sempre, curiosa.
– Não posso falar por todos, mas lá em casa meus pais me proibiam de fazer qualquer coisa do tipo. Se eu tentasse limpar o chão que eu mesmo sujei era uma briga, mas vamos mudar de assunto. Não sou fã de falar do meu passado.
Somente Jô e Rick sabem da minha verdadeira origem, pois foi ela quem me ajudou quando cheguei aqui e precisava me adaptar.
Estávamos conversando sobre a minha tarde louca quando avistamos dois pequenos furacões chamadas Bia e Luz entrando quase derrubando Rick no chão.– Luz, você vai machucar o seu tio. – Advirto minha pequena e ela pede desculpa muito envergonhada.– Para de ser chata Cindy, a menina está brincando com o dindo dela. Não é, minhas pequenas?Luz abre um sorriso e abraça o tio. Depois Bia se joga nos braços do pai e Luz fica observando a interação de pai e filha e sei muito bem no que ela está pensando. Nesse momento, uma lágrima escorre e eu tento limpar antes que ela perceba. Sei que ela gostaria de ter seu pai por perto e sei como isso é impossível, afinal, David deve estar casado e não vou procurá-lo. Ele nos rejeitou uma vez, nada impede ele de renegar a paternidade de Luz.– Amiga, tá tudo bem? –
Já se passaram dez dias desde que assumi o bar enquanto os donos estão em outro estado e hoje estou em uma correria sem tamanho, ainda mais que acrescentei café da manhã e lanches variados ao bar e a freguesia aumentou ao ponto de ter que por mesas para o lado de fora do bar.Ontem Logan veio aqui e tomou café, elogiou muito a comida e me deixou uma gorjeta bem generosa. Ele ficou me olhando e eu me senti estranha e logo fui me ocupar de servir os outros clientes, mas a sensação de ser observada por ele continuou. Talvez eu esteja louca.Estava atendendo uns clientes quando ouço gritinhos animados que logo me deixa feliz.– Mamãe, mamãe, olha!! O meu dente caiu!! – vejo minha filhinha banguelinha mostrando o dentinho em uma toalhinha.– Desculpa Cindy, mas Luz não parou quieta até eu trazê-la aqui para te mostrar o dentinho. – Dou um sorriso p
Já se passou um mês e meio e nada de dona Guta e seu Zé voltarem, só não fico tão preocupada porque eles me ligam quase todos os dias. Hoje eles me disseram que iriam estender as férias mais um pouco. Logan apareceu novamente. Na verdade, tem se tornado um hábito tê-lo aqui todos os dias, pelo menos duas vezes ao dia.Às vezes ele não come nada, apenas pede um café e fica conversando comigo, depois vai embora e deixa uma boa gorjeta. Já falei com ele sobre isso, mas ele diz que faz em qualquer lugar.Dona Branca chega e faz um pedido grande.– Hoje a senhora vai querer cinco marmitas?– Minha filha, meu netinhos vieram me visitar sem avisar e estou na correria, nunca vi um bando de crianças comerem tanto. E meu outro filho chegou também e não têm nada preparado e eles estão reclamando de fome.– Nossa, d
Fecho o bar e vou à casa de Rogéria, mãe de Viviane. Chamo no portão e logo a menina aparece.– Oi, tia.– Oi, meu amor, sua mãe está em casa?– Tá, sim. Pera que vou chamar ela. Mãe!! A tia Cindy tá aqui.Não demora muito Rogéria aparece com aquele sorriso falso de sempre.– Oi, meu bem, como você está? – tenho vontade de revirar os olhos, mas não os faço.– Vou muito bem, Rogéria. Preciso conversar com você.– Tem que ser bem rapidinho, estou com a manicure me esperando.– O que me traz aqui é o comportamento da Viviane. Ela tem dito coisas nada agradáveis para Luz e isso a tem magoado muito. Gostaria que conversasse com ela.– Mas o que ela disse? Minha filha é sempre muito verdadeira.– Há verdades que
(Anos antes na casa dos Campellos).A mãe de Cindy arruma a casa e prepara a comida para a chegada do esposo, que está no trabalho. No trabalho, o esposo pensa o quanto gostaria de dar uma vida melhor para a esposa e a filha que irá nascer em breve.Ele chega em casa cansado e vê a sua humilde casa muito bem arrumada, a comida pronta e perfumando o pequeno lugar e se sente abençoado por ter aquilo. A esposa, muito feliz por sua chegada, o beija apaixonadamente e ele por sua vez, a abraça e diz que a ama. Se agacha e, pondo a mão na ventre protuberante da esposa, fala com sua filha que, assim que ouve a voz do pai, começa a dar piruetas de alegrias.– Meu amor, eu gostaria de dar uma vida melhor para vocês duas, uma casa maior onde nossa filha pudesse ter seu próprio quarto.– Não esquenta com isso, Sérgio. A nossa f
– Mamãe, estamos para ir onde? – Luz, como sempre, curiosa.– Vamos sair com o Logan, mas ele não me disse onde.– Eba! O tio Logan é legal, eu gosto dele. – Luz é uma menina que gosta de todas as pessoas. Ela é exatamente como eu antes de tudo que me aconteceu.Ouço buzinas e sou transportada para o passado, acorda Cindy Laura.– Vamos, Luz. – Pego a bolsa e um lanchinho para a minha pimenta. Ao sair de casa, vejo Logan com um sorriso.– As minhas meninas estão lindas. – Ele abre a porta de trás para que eu acomode minha pequena, assim que vejo ela segura, sento-me no banco da frente.– E então, para onde vamos? – pergunto curiosa e ele me olha e dá uma piscadela.– Vamos a um lugar que vocês
Depois de brincarmos muito na água, decidimos que era hora de descansar um pouco. Luz, como sempre, reclamou de não querer sair da água, mas como até mesmo ela estava cansada, acabou cedendo e não demorou muito para dormir.Olho dentro da cesta para ver o que tem de bom e me animo quando vejo um pouco de tudo que Luz e eu gostamos. Pego um pouco de morango e Nutella e começo a comer, Logan olha para mim e se senta bem perto dando mais espaço para Luz se esticar.– Posso te fazer uma pergunta? – ele está um pouco hesitante.– Pode perguntar, sem problemas. – Ele respira fundo e então faz a sua pergunta.– Como foi a gestação da Luz? Sei que você é mãe solteira, mas onde está a sua família? – essas são perguntas difíceis de responder, mas tentarei ser a mais honesta possível.
O bar está uma loucura, sinto uma falta dos conselhos de dona Guta e das reclamações de seu Zé. Estava limpando uma mesa quando alguém me abraça pela cintura.– Você está linda como sempre. – Sorrio ao ouvir a voz de Carlos.– E aí, estranho! Está sumido? Como anda o trabalho? – Me viro para abraçá-lo.– Me serve um café que te conto as minhas aventuras. – Lhe sirvo o que ele pede e Carlos começa a me contar sobre seu novo emprego em uma multinacional e de como agora está sem tempo para nada. Atendo Marina e seu filho, Bruno, que é amiguinho da sala de Luz e Bia. Assim que lhes entrego os pedidos, Carlos volta para mim.– Sabia que ganhei uma promoção? Irei trabalhar em outro estado a partir do mês que vem.– Que notícia maravilhosa! Sentirei a sua falta.&nd