Já se passou um mês e meio e nada de dona Guta e seu Zé voltarem, só não fico tão preocupada porque eles me ligam quase todos os dias. Hoje eles me disseram que iriam estender as férias mais um pouco. Logan apareceu novamente. Na verdade, tem se tornado um hábito tê-lo aqui todos os dias, pelo menos duas vezes ao dia.
Às vezes ele não come nada, apenas pede um café e fica conversando comigo, depois vai embora e deixa uma boa gorjeta. Já falei com ele sobre isso, mas ele diz que faz em qualquer lugar.
Dona Branca chega e faz um pedido grande.
– Hoje a senhora vai querer cinco marmitas?
– Minha filha, meu netinhos vieram me visitar sem avisar e estou na correria, nunca vi um bando de crianças comerem tanto. E meu outro filho chegou também e não têm nada preparado e eles estão reclamando de fome.
– Nossa, dona Branca! Mas é bom rever os netinhos e estou vendo que a senhora está bem animada.
– Animada até estou, mas eles comem demais. Já chegaram e acabaram com meu pote de biscoito.
– Eles estão em fase de crescimento, é assim mesmo. Pode deixar que vou caprichar nas marmitas para a senhora.
Vou até a cozinha e quando retorno vejo Luz, Bia e Jô entrarem e as meninas vindo correr em minha direção para me abraçarem.
– Cada dia que passa sua filha está linda, uma verdadeira mocinha.
– Obrigada, Vó Branca. – Diz Luz sorrindo.
– Aqui está, dona Branca, seus pedidos bem caprichados. – Lhe entrego as sacolas enquanto dou um abraço nas minhas meninas.
– O que vocês acham de sentar ali e almoçar aqui hoje?
– Eba!! – as duas saem correndo e se sentam para esperar a comida.
– Olha aqui o dinheiro, minha filha. Você é tão trabalhadora e cria sua filha sozinha, já te disse que meu filho veio me visitar, ele é solteiro e tem a sua idade.
– Boa tarde! Ainda tem almoço? – vejo Logan entrar e ele está meio estranho.
– Tem sim, só um minutinho. Pode se sentar em algumas das mesas livres. – Ele me ignora e se senta no balcão.
– E então, minha filha? O que acha de conhecer meu filho? Te garanto que ele é um bom partido.
– Aqui seu troco, dona Branca. E em relação a isso, eu vivo apenas para trabalhar e para cuidar da minha filha, relacionamentos não estão em minha lista de prioridades.
– Mas se mudar de ideia, já sabe. – Ela pega a sacola e sai.
Pego comida para as meninas e Jô e quando chego na mesa, recebo um sorriso de minha amiga.
– O que foi aquilo? Até a dona Branca quer servir de cupido para você.
– O povo deve me achar uma encalhada. Aproveitem a refeição, não vou poder ficar com vocês porque tenho clientes para atender.
– Você tem um gostosão para atender. – Começo um excesso de tosse.
– Joziane, já pensou Ricardo, seu marido, ouvindo uma coisa dessas? – Digo de cara fechada e ela começa a rir.
– Eu amo o Ricardo e um certo gostosão ali está a fim de uma certa atendente. – Ela faz sinal com a cabeça para mim.
Deixo Jô com suas maluquices e vou atender Logan, mostro para ele a opção que temos e ele opta por carne assada. Vou à cozinha, lhe preparo o prato e retorno com uma garrafa de água antes que ele peça. Isso me faz lembrar de David, quando saíamos ele sempre pedia água para acompanhar as refeições enquanto eu pedia refrigerante e ele reclamava dizendo que água era muito mais saudável. Apesar do tempo, muitas coisas me fazem pensar nele.
– Quer ajuda? – a voz de Logan tira-me do meu devaneio.
– Desculpe, seu Logan. – Coloco o prato e a garrafa de água do lado. – Deseja mais alguma coisa?
– Sim. Que, por favor, você pare de me chamar de senhor e vou querer um pouco mais de sal.
– Não adianta beber água e ficar se enfiando no sal. – Na hora eu me arrependo do que falei. – Desculpe mais uma vez, é que eu tinha o hábito de falar assim com meu ex namorado que, como você, bebia água, mas comia tudo muito salgado.
– Não precisa se desculpar, eu tinha alguém que costumava dizer a mesma coisa. – Ele diz sorrindo, como se estivesse lembrando de alguma coisa boa de seu passado. – Eu até tive curiosidade de saber onde está essa pessoa que ele falou, mas me contive a tempo.
– Aproveite a refeição. Sente nas mesas, é mais confortável.
– Pra quê? Se é do balcão que tenho uma vista privilegiada? – ele me olha e meu rosto se esquenta.
– Mamãe, posso tomar refrigerante? – Luz vem correndo e se agarra em minha cintura e a pego no colo.
– Você já acabou de comer?
– Sim! Comi tudinho e mais rápido que a Bia.
– O que eu falo para você sobre comer correndo.
– Que a gente tem que comer devagar e saborear a comida, mas mãe, eu queria muito refrigerante, por isso comi rápido.
– Igual a mãe. – Logan diz e sorri.
– Como disse?
– Apenas pensei alto. – Ele volta a comer e eu finjo que não ouvi nada, estava pegando o refrigerante para as meninas quando vejo Bia se aproximar do balcão.
– Conta pra tia Cindy, Luz.
– A mamãe vai ficar triste.
– Se você não contar para a tia Cindy, eu conto.
– O que vocês tem para me contar? – digo olhando para as duas, olho para Jô e pela sua expressão já sei do que se trata, mas quero ouvir delas.
– Mamãe, a Viviane implicou comigo de novo. – Luz diz fungando.
– E o que ela disse dessa vez? – Luz reluta em contar.
– Oh tia, ela ficou com raiva porque a tia Valeska escolheu a Luz pra cantar e a Viviane disse que não era justo a única menina da sala que não tinha pai, cantar. A Luz começou a chorar e correu pro banheiro, aí eu fui e dei um empurrão na Viviane.
Quando Beatriz termina de contar, eu já estou chorando e abraçando a minha filha, não é justo ela estar passando por isso. Respiro fundo e abraço minha princesa e depois abraço Bia.
– Obrigada, Bia. Por tudo e por ser amiga da Luz. E filha, olha para mim – levanto o rostinho dela, que está vermelhinho de tanto chorar. – Não importa se o seu pai vai estar lá ou não, eu vou estar lá pra ver você cantar, meu amor... e outros pais também, então ensaia bastante e me deixa ainda mais orgulhosa de você.
– Tá bom, mamãe. – Ela diz fungando.
Jô me abraça e pega as meninas para irem embora. Seco minhas lágrimas e quando olho para o balcão, vejo lágrimas nos olhos de Logan.
– Eu não sabia que vocês passavam por isso.
– Já passei coisas piores, mas minha filha nunca tinha passado por isso.
– E o que você vai fazer a respeito?
– Fechar mais cedo e ir na casa da Viviane conversar com a mãe dela.
– Quer uma carona? – ele me pergunta, solícito. Mas recuso.
– Isso é uma coisa que devo fazer sozinha.
Fecho o bar e vou à casa de Rogéria, mãe de Viviane. Chamo no portão e logo a menina aparece.– Oi, tia.– Oi, meu amor, sua mãe está em casa?– Tá, sim. Pera que vou chamar ela. Mãe!! A tia Cindy tá aqui.Não demora muito Rogéria aparece com aquele sorriso falso de sempre.– Oi, meu bem, como você está? – tenho vontade de revirar os olhos, mas não os faço.– Vou muito bem, Rogéria. Preciso conversar com você.– Tem que ser bem rapidinho, estou com a manicure me esperando.– O que me traz aqui é o comportamento da Viviane. Ela tem dito coisas nada agradáveis para Luz e isso a tem magoado muito. Gostaria que conversasse com ela.– Mas o que ela disse? Minha filha é sempre muito verdadeira.– Há verdades que
(Anos antes na casa dos Campellos).A mãe de Cindy arruma a casa e prepara a comida para a chegada do esposo, que está no trabalho. No trabalho, o esposo pensa o quanto gostaria de dar uma vida melhor para a esposa e a filha que irá nascer em breve.Ele chega em casa cansado e vê a sua humilde casa muito bem arrumada, a comida pronta e perfumando o pequeno lugar e se sente abençoado por ter aquilo. A esposa, muito feliz por sua chegada, o beija apaixonadamente e ele por sua vez, a abraça e diz que a ama. Se agacha e, pondo a mão na ventre protuberante da esposa, fala com sua filha que, assim que ouve a voz do pai, começa a dar piruetas de alegrias.– Meu amor, eu gostaria de dar uma vida melhor para vocês duas, uma casa maior onde nossa filha pudesse ter seu próprio quarto.– Não esquenta com isso, Sérgio. A nossa f
– Mamãe, estamos para ir onde? – Luz, como sempre, curiosa.– Vamos sair com o Logan, mas ele não me disse onde.– Eba! O tio Logan é legal, eu gosto dele. – Luz é uma menina que gosta de todas as pessoas. Ela é exatamente como eu antes de tudo que me aconteceu.Ouço buzinas e sou transportada para o passado, acorda Cindy Laura.– Vamos, Luz. – Pego a bolsa e um lanchinho para a minha pimenta. Ao sair de casa, vejo Logan com um sorriso.– As minhas meninas estão lindas. – Ele abre a porta de trás para que eu acomode minha pequena, assim que vejo ela segura, sento-me no banco da frente.– E então, para onde vamos? – pergunto curiosa e ele me olha e dá uma piscadela.– Vamos a um lugar que vocês
Depois de brincarmos muito na água, decidimos que era hora de descansar um pouco. Luz, como sempre, reclamou de não querer sair da água, mas como até mesmo ela estava cansada, acabou cedendo e não demorou muito para dormir.Olho dentro da cesta para ver o que tem de bom e me animo quando vejo um pouco de tudo que Luz e eu gostamos. Pego um pouco de morango e Nutella e começo a comer, Logan olha para mim e se senta bem perto dando mais espaço para Luz se esticar.– Posso te fazer uma pergunta? – ele está um pouco hesitante.– Pode perguntar, sem problemas. – Ele respira fundo e então faz a sua pergunta.– Como foi a gestação da Luz? Sei que você é mãe solteira, mas onde está a sua família? – essas são perguntas difíceis de responder, mas tentarei ser a mais honesta possível.
O bar está uma loucura, sinto uma falta dos conselhos de dona Guta e das reclamações de seu Zé. Estava limpando uma mesa quando alguém me abraça pela cintura.– Você está linda como sempre. – Sorrio ao ouvir a voz de Carlos.– E aí, estranho! Está sumido? Como anda o trabalho? – Me viro para abraçá-lo.– Me serve um café que te conto as minhas aventuras. – Lhe sirvo o que ele pede e Carlos começa a me contar sobre seu novo emprego em uma multinacional e de como agora está sem tempo para nada. Atendo Marina e seu filho, Bruno, que é amiguinho da sala de Luz e Bia. Assim que lhes entrego os pedidos, Carlos volta para mim.– Sabia que ganhei uma promoção? Irei trabalhar em outro estado a partir do mês que vem.– Que notícia maravilhosa! Sentirei a sua falta.&nd
(Logan).Eu preciso contar a verdade a Cindy, mas como fazer isso sem que ela fique com raiva de mim? Sinceramente, eu não posso conviver com isso. Passo no bar para vê-la e não gosto da cena que vejo, aquele cara estava cheio de sorrisinhos para ela e sei que ele tem sentimentos por Cindy e se não fosse o amor que ela ainda sente por David, talvez os dois estariam felizes e pensando bem, isso seria o melhor para ela.Eu não a mereço, porém o meu egoísmo fala mais alto. Eu a amo e preciso mostrar isso de todas as formas que eu puder.Depois que a vi, finalmente entro no carro para ir ao Rio de Janeiro, e como esse trajeto é extenso, ele me dará mais tempo para pensar.Muitas horas depois, chego ao meu destino e assim que abro o portão, sou saudado pe
Hoje é o dia da tão falada festa do dia dos pais. Luz não parou de falar sobre ela a semana toda e para minha alegria, seu Zé e dona Guta voltaram, mas trouxeram uma notícia triste: eles precisarão se tratar e vão embora de vez, depois da festa eles irão conversar comigo, mas já estou triste por saber que não terei um emprego. E agora? Como vou alimentar minha filha? Sei que tenho um dinheiro com o qual posso viver um bom tempo, mas eu já estou acostumada a trabalhar. Resolvo deixar a minha preocupação de lado e dar atenção à minha filha, ela está linda com o vestidinho branco com estampa de flores, seu All Star preto e um arco em formato de coroa que brilha.– Mamãe, estou bonita? – ela pergunta rodando.– Está linda, minha princesa. Agora para de rodar antes que fique tonta e despenteada.– Desculpa, mam&a
Chego pra trabalhar contente. Arrumo as mesas, sirvo os clientes, e na hora do almoço dona Guta e seu Zé me chamam para conversar e dizem que venderão o bar e me perguntam se eu tenho interesse em comprá-lo. Explico a eles que tenho interesse, mas não tenho muito dinheiro para realizar a compra.Então eles fazem um acordo para que eu pague em pequenas parcelas e fico imensamente feliz por eles terem me dado preferência, mesmo sabendo que não receberão rapidamente. Achei que perderia o emprego, já estava até preocupada pensando no que iria fazer. Esses meses que fiquei no lugar deles, percebi que é muito difícil trabalhar sozinha e logo penso em chamar minha amiga, mas o problema será com quem deixaremos as meninas. Chego na casa de Jô para buscar Luz e conversar com ela sobre tudo.– Ai, amiga! Que bom pra você, fico feliz em vê-la progredir.