Após todos esses anos fora, me ver na estrada voltando para casa é estranho; e ainda mais nessas condições. Me acostumei com a cidade grande; gosto do movimento, de ver pessoas correndo para lá e para cá, e se quero virar a noite, sempre tem algum lugar aberto para me distrair e esquecer da dor.
Foi o que fiz nos últimos dias.Virar a noite em balada e só voltar para casa quando o sol está para nascer. De tanto meus amigos me aconselharem e tentarem abrir meus olhos que isso estava me fazendo mal, decidi tirar um tempo longe de tudo. Agora a fazenda parece o melhor lugar para me refugiar por um tempo. Ainda não decidi se vou ficar um mês ou dois — tudo dependerá de como as coisas vão correr por lá. Espero que meus pais não fiquem no meu pé querendo saber o real motivo que me fez voltar. Quero esquecer tudo o que passou. Mesmo com o coração em pedaços, vou tentar seguir em frente. Sei que não será fácil, mas quero ao menos tentar. Se pudesse, apagava todas as lembranças da minha cabeça e recomeçaria do zero. Após quase quatro horas de voo de São Paulo a Rondônia e mais algum tempo de carro, enfim chego à cidade de Porto Velho, mas a fazenda dos meus pais fica bem afastada do centro da cidade. Isso é o que menos gosto. Terei de arrumar um carro para poder me locomover por aqui. O taxista tenta puxar assunto várias vezes, mas só respondo o básico. Não estou a fim de falar da minha vida a um estranho. Depois do que parece uma eternidade, vejo a entrada da fazenda. Na grande placa de madeira estava escrito “Fazenda Paraíso”. Lembro que foi minha mãe que escolheu esse nome, pois dizia que era assim que ela se sentia nesse local. Dá para perceber que foi reformada a pouco tempo. Meu pai havia falado há um tempo atrás, por telefone, que estava reformando várias coisas, pois estava entrando um bom dinheiro com os produtos feitos na fazenda, e principalmente com a venda de gado. Nunca me interessei por esses assuntos “rurais” como ele. Eu nasci para viver na cidade grande e já estou contando os minutos para voltar para ela. Eu cresci aqui, porém sinto que este não é o meu lugar. Assim que o carro para em frente a entrada da casa, que está ainda maior e mais bonita do que me lembrava — as paredes que antes eram azuis agora estão na cor creme, e ao lado da escada há lindas flores —, vejo minha mãe descendo as escadas correndo, com os braços abertos, e não consigo conter o sorriso. Seus cabelos estão quase brancos, evidenciando sua idade. Pago o taxista; ele me ajuda a colocar as malas no chão e vai embora. Minha mãe é a pessoa de quem mais senti falta. Mesmo distante e dificilmente entrando em contato, era nela que mais pensava.— Nem acredito que você está de volta, meu filho amado! — Ela me abraça forte. Só de sentir o cheiro da minha mãe, já me senti mais calmo. A saudade que estava era bem maior do que imaginei. — Oi, como você está? — Dou um beijo em sua cabeça, o que é fácil já que ela é bem menor que eu.
— Estou melhor agora com você aqui! — Ela se afasta abruptamente e me encara com os olhos cerrados. — Como você pode ficar tanto tempo longe de casa? Nesses cinco anos só veio nos ver duas vezes... e nos primeiros anos. — Dá um tapa fraco no braço.
— Ai, mãe!! Eu também estava com muita saudade sua. — Um sorriso se forma em seu rosto e a puxo de volta para um abraço.
Eu posso esta com raiva do resto do mundo, mas nunca iria maltratar meus pais. Eles sempre fizeram de tudo por mim. Sou muito grato a eles por tudo. — Você nem me avisou que ele já havia chegado! — Ouço a voz de pai. Nós dois nos separamos e nos viramos para ele. O mesmo sorriso que estava no rosto da minha mãe agora está estampado no dele. Meu pai é pouca coisa mais velho que minha mãe, mas os anos ao sol o fazem parecer bem mais velho do que na verdade é. — Eu fiquei esperando na varanda. Você não quis esperar comigo, então não reclame – minha mãe fala.
Esses dois são assim, como cães e gatos, mas um não vive sem o outro. Acho que é isso que mantém o relacionamento deles. Um sempre provoca o outro, mas tudo sempre é na brincadeira. Em toda a minha vida, nunca vi os dois brigarem. — Até que enfim se lembrou dos pais. — E me abraça forte, parecendo que vai quebrar meus ossos. — Vocês dois têm uma recepção tão calorosa — digo ironicamente. — Quem te avisou que Davi havia chegado? — minha mãe questiona. — Foi Camila. Ela viu um carro chegar e um rapaz sair dele com as malas, então deduziu que seria Davi — meu pai responde. — Quem é Camila? Não me lembro dela — questiono confuso. Os dois me olham.— É a filha da Conceição! – Minha mãe fala como se fosse óbvio.
— E quem é Conceição? – questiono mais confuso ainda. Os dois riem.
— É a nova empregada que contratei pra ajudar sua mãe nos afazeres da casa. Está interessado em conhecê-la? – Meu pai balança as sobrancelhas sugestivamente.
— Só fiquei curioso. Não estou interessado em me relacionar com ninguém. Estou muito bem sozinho e pretendo ficar assim — acaba saindo um pouco rude. — Se você diz! – Ele dá de ombros. — Mas ela é muito bonita, tenho certeza de que vocês ficariam muito lindo juntos. — Olho para a minha mãe e ela pisca. Meu pai ri.
— Mãe, estou aqui há menos de quinze minutos e você já está tentando me arranjar alguém? – Essa minha mãe é inacreditável.
— Não custa tentar! Eu quero netos, Davi, muitos netos! – Só sei rir e balançar a cabeça em negação. – Agora vamos levar suas coisas até seu quarto. Lá você pode tomar um banho e se arrumar pro almoço. Meu pai me ajuda a levar as malas. Chegando no meu quarto, eles me deixam um pouco sozinho. Penso em começar a arrumar minhas coisas, mas depois fico com preguiça. Decido me deitar um pouco. Olho em volta e meu quarto está bem melhor que antes. Agora tem um guarda-roupa grande de seis portas, uma cama de casal com um colchão macio e uma tv de tela fina não muito grande embutida na parede. Após um tempo decido me levantar e ir tomar banho. Minha barriga já está roncando. Essa viagem me deixou cansado e com fome, e nada melhor que a comida da minha mãe. Após o banho, vou até a cozinha, onde o cheiro está delicioso, o que me deixa ainda mais faminto. Minha barriga ronca alto nessa hora e me senti envergonhado. — Já estou terminando, filho. Se você quiser, tem um pãozinho caseiro aí em cima da mesa. – Ela aponta para a mesa, onde há algo coberto com um pano de prato branquinho.— Obrigado! Vou pegar um pedaço – falo mais animado.Me sento à mesa e corto um pedaço de pão. Assim que coloco na boca, mil lembranças passam pela minha cabeça. Todas as vezes que ela fazia pão para o café da manhã e para os cafés da tarde... Suas mãos eram mágicas. Tudo que ela fazia era delicioso. Escuto passos e vejo uma mulher de mais ou menos quarenta e cinco anos, morena e aparentemente simpática, entrar na cozinha. Logo minha atenção vai para moça que está bem atrás dela. Essa deve ser a tal Camila, e caramba, minha mãe tinha razão, que morena linda!
Ainda me vejo encantado com a beleza daquela moça. Ela é totalmente diferente do que imaginei quando meu pai a mencionou. Seus lindos cabelos castanhos combinam com seus olhos, e ela veste uma calça jeans colada, uma bota marrom e uma blusa de alcinha azul. Leva um tempo para sair de seu encanto. — Filho essa é Conceição e sua filha Camila —minhamãe fala, apontando para cada uma. — Prazer em conhecer vocês. – Dou um breve sorriso e volto a comer meu pão. Camila resmunga alguma coisa que não entendi, e sua mãe a repreende. — Mãe vou ficar na varanda. Quando terminar você dá um grito que venho correndo. — Vou até ela, dou um beijo em sua cabeça. Faço um aceno breve para Camila e Conceição e saio. Assim que chego do lado de fora, me sento no banquinho de madeira, pego meu celular e dou uma olhada e nada de mensagem nova. — Você é metido assim naturalmente ou tev
Não sei o que fazer se essa menina começar a chorar, e ainda mais por minha culpa. Seus olhos ainda estão cheios d’água e sua feição triste então do nada começa a rir. Eu fico sem entender nada. — Você tinha que ver sua cara! – Camila começa a rir. – Você pensou que iria chorar, né?Deus, ela estava fazendo isso para ver a minha reação? Fico com mais raiva ainda. — Você tem algum problema? Isso não se faz – falo, ainda sem acreditar no que ela fez. — Davi, mesmo nova, já passei por muita coisa não é um grito que vai conseguir me abalar, então pode gritar à vontade até ficar sem voz. – Ela dá de ombros rindo. — Você é bem maluquinha, né?! – falo e acabo rindo. — Você riu, então não está tão bravo assim! — Não, ainda estou com muita raiva. Tanto por você me chamar de playboy quanto por fingir que vai chorar. –Meviro e começo a andar. Ela vem e me acompanha.<
Estou aqui, sem conseguir dormir. Não acredito que Camila tentou me beijar, e bem na hora sua mãe apareceu. Pelo menos não desconfiou de nada ou disfarçou muito bem. Acho que isso foi um sinal de que não é para me envolver com aquela garota. Eu tenho que ser forte e me manter afastado dela. Aquela beleza toda junto com aquele jeito doida se ser dela está me encantando, e não posso deixar isso acontecer. Minha mãe, durante todo o jantar, ficou questionando se havia algo de errado comigo. Respondi quenão,mas não tenho certeza. Acho que seria melhor voltar para São Paulo antes que as coisas comecem a sair do controle por aqui. Mas aí teria que enfrentar todo o problema que causei, e vim para cá para fugir deles. Ou pelo menos tentar não me culpar tanto, mesmo sabendo que foi tudo culpa minha. Pego meu celular para ver o horário e são duas da manhã. Meus pais foram dormir cedo. Já eu não estou acostumado com isso. Já me acostumei com a vid
Camila havia mesmo me proposto a ficarmos juntos o tempo que vou passar aqui na fazenda? Meu corpo grita para aceitar logo, mas minha razão fala que isso não daria certo. — Então, o que me diz? Não fica assim em silêncio, Davi. –Seguraminhas mãos. — Você acha mesmo que é uma boaideia? – questiono, olhando em seus olhos. Ela faz que sim com a cabeça. – E se um se apegar ao outro? Não quero te fazer sofrer. – Levo minha mão ao seu rosto; sua pele macia me encanta. — E se eu conseguir te convencer a ficar? A ficar aqui, comigo e com sua família? — Eu não quero que você se apegue a essa ideia, Camila. Eu não pretendo ficar aqui. –Agoraé a sua mão que está acariciando o meu rosto. Seu toque é tão delicado, cheio de ternura. Sinto o meu coração aquecer no mesmo instante. — Mas eu quero tentar. Me deixa tentar? Se após esse tempo juntos, você ainda quise
Acordo com minha mãe me chamando. Abro meus olhos e ela está me olhando e sorrindo. — Vamos almoçar, filho? Fiz um almoço bem caprichado. — Já vou, mãe. Obrigado por me acordar. — Te esperamos na mesa — fala,saindo do quarto. Me levanto, jogo uma água no rosto e visto uma camisa, já que estou de bermuda e vou para a cozinha. Almoço com meus pais e depois ajudo minha mãe a arrumar tudo. Conceição não está para ajudá-la. Como era domingo, estava de folga. Vou até meu quarto e começo a arrumar minhas coisas no lugar.Quando termino de arrumar tudo, me deito na cama e fico mexendo no celular. Chega uma mensagem no W******p de um número desconhecido e olho a foto. É a pivete. Me pego sorrindo igual um bobo. Salvo seu contado e respondo sua mensagem. Camila:Ei, velhote, já está pronto pra nossa ida a cachoeira? Davi:Já sim, só estou te esperando. Não esqueça de
Camila está ofegante em meus braços após um longo beijo. Me deito ao seu lado e ficamos olhando um para o outro. — Como você conseguiu fazer isso? – Camila me olha sem entender minha pergunta. – Como você conseguiu mexer comigo assim, me deixar caidinho por você, me fazer te levar por aí na sua bicicleta com uma mochila rosapinknas costas? É tudo muito louco. Dois dias atrás eu nem sabia da sua existência e agora estou aqui na sua frente perdido no seu olhar. Ela estende a mão e acaricia o meu rosto. — Eu também queria saber como você me encantou em tão pouco tempo. Acho que já estava traçado. Nossos caminhos tinham que se encontrar. Assim que te vi naquela cozinha você despertou algo em mim, Davi. Algo que nunca havia sentido antes. Eu entendo completamente como você se sente, e quero aproveitar cada momento ao seu lado. – Deita sua cabeça no meu peito e me abraça forte. Também quero aproveitar cada momen
Já está quase na hora de ir buscar Camila. Já havia tomado banho e estava só de cueca em frente ao guarda-roupa, decidindo qual roupa usar para impressionar. Estou parecendo uma garota que não sabe o que vestir. Só aquela menina para me deixar assim. No fim, coloco uma calça jeans e uma camiseta xadrez vermelha. Deixo as mangas dobradas e os primeiros botões abertos, pego uma bota preta emprestada do meu pai, arrumo meu cabelo, passo um perfume e claro, não posso esquecer o chapéu. Sinto a minha barriga doer de ansiedade para ver como minha linda estará arrumada. Meus pais sabem para onde estou indo e com quem. Ele me emprestou a chave da suaHiluxvermelha e pediu para que tomasse muito cuidado, pois é o seu xodó. Vou até o quarto, aviso aos dois que já estou saindo, d pouco tempo depois já estou em frente a casa de Camila. Saio do carro e fico de pé encostado na porta. Assim que ela sai pela porta, fico encantado. Ela é a mulher mais linda q
Assim que termina o último gole da cerveja, ela olha para mim com cara feia. Seu olhar é penetrante e dá para ver que está furiosa. Camila se senta no capô do carro de braços cruzados. Me aproximo devagar. — Ei, vamos voltar pra festa. – Tento segurar a sua mão, mas ela puxa de volta no mesmo instante. – Vamos, Camila, a festa está tão boa. você não vai ficar aí emburrada,né? — Vai lá com sua amiga peituda. Ela está doidinha pra “dar” pra você. –Abreum sorriso forçado. Mesmo sabendo que não deveria acabo rindo. — Às vezes esqueço que você é tão direta assim, mas é uma das coisas que gosto em você. — Meencaixo no meio de suas pernas e seguro sua cintura. — Me dá essa garrafa! – fala, tirando a cerveja da minha mão. Em questão de segundos já não havia uma gota. — Acho que já chega de cerveja por hoje – falo e ela revira os olhos. — Davi, eu vou beber o quanto q