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CP-04 Passeio a luz do luar

Estou aqui, sem conseguir dormir. Não acredito que Camila tentou me beijar, e bem na hora sua mãe apareceu. Pelo menos não desconfiou de nada ou disfarçou muito bem. Acho que isso foi um sinal de que não é para me envolver com aquela garota. Eu tenho que ser forte e me manter afastado dela. Aquela beleza toda junto com aquele jeito doida se ser dela está me encantando, e não posso deixar isso acontecer. 

Minha mãe, durante todo o jantar, ficou questionando se havia algo de errado comigo. Respondi que não, mas não tenho certeza. Acho que seria melhor voltar para São Paulo antes que as coisas comecem a sair do controle por aqui. Mas aí teria que enfrentar todo o problema que causei, e vim para cá para fugir deles. Ou pelo menos tentar não me culpar tanto, mesmo sabendo que foi tudo culpa minha. 

Pego meu celular para ver o horário e são duas da manhã. Meus pais foram dormir cedo. Já eu não estou acostumado com isso. Já me acostumei com a vida noturna, em virar a noite. Entro no F******k, mas logo estou entediado. Nada de interessante. Bloqueio o celular e coloco ao lado do travesseiro.

Escuto um barulho estranho e olho em volta, mas não vejo nada. Deve ser a minha cabeça me pregando peças. Fecho os olhos para tentar dormir, mas logo aquele barulho volta. Decido me levantar e verificar direito. Ele está vindo da janela. Encosto minha orelha nela e tenho a certeza de que alguém está jogando algo nela. Abro a janela devagar e uma pedra acerta o meu rosto. 

— Que merda! – falo, colocando a mão onde a pedra atingiu. 

— Vamos dar uma volta? – escuto uma voz baixa, e me esforço para conseguir enxergar quem seria naquele breu. 

Não posso acreditar que Camila está às duas da madrugada jogando pedrinhas na minha janela. Eu falo que essa menina tem uns parafusos a menos.

 

— Não é hora de crianças estarem dormindo? – falo baixinho para não acordar meus pais que dormem no quarto ao lado.

 

— Os velhos também já deveriam estar no décimo sono. – Ela retruca, e faz sinal com a mão para que eu vá até ela.

 

— Espera aí! – falo e ela concorda. Eu fecho a janela devagar. 

Como gosto de dormir de cueca, pego uma bermuda e uma camiseta, me visto rapidamente calço meus chinelos. Antes de sair do quarto, ainda dou uma olhada no espelho para ter certeza se tudo está no lugar, e confiro se estou com bafo. Já havia escovado os dentes, mas vai saber. 

Acabei de falar que tenho que manter distância dessa garota e agora estou aqui arrumado para ir sei lá aonde com ela no meio da madrugada? 

— É a vida, né? – falo para mim mesmo, dando de ombros. 

Saio de casa sem fazer nenhum barulho. Ela já havia descido as escadas e está sentada em uma bicicleta. 

— Eu não tenho bicicleta! – falo, cruzando os braços. 

— Nós dividimos a minha. – Camila se levanta e me oferece o assento. 

O que eu estou fazendo? É o que penso assim que ela se senta no cano da bicicleta entre meus braços. 

— Eu vou te mostrando o caminho. – Seu entusiasmo é notável. 

— Ta bom, né! – falo, como se eu não houvesse escolha.

 

E realmente não há. Se essa garota me chamasse para ir até o Japão, levando-a assim, na bicicleta, eu iria..começo a pedalar, e a brisa da noite faz seu perfume me embriagar. O que esta acontecendo comigo? 

— À direita, Davi! – ela fala assim que chegamos a uma parte mais densa da mata. 

— Garota, você não está me levando pra morte, não né?! – falo, e ela cai na gargalhada. 

Sem perceber, também estou sorrindo. A lua está cheia o, que ajuda muito a conseguir ver bem para onde estamos indo. Um pouco mais à frente, vejo um lago. Quando chegamos lá, eu paro a bicicleta e Camila desce, e depois eu faço o mesmo. Deixo sua bicicleta encostada em uma árvore. Ela começa a caminhar e se senta bem próxima ao lago. Vou até ela e me sento ao seu lado. 

— Tinha me esquecido de como o céu é lindo por aqui. Na cidade não dá pra ver as estrelas assim, devido a poluição. — Me deito na grama. 

— Então deveria se mudar pra cá de vez. — Se deita ao meu lado. – Você poderia ficar aqui comigo? – Me viro pra ela. – Quer dizer, aqui na casa de seus pais — fala sem jeito. 

— Eu já tenho uma vida em São Paulo. Tenho minha carreira. Só vim pra cá pra dar um tempo, já te falei isso.

Nesse momento ela se vira para mim. 

— Não há nada que te faça ficar? – questiona. 

— Não – digo, sério. 

Ela se vira e volta a olhar as estrelas. Eu faço o mesmo. 

— Você tem alguém lá te esperando? Por isso não quer ficar? Por isso não me beijou mais cedo?

Não estava esperando esses questionamentos. Ela realmente queria que eu ficasse? Queria que eu a beijasse? Mas acabei de conhecê-la. 

— Eu não tenho ninguém e nem estou à procura. Acho que nem mereço ter alguém ao meu lado. Principalmente se esse alguém for você. Por isso não te beijei mais cedo. Não foi por falta de vontade, mas sim porque não quero te magoar, não quero que se apaixone por mim e depois sofra quando eu for embora — falo. Não tem como ser mais sincero que isso. 

— Queria entender o motivo de você se sentir assim, por que fala essas coisas, como se tivesse cometido um crime. 

— É muito complicado, Camila. Um dia quem sabe eu te explique tudo. 

— Não pode ser hoje? Agora? – Se senta com suas pernas cruzadas.

 

— Ainda não estou pronto pra falar sobre isso. — Olho em seus olhos.

 

— Quanto estiver pronto, estarei aqui pra te ouvir. — Abre um sorriso lindo, e a vejo estremecer quando uma brisa fria a atinge.

— Deveríamos ter trazido uma coberta. Nem pensei nisso. – Me sento.

 

Ela tira a pequena mochila que havia em suas costas, abre o zíper e tira uma pequena manta de dentro dela. 

— Mágica! – Balança a mantinha xadrez em suas mãos. – Não tinha como colocar duas, então vamos ter que dividir. 

Sentamos um colado ao outro, lado a lado, e nos envolvemos nela. 

— Bem melhor! – Camila concorda. – Por que você implicou tanto comigo quando me conheceu?

— Por que me senti atraída por você. Nunca havia sentido isso antes, então não soube como reagir. Eu nunca namorei nem nada desse tipo. – Ela foi bem direta, e fico sem palavras. – Então passei o resto da tarde pensando e pensando. Davi, você quer ficar comigo esse tempo que vai ficar aqui na fazenda? Não vai ser namoro nem nada sério, eu quero ficar com você.

 

Será que havia escutado direto? 

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