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Capítulo 2 - Fuga alucinante

Dois meses passaram...

Qa'id al-Havat estava diante de um dilema, manter uma de suas escravas sexuais vivas, era brincar com o perigo... Ele precisava se desfazer dela o mais rápido possível e seus comparsas o cobravam uma atitude dia a noite, como poderia dormir em paz? Estava arriscando muito a cada dia que ela respirasse nessa terra.

As areias do tempo iam contra seu destino, Victória despertou naquela segunda-feira... Estava cansada de buscar uma saída para seu sofrimento e nunca aceitaria ser amante de um homem como aquele... Lutaria com as armas que conseguisse, para ter sua vida de volta.

Victória estava cansada de implorar, sabia que suas palavras não faziam diferença para Qa'id al-Havat. Passou a fingir aceitar sua vida aprisionada, buscando conseguir regalias dele. Quando Qa'id veio pela manhã, seu olhar parecia perdido, observando-a de forma diferente.

— Sei que meu tempo acaba aqui, não compreendo tudo que o senhor e seus homens dizem... Mas eu sempre soube que não me deixariam viver, após ver o seu rosto! — Suas palavras deixaram Qa'id em silêncio, e ela acariciou sua barba farta. — Quero que Alá me veja linda quando eu chegar...

Ele virou-se de costas, dando a entender que sua última oportunidade estava prestes a terminar. Surpreendentemente, chamou por Mohamed e deu a ele algumas instruções. Victória recebeu um beijo na testa, e Qa'id saiu sem olhar para trás. Se tudo acontecesse como ela planejava, nunca mais se veriam. Seu tornozelo foi solto, e ela foi levada novamente para a tenda das mulheres, onde cuidariam de sua beleza.

Seu coração disparava enquanto aguardava naquele lugar, cercada por outras mulheres que ajeitavam seu cabelo e vestiam um traje de seda ornamentado como da primeira vez. Cada movimento aumentava sua ansiedade, suas mãos tremiam imperceptivelmente. Mohamed, o vigia do lado de fora, observava atentamente, sua expressão severa e vigilante. Ele representava o maior obstáculo entre Victória e a liberdade, incumbido de tirar sua vida ao anoitecer daquele dia.

Mantendo sua mente alerta, ela esperava o momento certo. Cada segundo era crucial, e, em um breve instante de distração, agarrou um frasco de vidro pesado próximo a ela. Com a agilidade de um felino, deslizou silenciosamente para fora da cadeira, desviando-se das mãos das arrumadoras. Os olhos de Mohamed, momentaneamente distraídos, permitiram que ela se movesse. Aproveitando a fração de segundo, acertou a parte de trás da cabeça dele com o frasco.

Um som abafado ecoou na tenda, e Mohamed caiu sem fazer barulho, desacordado. O coração de Victória batia tão forte que ela conseguia ouvi-lo nos ouvidos. Sem perder tempo, empurrou a lona da tenda e saiu correndo, ignorando a sensação de liberdade misturada com o medo que a inundava como um rio.

Seus pés descalços corriam pela areia quente do deserto em direção à vila dos mercadores próxima. No horizonte, avistou os contornos dos labirintos da vila, uma rede complicada de vielas e vielas que se entrelaçavam, criando um emaranhado.

— Esse labirinto me ajudará a desaparecer! — Não sabia para onde o destino a estava levando, apenas foi.

A entrada da vila se mostrava diante dela, uma chance de escapar da morte. A adrenalina percorria suas veias, pensando no quanto ainda desejava viver. Mergulhou entre as passagens estreitas, contornando becos e desviando de comerciantes ocupados e compradores.

Sua mente estava focada na fuga, mas cada esquina parecia apresentar um novo medo. As vozes dos mercadores misturavam-se aos sons dos camelos e ao odor de especiarias exóticas. O labirinto vivo e pulsante exigia rapidez e destreza para passar por entre suas vielas.

Sem tempo para hesitar, seus pés batiam na terra batida enquanto ela se desviava dos negociantes, sua respiração ofegante abafada pelo alvoroço do mercado. A liberdade parecia tão próxima e, ao mesmo tempo, tão inatingível. Não sabia para onde seus passos a levariam, mas a certeza de que estava longe daquele cativeiro era sua única esperança.

Atrás dela, a vila murmurava com a atividade cotidiana, mas para ela, era o caminho de volta ao Brasil. Olhava para trás com muito medo, sabendo que deviam ter saído à sua procura. Em um momento, avistou um dos homens que trabalhavam para Qa'id al-Havat, o mesmo verme que a havia levado para esse destino. Ele perguntava para as pessoas e parecia descrevê-la.

Seu coração quase parou, então entrou em um beco, ouviu algumas vozes e seguiu em direção a esse lugar. Um homem alto de costas falando ao celular. Sua alma gritou para que tentasse...

Enquanto isso, Qa'id al-Havat foi informado sobre a fuga de Victória, prometendo que o erro amador que resultou em sua escapada seria punido com total rigor. Ele estava se preparando para regressar, prestes a viajar para Cuba para conduzir seus negócios naquele local.

Victória tinha conquistado seu coração de uma maneira que nenhuma de suas escravas havia feito antes. Sentir que ela havia escapado da morte foi um misto de alívio por saber que ela estava viva, porém, acompanhado de um medo intenso do que poderia acontecer ao seu império, tanto moral quanto financeiro, se suas atividades criminosas fossem descobertas.

Deu a seus comparsas apenas três horas para trazê-la de volta ao cativeiro ou todos eles seriam eliminados com as balas que seriam para ela. Seus planos de viajar foram comprometidos, ele telefonou para a esposa e disse que permaneceria mais uns dias em Al Awir e só depois pensaria em seguir para sua viagem.

Qa'id al-Havat entrou em um de seus carros de luxo, seguiu de volta ao cativeiro... Constatou o quarto vazio e parecia não acreditar que poderia não ver novamente sua princesa brasileira. Xingou, quebrou coisas e amaldiçoou todos os envolvidos naquele desastre e por último, deu um tiro na cabeça de Mohamed.

O vento sopra impiedosamente sobre o deserto, agitando as partículas de areia em caos. O ar quente e seco se intensifica à medida que as rajadas varrem a paisagem árida, criando redemoinhos de poeira que dançam pelo chão. As partículas de areia são levantadas ao ar, criando um véu turbulento que obscurece parcialmente a vista da vila distante.

A sensação é de uma força invisível que varre a paisagem, como se o próprio deserto estivesse traduzindo a fúria contida de Qa'id al-Havat. Enquanto Qa'id observa ao longe, mergulhado em sua própria tempestade interior, o vento agita a areia quente...

— أريدها مرة أخرى! (Eu a quero de volta!) — murmurou aos seus subordinados, Victória era naquele momento a mulher mais procurada daquele país.

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