Dois meses passaram...
Qa'id al-Havat estava diante de um dilema, manter uma de suas escravas sexuais vivas, era brincar com o perigo... Ele precisava se desfazer dela o mais rápido possível e seus comparsas o cobravam uma atitude dia a noite, como poderia dormir em paz? Estava arriscando muito a cada dia que ela respirasse nessa terra.
As areias do tempo iam contra seu destino, Victória despertou naquela segunda-feira... Estava cansada de buscar uma saída para seu sofrimento e nunca aceitaria ser amante de um homem como aquele... Lutaria com as armas que conseguisse, para ter sua vida de volta.
Victória estava cansada de implorar, sabia que suas palavras não faziam diferença para Qa'id al-Havat. Passou a fingir aceitar sua vida aprisionada, buscando conseguir regalias dele. Quando Qa'id veio pela manhã, seu olhar parecia perdido, observando-a de forma diferente.— Sei que meu tempo acaba aqui, não compreendo tudo que o senhor e seus homens dizem... Mas eu sempre soube que não me deixariam viver, após ver o seu rosto! — Suas palavras deixaram Qa'id em silêncio, e ela acariciou sua barba farta. — Quero que Alá me veja linda quando eu chegar...
Ele virou-se de costas, dando a entender que sua última oportunidade estava prestes a terminar. Surpreendentemente, chamou por Mohamed e deu a ele algumas instruções. Victória recebeu um beijo na testa, e Qa'id saiu sem olhar para trás. Se tudo acontecesse como ela planejava, nunca mais se veriam. Seu tornozelo foi solto, e ela foi levada novamente para a tenda das mulheres, onde cuidariam de sua beleza.
Seu coração disparava enquanto aguardava naquele lugar, cercada por outras mulheres que ajeitavam seu cabelo e vestiam um traje de seda ornamentado como da primeira vez. Cada movimento aumentava sua ansiedade, suas mãos tremiam imperceptivelmente. Mohamed, o vigia do lado de fora, observava atentamente, sua expressão severa e vigilante. Ele representava o maior obstáculo entre Victória e a liberdade, incumbido de tirar sua vida ao anoitecer daquele dia.
Mantendo sua mente alerta, ela esperava o momento certo. Cada segundo era crucial, e, em um breve instante de distração, agarrou um frasco de vidro pesado próximo a ela. Com a agilidade de um felino, deslizou silenciosamente para fora da cadeira, desviando-se das mãos das arrumadoras. Os olhos de Mohamed, momentaneamente distraídos, permitiram que ela se movesse. Aproveitando a fração de segundo, acertou a parte de trás da cabeça dele com o frasco.
Um som abafado ecoou na tenda, e Mohamed caiu sem fazer barulho, desacordado. O coração de Victória batia tão forte que ela conseguia ouvi-lo nos ouvidos. Sem perder tempo, empurrou a lona da tenda e saiu correndo, ignorando a sensação de liberdade misturada com o medo que a inundava como um rio.
Seus pés descalços corriam pela areia quente do deserto em direção à vila dos mercadores próxima. No horizonte, avistou os contornos dos labirintos da vila, uma rede complicada de vielas e vielas que se entrelaçavam, criando um emaranhado.
— Esse labirinto me ajudará a desaparecer! — Não sabia para onde o destino a estava levando, apenas foi.
A entrada da vila se mostrava diante dela, uma chance de escapar da morte. A adrenalina percorria suas veias, pensando no quanto ainda desejava viver. Mergulhou entre as passagens estreitas, contornando becos e desviando de comerciantes ocupados e compradores.
Sua mente estava focada na fuga, mas cada esquina parecia apresentar um novo medo. As vozes dos mercadores misturavam-se aos sons dos camelos e ao odor de especiarias exóticas. O labirinto vivo e pulsante exigia rapidez e destreza para passar por entre suas vielas.
Sem tempo para hesitar, seus pés batiam na terra batida enquanto ela se desviava dos negociantes, sua respiração ofegante abafada pelo alvoroço do mercado. A liberdade parecia tão próxima e, ao mesmo tempo, tão inatingível. Não sabia para onde seus passos a levariam, mas a certeza de que estava longe daquele cativeiro era sua única esperança.
Atrás dela, a vila murmurava com a atividade cotidiana, mas para ela, era o caminho de volta ao Brasil. Olhava para trás com muito medo, sabendo que deviam ter saído à sua procura. Em um momento, avistou um dos homens que trabalhavam para Qa'id al-Havat, o mesmo verme que a havia levado para esse destino. Ele perguntava para as pessoas e parecia descrevê-la.
Seu coração quase parou, então entrou em um beco, ouviu algumas vozes e seguiu em direção a esse lugar. Um homem alto de costas falando ao celular. Sua alma gritou para que tentasse...
Enquanto isso, Qa'id al-Havat foi informado sobre a fuga de Victória, prometendo que o erro amador que resultou em sua escapada seria punido com total rigor. Ele estava se preparando para regressar, prestes a viajar para Cuba para conduzir seus negócios naquele local.
Victória tinha conquistado seu coração de uma maneira que nenhuma de suas escravas havia feito antes. Sentir que ela havia escapado da morte foi um misto de alívio por saber que ela estava viva, porém, acompanhado de um medo intenso do que poderia acontecer ao seu império, tanto moral quanto financeiro, se suas atividades criminosas fossem descobertas.
Deu a seus comparsas apenas três horas para trazê-la de volta ao cativeiro ou todos eles seriam eliminados com as balas que seriam para ela. Seus planos de viajar foram comprometidos, ele telefonou para a esposa e disse que permaneceria mais uns dias em Al Awir e só depois pensaria em seguir para sua viagem.
Qa'id al-Havat entrou em um de seus carros de luxo, seguiu de volta ao cativeiro... Constatou o quarto vazio e parecia não acreditar que poderia não ver novamente sua princesa brasileira. Xingou, quebrou coisas e amaldiçoou todos os envolvidos naquele desastre e por último, deu um tiro na cabeça de Mohamed.
O vento sopra impiedosamente sobre o deserto, agitando as partículas de areia em caos. O ar quente e seco se intensifica à medida que as rajadas varrem a paisagem árida, criando redemoinhos de poeira que dançam pelo chão. As partículas de areia são levantadas ao ar, criando um véu turbulento que obscurece parcialmente a vista da vila distante.
A sensação é de uma força invisível que varre a paisagem, como se o próprio deserto estivesse traduzindo a fúria contida de Qa'id al-Havat. Enquanto Qa'id observa ao longe, mergulhado em sua própria tempestade interior, o vento agita a areia quente...
— أريدها مرة أخرى! (Eu a quero de volta!) — murmurou aos seus subordinados, Victória era naquele momento a mulher mais procurada daquele país.
Adrian, herdeiro de uma grande fortuna, é reconhecido como o solteiro mais desejado do país. Apesar de sua coragem, ele se vê diante do momento crucial de assumir as finanças da família. No entanto, seu espírito aventureiro o impede de aceitar essa responsabilidade imediata. Movido por uma ânsia insaciável por novas experiências, ele adia seu papel nos negócios familiares em busca de mulheres e emoções intensas.Num momento de tensão durante uma discussão com seu pai sobre seu futuro, Adrian é surpreendido por uma bela jovem que parece angustiada e fala de forma desconexa, demonstrando preocupação. Sua presença enigmática interrompe a atmosfera carregada da conversa, despertando a curiosidade e ele desliga a ligação, enfurecendo ainda mais seu pai... Ao fazê-lo desligar a ligação.— Eu sei que o senhor não pode me entender, leve-me daqui! Por favor... — pedia ela, entre palavras quase incompreensíveis por sua dicção apavorada.Ajoelhou-se diante dele, Adrian ficou constrangido e a seg
Apesar de desejar a presença de Victória, Adrian jantou e adormeceu após aquele dia exaustivo. A forma que aquele mistério tomava o pensamento dele o deixava inquieto, jamais experimentara esse sentimento.Ele tem um grande amigo, jovem de família abastada como ele, mas Ahmed sempre foi o mais centrado e já tinha esposa e dois filhos. Adrian queria compartilhar o encontro com aquela mulher e precisava dizer isso para alguém de confiança e que poderia ajudá-lo a ponderar a situação. Decidiu fazer uma chamada de vídeo para ele na manhã do dia seguinte.— Salam Aleikum. Como você está?— Wa Aleikum Salam. Estou bem, obrigado. — respondeu Ahmed.— Pensei que não atenderia minha ligação assim tão cedo!— As crianças não me deixariam dormir até mais tarde, já está em Ajman?Relutante, Adrian respondeu:— Não! E meu pai já deve estar sabendo disso, me procurando em todas as mansões do país!— Foge do casamento como se fosse o final da sua vida. Amigo, você não sabe que está morto até ter a s
Enquanto isso, os homens de confiança de Qa'id al-Havat seguiam buscando informações sobre o paradeiro dela. Ele precisava acompanhar a procura, mentiu para a família, enquanto seguia perdendo o sono de medo do que aconteceria se Victória chegasse a falar sobre ele. Naquele lugar onde quase todas as mulheres se cobriam com burcas e véus, seria como encontrar uma agulha no palheiro.Enquanto isso, Victória ouvia atentamente as orientações:— Adrian gosta de comida bem temperada, nunca tente inventar e siga as receitas!Dagmar permitiu que ela fizesse o jantar, simpatizou com a moça apesar de todos saberem pouco ao seu respeito. Ter alguém para dividir as tarefas domésticas era obviamente melhor do que fazer tudo sozinha... Como sua primeira missão, Victória preparou um risoto de cogumelos que era um dos pratos preferidos de Adrian.Após o preparo, ela subiu as escadas para tomar um banho e descansar... Ao entrar em seu quarto constatou aquelas sacolas sobre sua cama, sentou-se ao lado
Amanhece, Victória sente que a obrigatoriedade de cumprir sua palavra ao acompanhar Adrian aquela festa a incomodava. Temia ser vista e não poderia suportar ser transportada de volta ao seu cativeiro, queria a proteção desse jovem e apenas por isso se negava a recusar o pedido. Despertou bem cedo, abriu o guarda-roupa e pegou o vestido que pretendia usar na festa daquela noite. Era o modelo mais bonito entre os que Adrian a havia presenteado, apesar das circunstâncias algo dentro dela ansiava aquele momento. Talvez para se conhecerem melhor. — Deus não permita que aquele homem cruel me encontre! — Rogou Victória, colocando o vestido delicadamente sobre a cama. Dagmar bateu na porta, imediatamente ela abriu. — Já preparei o café da manhã. — Disse ela, sorrindo ao constatar que a moça já estava ansiosa para o anoitecer. — Eu apenas estava verificando se o vestido precisa de algum ajuste! — Adrian pediu que você se arrume adequadamente hoje. Já que vai acompanhá-lo em uma noitada de
Adrian e Victória seguiram de volta para casa, antes de chegarem, ele telefonou para Ahmed e avisou que não regressaria para a boate naquela noite. A jovem não entendia o que havia sido dito em árabe na ligação, mas sabia que havia estragado o encontro entre amigos. — Deixe-me em casa e volte para lá! — Ahmed pode aproveitar essa noite sozinho. A esposa dele telefonou também e ele deve estar indo para casa. — respondeu Adrian. — Faz muito tempo que o conhece? — Sua pergunta tem a ver com o motivo dessa fuga desesperada da boate Alexia? Vocês se conhecem? — ele freou bruscamente em um sinal vermelho. — Não, eu não o conheço. — respondeu ela, secando com leves batidas a maquiagem borrada pela chuva. — Então por que saiu correndo dessa forma? — Ele se parece com alguém que me fez mal no passado, foi apenas isso! Quando eu o encontrar novamente, pedirei desculpas. — Não se trata do que ele pensou, estou tentando te ajudar desde o primeiro momento... — Então continue a me ajudar
Victória ficou constrangida, não sabia como deveria se comportar diante daquela mulher elegante que usava véu. — Quem é essa garota Adrian? — perguntou a mãe dele. Adrian se posicionou ao lado de Victória e tranquilamente respondeu: — Ela é Alexia, minha noiva! Perplexa com a resposta, ela puxou uma cadeira próxima se sentou. Não fazia questão de disfarçar o desgosto com aquela revelação inesperada. — Seu pai irá matar nós dois, deveria estar em Cuba conhecendo sua noiva e não aqui escondido com essa desconhecida! — gritou ela. — Eu sempre disse que não permitiria que a senhora ou meu pai determinassem meu futuro com base no dinheiro. Já temos o bastante e não preciso me unir a qualquer filha de milionários sem sentimento! No meio daquele verdadeiro fogo cruzado, Victória se sentia culpada e o que menos queria é que Adrian se revoltasse contra a família. — Eu vou subir agora, com licença! — disse ela, mas Adrian a impediu de sair. — Espere Alexia! Não dê ouvidos ao que minha m
Victória seguia ansiosa pela resposta do médico, todas aquelas noites de tortura voltaram a sua mente. Aquelas coisas que ela queria esquecer poderiam ser eternizadas na forma de um ser.— Adrian, pergunte outra vez a ele! Por favor, diga que não! — Implorou ela.Ele olhou para o médico e reiterou a pergunta em árabe, o homem sorriu pensando dar uma boa notícia:— Essa jovem está grávida, receitarei algumas vitaminas, pois ela parece não estar se alimentando bem.Ele ficou paralisado, aquela notícia jamais deveria se tornar um sofrimento para qualquer mulher, mas Adrian sabia o que significava para Victória. O médico arrumou suas coisas, Adrian afirmou que ele receberia o valor da consulta mais tarde e os dois se despediram com um aperto de mãos.— Você está esperando um filho, Alexia como homem não tenho palavras nesse momento para diminuir sua tristeza.Victória chorou e o abraçou, no momento em que pensou virar aquela trsite página da sua vida, tudo estava retornando.— O que eu fa
Victória esperou ansiosamente a volta de Dagmar. Sentada na beira da cama, ela lembrava os eventos terríveis que a trouxeram até aquele ponto da sua vida. A notícia da gravidez ainda rondava a sua mente, e a incerteza do futuro se misturava com a esperança de construir uma vida ao lado de Adrian. Quando a porta se abriu, Victória se ergueu, fixando os olhos em Dagmar com expectativa. A empregada notou a ansiedade nos olhos da jovem e, antes mesmo de ser questionada, começou a compartilhar o que sabia antes de entregar o porta-retratos. — Victória, querida, eu entendo que esse momento está sendo difícil para você. Sei que está ansiosa para conhecer mais sobre a família de Adrian, especialmente sobre o pai dele que é um homem difícil de lidar. Victória assentiu, esperando que Dagmar tivesse informações que pudessem prepará-la melhor sobre o homem com quem estava prestes a se casar. Dagmar, escolhendo as palavras com cuidado, começou a contar sobre Omar, o pai de Adrian. Ela detalhou