Capítulo 3

Não estar preparada para dar aquele passo decisivo na vida dela já não fazia nenhuma diferença, já que não tinha mais como voltar atrás, pois ela não apenas empenhou a palavra para Pablo, como também depois de uma quase semana de exames, os resultados foram favoráveis e ela acabou por assinar o contrato com os Martinez, e realizar o procedimento que mudaria definitivamente a vida dela. Agora ela tinha um embrião dentro dela e era questão de dias para ela ser oficialmente considerada grávida.

Como ela previra, depois do procedimento os pais biológicos da criança a levaram para a mansão deles e depois de ser constatada a gravidez, Pilar viu sua liberdade sendo conduzida por outras mãos: era chegado o momento de deixar Madrid e sua família para trás.

Como combinado, assim que a gravidez de Pilar foi confirmada, Pablo depositou uma pomposa quantia na conta dela, de maneira que a cirurgia de Alejandro foi marcada imediatamente e ela só pode acompanhá-lo, porque Cristina Martinez se propôs a ir junto, se não lhe seria negado o direito de estar com o seu irmão naquele momento tão importante para a sua família. 

Estar sobre vigilância vinte e quatro horas por dia fazia-se sentir-se uma prisioneira e onde quer que ela fosse os seguranças a acompanhavam.

Constatar que a cirurgia foi um sucesso e que Alejandro estava reagindo bem ao procedimento, reavivou nela a certeza de que o seu sacrifício não fora em vão. Ela poderia ter sua vida destruída, mas a de seu irmão fora restituída.

Passada uma semana depois de Alejandro sair do hospital; era chegado o momento mais temível para ela. Era chegado o momento de deixar Madrid para trás, de modo que ela pediu para Pablo Martinez a deixar despedir-se de sua família. 

Embora ele tenha hesitado no primeiro momento, como aquele seria o último dia dela na cidade, ele concedeu-lhe o direito de visitar e despedir-se de seus familiares.

E foi nesse clima de despedida e tristeza que sua mãe a viu chegar em casa, cercada de seguranças.

— Por que tantos seguranças a tua volta? — Ela a questionou apreensiva.

— O senhor Martinez quer apenas assegurar o investimento dele, afinal de contas, além de eu ser bem recompensada pela prestação de serviço, ele ainda pagou-me adiantado o montante referente a quase um ano de contrato. — Esclareceu para não preocupar a sua mãe.

— Essa não é uma atitude normal para um homem de bem. — Dona Carmen observou mais apreensiva do que antes.

— Não precisa preocupar-se. O senhor e a senhora Martinez são pessoas de boa índole. — Disse para acalmá-la. — Antes de eu aceitar a proposta que eles ofereceram-me fiz uma pesquisa minuciosa sobre eles. — Acrescentou sincera, pois foi exatamente isso que Pilar fez.

— Tiraste um peso das minhas costas. Eu não me perdoaria se algo de ruim acontecesse a você. — Observou com o coração apertado por saber que brevemente estaria separada de sua filha.

— Deixe-me despedir do Alejandro, mãe. Amanhã cedo estarei viajando para a província de Castilla – La Mancha e provavelmente só nos veremos no natal.

— Isso significa que você passará o natal conosco? — Perguntou entusiasmada.

— Sim... A senhora Cristina Martinez disse-me que a abuela dela retorna para Madrid antes do natal. Período em que termina o meu contrato. — Evidenciou para alegria de sua mãe.

— Quem ficará com a avó de tua patroa quando ela retornar para Madrid? — Perguntou estranhamente.

— A antiga cuidadora dela. — Respondeu apressadamente e acrescentou. — A mãe da cuidadora da senhora Gutierrez encontra-se enferma e o senhor Martinez concedeu-lhe alguns meses de licença.

Antes que a mãe dela a enchesse de perguntas, ela pediu licença e dirigiu-se ao quarto de Alejandro.

Assim que ela entrou foi recebida com um largo sorriso e, naquele momento, ela teve certeza de que todo o sacrifício dela valeu a pena. Alejandro estava com uma fisionomia ótima e nem parecia que tinha passado recentemente por uma cirurgia.

Depois de passar um bom tempo mimando e curtindo a companhia de seu irmão, ela encontrou coragem para falar-lhe que teria que ausentar-se de Madrid a trabalho e que logo voltaria.

Como já era esperado, a emoção tomou conta dela na hora de partir, pois ao contrário do irmão dela, que pensava que logo ela voltaria; Pilar sabia que ainda teria pela frente um longo período de ausência, onde só daria para matar a saudade dele, por meio de mensagens e telefonemas.

— Preciso ir, mãe. — Pilar disse cabisbaixa, após deixar o quarto de seu irmão.

— Que horas, você viajar, amanhã? — Dona Carmen perguntou entristecida.

— A viagem está marcada para as seis horas da manhã. — Respondeu, percorrendo os olhos pela casa. — Vou sentir falta deste lugar. Por mais rica e confortável que seja a mansão e a fazenda dos Gutierrez, não é o meu lar.

A fazenda dos Gutierrez era para onde Pilar seria levada durante todo o tempo da gestação. Segundo informação da própria Cristina Martinez, a fazenda em questão era uma das várias propriedades do irmão dela, o senhor Javier Ruiz Gutierrez, que mesmo não sendo totalmente a favor do método adotado por sua irmã e pelo esposo dela, aceitou acolhê-la em sua residência.

Se a situação dela já não fosse constrangedora e desagradável, ela tinha certeza de que ainda teria um longo período de adaptação e aceitação pela frente, pois logo pela manhã, ela ouviu sem querer a conversa entre o senhor Martinez e sua esposa; onde ficou claro para Pilar que na fazenda onde fixaria residência temporariamente ela já era vista como uma mulher mercenária e volúvel que vendeu o próprio corpo em troca de dinheiro. 

— Dez meses passam rápido, minha filha. — A mãe de Pilar disse tirando-a de seus devaneios.

— Para mim esses meses serão como uma eternidade. — Observou abatida. — O que consola-me é saber que o Alejandro está bem e que todo o meu sacrifício no final não será em vão.

— Por que insistes em se martirizar por algo tão simples como um emprego em uma fazenda? — A mãe dela a questionou confusa.

— Talvez algum dia compreendas a minha resistência em aceitar de bom grado esse emprego.

— Sei muito bem que a tua resistência em mudar-se para outra cidade tem a ver com o Juan. — Dona Carmen disse segura de suas palavras.

— Engana-se mãe. Nessa nova fase de minha vida não há espaço para o Juan e nem para mais ninguém. — Respondeu amargurada.

Sem dar a sua mãe tempo de processar aquelas palavras, Pilar a abraçou e logo depois retirou-se, sem olhar para trás; pois olhar para trás consistia em reconhecer que não estava preparada para deixar sua vida, seus sonhos e sua liberdade.

Ao retornar para a mansão dos Martinez, uma dor a penetrou tão profundamente que ela sentiu necessidade de jogar toda aquela angústia para fora, se não era capaz de ela sufocar por dentro.

Depois de aliviar a sua dor através das lágrimas, ela levantou-se, tomou um demorado banho, arrumou-se, desenhou um sorriso amarelo no rosto e desceu para o jantar. 

A família Martinez ao vê-la aparentemente bem-disposta, sorriu-lhe aliviados, o que deu a Pilar a certeza de que a máscara que ela escolheu para aquela noite se encaixou perfeitamente para a ocasião e, enquanto ela desempenhava com maestria o seu papel de mulher feliz e realizada; a verdadeira Pilar sufocava-se por dentro num grito silencioso. 

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