Capítulo 6

A expressão tensa no rosto do doutor Fernandez era o de quem não tinha boas notícias e isso poderia significar, que se Pablo levasse adiante as ameaças dele; Pilar estaria muito encrencada.

Por mais que Javier a visse como uma mercenária, oportunista e golpista, ele não iria admitir e nem permitir que o seu cunhado fizesse algum mal a ela ou a família dela. Todos eles tiveram sua parcela de culpa no que tinha acontecido e não era justo que só Pilar fosse punida ou prejudicada.

Como aparentemente o doutor Fernandez acreditava que Javier fosse a raiz do problema que desencadeou a crise de ansiedade e de pânico em Pilar, ele o encarou duro e o questionou a seguir.

— O que fizeste Javier para deixar aquela pobre moça naquele estado?

— Se soubesse do que essa pobre moça é capaz, o senhor não a estaria defendendo com tanto afinco. — Respondeu inabalável. — Mas, respondendo a sua acusação; eu não tenho nada a ver com aquela moça. Aliás, eu acabei de conhecê-la e se alguém pode dizer-lhe algo a respeito dela, esse alguém é minha irmã e o meu cunhado; então, o senhor pode reportar-se diretamente a eles.

As palavras acusadoras — que o doutor Fernandez dirigiu a Javier  —; causou certa apreensão em Cristina e naquele momento ela sentiu-se culpada e omissa pelo estado de nervos de Pilar, afinal de contas, ela foi conivente com os atos insanos de seu esposo, e caso alguma coisa acontecesse a Pilar e ao bebê, ela jamais se perdoaria.

Frente ao aparente estado de paralisia dos Martinez; Javier questionou o médico.

— Como está a moça e o bebê?

— A moça ainda está muito abalada emocionalmente, mas já está começando a reagir. Pelo jeito ela passou por um choque muito grande que desencadeou a crise de ansiedade, seguida da de pânico. Ela precisará ficar em repouso absoluto por alguns dias e, principalmente, manter-se afastada do problema que culminou nesta crise. — Respondeu encarando desconfiado os Martinez e em seguida observou. — Quanto ao bebê, aparentemente está tudo bem, mas sugiro que ela faça alguns exames, para termos certeza.

Já com o receituário nas mãos e algumas guias de requerimento, ele as entregou para Javier e o pediu mais brando.

— Providencie com urgência esses exames. E, caso a mudez dela persista, o aconselho a buscar ajuda de um psicólogo ou psiquiatra.

— Psiquiatra?! — A família Martinez disse em uníssono.

— Eu não sei ao certo o que aconteceu aqui, mas seja lá o que ocorreu entre vocês, desencadeou uma crise de pânico nela, que consequentemente a deixou sem voz. — O médico observou sério.

— Eu não acredito Pablo, que você foi tão imprudente a ponto de não pesquisar o histórico desta mulher! — Javier observou consternado.

Diante daquela observação, o médico dirigiu o olhar para o casal Martinez e comentou depois.

— Então Emma não estava fantasiando quando disse-me que o bebê de vocês estava no ventre da senhorita Sanchez. Vocês compraram uma barriga de aluguel.

Frente àquela observação não restava muita opção a Cristina senão falar toda a verdade para o doutor Fernandez. Primeiro por que ele sabia que ela não podia engravidar e segundo, Emma os denunciou ao pôr em dúvida a origem da gravidez de Pilar.

Saber que provavelmente Emma tenha ouvido a conversa deles, os deixou preocupados, pois se ela inocentemente começasse a espalhar aquela história, o segredo deles poderia estar ameaçado.

Por outro lado, sua sobrinha tinha apenas dez anos e ninguém iria levá-la a sério; até porque, a medida que a barriga de Pilar fosse crescendo, a de Cristina também iria crescer, mesmo que fosse usando o recurso de uma barriga falsa; de modo que, além do doutor Antônio Fernandez que conhecia o problema dela, ninguém mais iria desconfiar.

Mesmos certos de que não tinham mais como esconderem o óbvio do doutor Fernandez; Pablo e ela decidiram se omitir, o que fez com que Javier falasse às claras para o médico sobre que condições, Pilar foi parar na fazenda dele.

Depois de ouvir atentamente o relato de Javier o médico observou sério, encarando Pablo.

— Antes de tentar fazer alguma coisa para a senhorita Sanchez, lembre-se de que ela carrega no ventre o teu filho e o de Cristina.

— Por favor doutor Fernandez, essa história não pode ultrapassar as cercas desta fazenda. — Cristina pediu apreensiva.

— Você nunca ouviu falar em sigilo médico, Cristina? — O doutor a questionou já preparando-se para deixar a fazenda. — O que aconteceu aqui; ficará entre nós. 

Depois de dizer essas palavras, o médico saiu deixando-os apreensivos e preocupados com o rumo que aquela história estava tomando.

Ao contrário de sua irmã e de seu cunhado, que, aparentemente estavam preocupados apenas com o bebê, Javier lançou um olhar consternado em direção a eles e subiu para o seu quarto, não apenas para ver como Pilar estava, mas, também, para pedir-lhe que deixasse o seu quarto, onde ele fez a besteira de colocá-la.

Assim que entrou em seus aposentos a encontrou sonolenta e, para desgosto dele, Emma estava no quarto ao lado dela e, aquela proximidade era tudo o que ele não queria, de modo que, se ela insistisse em ir para a área de serviço ele não tentaria impedi-la, assim ele preservaria sua sobrinha da influência negativa daquela mercenária. 

Vê-la tranquila e muito a vontade nos aposentos dele o fez duvidar de que de fato ela tivesse passado por uma crise de ansiedade e de pânico e, esquecido que agora ela estava sobre a proteção dele; ele pediu para Emma retirar-se do quarto e, ao ver-se sozinho com ela, disse um tanto ríspido.

— Enquanto estiveres sobre minha proteção estarás segura, mas isso não significa que eu a queira de conversinha com minha sobrinha. Afaste-se de Emma imediatamente. Eu não as quero juntas, porque você pode ser um péssimo exemplo para ela.

Como resposta, Javier obteve o silêncio e um olhar mortal dela, o que reforçou nele a certeza de que durante todo o tempo ela estava fingindo e eles caíram como idiotas nas artimanhas dela.

Frente àquela irrefutável certeza, ele acrescentou logo depois.

— Vou pedir para a empregada providenciar outro quarto para você, pois esta cama, na qual você está esparramada é a minha. 

Ao descobrir que estava na cama e no quarto do todo-poderoso Javier Ruiz Gutierrez, o corpo de Pilar desencadeou uma reação inversa nela e naquele instante, todos os comandos dela entraram em alertas, enquanto um sininho insistente badalava na cabeça dela dizendo-lhe que Javier era tão perigoso quanto a família Martinez.

O comando das palavras dele parecia o elixir que faltava para a medicação começar a surtir efeito, e temerosa de que ele a arrancasse do quarto a força, as pernas dela ganharam vigor e ela pulou da cama em questão de segundos.

— Para quem a pouco estava quase desfalecida em meus braços, até que você recuperou-se rapidamente. — Ele observou com um sorriso cínico no canto dos lábios, enquanto percorria com os olhos o corpo bonito e delgado, dela.

De fato, Pilar era uma mulher muito bonita: estatura mediana, longos cabelos castanho-claros, pele clara e grandes olhos avelã esverdeado, que naquele instante, pareciam concentrados em fuzilá-lo em meio a um encantador olhar mortal.

— Como sou uma prisioneira em sua fazenda, senhor Gutierrez, não precisa preocupar-se em providenciar outros aposentos para mim. O último quarto a esquerda está excelente. — Disse desafinando-o para sua própria surpresa.

Naquele momento, o olhar duro de Javier encontrou o dela e, ela percebeu logo em seguida, que se arrependeria amargamente por tê-lo desafiado.  

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