Sentir que a situação estava fugindo de seu controle não era nada confortável para Javier, que aquela altura já estava arrependendo-se de ter convidado Laura para passar uma temporada na fazenda. Aliás, aquele era o segundo erro dele em menos de uma semana, e o pior deles foi ter recebido Pilar em sua fazenda. Desde o momento, em que ela pôs os pés naquele lugar, a paz e o sossego deles foi maculado.Se esses problemas já não fossem o suficiente, tinha algo em Pilar que mexia demasiadamente com ele e, talvez, tenha sido esse o motivo que o levou a convidar Laura para a fazenda, pois em seu íntimo ele sabia que ela iria tolher qualquer tentativa de aproximação dele com a mercenária que estava fazendo de seu útero uma fonte rentável.Pensar em Pilar como uma oportunista reacendia nele o desejo de deixá-la à mercê da fúria de Pablo. Ela tinha-se vendido por uma razoável quantia, e ela que arcasse com as consequências daquele acordo indecoroso. A ele restava apenas torcer para que a crian
Não saber exatamente o que a esperava após deixar a fazenda de Javier, a estava deixando em um terrível estado de nervos; reafirmando-lhe o que já previa: ela não teria estrutura emocional para lidar com àquela situação por muito mais tempo. Miseravelmente sua incapacidade de lidar com o desconhecido seria a sua ruína e a de sua família, que entraram de cobaias naquela história e assim como ela; teriam que colher os frutos amargos de uma escolha feita em um momento de desespero.Esquecida de que, mais do que nunca precisava ser forte para remar contra as correntezas que a estava arrastando para um precipício; Pilar fez o que ultimamente parecia-lhe mais simples: chorar.Mesmo correndo o risco de ser sufocada por suas próprias lágrimas, Pilar não conseguia controla-las e, ao invés de sentir-se livre, uma dor latente em sua alma apertava-lhe o peito, deixando-a sem ar e tirando-lhe o último resquício de esperança de sair ilesa daquela situação desastrosa que ela mesma criou.E foi nesse
A certeza de que nem tudo eram espinhos naquela difícil empreitada dela rumo ao desconhecido, se reforçou com a promessa de Javier de a manter na vinícola, fazendo com que ela relaxasse um pouco mais a tensão sobre si, e nesse momento ela sentiu que o ar a sua volta estava mais leve e ela pôde respirá-lo mais aliviada.Embora a promessa de permanência naquele lugar tivesse carregado de novas ameaças, Pilar não importou-se muito, pois enquanto tivesse com o fruto do amor dos Martinez no ventre, ela estaria a salvo e em segurança. E quando chegasse a hora de deixar aquele lugar, ela o faria sem que ninguém a visse. Ela precisava apenas se inteirar da rotina daquela casa, para que quando a oportunidade de fuga aparecesse, ela não a desperdiçasse, pois, segundo seus cálculos seria após dar a luz ao bebê de Cristina, onde os familiares dela estarão regozijados com a vinda da criança e certamente a esquecerão por algum tempo; afinal, ela já não terá mais nenhuma serventia para aquela famíli
O silêncio da fazenda àquela hora da noite parecia assustador e Pilar pensou algumas vezes em retornar para o quarto, porém o pequeno ser que estava dentro dela parecia que iria engolir o estômago dela a qualquer instante, caso ela não o alimentasse.Com passos vacilantes ela adentrou a imensa cozinha e saiu tateando as paredes em busca de um interruptor, mas uma luz externa chamou a atenção dela e seguindo em direção ao tímido clarão, ela percebeu que a área de serviço da casa estava aberta e, naquele momento ela se viu correndo em fuga daquele lugar e embrenhando-se na escuridão da noite. Contudo, o medo de não saber o que a esperava além da escuridão a desvaneceu e um medo repentino apoderou-se dela. Ela estava sozinha, em uma cozinha deserta; com a porta entreaberta que parecia chamá-la para fora e, uma vastidão de terra a sua frente, que a separava de sua liberdade.Temerosa de que o desespero a fizesse embrenhar-se na vastidão da escuridão da noite, que tragava a vinícola, ela d
Envolto pela escuridão da noite, Pilar não deu pela presença de Javier, que a certa distância a observava debruçada na janela.Mesmo sendo impossível ler os pensamentos de alguém, naquele momento Javier podia jurar que Pilar estava estudando todas as estratégias e pensando em todas as possibilidades de como deixar a fazenda sem fazer alarde e nem chamar a atenção de ninguém. E, provavelmente, isso se daria na calada da noite, em um horário em que todos estivessem dormindo indiferentes às tramoias dela.Embora ela tenha falado com todas as letras que tinha tanto medo da escuridão da noite quanto tinha da família dele; isso não era garantia de que ela não tentasse aventurar-se na noite escura, para tentar fugir deles; afinal de contas ela estava desesperada, e sempre depois de uma noite escura existia um dia claro que daria a Pilar a certeza de que valia a pena tentar escapar daquele cerco fechado em que se encontrava.Como no momento tudo ainda eram conjecturas, ele não falaria nada pa
A sensação de estar sendo arrastada por uma forte correnteza estava deixando Pilar sem forças e convencida de que, por mais que tentasse remar não conseguiria sair daquele aguaceiro que aos poucos ia sufocando-a e a levando para muito longe de seus objetivos.Depois da última conversa dela com Javier, ele pareceu esquecê-la temporariamente, contudo não se podia dizer o mesmo dos cães de guarda da fazenda, que sempre que a viam rosnavam ferozes para o lado dela, tolhendo assim qualquer tentativa dela de tentar ganhar a confiança deles.Descobrir tempos depois que aqueles animais eram adestrados e que estavam treinados para a perseguir, caso ela cometesse o despautério de deixar as dependências da fazenda às escondidas, foi o mesmo que levar uma apunhalada nas costas, pois se ela ainda tinha alguma dúvida quanto a sentir-se prisioneira naquele lugar, essa caiu por terra no exato momento em que Pablo confiscou o celular dela, e falar com Alejandro ou com a mãe dela, somente nos finais de
Como já era esperado, Javier retornou para a fazenda logo cedinho, depois de quase uma semana ausente da vinícola; o que significava que a pressão da família Martinez sobre ela iria diminuir consideravelmente e ela poderia respirar mais aliviada, dentro do possível; o que não era muito, dado a vigilância acirrada e o confisco de seu celular, que era o único meio dela de comunicação com sua mãe e Alejandro. Se não fosse pelo medo de represarias, Pilar iria pedir para Javier tentar convencê-los a devolver-lhe o aparelho celular, contudo além de temer ser punida, a sombra da dúvida pairava na cabeça dela e ela não tinha certeza se Javier conhecia aquela arbitrariedade; de modo que o ideal mesmo era ficar no canto dela e, assim que surgisse uma oportunidade, ela iria sondá-lo sutilmente, sem levantar suspeitas e nem atrair a fúria de Pablo sobre ela.Como aparentemente naquele dia o universo parecia conspirar a favor dela; não demorou muito para aquela oportunidade aparecer, pois Javier
Embora soubesse que Javier a beijou apenas por beijar, o beijo dele ainda queimava-lhe nos lábios e ela sabia que, por mais que tentasse não conseguiria esquecer aquele momento em que ela perdeu-se nos braços dele.Mas como tudo na vida dela tinha uma consequência, aquele beijo compartilhado às escondidas a mostraria que Javier era tão inalcançável para ela quanto as estrelas do céu e que, deixar-se beijar por ele poderia significar a ruína definitiva dela e de sua família.Ainda tentando entender em que momento, ela perdeu o seu coração para ele; Pilar não percebeu o instante em que Laura entrou no quarto e, ela só deu pela presença dela, quando sentiu uma mão de aço agarrando-a pelo braço.— Podes explicar-me o que aconteceu aqui? Por que Javier a beijou?— Você estava espionando-nos? — Pilar a questionou esquecida da pergunta inicial de sua adversária.— Aqui quem faz as perguntas sou eu, sua mercenária descarada. — Laura observou possessa de raiva e ordenou áspera. — O que está es