Capítulo 2

Chegar em casa e encarar a mãe dela, depois de uma proposta e uma escolha difícil não estava sendo nada fácil para Pilar. Principalmente porque o tempo que lhe fora dado para responder era curto demais, para quem tinha pela frente, uma escolha tão complexa e definitiva.

Até quando ela conseguiria ocultar àquela história de sua mãe era outra questão a parte, já que nunca houve segredo entre elas. No entanto, tudo caminhava para que ela mantivesse sua mãe na ignorância, caso decidisse levar aquela loucura adiante; loucura, essa que poderia salvar a vida de seu irmão e acabar com o sonho dela de ter uma vida normal, pois ela sabia que nunca mais seria a mesma depois de aceitar ser mãe de aluguel.

Mas sua firme decisão de ocultar a verdade estava com os segundos contados e ela constatou esse fato quando, minutos depois, dona Carmen a questionou sobre a origem do cartão que caiu da bolsa dela.

— Quem é Pablo Martinez e o que este cartão estava fazendo na tua bolsa?

Diante da pergunta direta de sua mãe, ela teve que ser rápida e respondeu-lhe usando meias verdades.

— Quando saí às pressas do hospital foi para atender a um chamado da agência de emprego a qual estou cadastrada.

— Esse Pablo Martinez é da agência de empregos? — Perguntou-lhe animada.

— Na verdade é o meu possível empregador. — Respondeu enquanto as palavras iam surgindo em sua mente. — A agência repassou-me o endereço e o contato dele para que eu possa comparecer a entrevista de emprego.

— Meu Deus, Pilar, se você for aceita nesse emprego as coisas vão começar a melhorar para a gente. — A mãe dela observou esperançosa, e a questionou a seguir. — É para trabalhar em quê?

— Para trabalhar como cuidadora de uma senhora com Alzheimer. — Respondeu e antes que dona Maria Carmen criasse mais expectativas, Pilar evidenciou. — Não vamos fazer muitos planos, pois o trabalho é em caráter provisório, de no máximo um ano e, eu ainda não decidi se vou aceitar ou não a proposta.

— Como assim ainda não decidiu-se? Você está a meses correndo atrás de uma oportunidade e quando ela aparece, você não tem certeza se vai aceitar? — Sua mãe a questionou confusa e completou. — O salário é ruim?

Não saber como explicar para a sua mãe que o emprego em questão consistia em alugar parte do corpo, para receber o filho de outra pessoa em seu útero a fazia sentir-se uma mulher desprovida de coragem, sendo que, para ela era mais fácil continuar mentindo do que fazer uso da verdade, que, independentemente da situação era sempre a melhor opção. Mas, como a pessoa em questão era ela e, a batata continuava assando na mão dela; Pilar optou por continuar inventando histórias ou desculpas para não ter que entrar no cerne da questão.

Para não levantar mais suspeitas de sua mãe, ela disse desvanecida.

— A família Martinez ofereceu-me um bom dinheiro, caso eu aceite trabalhar para eles. Quantia essa que daria para pagar o tratamento do Alejandro. — Acrescentou e logo em seguida reconheceu que acabara de dar um tiro no próprio pé.

— Então o que você está esperando para aceitar o emprego? O que a impede de aceitá-lo? — Perguntou mais intrigada do que antes. — Sinceramente, Pilar, eu não a estou reconhecendo: lembre-se que é a vida do teu irmão que estar em perigo. Se você tem como ajudá-lo, por que nega-se a fazer esse sacrifício?

— O problema é que o sacrifício é alto demais, pois caso eu aceite a proposta do casal Martinez; terei que mudar-me de Madrid por quase um ano e eu não quero ficar longe da senhora e nem do Alejandro.

— O que é um ano longe do teu irmão, comparado a uma vida toda de ausência. — Observou consternada.

— O senhor Pablo Martinez deu-me dois dias para pensar se vou aceitar ou não a proposta dele. — Respondeu sem ousar encará-la. 

— Estou muito decepcionada com você, Pilar. — A mãe dela disse entristecida. — Você está usando a desculpa de não querer afastar-se de nós, só para não deixar o Juan... Você é muito egoísta, minha filha. Tem nas suas mãos a chance de salvar o teu irmão, contudo só pensas em você mesma e nesse rapaz que não está nem aí para ti. — Acrescentou duramente.

— A senhora está sendo injusta comigo, mãe. — Defendeu-se arrasada e acrescentou. — A senhora melhor do que ninguém sabe que eu sou capaz de dar a vida pelo meu irmão.

— A tua hesitação em aceitar esse emprego mostra muito bem do que tu és capaz de fazer pelo teu irmão: nada! — Disse ríspida.

Como se respirar o mesmo ar que sua filha fosse um sacrifício, dona Carmem saiu deixando-a em um estado de apreensão terrível.

As palavras duras de sua mãe tiveram a força de uma bofetada na cara dela e, naquele momento ela perguntava-se, se Juan era de fato o empecilho que a impedia de dizer logo “sim” para a proposta de Pablo Martinez.

Mesmo sabendo que o relacionamento deles não tinha como dar certo, Pilar ainda se iludia em relação a ele. No fundo do coração dela; ela conservava acesa a esperança de que, talvez, um dia ele a levasse a sério e assumisse o relacionamento deles de uma vez por todas. Mas isso, ela sabia que era esperar muito de Juan, de modo que, se a situação fosse outra, certamente ela tivesse aceitado o emprego assim que recebeu a proposta dos Martinez.

Tomando como base as palavras de Pablo, parece que o encontro deles não fora coisa do acaso, e ela pôde constatar essa certeza quando no final do dia, o irmão dela teve uma forte crise e precisou ser levado com urgência para o hospital.

Se o quadro clínico de Alejandro já não era animador, pior ficou quando o médico disse-lhes que ele teria fortes crises e que, apenas uma intervenção cirúrgica iria resolver de uma vez por todas o problema de saúde dele.

Diante de mais um diagnóstico devastador, ela pegou o celular, discou o número de Pablo e fez o que ela achava que não teria coragem de fazer; disse-lhe o tão assustador “sim”.

Depois de acertar encontrar-se com a família Martinez, ela desligou o telefone e logo a seguir disse a sua mãe.

— Se para a senhora o meu amor pelo meu irmão é medido pelo que estou disposta a sacrificar-me; com o tempo a senhora saberás o tamanho do meu sacrifício e do que sou capaz de fazer para vê-lo saudável novamente.

— Depois que tudo isso passar e teu irmão estiver totalmente curado, você vai dar-se conta de que valeu a pena tudo o que fizeste por ele. No final, a vida dele vai validar todo o teu sacrifico. — Dona Carmen disse agradecida.

— O importante é ele ficar bem e saudável. — Pilar disse forçando um tímido sorriso e prosseguiu. — Se ele estiver bem, eu também ficarei bem.

Dizer essas palavras sem nenhuma emoção, só reforçava nela a certeza de que não estava preparada emocionalmente para enfrentar aquela situação com serenidade e maturidade. Ela não estava preparada para a maternidade e provavelmente nunca estivesse — pelo menos não naqueles termos.

Sem mais nada a fazer para reverter aquela situação, ela foi a procurar do seu irmão no quarto. Ele seria a fortaleza e a razão pelo qual valeria a pena doar-se.

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