Aurora Backer Entro no quarto de Taylor para tentar explicar minha insegurança de não ter lhe dito a verdade. Ao entrar ele está pegando várias coisas e pondo em uma mochila com rapidez, me atrevo interromper:— Por favor, vamos conversar, Taylor! Ele apenas negou com a cabeça e continuou arrumando a tal mochila. — Taylor, deixe-me contar tudo.— Você teve quinze dias para fazer isso! — Virou sua atenção para mim e gritou. — Foram a porra de quinze dias, Aurora!— Não fala assim.— Não? Eu deveria falar como? — Podemos conversar sozinhos?Olhei para Nadja que estava rindo, ele olhou para onde eu mirava e sorriu amargamente.— Vai embora!Embora Taylor não olhasse em meus olhos, eu sabia o quanto ele estava mal por sua voz embargada. — Por favor! — Caminhei até ele e segurei sua mão, fazendo com que o mesmo me encarasse.O olhar azul sereno que pertencia a Taylor agora estava vermelho e uma veia na sua testa estava saltando de tão revoltado que o mesmo se encontrava. — Me solta!
Taylor White 34Traído, essa é a palavra que me define agora. De coração partido por tanto teatro, me perguntando como nunca percebi o que ela era. Ou de como não prestei atenção em sinais, será que ela deixou sinais? Um idiota, deixou se levar pelo coração e só se ferrou. Nunca deixe que seu coração dê ordens, eu preferia nunca tê-la escolhido, pois agora essa dor me lateja inteiro. Como se meus músculos estivessem sentindo falta de algo.Tomei um banho ligeiro e me vesti com a roupa do hospital, preciso distrair minha mente. Indo para longe da pensão talvez seja um alívio.A noite estava tão pesada que começou uma tempestade. E só em avistar o clima assim, lembro que ficamos juntos no chalé em uma noite bem parecida e juntos lemos as crônicas de Nárnia. Ela dormiu em meus braços.“Para de pensar nela, Taylor, não vale seu tempo!”Olho para o espelho e vejo meu reflexo destruído. Um homem tem que ser forte e não pode chorar, mas estou agora segurando lágrimas que não deviam existir
Aurora Backer Qual a sensação da morte? Teríamos como acordar em um lugar novo? Lembraríamos de algo se voltássemos para a Terra, se regressássemos ao mundo dos vivos? Para ser honesta, eu sentia estar vivenciando isso agora. Ao meu redor só havia uma espécie de algodão bem branquinho. Ouso tocar e percebo no mesmo instante que é como fumaça, não consigo segurar. Olho para meus pés, observei pela primeira vez que piso na mesma fumaça que tentei tocar e se dissipou. Confusa, apenas caminho até chegar a um grande corredor branco, uma voz me interrompeu no caminho:— Aurora! — Reconheço de imediato a voz que me chama, era a voz do meu pai. — Confirmando minhas suspeitas, vejo um senhor no final do corredor, o reconheceria mesmo que se passassem mil anos, corro desesperada até ele para poder abraçá-lo. Meu pai é um senhor de meia-idade, os cabelos grisalhos me lembram a cor da paz espiritual. Seu sorriso aberto para mim, me remete uma gostosa sensação de esperança, noto quando seus o
Taylor White Embora todos ao meu redor digam que ela partiu, meu coração grita o contrário. Lá, no fundo, eu sinto isso, pois somos um só. Aurora é tão minha quanto sou dela, e por esse motivo sei que posso trazê-la de volta. Já perdi as contas de quantas vezes usei o desfibrilador. “Volte, por favor.” Eu estava tão quebrado e cansado, ainda assim, joguei o desfibrilador para o lado e fiz massagem cardíaca nela com as mãos. Me recuso a perder a esperança agora, não posso. Sentia as lágrimas mancharem meu rosto, pois eu sabia que uma hora teria que parar. Coloquei forças para suportar a dor, mas nada a trouxe de volta. Tudo que eu fazia era inútil. Caí aos prantos e deitei a cabeça em seu peito e não ouvir o coração de Aurora bater era demais para mim. Seu corpo frio me lembrava que a morte dela foi culpa minha. “Por que, Deus? Por que?” Não fui devoto o suficiente? Nada justifica tirá-la de mim. Levantei a cabeça e observei-a em silêncio, sem entender o quanto perdi nessa m
Taylor White Segurei as mãos de Nadja, buscando ler seus olhos na esperança de que ela me ajudasse a salvar Aurora da morte. Aperto levemente suas mãos, ela abaixa a cabeça e murmura: — Não sei se consigo fazer isso. — Isso é sério? — Me afastei dela impressionado com sua atitude vingativa. — Vai deixar de salvar uma vida por que eu te deixei para trás? Você trabalha para saúde, não esqueça o que uma enfermeira de verdade faria. — Me trocou por ela, e agora consigo tirá-la de você. — Não tem problema, irei procurar outro doador. Obrigado por mostrar que defende a saúde para benefício próprio e não por amor ao próximo. Passo por ela seguindo para o corredor, mas a voz de Nadja faz com que eu pare novamente, ao me chamar: — Taylor! Olhei para ela que me mirava com os olhos em lágrimas, sabia que Nadja não era má, embora o mundo estivesse de cabeça para baixo, e eu fique em dúvida sobre a verdadeira personalidade das pessoas ao meu redor. Insegurança é o pior sentime
Taylor WhiteSegurei sua nuca com minhas duas mãos e posicionei meus lábios nos seus, por Aurora eu mataria alguém, que dirá ficar por apenas uma noite mais. Beijei Nadja e procurei nela aqueles simples arrepios que me correriam o corpo se fosse com minha safira. Busquei sentir algo, mas só existia um vazio horrível, caí na real que aquilo trairia quem eu era e no dia que minha garota descobrisse ficaria chateada. Se tinha algo que eu odiaria fazer, era ferir minha princesa. Diante da situação, me afastei de Nadja como se tivesse levado um choque e sem saber me expressar apenas neguei várias vezes.— Eu sinto muito, não consigo.— Isso é sério? — Perguntou incrédula.— Nadja, você é linda, mas depois de Aurora sinto que não posso mais ter outra em minha cama além dela. Sinto muito. — Baixei a cabeça decepcionado.— Eu também sinto muito, Taylor. — Escondeu o corpo na toalha e saiu do banheiro.Eu não queria que fosse assim, mas aconteceu. Sabia que um dia iria ferir Nadja, e esse dia
Taylor White Olhei John profundamente, o Idiota realmente tem controle sobre as decisões dela. Respirei fundo e direcionei meus olhos para a cama onde minha menina estava dormindo profundamente.— Você não é mais o médico dela.— O fitei sorrindo,diante de sua afirmação sem sentido .— Eu quem fiz a cirurgia de Aurora, não pode impedir de que eu entre no quarto dela.— Aurora será transferida para a capital. — Confesso que o sorriso que estava ostentando em meus lábios se desfez quando ele diz que irá levá-la para longe.— Aurora só poderá ser transferida mediante autorização médica, e acredite, não irei permitir isso. Eu sou seu médico e ela só sai se eu permitir! — Ou qualquer outro médico, por isso, o Dr. Alex vai resolver isso.— Alex não pode, infelizmente para você, ele é só um psicólogo e eu, sou o neurocirurgião de Aurora.Apontei para Aurora na cama, a porta se abriu e Bianca entrou nos encarando profundamente.— Vocês sabem que ela pode ouvir tudo, certo? — Calado estava e
Taylor White 39Abrindo o livro, passei as primeiras páginas e comecei a ler o início. As cenas que Shakespeare descreveu e a leveza de cada personagem era evidente. Conforme a noite passou eu li algumas páginas e para ser honesto, não sou fã de ler romances, mas quando uma pessoa escreve com consciência e sentimentos a experiência é incrível. Existem linhas paralelas que, no fim, unem um universo imaginário com o mundo real. Pergunto-me sobre o equilíbrio que Shakespeare consegue passar neste livro e por mais que seja um drama triste e que você saiba o final, mesmo assim fica preso.Existe uma razão para que eu me pergunte o que será de mim nos próximos dias? A dor me consome, eu ainda acredito que Deus é justo e que vai agir ao meu respeito, imagino que no fundo ele está me testando para ver até onde eu aguento.Seguro na mão de Aurora e observo seu rosto ferido na testa com um corte descendo até a sobrancelha direita. O cabelo castanho e ondulado agora perdeu o brilho, os lábios f