Taylor White 39Abrindo o livro, passei as primeiras páginas e comecei a ler o início. As cenas que Shakespeare descreveu e a leveza de cada personagem era evidente. Conforme a noite passou eu li algumas páginas e para ser honesto, não sou fã de ler romances, mas quando uma pessoa escreve com consciência e sentimentos a experiência é incrível. Existem linhas paralelas que, no fim, unem um universo imaginário com o mundo real. Pergunto-me sobre o equilíbrio que Shakespeare consegue passar neste livro e por mais que seja um drama triste e que você saiba o final, mesmo assim fica preso.Existe uma razão para que eu me pergunte o que será de mim nos próximos dias? A dor me consome, eu ainda acredito que Deus é justo e que vai agir ao meu respeito, imagino que no fundo ele está me testando para ver até onde eu aguento.Seguro na mão de Aurora e observo seu rosto ferido na testa com um corte descendo até a sobrancelha direita. O cabelo castanho e ondulado agora perdeu o brilho, os lábios f
Taylor WhiteO analisei sem compreender o que o incomodava de verdade, sem ter muito o que dizer, apenas assenti:— Estou ouvindo.— Conheço Aurora desde quando eu me entendo por gente. No colegial eu reprovei em várias matérias por estar sofrendo depressão por dois fatores: esconder dos meus pais minha escolha sexual e sofrer bullying por ser gay na escola.— Calma aí —, parei John com uma mão, confuso — você era gay, ou é?— Sou, e Aurora sempre soube. O que precisa saber é que nunca fomos marido e mulher por essa razão. Ela é como minha amiga-irmã, cuidou de mim mesmo quando meus pais me condenaram. Fingimos que eu era um galanteador perante a imprensa, casei-me com ela e passamos a morar juntos.Ele olhou para o teto e fechou os olhos. Eu não fazia ideia do que era passar por algo assim,, mas de alguma forma eu sentia sua dor, quando seus olhos encontraram os meus mais uma vez eu notei o quanto sincero ele estava sendo.— Foram anos sofrendo, cada um em um lugar, me viciei em drog
Aurora Backer Abro meus olhos permitindo que minha vista se acostume à a luz ambiente r. Não sei exatamente o que aconteceu, nem sei a razão de estar em um hospital, tento me sentar, mas sou impedida por minha perna engessada Meu corpo está um pouco dolorido, porém não me lembro como cheguei nessa situação. Enquanto me perco em pensamentos preocupantes, um homem moreno entra na sala. Ele é baixo, aparenta ter uns sessenta anos, com cabelo preto, crespo. Ao notar que estou acordada, arregala os olhos e se aproxima. — Quem é você? — Aurora, consegue me ouvir? — Sim, o que aconteceu? — Consegue me ver? — Sim, eu consigo falar, ouvir e ver. — Preciso testar seu olfato e paladar. Ele saiu da sala correndo, se eu já estava confusa antes, agora estou em dobro. Não demorou para que John aparecesse na porta da sala boquiaberto. Para ser bem honesta, essa é a primeira vez que o vejo assim, barbudo, e pálido. — É um milagre! — John, você vai me contar o que aconteceu? — Você a
Aurora Backer 41Diante dos meus olhos estava Taylor, mais lindo do que de costume. O cabelo cortado, a barba recém-feita, estava usando uma camisa social azul que combinava com seus olhos na cor do mar, a camisa estava aberta no peitoral. À medida que ele se aproximava da cama eu agradecia a Deus por estar deitada, a presença desse homem me nocauteia.— Aurora. — Baixei a cabeça diante de Taylor, que estava ao meu lado na cama. — Fala comigo… — Sua voz falhou, mas mantive meus olhos fixos no chão.— Vou deixá-los a sós. — John saiu do quarto.— Eu senti tanto a sua falta. Eu queria beijá-lo, abraçá-lo com força e dizer que preciso dele, mas as palavras de Taylor ainda me penetram. Se não tivesse acontecido o acidente, ele nunca iria me procurar.— Me conta o que está pensando. — Em nada.— Você me odeia?— Eu… — fitei Taylor, e pelo seu semblante constatava sua dor. — Eu não te odeio, Taylor.— Então conversa comigo.Não sabia como responder, a dor do aborto ainda me doía, meus olh
Taylor White Cheguei em casa e me joguei na cama, exausto mentalmente. Imaginei que minha conversa com Aurora não seria a melhor de todas, mas parecia ir tão bem. Porém, o bocudo aqui falou merda e não soube consertar, infelizmente. Fechei os olhos quando alguém bateu na minha porta, não estou querendo ver ninguém, mas é necessário saber se está tudo bem. Permito que entrem, e me sento ao ver Mike. — Estou surpreso, o que precisa? —Aponto para que ele sente no meu sofá. Mike senta enquanto fala: — Precisamos conversar sobre o atentado que Aurora sofreu.— Eu lembro, naquele dia foi intenso.— Já descobrimos o nome do mais velho, se chama Johnny Paiva e o outro é o Richard Makal. São gangsters locais, ainda não conseguimos pegá-los, embora estejam aqui em Newburgh há cerca de alguns meses.— Ainda não pegaram eles? — Suspiro.— São ratos de esgotos, conhecem a cidade e, para ser sincero, até mais que a polícia. — Sério? Então, quem me garante que eles vão ser pegos? Se nem você
Aurora Backer Quase vinte e quatro horas sem dormir, sinto-me destruída, mas não consigo dormir por alguma razão. O meu médico entrou na sala e sorriu, embora seu riso se desfez quando me viu. — O que houve? Está doente? — chegou verificando meus batimentos cardíacos, colocou as costas da sua mão na minha testa e me olhou apreensivo. — Ela não dormiu ansiosa, esperando o namorado vim vê-la. — John interrompe. — Não acho que valha a pena, se ele não te procurou no dia do acidente, depois ele não iria procurar mais… — O médico parou olhando de lado com uma expressão confusa e engraçada, a testa franzida e um bico na boca puxado para o lado esquerdo. — Calma, eu não quero ser intruso, mas estou confuso… — Apontou para John. — Vocês não são casados? Nossa farsa havia sido descoberta, abri minha boca duas vezes e nada saia, meu coração estava ficando pesado pelo nervosismo. John responde após alguns segundos em silêncio: — Sim, estamos em processo de divórcio. — Ah, que pena. O casa
Taylor White Alguns dias depois…Estou exausto, foram dias tentando pegar esses caras e nada. Só tentativas e frustrações. Suspiro e passo a mão no rosto focando nos olhos cansados, uma semana que não vi Aurora. Para ser honesto, nem ela quer me ver, pelo menos é o que parece, seguiu em frente. Voltou a postar conteúdo na internet, a cidade teve mais movimento quando ela deu uma nota à imprensa. Tudo indo por água abaixo entre nós, e cada vez mais ela se afoga na mentira das redes sociais.O hospital onde ela está internada vive lotado de fãs com cartazes clamando de noite e dia por seu nome. É tão doentio essa obsessão por uma pessoa. Me pergunto como chegou a tudo isso, já sei que ela tem uma fama estúpida, mas quero saber a origem, se foi como modelo, ou por ser filha de um magnata de Nova Iorque.— Taylor, temos notícias importantes! — Entrou Mike em meu quarto correndo, desesperado.— O que aconteceu? —Sentei na cama enquanto perguntava.— Encontramos o esconderijo dos dois asse
Taylor White 45 A sensação de levar um tiro é completamente nova, uma dor terrível. Busco forças para levantar e nada disso adianta, não sei como Mike aguentou vir até aqui, andando. É a pior dor que já sentir, sinto minha adrenalina ir às alturas quando pego minha pistola da cintura e miro na direção do homem em minha frente. Mesmo sentindo como se estivesse caminhando pelo inferno, consigo mirar e atirar com dificuldade, ele cai no chão. Notando que meu tiro não teve muita eficacia, me assusto. — Taylor? — Mike me chama, e a dor é tão forte que aperto minha barriga com força. — Aguenta! Tento falar, mas fico com medo de piorar, a dor não me deixa pensar, e por mais que eu seja médico me pego na dúvida de errar. Dependendo da região existe chance para sobreviver, mesmo com medo, ainda tenho esperança. Procuro respira calmamente pelo nariz, para não permitir que entre ar e forme bolhas. Após um tiro, você precisa trabalhar seu psicológico, dói, mas é necessário passar um tempo