Ele se ergue, mas seus braços permanecem ao meu redor, firmes como amarras invisíveis. Seus malditos lábios se curvam em um sorriso preguiçoso, como se estivesse no controle absoluto da situação. ─ E não fique ofendida. Gazela é como chamamos, carinhosamente, nossas mulheres... ─ Ele faz uma pausa, os olhos fixos nos meus. ─ Quando nos olham com esses olhos tão expressivos, demonstrando o quanto estão afins de nós. Ou, como no seu caso, assustados.Suas palavras me atravessam, mas é "nossas mulheres" que faz meu sangue ferver. Meu corpo reage antes que eu perceba. Ergo o braço, pronta para acertar sua cara arrogante. Ele, no entanto, é rápido demais. Segura minha mão no ar e ri, um som baixo e provocador.─ Adoro essa brincadeira de gato e rato. ─ Sua voz é grave, carregada de divertimento. Ele segura meus dois pulsos e os prende atrás das minhas costas com facilidade, me imobilizando. ─ Mas se acalme. Vou te soltar. Preciso sair. Minha irmã deve acordar a qualquer momento, e seria u
Não quero que arrisque seu lindo pescocinho lá fora. Entendeu?Tento controlar a raiva que suas palavras provocam. Respiro fundo, dominando melhor minhas emoções, e seguro seu olhar, determinada.─ Bem, então você entende que eu não estou ficando por escolha própria, não é?Ele arqueia uma sobrancelha e rebate, carrancudo:─ Sim, perfeitamente.Por um instante, não sei o que sinto. Uma parte de mim se sente vitoriosa, como se tudo estivesse conspirando contra ele. Mas outra parte, maior, está à beira do pânico. Ficar mais tempo nesta casa, com ele, parece perigosamente arriscado para minha sanidade.Estendo a mão, buscando neutralizar a tensão:─ Uma trégua?Okan olha para minha mão estendida e, em vez de aceitar o gesto, sorri. Não um sorriso amistoso, mas um predador prestes a capturar sua presa.─ Trégua?─ Sim. ─ Minha voz soa mais firme do que eu esperava. ─ Agora que sabe que eu não posso ir embora, não precisa usar esse... esse artifício de me seduzir para me forçar a sair daq
Enquanto caminho com ela, pensamentos sobre minha mãe surgem na minha mente. Retiro o celular do bolso e abro o aplicativo de mensagens. Tenho quase certeza de que a nevasca vai mantê-la presa na casa da minha tia, mas e as malucas?Sentada à mesa da sala de jantar, começo a digitar uma mensagem para Carol, avisando sobre a nevasca que assola Londres. Elas estão acampadas em Dengie National, e não sei se estão cientes das condições climáticas. Estou preocupada, não só com elas, mas também com a possibilidade de a tempestade se estender para aquela região. Aviso minha mãe também, embora com menos urgência. Ela só deve vir amanhã, e isso me tranquiliza um pouco.─ O que foi? ─ Kayra pergunta, observando minha expressão preocupada enquanto eu digito rapidamente.─ Estou avisando sobre a nevasca. Okan disse que vai durar alguns dias. Estou preocupada com meus pais e com as malucas das minhas amigas.─ Deus! Acampar em um tempo assim? É maluquice mesmo.Eu sorrio.─ Por que acha que as ape
Quando eles nos veem, ambos se ajeitam. Ômer sorri calorosamente para nós, mas os olhos negros de Okan se cravam em mim com uma intensidade que me desarma. Meu corpo inteiro se arrepia, e um espasmo percorre meu abdômen quando o olhar dele desce pelo meu corpo sem qualquer disfarce.— Bem, vamos lá! Quem começa? — Kayra pergunta, tentando quebrar o momento.— Podem começar vocês. — Okan diz, estendendo a raquete para mim. Seus olhos permanecem fixos nos meus, carregados de algo que não consigo nomear. Respiro fundo, estufo o peito e aceito a raquete.Antes que eu possa me afastar, ele segura meu braço com delicadeza, me puxando para perto. Seus olhos, enigmáticos, me estudam enquanto ele explica calmamente:— A bola só é considerada fora se bater acima das linhas das paredes laterais. Cada jogada precisa tocar a parede frontal. Pode fazer tabela com as laterais ou o vidro de fundo, mas só pode quicar no chão uma vez. O objetivo é dificultar a vida do adversário, variando as jogadas pa
O celular toca, interrompendo meus pensamentos. Atendo, é mamãe. Após desejarmos um feliz ano-novo, começamos a conversar:— Que boa filha que você ficou. Nós também estamos presos aqui.Eu suspiro, observando a neve caindo do outro lado da janela.— Não venha, mamãe. — Minha voz é calma, mas carregada de preocupação. O mundo lá fora está todo embranquecido, os flocos de neve dançam no ar. — Está nevando muito.— E você e Kayra? Como estão indo? Ela é tão legal quanto sempre pareceu?Engulo em seco. Kayra não é o problema aqui.— Ela é ótima, muito receptiva. — Respondo, tentando desviar do assunto.— E a família dela? Te aceitaram bem?— Sim, muito bem. — Digo, mudando rapidamente o rumo da conversa. — E tia Olga?— Ela está aqui do meu lado. Vou passar o telefone para ela. Depois seu pai quer falar com você também.Falo com minha tia, suas palavras afetuosas me enchem de saudade. Me faz pensar que talvez eu devesse ter ido com meus pais. Papai, por sua vez, não se alonga. Ele não go
Suspiro, frustrada. O calor do quarto havia me dado a falsa sensação de que o tempo lá fora estava mais ameno.Saio do quarto. A casa está em completo silêncio. Todos ainda dormem. Minha atenção é atraída pelo piano na sala, como se ele me chamasse. A tentação é grande demais para resistir.Retiro o protetor das teclas e me sento na banqueta. As partituras que havia escolhido com Ômer ainda estão ali. Meus olhos pousam em Still Loving You, e começo a tocar a melodia hipnotizante do Scorpions.Kayra entra na sala e sorri para mim. Respondo com um breve sorriso, sem interromper a música. Pouco depois, Ômer aparece e se debruça sobre o piano, me observando. Nossos olhares se encontram por um instante. Sorrio, mas logo volto a me concentrar nas notas.Então, a porta se abre com força. O vento frio invade a sala, e Ômer segura rapidamente as folhas das partituras. Meu coração dispara. Não preciso olhar para saber quem é.É Okan.Minha postura se mantém, mas não consigo ignorar sua presença
Okan— Acompanhe-me.Passo por ele sem me preocupar em verificar se me segue. Sei que está logo atrás, mesmo sem olhar. Meu caminhar é decidido, com passos firmes em direção à biblioteca. Entro, seguro a maçaneta da porta e espero. Assim que ele entra, fecho a porta atrás de nós.Ômer se volta para mim, com a expressão de quem já tem respostas prontas, ainda que não saiba a pergunta.— Bem, estou aqui. O que você gostaria de falar comigo? Que assunto de negócios é tão urgente que não podia esperar? Ou será que aconteceu algo com o tio? — Ele dá uma pausa e sorri com desdém. — Ou será que precisava mesmo era interromper meu momento com uma mulher linda e maravilhosa?Ignoro a provocação. Caminho até ele, mantendo uma distância controlada, e resolvo ir direto ao ponto:— Não quero que se envolva com Emily.Ele pisca, surpreso, como se não tivesse entendido. E então, ri.Meu sangue ferve, mas me mantenho impassível.— Como é que é? Posso saber por quê?— É exatamente o que ouviu. Não te
EmilyDecido não sair mais do quarto. Após um banho vigoroso, visto um moletom confortável e me deito. O silêncio do ambiente contrasta com o tumulto dentro de mim. Fico quieta, repassando tudo o que aconteceu.Okan, com certeza, percebeu o interesse claro de Ômer. Até então, ele parecia apenas um bom amigo. Mas aquele olhar que me lançou... Foi diferente. Surpreendente.Será que Okan me expôs? Contou a Ômer o que pensa sobre mim, deixando subentendido o “tipo de mulher” que ele acha que sou?Uma raiva crescente toma conta de mim. Nunca tive tanta vontade de socar alguém quanto agora. Se ele usou esse golpe baixo, acho que não me controlaria. E esmurrar aquele nariz perfeito seria quase terapêutico.A porta do quarto se abre, interrompendo meus pensamentos. Meu coração dispara, e eu já me preparo para enfrentar Okan. Mas, ao ver Kayra, respiro aliviada. Atrás dela, Odila empurra um carrinho com meu jantar.Que gentileza...— Melhorou?— Sim, obrigada. — Tento sorrir para disfarçar min