CesareSaio da reunião na minha construtora, satisfeito com os resultados. O projeto de um novo complexo residencial está avançando, e os números confirmam que é mais um acerto. Mas, como sempre, não tenho tempo para celebrar. O próximo compromisso me chama, na sede da máfia.Quando chego, o ambiente está como deveria, dentro do esperado, eficiência e precisão. Soldados entram e saem, carregando informações, cuidando das operações que mantêm tudo funcionando como uma máquina bem calibrada.Os meus olhos percorrem o salão principal até que os encontro: Gian Carlo e Lipe. Os meus filhos.Gian Carlo está concentrado em um monitor, apontando algo na tela enquanto Lipe revisa uma pilha de documentos ao lado. Eles conversam, gesticulando de forma precisa e coordenada. É claro que estão planejando uma operação, e a dinâmica entre eles é impecável. Gian tem o olhar analítico e frio que sempre admirei, enquanto Lipe exala a confiança e o comando que vêm com a experiência.Por dentro, sinto mui
Gian Carlo A sala está em silêncio após a saída do meu pai. Cesare Vassalo não é um homem que se abala facilmente, e vê-lo tão indignado reforça a gravidade da situação. Meu irmão Lipe permanece de braços cruzados, a expressão fechada enquanto absorve o que acabamos de ouvir.— O que acha disso? – pergunto, quebrando o silêncio.Ele me encara, os olhos apertados de concentração.— Acho que é o tipo de coisa que o nosso pai não vai deixar passar. E nem eu. Quem quer que esteja desviando, sabe exatamente onde mexer para causar danos.Concordo com um aceno. Nosso trabalho não é apenas descobrir quem está roubando, mas garantir que isso não volte a acontecer.Hora de traçar um plano!Abro o meu laptop e acesso o sistema financeiro da máfia. O pai tem razão, se há um desvio, ele está acontecendo dentro da estrutura. Isso significa que alguém com acesso às contas está manipulando os números.— Vamos começar pelos últimos três meses — sugiro. — Se for algo recente, as discrepâncias vão apar
PriscilaEstamos no carro, eu e Lucas, deixando o condomínio da máfia. Ele dirige com a calma que sempre me transmite segurança, mas sei que por dentro ele deve estar tão ansioso quanto eu. Hoje é o dia dos nossos exames pré-nupciais, e sinto uma mistura de nervosismo e expectativa. Ainda parece surreal pensar que amanhã eu serei a esposa dele.Chegamos ao hospital, e tudo acontece rápido. Os exames de rotina são feitos sem demora, e logo sou direcionada para a consulta com a Dra. Mônica, a minha ginecologista. Não é a primeira vez que converso com ela de verdade, e apesar da formalidade inicial, ela é simpática e acolhedora, o que me deixa à vontade.Ela começa a consulta com uma abordagem direta, mas gentil. Pergunta se estou confortável em conversar sobre sexualidade, e eu confirmo, mesmo que minha voz saia um pouco hesitante. Ela sorri e diz que está ali para me orientar, sem julgamentos.— Priscila, é importante que você conheça seu corpo, entenda como ele funciona e, mais import
RamiroEstou jogado no sofá da minha sala, o olhar fixo no teto, embora nada do que vejo realmente registre em minha mente. Minha cabeça está cheia de lembranças que me torturam. Priscila. Minha filha. Hoje é o casamento dela, e eu, eu estou aqui, imóvel, como o covarde que sou.Penso em tudo o que fiz, tudo o que destruí. As palavras cruéis, os gestos de violência, as humilhações. A maneira como, por anos, tratei aquela menina como se fosse uma inimiga, quando na verdade ela era apenas uma criança, a minha criança, tentando sobreviver ao inferno que eu mesmo criei.Isabel. Sempre volto a ela. À mulher que amei mais do que qualquer coisa e cuja morte destruiu qualquer equilíbrio que eu pudesse ter tido. Foi ela quem plantou aquela dúvida venenosa em mim sobre Priscila, e eu, eu deixei esse veneno me consumir, me transformar em algo que nunca deveria ter sido.Mas hoje, hoje a minha Priscila vai casar. Minha pequena está se tornando mulher aos olhos do mundo, mas isso de certa forma me
LiamO sol está se pondo, iluminando o caminho até o altar, mas não o suficiente para ofuscar o nervosismo que vejo nos olhos de Lucas. Ele ajeita a gravata pela terceira vez, e eu seguro seu ombro com firmeza, tentando transmitir alguma tranquilidade.– Relaxe, filho – digo, enquanto caminhamos pelo jardim cuidadosamente decorado. – Esse é o momento pelo qual vocês esperam e conquistaram.Lucas sorri de lado, mas o sorriso não esconde a ansiedade.– Eu sei, pai. Só quero que tudo seja perfeito para ela.Sinto o orgulho me aquecer o peito. Lucas sempre teve um coração bom, e isso é algo que jamais deixei de admirar nele.– E será perfeito, desde que você continue sendo quem é – respondo, a minha voz calma. – Mas tem algo que quero conversar com você antes de tudo começar.Ele para de mexer na gravata e me olha, atento.– Sobre o quê?Suspiro, organizando as palavras com cuidado.– Sobre Priscila. Sobre como cuidar dela.Lucas franze a testa, mas não interrompe.– Eu sei que vocês doi
LucasE ela não está sozinha. Ao lado dela, Ramiro. O pai dela. Ele a conduz com cuidado, o olhar sério, mas há algo nos olhos dele, algo que eu não esperava ver, o orgulho.Eles começam a caminhar na minha direção, e sinto meu coração disparar como se fosse sair do peit0. Tudo o que estava em minha mente desaparece. Não há nervosismo, não há dúvidas. Há apenas ela.E quando finalmente ela para diante de mim, Ramiro entrega sua mão para a minha, e diz:— Estou te entregando a minha vida, cuide dela, por favor!— Cuidarei dela com a minha vida, se preciso for.Apertamos as mãos. Meu olhar encontra o dela, tudo o que eu precisava saber está ali.Ela não desistiu. Ela está aqui. Confiando em mim, escolhendo estar ao meu lado.Sorrio para ela, e ela retribui com um sorriso tímido, mas genuíno. Nesse momento, sei que não importa o que o futuro traga, nós enfrentaremos juntos.Minha mão segura a dela com firmeza, e nossos olhares permanecem conectados.– Você está linda – digo, quase sem
Priscila.Enquanto me olho no espelho, sinto o peso de tudo que este dia representa. Minha pele está impecável, o vestido cai perfeitamente, e o véu... Ah, o véu. Ele me faz sentir como aquelas princesas que eu costumava admirar quando criança. Só que, ao contrário dos contos de fadas, minha história teve espinhos. Muitos deles.Beatriz está ao meu lado, ajustando os últimos detalhes do meu vestido com cuidado. Ela sorri com orgulho, mas seus olhos não escondem a emoção.A Giulia linda como sempre no carrinho de bebê.– Está linda, Pri – diz ela, e eu sorrio de volta, tentando segurar as lágrimas.É reconfortante tê-la aqui comigo. Ela foi mais do que uma amiga nos últimos tempos, foi um pilar. Mas, de repente, a porta do quarto se abre, e Teresa, Fabrícia e Stefany entram como um furacão, trazendo risadas, flores e ainda mais amor.– Você está maravilhosa! – Teresa exclama, aproximando-se com os olhos brilhando.– Parece até uma daquelas noivas de revista! – Fabrícia acrescenta, enqu
PriscilaEstendi a mão, curiosa, enquanto ele entregava o envelope. Ao abri-lo, vi um pacote de viagem para um resort na Linha Verde, Bahia. Três dias.– Sei que não é muito – Ramiro continuou, ainda hesitante. – Mas achei que seria bom para vocês terem um momento só de vocês. É o tempo máximo que podem ficar fora por causa da missão, mas... Espero que gostem.Olhei para ele, surpresa e emocionada. Era difícil conciliar a imagem do Ramiro do passado com o homem que estava ali, tentando fazer parte do meu presente.– Obrigada, pai – disse, minha voz quase um sussurro.Ele sorriu, um sorriso tímido, mas genuíno, antes de se afastar discretamente.Lucas olhou para mim com um sorriso brincalhão.– Três dias na Bahia, hein? Acho que podemos trabalhar com isso.Sorri de volta, sentindo uma mistura de emoções. A cerimônia tinha acabado, mas nossa história juntos estava apenas começando.Quando a música começou a tocar, Lucas segurou minha mão e me guiou até o centro do salão. Não sou uma gra