Episódio 03

EVIE NARRANDO

Eu sou aquele tipo de pessoa, que não gosta de ver nada, fora do meu círculo de convívio, e ver o que acontece em frente aquele morro, as vezes desencadeia coisas dentro de mim, que eu jamais vou conseguir compreender, minha avó diz que eu preciso passar por um psicólogo ou até mesmo fazer terapia, por tudo o que eu já vivenciei quando pequena, são coisas que hoje eu não consigo me lembrar, mas que no fundo eu sinto, eu sinto um medo profundo, e eu nunca quis perguntar a minha avó, porque tenho medo que se ela me conte eu acabe lembrando de tudo o que eu já passei, e isso é algo que preciso evitar, que prefiro esquecer cada dia mais. Então assim que fui entrando em casa com as sacolas, a minha avó veio a meu encontro, ao me ver ela sorrio, então se aproximou para me ajudar a carregar as sacolas, mas como sei que ela tá na idade, não gosto muito de forçar, ou pedir ajuda, sempre evito o máximo que ela faça as coisas, justamente por causa da idade dela, mas ela não liga muito.

Por mais que as minhas irmãs vivam com a gente, elas nunca ajudam em nada, elas acham que dinheiro cai do céu, ou até mesmo elas pensam que são ricas. 

— Vovó, a senhora sabe que não pode ficar se esforçando assim. — digo e ela me olha de relance. 

— Você sabe bem, meu amor, que eu não gosto de ficar sem fazer nada. — diz a minha avó carregando as sacolas que pegou da minha mão para a cozinha. — Como foi o seu dia minha menina? — ela pergunta, enquanto caminha. 

— Mas mesmo assim vovó, não precisa se esforçar tanto. — digo assim que chegamos a cozinha. — Hoje meu dia foi muito produtivo, chegou uma moça muito educada lá na joalheria, ela que me deu um bônus, e hoje deu para que eu pudesse trazer tudo isso. — digo sorrindo, coloco as sacolas sobre a mesa.

— Que bom, minha menina, que Deus abençoe a generosidade dessa moça. — ela fala, toda sorridente. 

— O que estão falando aí? — a Késia fala, entrando na cozinha.

— Nada demais, estou apenas contando para a vovó como foi meu dia no trabalho. — digo, e ela revira os olhos.

— Trabalho, uma coisa que não quero. — diz ela, com um tom irônico. — Eu tenho onde conseguir dinheiro com facilidade. — ela fala, animada. 

— Você toma jeito nessa sua cara, Késia, você pensa que bandido tem o que dar é? — diz minha vó. — Todos os dias vejo no noticiário o que acontece com mulheres como você, que se ilude com esses bandidos. — diz minha avó, a repreendendo, então a mesma bufa revirando os olhos.

— Vovó, a senhora sabe que eu gosto daquele homem, ele é tudo pra mim. — diz ela, com um sorriso enorme em seus lábios. 

— E ele te faz de marmita, assim como tantas outras. — diz minha avó.

— Késia, você precisa parar de ficar chateando a vovó com essa sua atitude. — digo, olhando para ela. 

— Diz a virgem Maria, horrorosa que não arruma ninguém. — ela fala, me deixando chateada. 

— Saiba você Késia, que a sua irmã é mais bonita que você, além de uma moça de família, ela também tem um corpo que dar de 10/10 em qualquer uma desse morro, inclusive até mesmo do seu. — a minha avó sai em minha defesa, me fazendo sorrir. — Agora suma-se da minha vista. — minha vó fala nervosa, e a Késia sai pisando duro, a mesma estava soltando fogo pelo nariz. 

— Você acabou matando ela vovó. — digo, colocando a mão na boca, para impedir que o som do meu riso saia alto demais, então respiro fundo, e olho para minha avó. — Agora, deixe as coisas ai, que eu vou organizar tudo no lugar. — digo sorrindo, e ela se senta em uma das cadeiras da mesa. 

— Oh minha menina, eu estou tão feliz, que você tenha um emprego, porque eu sei o quanto está complicado a nossa situação. — ela fala, com seus olhos marejados. 

— Não pensa nisso vovó, a gente tem tudo que Deus nos dar. — digo tirando as coisas da sacola, então começo a organizar sobre a mesa, para depois colocar em seus devidos lugares. 

Fiquei conversando com minha vó enquanto guardava e organizava tudo em seu devido lugar, logo mais a Elaine veio para a cozinha, e ao ver que a vovó estava sentada, ela foi até a mesma e deu-lhe um beijo na bochecha, o que me fez pensar e já imaginava o que ela queria, logo mais ela pediu um dinheiro para minha avó, com a promessa que pagaria a ela, quando pegasse dinheiro com o "namorado", um namorado que a gente nunca viu, e pra ser sincera, eu acredito que é pior que as ilusões da Késia, mas isso não me importa, o que me deixou assustada, foi quando ela tocou no nome do dono do morro, isso me assustou, sentir um arrepio na espinha, que se espalhou por todo o meu corpo. Logo que minha avó viu isso, se levantou as pressas, porque ela sabe o quanto tudo isso me afeta, e por mais que eu tenha tecnicamente apagado da minha memória, em algum lugar lá no fundo se lembra de alguma coisa, que me faz ficar com essas crises de pânico, então assim que minha avó veio na minha direção, eu ouvir ela reclamando de dores, mas eu estava tão nervosa, sentia um medo muito forte, a crise estava tão forte, que não conseguia me mexer. Às vezes, tento me recordar o porque tenho esse medo, não sei o porque isso me acontece e me aconteceu, mas tudo o que desejo saber é que preciso me curar disso que tem dentro de mim. 

— Evie? — minha avó chama pelo meu nome, mas eu estava submersa nas profundidade da minha mente. — Minha menina, eu sei que está com medo, mas por favor, não se afunde na suas memórias, para não rever nada do passado. — ela fala, enquanto me sacode.

— Para de agir igual uma criança, Evie! — grita a Elaine. — Só sabe agir como uma criança mimada. — ela fala, ironicamente. 

— Cala a boca, menina abusada, era para eu ter te dado umas boas palmadas quando necessário. — diz minha avó para a minha irmã. — Minha menina, lembra que Deus não vai te abandonar, lembra que Deus está a seu lado o tempo todo, então não vai fundo, apenas deixe isso onde está. — ela fala isso, e aos poucos eu vou conseguindo tornar, nesse momento consigo olhar diretamente para a minha avó. — Graças a Deus. — a minha avó acaba me abraçando. 

— Vovó. — digo, então as lágrimas acabam transbordando os meus olhos. 

— Não foi nada minha menina, já passou. — ela fala me abraçando, então acabo olhando para a Elaine que estava revirando os olhos. 

— Essa daí só faz as coisas, para chamar a atenção. — diz ela bufando. 

— Já mandei se calar, se não tem uma palavra de conforto, não sei o porque vive atacando sua irmã. — minha vó repreende ela, então vou me soltando dela. 

— Vovó, me desculpa por ser um fardo para a senhora. — digo sentindo as lágrimas molhando meu rosto. 

— Minha menina, você nunca foi um fardo, e nunca será! — ela fala, colocando sua mão sobre meu rosto. — Queria tirar tudo o que você já passou de dentro de você, você era muito nova, e passou por um trauma daqueles. — ela fala, mas respira fundo. — Quero que saiba que jamais eu vou permitir que você se afunde. — ela fala, mas no mesmo instante ela geme de dor. 

— Vovó, agora o foco não é mais em mim, o que a senhora tá sentindo? — pergunto, e ela me olha, mas logo muda o assunto. 

— Agora vá tomar banho, para vir jantar, e logo mais dormir. — ela fala, mas ainda sim eu sei que tem algo errado. 

— Vovó, eu só vou quando a senhora me falar o que a senhora tá sentindo. — digo batendo o pé, e ela suspira. 

— Oh minha menina, eu não quero preocupar você, nem ninguém. — diz ela me olhando, mas continuo firme. — Eu tô sentindo algumas dores, pressão no peito, e as vezes não consigo comer nada. — ela fala, me deixando preocupada. 

— Vou pesquisar uma clínica aqui perto, para fazer exame na senhora vovó, vamos ver o que é isso, ainda me sobrou um pouco de dinheiro, então vamos cuidar da sua saúde. — digo séria. 

— Minha menina, não precisa se preocupar, eu estou bem. — ela fala, então olho para ela séria.

— Independente de qualquer coisa, vamos fazer os exames, irei falar com meu patrão, e avisar que amanhã eu não vou poder ir. — digo, então vou dando as costas para ir a meu quarto, mas antes que eu saia, a Késia e a Elaine aparecem ali. 

— Estou indo, lá em cima vovó, não tenho hora de voltar. — diz a Késia.

— Eu também vou subir. — a Elaine diz em seguida, me fazendo revirar os olhos. 

— A virgem Maria vai ficar aqui, cuidando de tudo. — diz ela irônica, então as duas gargalham e saem, nós deixando sozinha.

Logo que elas saíram a minha avó abençoou as duas, então fui andando para o meu quarto, assim que cheguei no mesmo, fui até meu guarda roupa, peguei um pijama, abrir a gaveta do guarda roupa, peguei um conjunto de lingerie, logo em seguida coloquei minha roupa escolhida sobre a cama, então peguei a toalha e seguir para o banheiro, logo que entrei no mesmo, tranquei a porta, coloquei a toalha sobre a pia do banheiro, então fui até o espaço onde tem o chuveiro, comecei a me despir, logo que estava sem roupa, joguei a minha roupa no cesto de roupas, então liguei o chuveiro, comecei a tomar um banho tranquilo, os meus pensamentos estavam no problema da minha avó, fiquei pensando enquanto tomava meu banho, com o passar do tempo, acabei finalizando meu banho, desliguei o chuveiro, caminhei até a pia, peguei a toalha, me enrolei, abrir a porta do banheiro e sair em direção a meu quarto, assim que entrei no mesmo, fui próximo a cama, então comecei a enxugar o meu corpo, assim que estava seca, peguei meu creme em cima da cômoda, coloquei um pouco nas mãos, e espalhei por todo o meu corpo, quando fiquei com o meu corpo todo hidratado, peguei meu conjunto de lingerie, comecei a vesti-lo, após colocar o mesmo, peguei o pijama e vestir, então coloquei minha havaiana nos pés e fui direto para a cozinha, após sair do meu quarto. Assim que cheguei no mesmo, a minha avó já tinha preparado a mesa, então juntas nos sentamos e começamos a jantar, foi um momento bem agradável, afinal sempre é uma agonia, quando as minhas irmãs estão aqui, elas amam implicar comigo, e é porque nunca faço nada para elas. Então depois de jantamos, retirei a mesa, então comecei a organizar a cozinha, mesmo que minha avó não queria, mas eu fiz, então depois me despedir dela, e seguir para meu quarto, me joguei na cama, e peguei meu celular, olhei a hora, e vi que ainda era 22:30 da noite, então mandei uma mensagem para meu patrão, pedi mil desculpas pelo horário, mas era necessário, minha sorte que ele respondeu de imediato, e disse que eu poderia tirar o dia de folga e cuida-se da minha avó, então agradeci a ele, logo que terminei de falar com ele, desliguei a internet do celular, então o guardo do lado da minha cama, desliguei as luzes, e fiquei olhando para a janela alguns segundos, até que acabei adormecendo.

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