Reino de Ferro
Reino de Ferro
Por: Victoria Lucchesi
Capítulo Um

Ela sentia frio. Sua cabeça doía de um jeito impossível, que a fazia querer arrancar a cabeça fora.

Ela não sabia onde estava ou porque tudo ao seu redor cheirava a algo que queimava seu nariz.

Sua mente estava pesada.

Ela estava cansada.

Então abraçou a escuridão como uma velha amiga.

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Depois de quase cinco dias nadando na inconsciência, ela acordou.

Sua cabeça havia parado de doer milagrosamente em algum momento de seu sono, mas seu corpo ainda estava exausto.

O simples ato de abrir os olhos foi o maior dos esforços.

Mas ela abriu os olhos e sentou no catre de sua cela. Tess percebeu que trajava uma calça de moletom cinza e uma camisa de algodão branco, roupas simples de camponeses.

Então todos os acontecimentos na Academia invadiram sua mente. Sua armadura sumiu, assim como Gantsain e suas adagas.

Ela perdeu o fôlego ao perceber o maior dos desaparecimentos. Então ela gritou com a garganta seca, o que só a machucou mais.

Ela chorou até cair no sono novamente.

O laço com Alek havia sumido, o que só podia significar que ele estava...morto.

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A porta da cela se abriu depois de algumas horas. Tess levantou a cabeça e seus olhos inchados tornavam difícil a visão.

Ela percebeu que era uma mulher. Ela tinha perto dos cinquenta anos e era...humana. Ou pelo menos parecia e cheirava como humana.

Sua audição, olfato e visão eram a única coisa restante do corpo feérico. Sua magia havia sumido como o laço com Alek. Seu corpo não se curou tão rápido de alguns cortes que tinha pelo corpo e estava mais desleixado. Ela estava no corpo humano. A mudança de forma para a águia também não era uma opção.

A mulher mantinha os cachos prateados cobertos por um lenço creme e vestia um típico traje de criada. Ela tinha uma aparência doce mas nada como a de Therae.

" Que bom ver que você acordou." Ela disse.

Tess a ignorou.

" Meu nome é Seldha e, em nome de vosso amado rei, lhe dou as boas-vindas a Avilan."

Uma risada amarga brotou da boca rachada de Tess. " Estou muito feliz pelo convite, dona." O sarcasmo e a amargura em sua voz podiam azedar leite.

Seldha fez uma careta. " Não seja tão azeda, querida. Vou te trazer algo para comer." Ela disse antes de sair.

Tess não queria comida. Não queria afeto de uma criada humana. Não queria nada, exceto a morte lenta que merecia por deixar Alek morrer.

A porta se abriu novamente e ela ficou rígida. O cheiro de ferro machucava seu nariz.

Devagar, Tess levantou os olhos para a figura. Ela poderia ter gritado ou feito qualquer coisa útil se não tivesse ficado paralisada.

Rei de Ferro. Assassino de seus pais. Irmão de Rowan. Filho de Maeve.

O homem na sua frente era muitas coisas, mas também era o mais bonito que Tess já vira.

Os cabelos negros eram levemente compridos e lisos, algumas pontas encostando em sua sobrancelha. Os olhos...aqueles mesmos olhos negros de Maeve a encaravam. Mas o maxilar forte e rosto com curvas perfeitas quase bastavam para fazer com que ela se derretesse. Quase.

" Tessalie Hayne, enfim nos emcontramos." Ele disse. A voz era composta por camadas de seriedade, arrogância, frieza e algo mais que ela não distinguiu.

Tess estava assustada demais para responder, mas também tremia de raiva. O assassino de seus pais, de Alek, e sabe-se lá de mais quem, estava bem na sua frente e ela o odiou como jamais odiou alguém.

" Saia." Ela conseguiu transmitir toda a raiva que sentia sem que a voz tremesse.

Ele, Damian, a examinou minuciosamente e depois se aproximou um passo.

Raiva e medo conflitavam-se no sangue dela.

" Onde está o Tatten ?" Ele perguntou, olhando para a garganta dela.

O colar. Ele queria o colar de Maeve. Tess tateou o peito, mas o colar não estava lá.

" Não sei. E mesmo se soubesse, não diria. Principalmente a você. " Ela disse.

O olhar dele ficou sombrio e ela sentiu que algo muito ruim estava fervendo por baixo de sua pele.

Mas ele apenas bufou e saiu, a porta de ferro se fechando atrás dele.

Se houvesse algo, ela teria jogado contra a porta. As lágrimas de raiva brotavam de seus olhos numa velocidade alarmante. Um soluço ficou preso em sua garganta.

Edik. Lyra. Alek.

O nome de seus mortos queridos ecoava em sua mente enquanto ela soluçava.

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Seldha levou comida para ela. Três refeições por dia. E todas permaneceram intocadas.

Ela se levantava de seu catre frio para usar o sanitário no canto oposto da cela quadrada.

O vazio a consumia por inteira. Ela não sentia a fome que corroía seu estômago e a deixava cada vez mais fraca. Não sentia o frio que fazia seu corpo tremer durante a noite. Não sentia nada.

Quando Seldha abria a porta-- de manhã, de tarde e de noite--, Tess sequer olhava.

A bandeja de prata que ela carregava trazia sempre a mesma coisa. E ela não estava nada interessada em ervilhas, purê de batata, bife, cenouras e água.

Às vezes, quando o vazio cedia um pouco, ela chorava novamente.

Ela passou três dias daquele jeito, até que a porta se abrisse novamente e, daquela vez, não foi Seldha ou Damian que apareceram.

Quatro guardas a escoltaram para fora de sua cela e a conduziram por corredores refinados e halls de quartos.

Até que chegaram no penúltimo andar e abriram uma das portas simples.

Era uma suíte bem decorada e simples. Uma cama grande, um espelho, uma cômoda e um armário. A decoração dourada e vermelha davam um toque de beleza excêntrica ao quarto.

Mas as janelas estavam lacradas, assim como a porta para a varanda. Os guardas a levaram para dentro e trancaram a porta.

Aquilo não era um quarto, ela percebeu.

Aquilo era uma bela cela de prisão.

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