Ela sentia frio. Sua cabeça doía de um jeito impossível, que a fazia querer arrancar a cabeça fora.
Ela não sabia onde estava ou porque tudo ao seu redor cheirava a algo que queimava seu nariz.
Sua mente estava pesada.
Ela estava cansada.
Então abraçou a escuridão como uma velha amiga.
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Depois de quase cinco dias nadando na inconsciência, ela acordou.
Sua cabeça havia parado de doer milagrosamente em algum momento de seu sono, mas seu corpo ainda estava exausto.
O simples ato de abrir os olhos foi o maior dos esforços.
Mas ela abriu os olhos e sentou no catre de sua cela. Tess percebeu que trajava uma calça de moletom cinza e uma camisa de algodão branco, roupas simples de camponeses.
Então todos os acontecimentos na Academia invadiram sua mente. Sua armadura sumiu, assim como Gantsain e suas adagas.
Ela perdeu o fôlego ao perceber o maior dos desaparecimentos. Então ela gritou com a garganta seca, o que só a machucou mais.
Ela chorou até cair no sono novamente.
O laço com Alek havia sumido, o que só podia significar que ele estava...morto.
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A porta da cela se abriu depois de algumas horas. Tess levantou a cabeça e seus olhos inchados tornavam difícil a visão.
Ela percebeu que era uma mulher. Ela tinha perto dos cinquenta anos e era...humana. Ou pelo menos parecia e cheirava como humana.
Sua audição, olfato e visão eram a única coisa restante do corpo feérico. Sua magia havia sumido como o laço com Alek. Seu corpo não se curou tão rápido de alguns cortes que tinha pelo corpo e estava mais desleixado. Ela estava no corpo humano. A mudança de forma para a águia também não era uma opção.
A mulher mantinha os cachos prateados cobertos por um lenço creme e vestia um típico traje de criada. Ela tinha uma aparência doce mas nada como a de Therae.
" Que bom ver que você acordou." Ela disse.
Tess a ignorou.
" Meu nome é Seldha e, em nome de vosso amado rei, lhe dou as boas-vindas a Avilan."
Uma risada amarga brotou da boca rachada de Tess. " Estou muito feliz pelo convite, dona." O sarcasmo e a amargura em sua voz podiam azedar leite.
Seldha fez uma careta. " Não seja tão azeda, querida. Vou te trazer algo para comer." Ela disse antes de sair.
Tess não queria comida. Não queria afeto de uma criada humana. Não queria nada, exceto a morte lenta que merecia por deixar Alek morrer.
A porta se abriu novamente e ela ficou rígida. O cheiro de ferro machucava seu nariz.
Devagar, Tess levantou os olhos para a figura. Ela poderia ter gritado ou feito qualquer coisa útil se não tivesse ficado paralisada.
Rei de Ferro. Assassino de seus pais. Irmão de Rowan. Filho de Maeve.
O homem na sua frente era muitas coisas, mas também era o mais bonito que Tess já vira.
Os cabelos negros eram levemente compridos e lisos, algumas pontas encostando em sua sobrancelha. Os olhos...aqueles mesmos olhos negros de Maeve a encaravam. Mas o maxilar forte e rosto com curvas perfeitas quase bastavam para fazer com que ela se derretesse. Quase.
" Tessalie Hayne, enfim nos emcontramos." Ele disse. A voz era composta por camadas de seriedade, arrogância, frieza e algo mais que ela não distinguiu.
Tess estava assustada demais para responder, mas também tremia de raiva. O assassino de seus pais, de Alek, e sabe-se lá de mais quem, estava bem na sua frente e ela o odiou como jamais odiou alguém." Saia." Ela conseguiu transmitir toda a raiva que sentia sem que a voz tremesse.
Ele, Damian, a examinou minuciosamente e depois se aproximou um passo.
Raiva e medo conflitavam-se no sangue dela.
" Onde está o Tatten ?" Ele perguntou, olhando para a garganta dela.
O colar. Ele queria o colar de Maeve. Tess tateou o peito, mas o colar não estava lá.
" Não sei. E mesmo se soubesse, não diria. Principalmente a você. " Ela disse.
O olhar dele ficou sombrio e ela sentiu que algo muito ruim estava fervendo por baixo de sua pele.
Mas ele apenas bufou e saiu, a porta de ferro se fechando atrás dele.
Se houvesse algo, ela teria jogado contra a porta. As lágrimas de raiva brotavam de seus olhos numa velocidade alarmante. Um soluço ficou preso em sua garganta.
Edik. Lyra. Alek.
O nome de seus mortos queridos ecoava em sua mente enquanto ela soluçava.
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Seldha levou comida para ela. Três refeições por dia. E todas permaneceram intocadas.
Ela se levantava de seu catre frio para usar o sanitário no canto oposto da cela quadrada.
O vazio a consumia por inteira. Ela não sentia a fome que corroía seu estômago e a deixava cada vez mais fraca. Não sentia o frio que fazia seu corpo tremer durante a noite. Não sentia nada.
Quando Seldha abria a porta-- de manhã, de tarde e de noite--, Tess sequer olhava.A bandeja de prata que ela carregava trazia sempre a mesma coisa. E ela não estava nada interessada em ervilhas, purê de batata, bife, cenouras e água.
Às vezes, quando o vazio cedia um pouco, ela chorava novamente.
Ela passou três dias daquele jeito, até que a porta se abrisse novamente e, daquela vez, não foi Seldha ou Damian que apareceram.
Quatro guardas a escoltaram para fora de sua cela e a conduziram por corredores refinados e halls de quartos.
Até que chegaram no penúltimo andar e abriram uma das portas simples.
Era uma suíte bem decorada e simples. Uma cama grande, um espelho, uma cômoda e um armário. A decoração dourada e vermelha davam um toque de beleza excêntrica ao quarto.
Mas as janelas estavam lacradas, assim como a porta para a varanda. Os guardas a levaram para dentro e trancaram a porta.
Aquilo não era um quarto, ela percebeu.Aquilo era uma bela cela de prisão.
Tess substituiu o catre pela macia cama e travesseiros de plumas. O quarto não fedia tanto a ferro quanto ela imaginou. Mas foi a pequena e retorcida escultura de ferro que chamou sua atenção. Ela a encarou durante horas, se perguntando se o ferro ainda queimava. Por fim, Tess saltou da cama e parou na frente da cômoda, onde se encontrava a escultura. Receosa, ela tocou devagar a peça. Nada. Apenas um leve formigamento no ferimento que cicatrizava em sua coxa. Seldha continuou vindo. Sempre a obrigando a comer, tomar banho e trocar de roupa. Era uma mulher de poucas palavras, ao que parecia, e Tess agradecia por isso. Passaram-se seis di
Dez minutos depois que Damian saiu, Tess foi para o banho. Não deixaria um idiota feérico dizer que ela não era apresentável. Mas quando chegou no banheiro, estacou ao se ver no espelho. Ela usava uma fina camisola branca de alças, que permitia que ela visse uma fina cicatriz em seu braço, causada pela espada de Mora. Mas se a mulher no espelho não se movimentasse ao mesmo tempo que ela, com certeza Tess teria gritado e dito que havia uma outra mulher em seu quarto. Sua pele estava ressecada e pálida, seus olhos estavam meio inchados e vermelhos--sem o brilho que ela vira várias vezes em seus olhos--, seus cabelos estavam opacos e quebradiços. A pele de seu rosto estava colada em suas protuberantes maçãs do rosto. Haviam olheiras debaixo de seus o
"Rebeldes?!" Tess gritou de volta enquanto eles disparavam pelo jardim, com Gerlon e Wellin atrás deles. "Sim. Ou acha que só no reino de vocês tem isso? " Ela não sabia de nada, apenas que odiava o jeito que seu corpo humano era lento. Pela primeira vez, queria de volta o corpo feérico. " Eles vem com muita frequência? " Ela perguntou enquanto eles entravam no castelo. Pela visão periférica dela, Tess viu que algumas pessoas pulavam os muros e entravam nos jardins. As portas fecharam assim que Gerlon passou. Wellin se precipitou em permanecer ao lado de Tess protetoramente. " Onde está Damian?" Gerlon gritou atrás deles. " Sa
Tess chegou ao fim da contagem mas não conseguiu se mexer. Respirando alto e rápido, ela adicionou mais dez segundos. Ela sabia que não podia esperar mais, então apertou mais as adagas em sua mão e correu quando chegou ao dez. O maldito vestido atrapalhava e seu corpo desleixado a fazia ficar mais e mais lenta. Mas ela correu mesmo assim. Seguiu pelo caminho que Havenna ordenara e correu o mais rápido que pôde. Seu cabelo se soltava e caía em suas costas e rosto. Sua respiração era ofegante enquanto virava um corredor. Então ela parou. Estava presa e sem saída. O corredor na sua frente terminava em uma janela que estava quebrada e as grades, retorcidas." Olhe, Gynn, um passarinho caiu em nossa armadilha." Uma voz grossa e rouc
"Quem são os rebeldes?" Tess perguntou para Seldha, que arrumava a mesa de jantar do quarto dela. Seldha parou de rebolar e cantarolar uma cantiga qualquer e se virou para a garota que estava sentada na cama, com quilos de cobertores sobre o colo.Tess sabia porque a mulher parecia surpresa. Tess não havia falado uma palavra desde que chegara no quarto na noite anterior, depois do ataque dos rebeldes. Comera e fizera tudo o que a criada pedira, mas não dissera uma palavra sequer. Seldha suspirou e soltou a bandeja que carregava, para depois se sentar ao pé da cama de Tess. " Os rebeldes são formandos por humanos e alguns poucos feéricos, todos insatisfeitos tanto com Naskra quanto com Avilan. Eles acham que poderão governar melhor que os reis no controle atualmente. Em Naskra, el
Um trovão rugiu no céu e Tess tremeu no banco onde estava sentada na janela. Um raio partiu o céu ao meio e foi seguido por outro trovão enquanto a chuva começava a cair. Tess quase correu para a cama, omde se sentia mais segura. O medo de tempestades--mais medo dos trovões--era o único que a deixava inútil e tremendo. Ela se lembrava de várias vezes em que tempestades caíam, trovões ecoavam e Finn a segurava contra si enquanto a confortava. Era um medo antigo e irracional, que ela odiava. Mas ali, naquele castelo frio, Tess estava sozinha, aguentando um de seus medos encolhida debaixo dos lençóis. Uma batida suava a fez pular da cama, longe da janela. Ela se deu um tapa na test
Dois dias antes da chegada da carta Rowan entrou como um furacão na sala de guerra, a capa cinza arrastando atrás de si. Alek estava debruçado contra a mesa de vidro, cercado de mapas e anotações. Alek estava mais magro do que da última vez que o príncipe o vira--uma semana antes--, e tinha profundas e roxas olheiras debaixo dos olhos. Ele parecia não dormir há dias. A cabeça do jovem levantou quando Rowan pisou na sala. " Achou alguma coisa?" Rowan sacudiu a cabeça antes de se jogar numa das cadeiras. " Absolutamente nada. Os duendes não sentiram o cheiro dela e os vípeos ainda não voltaram do sul. " Rowan suspirou. " Sinto muito. Também sinto falta dela, por mais que não demonstre."
Tess, precisava saber se você estava viva e, se está lendo isso, então provavelmente sim. Faz quase três meses que estamos procurando por você em cada canto de Naskra, mas eu sempre soube onde você estaria. Contei algumas mentiras para seu querido Alek, mas elas foram necessárias para que ele dormisse de noite. Bem, na noite em que você foi sequestrada, Clio quase perdeu o braço, Krisa teve um belo corte na perna e Liam vai ficar com uma cicatriz enorme no rosto, mas fora isso estamos todos vivos e bem. Todos fizeram as escolhas quando as coisas se acalmaram. Krisa e Liam estão com Maeve assim como Caliope e Nortrem. Reana e Sanmyra estão com Mab, então Britta e Kaiden foram com Mora. Bem, t