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Capítulo Três

Dez minutos depois que Damian saiu, Tess foi para o banho. Não deixaria um idiota feérico dizer que ela não era apresentável. 

Mas quando chegou no banheiro, estacou ao se ver no espelho. Ela usava uma fina camisola branca de alças,  que permitia que ela visse uma fina cicatriz em seu braço,  causada pela espada de Mora.

Mas se a mulher no espelho não se movimentasse ao mesmo tempo que ela,  com certeza Tess teria gritado e dito que havia uma outra mulher em seu quarto.

Sua pele estava ressecada e pálida,  seus olhos estavam meio inchados e vermelhos--sem o brilho que ela vira várias vezes em seus olhos--, seus cabelos estavam opacos e quebradiços.  A pele de seu rosto estava colada em suas protuberantes maçãs do rosto. Haviam olheiras debaixo de seus olhos.  Ela estava mais magra,  da época em que se recusava a comer nas masmorras e mesmo agora, quando ela comia como um passarinho e esperava Seldha sair para que pudesse vomitar a comida que seu estômago rejeitava.

A garota bela que havia conseguido a atenção de lordes e duques em bailes estava bem longe. Se não houvessem essas lembranças,  ela teria jurado que eram mentiras, e que só o vazio,  a raiva e a tristeza existiram.

Então Tess franziu as sobrancelhas e, determinada, soube que ia mudar apenas para esfregar na cara do reizinho que ela não era um brinquedo inválido e feio.

Então ela entrou no banho e lavou o cabelo, esfregou a pele até que a cor retornasse e se enrolou numa toalha.

Depois, chamou uma criada que lhe trouxe o almoço.  Ela comeu com voracidade e pediu a sobremesa. 

Seldha,  intrigada com seu pedido por comida, a visitou logo.  Tess lhe pediu novas e bonitas roupas.

Seldha,  percebendo o que ela queria, lhe trouxe também hidratantes de pele e cabelo.

Duas outras criadas entraram no quarto assim que ela terminou de hidratar o cabelo. Elas traziam um vestido lilás e dourado que foi ajustado ao seu corpo de última hora.

Uma das criadas, Elisa, parecia da mesma idade de Tess e era linda. Seus cabelos dourados brilhavam com alguns raios de sol que entravam pela janela e seus olhos verdes eram gentis e atentos enquanto ela fazia uma maquiagem leve em Tess. 

Por fim, Seldha,  Elisa e Valyn deram um passo para trás.  As três sorriram quando viram o resultado. 

"Vamos, traga um espelho." Elisa pediu para Valyn, que correu para trazer o objeto.

Tess ofegou ao ver o resultado.  O que elas haviam feito em duas horas e meia era impressionante. Seus cabelos ganharam brilho  as olheiras foram escondidas pela maquiagem que também suavizava o rosto magro demais. Sua pele estava corada e seus olhos brilhavam com determinação.  Sua magreza foi suavemente disfarçada pelas camadas do vestido.

" Obrigada. " Ela disse para as três.  " Mas é uma pena que não possa sair."

Valyn deu uma risadinha.  " Já cuidei disso. Tem permissão do rei para passear pelo castelo com supervisão de alguns guardas. "

Tess sorriu para ela. " Obrigada. "

"Vá!" Seldha riu. " Os guardas esperam do lado de fora."

Elisa tirou uma chave do bolso e destrancou a porta, revelando um corredor com carpete creme e paredes azuis escuras.

Alguns passos à frente,  haviam três homens com uniformes preto e cinza de guardas. Em plaquinhas prateadas, liam-se os sobrenomes--Gerlon, Wellin e Acker.

Os três ficaram tensos quando a viram e ela retribuiu o gesto. Os quatro se examinaram durante alguns segundos, testando e explorando. Tess pensava em jeitos de escapar deles e fugir. Quando estivesse longe do castelo, daria um jeito de cruzar a fronteira e se comunicar com Alek. 

Nenhum dos quatro relaxou a postura durante um minuto,  até que uma voz soasse atrás de Tess.

" Ora, parem de idiotice e andem logo com isso." Seldha gritou com a porta fechada. Que humana extraordinária aquela!

Acker, de cabelos de um loiro quase branco e olhos de uma cor de mel profunda, relaxou primeiro e sorriu.

" Sinto muito, senhorita. Sou o capitão Donovan Acker,  ao seu dispor.  Estes são Wellin e Gerlon. " O sorriso caloroso dele fez Tess relaxar a postura de ataque. Ela sabia que mesmo em seu corpo humano, poderia causar alguns danos com os golpes que Rowan a ensinara.

" Eu sei quem são eles." Ela disse para que ele soubesse que ela era mais do que uma idiota. Quando Acker ergueu as sobrancelhas,  Tess suspirou. " Os crachás.  Sei ler, sabia?"

Wellin tossiu para esconder uma risada e Gerlon,  que ainda não relaxara a postura, o olhou feio. Mas Acker sorriu.

" Bem, podemos ir? Prefere um tour pelo castelo ou tem algum lugar específico em mente?"  Ele perguntou. 

Tess sabia que a possibilidade de fugir era maior se conhecesse o castelo todo. "Um tour completo seria ótimo. "

Acker assentiu e acenou para os outros dois, que caminharam na frente. Todos tinham orelhas pontudas e caninos afiados, o que os caracterizava como feéricos.  Tess jamais odiou ser humana como naquele momento. 

Ela examinou a postura equilibrada e o corpo forte e comprido de todos, mas também reparou que Acker tinha mais medalhas e tinha um broche dourado de estrela no uniforme, o que os outros não tinham.

" Então..." Ela começou.  " As medalhas extras são só porque é capitão? "

Acker lhe olhou de canto de olho, os olhos dourados cheio de inteligência. Ele sabia que ela estava testando o terreno. Mas mesmo assim suspirou.  " Não,  sou...bem próximo do rei. Já fui em muitos lugares com ele e lutei em muitas batalhas ao seu lado."

Tess tentou, em vão,  reprimir uma careta. " E você gosta  dele?"

Acker gargalhou. " Eu lutaria em quantas batalhas precisasse ao seu lado. " O brilho em seu olhos dizia que ele não estava mentindo. Mas o sorriso dele sumiu.  " Ao contrário do que as rainhas a fazem pensar, Damian é um bom homem.  Sei que quase todos os homens e mulheres nessas terras dariam suas vidas por ele. Inclusive minha parceira."

Tess ficou surpresa. " Sua esposa? "

O sorriso bobo que ele deu fez com que o coração de Tess se aquecesse. " O laço do parceiro vai muito além do que algo físico como o casamento.  Achar o parceiro é um presente dos deuses. Se Havenna quisesse,  eu a pediria em casamento sem hesitar um segundo. " O brilho de adoração nos olhos dele fez com que uma pontada de inveja percorresse o corpo de Tess.

Ela resolveu voltar ao assunto principal.  "Até onde vai sua lealdade a Damian? "

Ela sabia que era uma pergunta perigosa,  mas queria saber a resposta. 

Acker coçou o queixo enquanto pensava numa resposta, então parou subitamente.  " Venha comigo."

Tess se sobressaltou, mas o seguiu por entre arbustos verdes. Ela sequer se dera conta de que estavam do lado de fora.

Acker agachou ao lado de um arbusto e acenou para que ela fizesse o mesmo. Ali, no meio de galhos e folhas, havia um ninho de vespas.

Era um ninho desativado, mas haviam quatro vespas menores em volta de uma maior.

"Esta é a rainha. Mesmo quando o ninho foi desativado, estas vespas permaneceram para morrer com ela enquanto as outras fugiam.  Se fosse Damian ali, eu seria uma das vespas que permaneceu. "

Antes que Tess respondesse,  um estrondo sacudiu o chão e Tess caiu. Acker puxou a espada da bainha e ajudou Tess a se levantar. Outro estrondo chacoalhou o chão. 

" O que é isso?" Ela gritou enquanto Acker a puxava para longe dos muros.

" Rebeldes. "

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