Assim que voltei para casa, algo pareceu errado. O silêncio estava pesado, diferente do habitual.Deixei a bolsa sobre o aparador e fui até a sala, onde encontrei Isabelle sentada no sofá, os olhos perdidos, a respiração curta e acelerada. Suas mãos tremiam tanto que pareciam incapazes de se segurar em qualquer coisa.— Izzy? — me aproximei, preocupada. — O que houve?Ela não respondeu. Apenas continuou encarando o nada, como se estivesse presa em algum pensamento aterrorizante.— Isabelle! — chamei mais alto, agachando-me à sua frente e segurando suas mãos geladas. — Ei, olha pra mim! O que aconteceu?Ela começou a hiperventilar. Eu reconhecia aquilo. O medo tomou conta de mim.— Droga, Izzy! Respira! — tentei guiá-la, mas seus olhos estavam desfocados, perdidos.Foi quando percebi que era igual à última vez. Foi naquela época que tudo começou, quando ela terminou com Thomas, e todas as vezes que ouvia o nome dele, ou lia algo sobre ele, acionava o gatilho.Meu coração acelerou, mas
Savannah não respondeu.Eu sabia que não responderia. Ela estava confusa, lutando contra algo que já a consumia. Eu via nos olhos dela. O mesmo desejo. A mesma hesitação. A mesma maldita barreira que ela erguia entre nós.— Vai dizer alguma coisa? Ou pode me deixar sozinho. — Minha voz saiu mais baixa, mais intensa do que eu pretendia.Savannah respirou fundo, mas continuou em silêncio.— É isso, então? Você pode me provocar, me deixar louco, me usar para seus joguinhos, mas quando a coisa fica séria, você age assim?Ela me lançou um olhar furioso.— Eu não estou agindo "assim". — Não? Então o que é isso?Ela cerrou os punhos. Eu vi sua respiração acelerar, mas ela não disse nada.Maldição.Eu passei a mão pelos cabelos, tentando controlar a frustração que subia como fogo em minhas veias. Eu queria agarrá-la pelos ombros e sacudi-la até que admitisse o que estava acontecendo entre nós. Mas eu também sabia que forçar Savannah só a faria recuar ainda mais. Eu precisava dar um passo par
— Você precisa ir para casa. — A voz de Eric soou próxima, mas parecia distante demais para mim.Minha atenção estava fixada na mulher deitada na cama, conectada a fios e monitores. Savannah estava ali, tão perto, mas ao mesmo tempo tão longe.— Eu não vou a lugar nenhum — murmurei, sem desviar os olhos dela.Eric suspirou e se aproximou mais, cruzando os braços.— Thomas… ela está sedada. Nem vai saber que você está aqui. Vá para casa, tome um banho, coma alguma coisa. Depois, você volta.— Não.Minha voz saiu firme, intransigente. Não havia a menor chance de eu sair dali.Eric passou as mãos pelo rosto, exasperado.— Cara, você está se torturando.— E não deveria? — Minha risada foi amarga. — Eu a ignorei, Eric. Se eu tivesse simplesmente... Se eu tivesse dado a ela uma chance de falar comigo… ela não teria pegado o carro daquele jeito.Minha garganta apertou.— Ela poderia ter morrido — completei. O peso dessas palavras caiu sobre mim como uma maldição. Meus dedos se fecharam cont
Eu queria rir. Rir de nervoso. Rir do absurdo. Porque era absurdo.Thomas não tinha mudado, e parecia que isso jamais aconteceria. Ele continuava sendo um homem egoísta. E ainda implorava para ser escutado, para ser aceito, mas era incapaz de aceitar a realidade que me afetava. As suas súplicas eram egoístas demais para serem ignoradas. Era uma súplica velada, coberta pelo orgulho e pela arrogância que ele usava como armadura, mas ainda assim, uma súplica.O silêncio no quarto do hospital parecia mais alto do que qualquer grito. Thomas tinha ido embora. Eu tinha pedido. Implorei, na verdade, porque ele não mudaria. Porque ele não era o certo para mim.Porque Isabelle estava certa.Mas se tudo isso era verdade… por que doía tanto?Minha cabeça latejava, mas não tanto quanto o nó sufocante no meu peito. Me afundei mais na cama, tentando ignorar o vazio que a ausência dele tinha deixado no quarto, mas era impossível. O cheiro dele ainda estava aqui. A lembrança do calor das mãos dele ai
Os dias no hospital pareceram uma eternidade. A dor física já começava a se diluir, mas a dor interna, o vazio, a sensação de que tudo estava fora do lugar... essa doía com cada batida do meu coração.Quando Isabelle apareceu para me buscar, com um sorriso frágil e o olhar cheio de cuidado, senti uma ponta de alívio. Mas logo veio a inquietação. Eu precisava de atualização. Precisava saber como estavam as coisas — na empresa, com Thomas, comigo mesma.Ela assinou a papelada com uma pressa gentil e evitou falar demais.No carro ela insistiu que eu não me preocupasse com nada. — Você vai descansar hoje. Só hoje. Me promete isso?— Isabelle, eu preciso ir até a empresa. Não sei como está a situação, ninguém me ligou, não recebi nem uma mensagem de Thomas... — Eu tentei argumentar.Ela apertou o volante e desviou os olhos por um segundo. — Você quase morreu, Savannah. Um dia. Só um dia de paz. A empresa vai continuar lá amanhã.Algo na voz dela me fez parar. Tinha algo estranho... ela
Ela estava ali. Depois de tanto tempo. Depois do silêncio. Depois do sumiço covarde que eu precisei.Mas enquanto ela me encontrou naquela livraria em Paris, eu percebi uma coisa: Eu não a merecia.Não depois do que eu fiz.Não depois do que eu causei à melhor amiga dela.Não depois de tê-la deixado no hospital, implorando para eu não destruir o pouco que restava entre nós.O problema de amar Savannah não era a intensidade. Era o peso.Ela era um vendaval disfarçado de calma. E eu… um homem que nunca soube o que fazer com algo tão real.— Eu devia ter voltado antes — murmurei.— Mas não voltou. — A voz dela era baixa, firme, doída. — E nem atendeu nenhuma das minhas ligações.— Eu estava destruído, Savannah. Eu estava com medo de voltar e ver que você... que você tinha seguido em frente.Ela se afastou um pouco, com os olhos que beirava a tempestade que estava se agitando dentro de mim. — Eu estava em um hospital, Thomas. Isabelle estava mal. Eu mal conseguia respirar. E você sumiu.
Eu não sabia qual era o caminho certo. Só sabia que precisava andar. Cada passo até o prédio onde Savannah morava parecia pesar o triplo. A última vez que estive ali, bati à porta e quem abriu foi ela: Isabelle. Ela não gritou. Não bateu a porta na minha cara. Mas o silêncio dela gritou mais alto do que qualquer acusação.Agora eu estava ali de novo, e rezava em silêncio para que ela me deixasse falar. Bati na porta. Uma. Duas vezes. Ela abriu. Olhos fixos. Braços cruzados.— O que você quer, Thomas?— Falar com você. Ela hesitou, mas abriu espaço. Entrar ali foi como invadir um lugar que já não me pertencia — e talvez nunca tenha pertencido.— Não precisa fingir que está arrependido — ela disse, firme, mas com um tremor na voz. — Não estou com raiva por mim. Estou magoada por ela.— Eu sei.— Sabe? Sabe mesmo? Porque você não a viu chorando. Não ouviu ela implorar para te esquecer. Não viu ela sofrendo calada por sua causa… enquanto tentava cuidar de mim.Meu peito afundou. O tipo d
Chegar à Montserrat Enterprises numa manhã de céu claro e mente confusa já era por si só um desafio emocional. Eu mal havia conseguido dormir. Meus olhos ainda ardiam, mas o café ajudava a manter o corpo em pé — e o coração no modo silencioso.Mas nada — absolutamente nada — me prepararia para a criatura que me aguardava logo na entrada da empresa.Um homem alto, de sorriso lascivo e terno milimetricamente alinhado se aproximou como se estivéssemos em um filme antigo — daqueles ruins, com roteiro duvidoso e protagonista detestável.— Uau, você só pode estar brincando comigo — ele disse, me olhando da cabeça aos pés, com um sorriso que fez minha espinha encolher.— Desculpe? — franzi a testa, já me preparando para escapar dali.— É com você mesmo que estou falando. Essa empresa subitamente se tornou o paraíso corporativo. — Ele deu um passo mais perto. — Sou Damon. Damon Montserrat. Seu novo chefe, ao que parece.Meu sangue gelou.Damon Montserrat.O nome bateu como um tapa. Thomas men