Tem pessoas que nascem com sorte e outras não, e sem dúvida eu pertenço ao segundo grupo.
No véspera do meu aniversário de 30 anos resolvi fazer uma viagem para a Espanha, não que eu pudesse ou tivesse dinheiro para isso, mas a verdade era que eu me sentia totalmente estagnada e sentia que minha vida estava para e sem rumo, eu precisava fazer alguma coisa para consertar a minha vida ou pelo menos tentar fazer alguma coisa para que eu pudesse viver “uma vida mais emocionante”.
Eu não ia sozinha, mas sim com a minha amiga Fabiana, a gente se conhecia desde o ensino médio e não me lembro de um momento em que ela não estivesse presente e como ela disse que ia viajar resolvi ir com ela.
Antes eu teria que pedir uma licença no meu trabalho, eu trabalhava em uma empresa de publicidade, lá eu ficava responsável pela parte financeira, eu era assistente. Consegui esse emprego depois que eu entrei na faculdade de contabilidade e acabei não me adaptando e saindo. Eu não tinha nenhum tipo de formação específica, já que eu gostava muito de arte, mas meus pais não “incentivavam” muito, eles viviam dizendo que nessa vida a única coisa que dava dinheiro eram profissões mais “tradicionais” e como eu ainda morava com eles eu tinha dançar conforme a música.
Acordei e me arrumei, pensando no discurso que eu faria quando fosse até o Sr. Martinez pedir a minha “folga” de duas semanas. Me arrumei rapidamente e corri para tomar café, quando sentei a mesa meu irmão estava sentado e me olhou sorrindo:
-Você viu que está com a blusa errada? - ele disse sorrindo
-Olhei para a blusa e ela estava ao contrário, como eu não percebi isso, dei de ombros e resolvi trocar antes de sair.
Meu pai estava sentado na mesa me olhando enquanto minha mãe colocava café para ele, me levantei e peguei uma xícara de café e me sentei de novo e dei uma mordida grande no pão e comecei a praticamente socar a comida na minha boca.
-A comida não vai fugir do prato, sabia? - Meu pai falou sorrindo, eu apenas olhei para ele e sorri
-É que eu estou atrasada - Falei com a boca cheia
-Não fala de boca cheia Lena, é falta de educação! - Minha mãe falou horrorizada
-Desculpe é que eu estou atrasada!
-Mesmo assim, você devia acordar mais cedo então! - Ela falou enquanto se sentava - Quando é que você vai criar juízo?
-Mãe, eu vou ajeitar minha vida!
-Helena, você vai completar 30 anos na semana que vem, a maioria das moças com a sua idade já tem uma carreira e uma família!
-Mas eu já tenho uma carreira e uma família!
-Filha, trabalhar como assistente na agência não conta - respondeu meu pai me olhando por aqueles óculos grossos - Sempre te incentivei a fazer uma faculdade na área da saúde ou ser advogada como sua mãe, são tantas possibilidades que você ainda pode fazer faculdade.
-Seu irmão parece ter mais juízo que você! - minha mãe falava enquanto acariciava os cabelos do meu irmão.
Eu comecei a sentir minha garganta seca e tomei um longo gole de café, eu sentia ele queimar a minha boca, mas eu não estava mais disposta a escutar aquela conversa, eu estava de saco cheio das pessoas ficarem dando opinião na minha vida, como se tudo não fosse complicado.
-Eu me levantei e comecei a caminhar até a porta
-Onde você vai? - Minha mãe perguntou
-Trabalhar!
Peguei minha bolsa e sai, eu me sentia uma fracassada! Eu só não podia admitir isso na frente deles, eu estava cansada dessas comparações o tempo todo. Minha mãe era uma das melhores advogadas da região e meu pai era um cirurgião famoso, sim eu era o fracasso da minha família! Todos tinham profissões promissoras na minha família, desde os meus avós até meus primos, tinhamos juízes e até mesmo professores universitários! Não era a toa esse meu sentimento e por mais que eu tentasse eu não conseguia seguir com essas profissões e com o passar dos anos o peso era maior e a pressão mais constante. Entrei no ônibus e coloquei meus fones de ouvido, entrei no meu mundinho, as pessoas me olhavam, mas eu não ligava pois era meu momento mais relaxante do dia.
Olhei no meu relógio e vi que eu estava atrasada, mas não tinha nada que eu pudesse fazer já que eu estava no ônibus e eu tinha que pegar duas conduções até meu trabalho.
Ao chegar na porta entrei correndo e ouvi pequenas risadas, olhei para trás e não vi ninguém, foi quando a Karina apontou para mim e fez um gesto puxando a própria blusa.
-Puta que pariu! - Falei e coloquei a mão na cabeça
Eu olhei para baixo e lá estava ela, minha blusa vestida ao contrário. Coloquei a bolsa da frente e corri até o banheiro mais próximo, conseguia escutar as risadinhas e os comentários. Eu entrei em uma cabine e tirei rapidamente a blusa, foi quando eu escutei a porta abrindo e a voz de duas mulheres.
-Você viu quem chegou? A nojenta
-Eu não entendo como uma empresa grande deste jeito ainda contrata pessoas assim! Ela não tem qualificação nenhuma, chega atrasada e ainda por cima é toda desajeitada, parece que não liga para a própria aparência! Parece que foi adotada, eu conheço a prima dela a Carolina, ela é modelo sabe? Super sucedida e o oposto dela! Ela parece uma princesa, se eu não trabalhasse no RH eu não acreditaria que as duas eram da mesma família.
Eu sai e elas me olhavam assustadas, eu fui até o espelho e ajeitei o meu cabelo olhei para as duas e disse:
-Bom dia, meninas!
-Bom dia, He..lena.. Tu.. do bem? - Gabriela me olhava sem graça
-Estou ótima! Bom preciso ir, bom trabalho!
Peguei minhas coisas e saí, eu sabia o que todos pensavam sobre mim e era verdade eu só consegui esse trabalho por conta da amizade do meu pai com o dono, eles eram amigos de infância e por isso eu me sentia ainda pior e tentava compensar minha falta de “habilidade” com muito esforço e horas extras.
Ao chegar na minha mesa todos me olhavam sorrindo. A responsável pelo RH estava me esperando, eu me levantei e passei por eles como se fosse um cordeiro sendo enviado direto para o abatedouro. Já havia me acostumado com os olhares, mas dessa vez fiquei surpresa, pois não era comum o RH vir buscar um funcionário e eu já esperava o pior, já que Pedro me detestava e não porque eu tivesse feito alguma coisa além de ser eu mesma, mas ele tinha ressentimentos porque foi dispensado pela minha irmã e achou que a culpada era eu, já que quando éramos crianças nós fomos amigos e em algum momento acabei me apaixonando por ele, o que dificultou a minha vida. Eu sei parece loucura, mas eu ainda continuo apaixonada por ele, minha irmã era muito mais bonita e sucedida que eu, ela era apenas 2 anos mais velha que eu e viajava o mundo, ele tentou namorar com ela no ensino médio, mas foi dispensado com a desculpa de que ela não podia namorar com ele, porque a “irmãzinha” dela era apaixonada e que ela n
-Você só pode estar de brincadeira né? - disse ele sorrindo -Não mesmo! Eu estou cansada de ter que ficar provando as coisas o tempo todo! Quando eu entrei na empresa eu fazia esse mesmo interrogatório toda semana, a diferença era que o seu pai acreditava na minha palavra e sabia do que acontecia na empresa - disse revoltada -Você quer dizer o que? Que eu não sei o que acontece na minha empresa? - ele disse meio alterado -Exatamente isso, porque se você soubesse não estaria me questionando sobre isso - respondi -Que?!?! -Olha, não quero faltar com respeito, mas para mim isso já é demais para mim - respondi -Vou chamar o RH - ele disse enquanto pegava o telefone e discou o ramal do RH. -Eu me levantei rapidamente e apertei o botão para desligar o telefone, ele me olhou pasmo e eu respirei isso, fiz tudo em um impulso (umas das minhas “qualidades”). -O que você pensa que está fazendo?!?! - Ele respondeu colocando o telefone no gancho e dando a volta na mesa até ficar de cara c
-O quê???? - perguntei indignada -Lembra no primeiro ano? Você era apaixonada por mim - ele disse sorrindo e me soltando -Você deve estar maluco! - respondi tentando colocar a cabeça no lugar para tentar sair dali o mais rápido possível -Eu lembro bem, sua irmã me disse que você era apaixonada por mim e logo depois você parou de falar comigo! - ele disse com uma voz fingindo que estava chateada -Eu parei de falar com você??? Você que parou de falar comigo, tenho certeza que você só falava comigo por causa da Sophia! - falei ressentida -Eu não sou assim, eu gostava de você e nunca falei com você por interesse! -Sei, você sumiu e me ignorou e anos depois saiu com a minha irmã -Eu só não queria te machucar e sinceramente não sabia como conversar com você! Eu tinha medo - a voz dele parecia ser sincera -E preferiu me ignorar ao invés de falar isso? -Me perdoa! Eu não sabia que você tinha ficado magoada com tudo isso e em relação a sua irmã, nós só jantamos juntos e não aconteceu
Após algumas horas em um vôo extremamente desconfortável, eu sabia que devia ter me preparado melhor antes de tomar essa atitude, meu corpo estava todo dolorido, só de pensar na possibilidade de alguém vir atrás de mim, era um medo que eu nunca senti antes. Minha família sempre foi muito amorosa, mas não eram muitos preocupados comigo já que eles me consideravam a filha "rebelde", durante anos eu cresci sendo comparada constantemente com os outros "jovens" da minha família. Eu já estava acostumada a lidar com as críticas e a passar despercebida, porém agora que eu era o foco, não sei como isso funcionaria na prática. Tentei afastar rapidamente esses pensamentos, esse não era um bom momento pra ficar divagando sobre minha vida, eu precisava urgentemente achar um local para ficar e tentar me esconder até toda essa história ser esquecida ou ele escolher uma outra pessoa. Ao descer do avião, senti que minhas pernas estavam doloridas por conta do vôo, eu tentei caminhar o mais normal poss
Ao chegar na casa do cliente da Fabi, fiquei impressionada, eu não podia imaginar ver uma casa tão luxuosa como aquela, parecia um conto de fadas. Naquela hora eu fiquei imaginando o que aquele cliente deveria fazer para ter uma casa daquele jeito? Era tão imponente que eu me senti deslocada só de passar pela porta de entrada, fui recebida pelos funcionários que me trataram bem e me levaram para o meu quarto, que era tão impressionante quanto a casa em si. Era em tons claros e a cama parecia daquelas que vemos em filmes e a vista da sacada, era de arrancar suspiros de qualquer um.Eu banho em uma enorme banheira e finalmente comecei a pensar que talvez pudesse me sentir segura naquele lugar, tenho certeza que ninguém me encontraria lá, a minha família possuía algum dinheiro, mas não a ponto de termos uma casa daquela. Após o banho recebi uma mensagem dizendo que o dono daquela mansão queria me conhecer, meu corpo estremeceu, o que eu vestiria para encontrar com o cliente da Fabi? Sant
Após aquele surto patético de tosse, eu tentei recuperar um pouco da dignidade que eu tinha e continuei ali na mesa como se fosse a coisa mais normal do mundo.-Você tem certeza que está bem? - Ele sorria e se divertia -Tenho… - Falei com a voz meio presa, tentando evitar com que eu tivesse outra crise de tosse-Soube da sua situação… É complicado… - Ele agora cutucava a comida com o talher, como podia uma pessoa ser tão elegante assim, eu estava hipnotizada por cada movimento daquele homem - O que você vai fazer?-Desculpe.. o que? - Eu parecia estar em outro mundo, porque não conseguia acompanhar a conversa - Fazer o quê?-Seus pais Helena, o que você vai fazer com toda essa situação - Ele me encarava, ele parecia estar curioso-Não sei… - eu agora que cutucava a comida, era algo que de fato eu precisava resolver, como eu voltaria para casa? -Eu estou na mesma situação… -Mesma situação?? - Olhei para ele curiosa Sim, tenho que me casar em menos de um mês - Ele estava com um olhar
Eu comecei a rir, ele me segurava pelo braço com uma expressão séria.Se deve tá de brincadeira né? - Eu me joguei em um pequeno sofá, ele me seguiu e agora estava de frente para mim-Não! Porque eu estaria? Eu preciso de uma nova e você de um motivo para sair dessa situação! Ninguém desconfiaria de nada - ele me olhava com os olhos brilhando-Isso não iria dar certo!!! O que eu ia falar para minha família? Que me apaixonei por um estrangeiro e me casei? - eu fechei meus olhos e encostei a cabeça no sofá, eu sentia tudo girar.-Não sou estrangeiro! Moro na mesma cidade que você, só estou aqui… de férias? - Ele se sentou ao meu lado e pegou minha mão - Pensa só nisso, iríamos resolver a nossa situação e bem depois de algum tempo a gente poderia se divorciar e ninguém saberia de nada!-Você só pode estar maluco? Isso tudo é loucura! - Eu abri meus olhos e olhei para ele chocada - Olha que proposta… Casar com um cara que eu sou apaixonada, mas não me ama ou casar com um desconhecido? Não
A cerimônia foi simples e rápida, com apenas alguns presentes… Eu estava fora de mim, não entendia como tudo aquilo tinha chegado a um casamento com alguém que eu mal conhecia, apesar dos elogios e das felicitações eu só queria terminar tudo o mais rápido possível.Após a cerimônia, fomos para um hotel. Eu estava em pânico e não sabia o que estava por vir, maldita desatenção! Eu estava tão angustiada com a situação que assinei aquele maldito contrato e nem li nada, não peguei uma cópia… Droga! Por isso que minha mãe e a Fabiana sempre brigavam comigo por assinar qualquer coisa e não pegar uma cópia. Eu olhava para o luxuoso quarto de hotel em que estávamos, ele sorria e me observava. Eu olhei de volta furiosa.-Você vai dormir no chão!-Querida! Você acha mesmo que eu vou dormir no chão? - Ele se jogou na cama e abriu os braços - Se quiser dormir no chão fique à vontade, mas eu vou dormir na cama… E de preferência com a minha mulher! - ele me encarava-Vai sonhando que eu vou dormir c