Três perguntas tinham sido cientificamente respondidas pela ginecologista do outro lado da mesa, dentre as quais, como era possível Judite ter sangrado como em menstruações normais, nos dois meses passados. A resposta foi que não passou de uma confusão normal. Segundo ela, para algumas mulheres, os sintomas de uma gravidez podem ser dores abdominais e sangramento que, se por acaso ocorressem em simultâneo, poderia ser facilmente confundido com uma menstruação normal. Acrescentou que não era tão comum que acontecesse duas vezes, mas que o facto da quantidade e textura do sangue dela terem sido diferentes na do segundo mês, Fevereiro, deixava claro que era realmente uma coincidência consequente do feto que se albergava em seu ventre.
Eu escutava tudo atentamente. Estranhamente, meu coração batia mais que o normal e não conseguia parar de bater com o pé no chão de forma frenética, movendo meus dedos pela barba ou pela minha própria perna. Por outro lado, Judy
Foram precisas duas semanas para reunirmos os representantes das duas famílias na casa de Judite. Um almoço foi organizado na tarde de Sábado, ao qual compareceram 9 pessoas, para além de nós dois e a dona da casa. Do meu lado, minha mãe, minha avó, meu irmão e dois tios de cada lado da família. Do lado dela, seus avós, um tio paterno e uma tia paterna, a mais velha.Estavamos todos reunidos na sala, onde murmúrios de ambas famílias se juntavam no alto. De um lado, eu e a família dela e vice versa. Meus olhos estavam nela, quando conversava animada com minha mãe e minha avó. Seu vestido justo azul cobria seu corpo, caindo ligeiramente amarrotado em seus joelhos. As mangas curtas deixavam mais de sua pele clara amostra. O penteado firme no topo de sua cabeça puxava seus olhos, fazendo-os inclinados e menos redondos que o normal. Suas pernas estavam dobradas, sua coluna recta e suas mãos largadas bem próximo de sua barriga ainda pequena. O brilho de seu
Irritada por não conseguir retornar ao sono que tinha perdido havia meia hora, me deitei de costas, cobri os olhos com o antebraço e fiquei daquele jeito. Pensei nos últimos acontecimentos do dia anterior, tendo despertado bruscamente com a lembrança daquela data.Durante o jantar, comentei com Lio que teria uma consulta no dia seguinte, na qual saberiamos o estado do bebé. 5 meses!, foi o que gritei, super feliz, e ergui a mão para que ele batesse. O ecoar do estalo provocado por nossas mãos foi o que antecedeu ao meu despertar definitivo. Arranquei o lençol de cima de mim e pulei da cama tão rápido que precisei parar por alguns segundos e recuperar o equilíbro. Deviam ser 6 horas e quaisquer minutos, então Lio estaria na casa de banho, para onde corri alegre.Assim que abri a porta, me deparei com ele de frente para o enorme espelho rec&eac
— Pronta? — sua voz terna veio até mim, quando nem conseguia sossegar minhas mãos.— Não! — olhei para o homem encostado no canto à alguns passos da maca — Aproxima. — quase choraminguei para ele.— Vou trazer algo para ele se sentar. — disse antes de arrastar a cortina e passar para o outro lado da sala.Eu observava tudo com os olhos arregalados. Meu peito parecia uma caixa de som super alto. Podia sentir as fortes batidas influenciarem no meu paladar, deixando-o mais azedo de tão nervosa que estava. Apertei os olhos e aprumei os lábios, quando, poucos segundos depois, a mulher vestida de branco e verde se aproximou com uma poltrona branca carregada por suas mãos e disse:— É só colocar perto da maca, desde que seja do lado oposto aos aparelhos que vou usar. — instruiu enquanto passava a poltrona para Lio, que a colocou bem perto da cama, de lado para mim e de um ângulo perfeito para a tela escura.Olhei e me mantive em silêncio, porém, para meu espan
— Judy! — gritei para que ela parasse, mas parecia possuída por algum demônio surdo.Em plena madrigada de quinta, ambos nús em lençóis frescos, depois de uma variação tão rápida de seu humor que mal consegui acompanhar, me vi deitado sob uma mulher super irritada com algo que, sinceramente, me tinha escapado da percepção. Suas mãos pareciam máquinas de porrada. Cruzei os antebraços para impedí-la de bater em meu rosto, mas era quase inutil.— Ei! — gritei mais do que devia e agarrei nos seus braços.Com o susto, parou e ofegou exaustivamente. Pude ler minha morte em seus olhos enfurecidos, para os quais decidi que olharia até sentir segurança para soltar seus braços.— Me deixa! — tentou arrancar seus braços do meu aperto, mas não conseguiu.— Está maluca?— Agora eu estou maluca, Lio? — tentou novamente, fracassando — Eu te pergunto algo e você me diz esquece isso? —
15 de SetembroTrês meses. Naquele dia, fazia 3 meses desde que eu tinha começado a trabalhar como diretor adjunto da área de segurança numa empresa multinacional. Por sugestão do meu antigo chefe, acabei recebendo uma chamada no meio de uma tarde, através da qual fui convidado a comparecer ao estabelecimento assim que possível para uma entrevista. Era uma oportunidade que não pensei que teria tão cedo e nem daquela forma, mas veio até mim como superação dos desejos que sussurrei nos meus momentos privados. O salário chegava quase a dobrar o que eu ganhava e, depois de um rápido acerto de contas, percebi que era a oportunidade perfeita.Os meses passaram em rotinas cada vez mais fáceis de acompanhar. Os sintomas da gravidez de Judite me deixavam acostumado, porém, cada dia mais ansioso com o nascimento previsto para finais de Setembro. Com uma parte de nossos salários e o dinheiro da escola, deu para arrumar um quarto para os dois, devidamente
No meio do meu desespero, tentei me acalmar seguindo um raio laranja carregado que batia na parede oposta a mim, mas não resultou. A sala estava com quase uma dúzia de pessoas vestidas de um verde irritante e enjoativo. Quando não gritava, grunhia com uma raiva destilada da dor do tamanho do mundo que só crescia com o passar dos segundos. Transpirada, tensa, com o estômago congelado e dor das contrações.— Lionel! — grunhi baixinho, pois queria que ele estivesse ali, mas não estava.— Estão os dois de cabeça para baixo? — a mulher entre minhas pernas se virou para trás.— Sim. Prontos para o parto normal, como ela quis que fosse. — minha ginecologista assentiu e sorriu, visivelmente nervosa e confusa com minha decisão absurda.Olhei para todos com ódio antes de me deitar e preparar para gerir a agressividade de tudo que sentia. A dor ficava cada vez mais insuportável, tanto que respirar pelo nariz me parecia e
O topo da minha boca estava seco, então passei lentamente a língua amarga enquanto girava meus olhos nas órbitas. Estava com tonturas e o estômago vazio, por isso preferi me manter de olhos fechados, mesmo que tivesse acordado havia bons minutos.O lugar estava frio, razão pela qual me cobri até o pescoço e suspirei pesado. Ainda não tinha recuperado completamente a consciência nem as forças, mas assim que o fiz, abri os olhos como num despertar e sussurrei duas palavras para o quarto vazio:— Meus bebés. — minha fala desapareceu à um palmo da minha boca.Meu olhar se marejou quando não me lembrei se tinha conseguido levar o segundo ao mundo. Com o peito apertado, comecei a chorar baixo e a tentar me recompôr. O ruído da porta sendo aberta teve minha atenção. Era minha mãe e trazia duas sacolas consigo.— Olá! — seu sorriso me trouxe o aconchego de casa.— Mamã. — suspirei e sequei os olhos — Como é que ele
— Cuidado...— baixei mais um pouco o ombro para que ela se apoiasse — Isso!— Jesus, estou cheia de sono. — sua voz estava manhosa e rouca pelo cansaço.Em silêncio, nos dirigimos para o quarto dos gêmeos para colocá-los em seus berços, pois já dormiam. Fazia uns quatro dias que não entrava ali, desde que fomos analisar o último trabalho feito pelo carpinteiro. Mas, céus, entrar naquele lugar com os dois pequenos em meus braços era uma sensação diferente. Não tinha conseguido pregar o olho na noite passada, porque as coisas tinham acontecido de forma difícil de acompanhar, principalmente para um homem que não tinha ido muito além de aprender apenas a lidar com os últimos sintomas da mulher ao seu lado.— Espera! — exclamou, me fazendo parar onde estava, e seguiu lentamente até a janela de alumínio na parede de frente.— Ainda está com muita dor? — balancei os braços num ato automático, mesmo que eles estivesse