O peso do sangue
Giovanni e Bruno permaneceram sentados, aguardando qualquer notícia e a chegada de seus companheiros. O tiroteio na ponte já havia sido noticiado em várias plataformas.Algumas horas se passaram até que ouviram o portão se abrindo. Imediatamente, sacaram suas armas e saíram com cautela. Duas motos entraram no pátio. Maurício e Matteo chegaram visivelmente cansados após a viagem tensa.— Pai! — gritou Bruno, correndo na direção deles e o abraçando.Maurício desceu da moto, e finalmente Bruno o soltou. Matteo estava cumprimentando Giovanni, que exibia uma expressão de tristeza profunda.— O que aconteceu? — perguntou Matteo, preocupado.— Perdemos o Marco e o Lorenzo. — As palavras de Giovanni saíram pesadas.— Então foram eles na ponte... — Matteo fechou os olhos por um momento, processando a informação.— Notícias de Tony e Becca? — perguntou, a preocupação evidente.— Nada ainda.Reorganizando destinosAntony encontrou Rebecca parada, os punhos ainda cerrados, segurando a faca ensanguentada.Ele tocou suavemente seu ombro e, ao se virar, Rebecca não conseguiu conter as lágrimas. Antony retirou a faca de sua mão.— Você quer parar com isso? — perguntou Antony, ajudando-a a se sentar.— Não vou parar enquanto não conseguir fazer justiça. — respondeu com firmeza, mas a voz carregada de dor.— Você não está bem, Rebecca. Olha o seu estado. Precisa deixar essa história pra trás. A gente vai dar um jeito nisso. — implorou.— Tony, não insista. Já tomei minha decisão. — ela olhou para ele, os olhos cheios de lágrimas. — Eu perdi meus tios. O que mais posso fazer?— Eu sei que é difícil, mas estou preocupado com você. Isso está te destruindo.— Eu perdi minha mãe por causa de uma pessoa maluca. Perdi minha casa, descobri que meu melhor amigo é meu irmão, que seu pai é meu tio, e que meu pai está envolvido em coisas terríveis. Encontrei uma nova família, me senti acolh
Raízes da dor Já passava das nove horas quando Rebecca se levantou e foi em direção ao porão.— O que vai fazer? — perguntou Giovanni, dando um susto nela.— Vou bater um papo com a nossa convidada. — respondeu, sem demonstrar surpresa, como se fosse algo normal.— Não devia estar descansando?— Não consigo, e pelo visto, nem você. — disse com um sorriso no rosto.— Realmente não consigo, ainda mais sabendo que você tem algo planejado.— Então vem comigo, pode se divertir também.— Você... — disse Giovanni, apontando para ela e rindo. — É igualzinha ao Lorenzo. A gente sempre se preocupou com o fato dele ser ele — riu. — Mas às vezes é necessário ter um "cachorro louco" na família.— Então eu sou igual ao Lorenzo, um "cachorro louco"? — disse, tentando conter o riso.— Sim, mas obedece mais do que ele.Os dois riram e desceram para o porão.— Não vou tirar essa diversão de vo
No silêncio da noite Era noite, e o céu escuro revelava apenas as estrelas.Rebecca estava em frente ao restaurante iluminado.Havia pessoas entrando e saindo, conversas animadas ecoavam pela rua, e, visivelmente, a noite estava sendo divertida por ali.Rebecca se aproximou e ficou parada diante da janela de vidro, observando a movimentação no interior.Gente sendo servida, crianças correndo, jovens dançando… até que ela a viu. Nesse instante, tudo ao redor pareceu parar.Ela estava linda, sorrindo, transbordando alegria.Samantha conversava animadamente com as pessoas, e todos queriam um pedaço de sua atenção.Rebecca reconheceu alguns de seus vizinhos e sentiu um gelo percorrer seu corpo ao ver, ao fundo, Victor Milani passando.Desesperada, Rebecca começou a bater na janela, gritando:— Mãe! Mãe! Não, por favor!Mas seu desespero foi inútil; ninguém parecia vê-la.Parou por um instante ao ver Victor olhar direta
Sem escapatóriaA rua no Queens estava vazia e escura, a chuva caía suavemente, tornando a noite mais fria.Rebecca e o pai já haviam chegado há algum tempo, mas ela ficou parada, segurando o volante ao ver o restaurante, que estava ali, abandonado e em silêncio.Ver o estado do restaurante a fez sentir uma pontada no peito, e uma lágrima rolou pela sua face, mas ela rapidamente se controlou. Sabia que não podia se deixar levar por sentimentos naquele momento.Rebecca foi soltando o volante, do qual ficou agarrada por alguns minutos. Agora, com as mãos no colo, soltou o ar, como se estivesse liberando algo que estava preso dentro dela há muito tempo.Giovanni, ao seu lado, ficou em silêncio. Se fosse qualquer outra pessoa, ele saberia o que fazer, mas era sua filha, a “menininha” dele, machucada, perdida, mergulhada em sentimentos tão profundos que, por vezes, ele conseguia ver a dor que a consumia.Rebecca tirou o cinto de segurança e saiu do carro. Caminhou devagar, hesitante, até f
A família Catalano estava reunida novamente na cabana, após tanto tempo. Estavam exaustos e, finalmente, podiam sentir o peso do luto.Giovanni, sendo um homem influente, conseguiu trazer os corpos de seus irmãos para a Itália, onde receberam todo o cuidado necessário.A família se reuniu no crematório. Giovanni e os outros mandaram fazer urnas para as cinzas, para que cada familiar pudesse levá-las para casa. O costume da família sempre foi enterrar os entes queridos ao lado dos demais, mas Rebecca pediu ao pai que permitisse que os familiares levassem as urnas consigo. Ela explicou que, devido aos negócios que haviam afastado tanto a família ao longo dos anos, agora seria importante que pudessem, finalmente, levar seus entes queridos consigo, como uma forma de se reconectar com o que havia sido perdido.Giovanni começou a reconstruir a mansão mais uma vez. Durante esse período, ele cuidava dos negócios junto com seus filhos.Eles celebraram o casamento de Rebecca e Matteo, uma cerim
Victor Milani nunca imaginou que a sua vida acabaria dessa forma. Filho de um mafioso, foi moldado para seguir os passos de seu pai, cumprindo um destino que ele nunca escolheu, mas que foi imposto a ele desde o momento em que nasceu. Sua mãe, Lia, foi a força por trás de tudo, manipulando-o com maestria, incutindo-lhe um ódio cego pela família Catalano. A vingança que ela desejava por anos foi algo que ela o usou para executar, sem que Victor soubesse que seria apenas uma peça no jogo de poder dela.Quando matou a mãe de Rebecca, ele se sentiu realizado, acreditando que estava cumprindo um dever que sua mãe esperava. Mas logo o destino lhe mostrou sua verdadeira face. Rebecca e seu pai, Giovanni, não ficaram passivos. Eles não apenas se vingaram, mas tiraram tudo o que Victor tinha. Sua família foi destruída, suas propriedades tomadas, e o que restou dele foi uma prisão interna muito mais profunda do que qualquer cela.Dentro da cadeia, Victor vive o peso de suas
Se antes ele fora um homem poderoso, temido e respeitado, agora estava reduzido a nada mais que uma sombra do que um dia fora. Os outros prisioneiros sabiam quem ele era, e sua fama de mafioso e assassino só aumentava os ataques que sofria. Mas agora ele não tinha mais a força para reagir. Seus rivais na prisão o viam como um alvo fácil, e todos os dias ele era alvo de agressões físicas e palavras cruéis, como se quisessem provar que, sem o poder de antes, ele não passava de um homem comum.Victor já não tinha mais a resistência para se proteger. Cada espancamento o deixava mais frágil, não só fisicamente, mas emocionalmente também. Ele se sentia cada vez mais impotente, incapaz de lutar contra as lembranças dolorosas do que havia feito, e da perda de sua família, que agora o assombrava constantemente. As dores do corpo eram uma coisa, mas as da mente eram ainda mais insuportáveis. Em muitos momentos, ele sentia como se o peso da culpa fosse insuportável, e a única forma de
Com o tempo, a dor das perdas e o peso da culpa se misturavam aos sentimentos que Victor, na prisão, começava a descobrir sobre a verdadeira natureza de sua mãe, Lia. Antes, ela era a mulher que o orientara, que lhe passara a vida que ele deveria seguir. Ela o havia moldado, o fizera acreditar que a lealdade a ela era o único caminho. Mas, conforme os dias passavam e ele refletia sobre tudo o que vivera, algo se desvelava em sua mente, e um novo sentimento começava a surgir dentro dele: desprezo. Aquelas memórias distorcidas, dos momentos em que ele acreditava que Lia era sua maior aliada, agora eram eclipsadas pela verdade que se tornava cada vez mais clara. Victor começava a ver a mulher que sua mãe realmente fora, e o que ele sentia não era mais admiração, mas repulsa. Lia, que um dia ele viu como uma mulher forte e determinada, na verdade, era movida pela vaidade, pela inveja e pelo desejo insaciável de uma vida de luxo e poder — coisas pelas quais ela estaria disposta a fazer qu