Segredos à vista
No carro, o silêncio era total. Marco tirou o envelope do bolso e analisou as fotos—várias imagens de sua esposa infiel. Sentiu-se pequeno, quebrado, fracassado, um grande idiota. Ficou pensando onde poderia ter errado para aquilo estar acontecendo.Sempre fez suas vontades, a tratava como uma rainha, sempre a mimou, deu-lhe tudo de bom e do melhor. Mas havia falhado em algo. Só isso poderia explicar a traição.A dor da traição o estava fazendo se reduzir a nada em questão de minutos. Ele demoraria a entender que nada daquilo era culpa dele, mas, naquele momento, estava destruído demais para compreender qualquer coisa.Maurício estava sentado no banco da frente com Giovanni. Ambos observavam Marco pelo retrovisor. O silêncio era tão denso que começava a incomodar. Maurício virou-se para trás e estendeu a mão. Marco entregou o envelope sem hesitar. Maurício olhou as várias fotos, respirou fundo e, em silêncio, guardou-as novamente no enDesconstruindo nósEstavam voltando para casa, animados e conversando.— Nunca imaginei isso — disse Giovanni, curioso. — Você é muito controladora. Se pudesse, eles não sairiam de casa para nada.— É, já sei que não posso prendê-los, então vou deixar que explorem seus desejos.As crianças corriam, brincando de pique.— Mudanças demais para pouco tempo fora — retrucou Giovanni.— Eu precisei dessas mudanças. Estava sofrendo com sua falta e passando por uma crise. Tudo isso também afetou eles. Todos nós precisávamos fazer algo. As crianças precisavam de uma rotina que incluísse algo que gostassem e também que fizessem juntos. E eu preciso fazer algo também, por isso estou abrindo o restaurante.— Achei que tivesse deixado essa história para lá — falou ele.— Giovanni, você sempre soube que eu queria abrir um restaurante. Por que está agindo assim? Não quero ficar em casa apenas cuidando das crianças e d
Caminho sem voltaGiovanni ficou parado, observando Samantha sair e fechar a porta com força.Ele sabia que ela estava furiosa; ir atrás dela só pioraria tudo o que já estava uma merda.Preparou um café forte e tomou uma ducha, sentando-se depois no escritório. Ficou olhando as fotos, relendo as informações. Samantha não havia mentido. Estava tudo ali.Como ele não havia percebido que havia algo a mais no envelope além das fotos?Como pôde se deixar consumir pelo ciúme e dizer coisas tão horríveis para a mulher que tanto amava?Sentiu-se mal com tudo aquilo, mas já não havia como voltar atrás. Agora, restava torcer para que, no dia seguinte, conseguissem se entender.A noite parecia mais longa do que o normal.Como era domingo, as crianças iam dormir até tarde.Giovanni subiu para o quarto e encontrou Samantha sentada na cama. Visivelmente, a noite também fora longa para ela. Os olhos inchados de tanto chorar o faziam se sentir ainda mai
De volta a fogueira Todos escutaram atentamente toda a história de Giovanni e Samantha.Antony estava de cabeça baixa, visivelmente chateado.Já Rebecca estava tranquila. Agora sabia que alguns de seus sonhos eram, na verdade, memórias e que algumas de suas memórias eram reais.Claro que as mentiras precisavam acabar por ali. Ela não queria entrar na família sem ter uma confiança genuína, e essa história de “mentir para o seu próprio bem” não iria colar.Giovanni, que tinha saído, voltou com uma caixa. Ele a entregou para Rebecca e se sentou novamente. — O que é isso, pai? — Algumas coisas que sua mãe me mandou. No armário embaixo da escada tem várias coisas, até as joias que ela deixou estão lá guardadas. — Pai, fico feliz que muitas das minhas memórias sejam reais. Sei que minha mãe foi amada, apesar do final de vocês. Mas eu não quero entrar nisso se houver mentiras. Já chega disso. Somos adultos a
Momentos de descansoOfegantes após muito treino, sentaram-se no chão, beberam água e descansaram por um momento.Apesar da exaustão, ela se levantou e voltou a golpear o saco de pancadas.Era admirável a força e o foco dela. Estava um pouco enferrujada, mas sabia que era só questão de tempo até voltar ao ritmo.Os dias foram passando, e, a cada um deles, Matteo estava se tornando mais rigoroso com ela.Não importava o quanto ela melhorasse: ele não aliviava. Sempre encontrava algo para criticar.No início, Rebecca estava cheia de garra, mas, com o tempo, foi se sentindo cada vez mais desanimada.Sabia que seu irmão torcia para que ela desistisse, mas não queria ceder. Estava realmente decidida a entrar nos negócios.Rebecca aprendeu e melhorou rapidamente. Já sabia atirar, aprimorou suas habilidades no boxe, o que também a fez evoluir consideravelmente no muay thai, esporte que sempre praticou. Agora, só precisava aprimorar os tir
Tentação proibidaJá era tarde quando Rebecca acordou, de ressaca. A dor de cabeça estava insuportável.Ela levantou-se, foi até a cozinha e viu a bagunça que ali estava. Queria arrumar, mas estava muito mal.Sentiu vontade de ir ao barco e decidiu que iria. Encontrou Matteo fazendo café, enquanto seu irmão ainda dormia.— Bom dia. — disse ela, quase com esforço.— Nossa, você está mal mesmo. — respondeu Matteo ao vê-la.— Você é quem está em melhor estado. Como consegue?— Eu só não bebi tanto como vocês.— Eu sinto o abraço da morte.— Bebe isso aqui, exagerada.Matteo falou, rindo, enquanto colocava uma xícara grande cheia de café. Rebecca estava debruçada sobre a mesa, levantou-se devagar e começou a beber o café.Matteo se virou para o fogão, pegou uma travessa e a colocou no forno. Em seguida, pegou uma panela, colocou algo dentro, ligou o fogo e começou a cortar legumes.
Desejos proibidosRebecca acordou cedo, se preparou e foi correr. Fez algumas séries de abdominais e, depois, bateu no saco de boxe. Estava completamente sozinha, e estava adorando.Sem seu irmão enchendo o saco, sem distrações, sem ninguém reclamando, sem Matteo... porra, Matteo.Ela parou de bater por um momento. Estava difícil. Toda hora ele vinha à sua mente. Também pensava na mãe. Memórias da infância, fragmentos de sua vida, tudo se misturava com aquela noite maldita. Aquilo era um inferno.Melhor voltar a bater com mais força, pensou.O tempo passou e ela nem percebeu, estava tão concentrada que não ouviu os passos de alguém se aproximando.— Filha? — chamou Giovanni.— Não te vi chegar. — disse ela, parando finalmente.— Percebi. Precisa pegar leve. Amanhã vamos a Buffalo, lembre-se disso.— Pai, eu falei que não vou parar os treinos. É o que me deixa calma.— Tudo bem, mas não exagera,
O primeiro passo O dia estava um pouco nublado, e o vento soprou frio pela janela, mas, mesmo assim, ele não voltou para a cama. Vestiu roupas quentes e saiu com sua bicicleta.O caminho estava ficando escuro. Tentou pedalar mais rápido, mas não conseguia acelerar.De repente, caiu. Ao abrir os olhos, o céu estava totalmente negro. Estava cercado por um gramado alto. Sentou-se e olhou para trás, vendo uma casa que logo reconheceu: era a oficina de seu pai. Ouviu gritos de socorro. Levantou-se e correu para a porta dos fundos. Abriu-a, entrou correndo e se deparou com o corpo do pai, deitado sem vida na poça de seu próprio sangue. A porta larga, que dava passagem para os carros, estava aberta. Viu um carro se distanciando e correu atrás dele, o mais rápido que podia, mas não conseguiu alcançá-lo. Parou e tentou voltar para a oficina, mas ela já não estava lá. Olhou ao redor e se deu conta de que estava sozinho, no escuro.Matteo acordou, mais um p
Rastro de fúria Estava chovendo muito, Matteo estava com lama até os joelhos, ao tentar sair acabou afundando deixando a lama na cintura.Parou por um instante e viu de longe um carro vir em sua direção, passou por ele jogando lama em seu rosto e seguiu em frente.Matteo achou uma raiz e se esticou até alcançá-la, segurou firme e começou a fazer força para sair da lama, aos poucos estava saindo. Tiros ecoaram, depois ouviu cantada de pneus, já livre da lama se pôs de pé a sua frente havia árvores e mato, começou a andar na direção de onde ouviu os tiros, avistou a oficina, começou a correr, quanto mais corria mais longe a oficina ficava.— Matteo, Matteo! — Rebecca o sacudia.Ele abriu os olhos. Era só mais um dos seus pesadelos.— Estava se mexendo muito. Falou até enquanto dormia.Ele levantou-se, foi ao banheiro e tomou uma ducha. Ao sair, Rebecca estava esperando por ele, sentada na cama. Ele jogou a toalha no canto e se deitou novamente, desta vez de costas para ela.— Me deixa