Prólogo.
O pedido.
07 de janeiro, 2017.
Ao longe no horizonte, como se fizesse parte de algum quadro pintado por mãos humanas, a maior estrela do sistema solar dava os seus últimos resquícios de existência naquele dia. Logo, com toda a sua glória e imponência, a lua cheia apareceria para que todos a contemplassem com devoção. Contudo, enquanto isso não acontecia, o céu, antes tomado pela imensidão azul-celeste, encontrava-se tingido por uma graciosa paleta de tons papéis que iam desde um tom rosado um pouco mais vivido ao laranja-avermelhado mais apagado.
— Isso é tão lindo, amor. — Ana Júlia sussurrou, em um suspiro feliz.
Alguns fios do seu cabelo dourado, antes presos em um rabo de cavalo com perfeição, foram levados para trás quando a brisa salgada e bem-vinda do mar se fez presente mais uma vez. Era uma bonita e calma tarde de quinta-feira, então a praia encontrava-se mais vazia e menos barulhenta que aos fins de semanas.
— Eu queria eternizar essa semana para sempre. — Continuou com suavidade, sem tirar a sua atenção do sol se pondo sobre o horizonte no mar. — Não é perfeito? — Inquiriu no mesmo tom para a outra mulher sentada ao seu lado.
Marina riu baixinho do jeito incorrigível da sua namorada. Apesar de ter quase 24 anos, Júlia sempre possuiu esse mesmo ar de adolescente apaixonada, e isso era umas das coisas que a ruiva mais amava nela.
— Eu também queria congelar esse momento para sempre, baby. — Marina sussurrou, doce, beijando a testa da loira. — Amor, se levanta, por favor? — Pediu.
Júlia franziu as sobrancelhas, contudo fez o que a mais velha pediu. Ela se levantou e limpou a areia da praia do seu short branco, sem tirar o olhar interrogativo da namorada. Marina deu um sorriso nervoso e as suas mãos estavam molhadas de suor.
— Não sei muito bem como fazer isso. — Marina confessou, ansiosa e agitada. — Para falar a verdade, esse é o momento mais importante e nervoso de conta a minha vida, baby. — Soltou um riso para tentar espantar o seu medo, ajoelhando-se na areia fofa em seguida.
Ana Júlia apenas arregalou os olhos e cobriu a boca com as mãos, sem tirar a sua atenção do que estava preste a acontecer.
— Ana, eu queria te dizer tantas coisas bonitas agora, mas você sabe como sou péssima em declarações. Então... — Abriu uma pequena caixinha de veludo, revelando um par de alianças de noivado. — Você me concede a extraordinária honra de tornar-se minha esposa? — Fitou-a com o seu coração pulando no peito.
Não!
O berrou negativo na sua mente veio no mesmo instante em que o sussurro positivo preencheu o curto silêncio:
— Sim. — Júlia sussurrou, saindo do choque e ignorando aquela vozinha interior. — Sim! Eu aceito, meu amor! — Repetiu, forçando um sorriso para a sua, agora, noiva.
Com as mãos ainda tremendo um pouco, Marina abriu um sorriso enorme em resposta, ao mesmo tempo em que deslizava a aliança grossa e escandalosa no dedo da loira. Júlia fez o mesmo e puxou a sua noiva para um beijo.
Aquele era para ser um dos momentos mais felizes para ambas, certo? E para Marina estava sendo, contudo, Ana Júlia já começava a arrepender-se.
Capítulo 1.Elas.03 de março, 2018.Ana Júlia deu um pequeno e tímido sorriso ao fitar o seu reflexo esguio no grande espelho que ficava no quarto da sua noiva. O vestido preto, um palmo acima dos seus joelhos, delineava o seu corpo e dava um destaque para seus belos olhos cinza-esverdeados. Ela sempre fora uma mulher bonita. Contudo, na maior parte do tempo, a loira carregava em si uma baixa autoestima, o que a fazia sentir-se feia perto das mulheres que rodeavam Marina.— Você está linda, baby. — Ela sussurrou, rouca, e as suas mãos foram parar no quadril da outra. — Bela como sempre. — Elogiou-a, novamente, ao afastar o longo cabelo loiro e deixar um beijo no ombro nu de Júlia.Ana Júlia mirou os seus olhos na noiva através do espelho, ao mesmo tempo em que o seu sorriso ficava mais pronunciado e as suas bochec
Capítulo 2.O jantar.03 de março, 2018.Aquilo era para ser um jantar romântico, não era?Todavia, estava sendo exatamente o contrário. O jantar que deveria estar sendo romântico, entre Marina e Júlia, havia tomado um rumo absurdamente diferente, do qual a loira tinha pensado e planejado durante toda semana para ter com a sua noiva. E para completar a situação já chata e desagradável, a sócia de Marina apareceu do nada no mesmo restaurante, e a ruiva não pensou duas vezes em convidá-la para acompanhá-las. Por fim, Ana Júlia acabou sendo jogada de escanteio e esquecida pela outra, no segundo instante em que a elegante Roberta se sentou na cadeira ao lado da sua futura esposa.Após um ‘’oi’’ seco acompanhado de um sorriso falso de Roberta, Júlia ficou e
Capítulo 3.Verdadeiros laços.12 de março, 2018.— Bom dia, Aninha! — Maria Alice desejou, animada, ao entrar na cozinha. — Caiu da cama? — Brincou para a irmã mais velha, que estava debruçada sobre o balcão de granito enquanto lia o jornal com atenção.— Bom dia, Ali. — Trocou a página. — Valentina me pediu para chegar mais cedo, pois tem um assunto importante para tratar comigo. — Júlia comentou, distraída sem tirar os olhos das pequenas letras, e bebericou seu chocolate quente devagar. — E por que você acordou tão cedo em plena segunda-feira? Caiu da cama? — Brincou e ergueu os olhos do jornal, fitando-a com um sorriso. — O que é essa mancha roxa no seu pescoço, Maria Alice? — Indagou, com a sua atenção pregada no pesco&cc
Capítulo 4.Sentimento indefinido.12 de março, 2018.— Essa noite foi realmente incrível e cheia de ótimas notícias – Diana comentou, sorrindo. — E surpreendente também. — Riu baixinho e olhou na direção de uma Maria Alice, que estava esparramada sobre o colchão no chão e dormia profundamente. — Você acha que ela está gostando da Renata, amiga? — Perguntou, virando-se para a loira, e bebeu mais um pouco da sua cerveja.Júlia fitou a irmã de relance, dando-se conta como a sua princesinha havia crescido tão rápido. Na verdade, ela agora era uma mulher de quase 21 anos.— Desconfio que por debaixo de toda essa implicância de Renata e explosões de irritação dela, uma gosta da outra. Na verdade, eu sei que Renata gosta muito
Capítulo 5.Mente e coração confusos.13 de março, 2018.Maria Alice fez uma careta de desespero assim que a faculdade entrou no seu campo de visão, uma vez que Renata, sem sombras de dúvidas, estaria em algum lugar e ela não estava com nenhum pingo de coragem de encará-la. Não depois do beijo delas no banheiro do cinema, ignorar as inúmeras mensagens e ligações no dia anterior da outra.— Eu não quero ir! Me leva de volta para nossa casa, Júlia! — Ela choramingou para irmã, fazendo biquinho. — Com certeza, ela estará lá! — Argumentou ao apontar para a faculdade. — Me esperando, e eu ainda não estou preparada para encará-la. — Ofegou, baixinho.A loira mais velha rolou os olhos. Às vezes, Maria Alice conseguia ser bem infantil e irri
Capítulo 6.Um quase ponto final.13 de abril, 2018.Se passara um pouco mais de um mês, desde que Ana Júlia e a Valentina compartilharam aquele finalzinho de uma tarde mais quente em Teresópolis e boa parte de uma noite agradável na cafeteria Coffee’s. Fora nesse mesmo dia em que ocorreu um simples, porém devastador, beijo no canto da boca da loira dado pela sua chefe, o que a deixou ainda mais confusa com os seus próprios sentimentos e pelo que achava carregar no coração em relação a sua noiva, Marina.Ana Júlia perdeu noites pela insônia e as lágrimas que passaram acompanhá-la nas últimas semanas.A loira havia decidido e jurado para si mesma que a sua relação com a morena seria, a partir daquela mesma noite, total e completamente profissional. Só que
Capítulo 7.O lugar certo.13 de abril, 2018.Felizmente, mais um relacionamento tóxico e abusivo chegava ao fim, naquela sexta-feira, 13 de abril, 2018.— Quer saber de uma coisa, Marina? — Ana Júlia murmurou, decidida e repentina, afastando-a para longe de si e levantando-se do sofá. — Eu vou embora para a minha casa em Teresópolis. — Avisou, pegando a sua bolsa e a pendurando no seu ombro. — E não quero que você venha atrás de mim! — Ordenou, séria e fria.Marina arregalou os olhos, fitando-a confusa pela sua reação inesperada.— O que?! Ir embora? Por quê, Júlia? — Indagou, segurando-a pelo braço e a virando para si. — O que houve, amor?Amor?Ana Júlia riu, cansada.Cansada de todo aquele teatrinho de relaciona
Capítulo 8.Feridas abertas.13 de abril, 2018.Maria Alice soltou um suspiro, frustrado, enquanto ia em direção ao banheiro feminino da sua universidade. Era uma sexta-feira 13, a sua irmã não atendia as suas ligações e Renata não tinha aparecido na aula, apesar de tê-la visto no campus antes de entrar para a sala. Pensar onde ela poderia estar e com quem, a fazia ficar ainda mais irritada e pronta para descontar sua raiva no primeiro ser que cruzasse o seu caminho.Inferno!O seu ‘’rolo’’ com Renata estava mais complicado e confuso do que nunca, para não dizer sem explicação alguma. Claro, se era que poderia dizer que elas tinham algo. Alice, simplesmente, passou a fugir e ignorar Renata em todos os lugares em que se esbarravam. Até nas redes sócias, a loira