4º capitulo

Em algum lugar no sertão de Pernambuco há cerca de 10 anos atrás...

- Mãe! Mãe! – Os gritos eram de desespero, as lágrimas estavam perdidas no pânico de ter aqueles braços fortes em volta do seu corpo pequeno e frágil, ela se debatia com todas as forças tentando se livrar daquele homem, mas nada no mundo o faria soltá-la, ele tinha que cumprir com seu trabalho, para ele aquela era só mais uma garota e nada faria diferença, ao longe Maria Alice viu a mãe conversando com outro homem, ele lhe alcançou um envelope de papel pardo que ela abriu instantaneamente e Jennifer pode ver ela retirar o dinheiro, os olhos dela brilhavam diante das notas, ao contrario dela, ela não estava com medo, desesperada, ou triste, na verdade nem um pouco abalada, Jennifer mordeu o braço do homem e ele a largou, nessa hora ela tentou correr e recebeu o olhar da mãe, um olhar perdido, pensou que agora ela iria correr ao seu encontro, se arrepender devolver o dinheiro e dizer que não havia nada que pagasse sua filha, mas não, ela fez sinal para o outro homem que havia entregado o dinheiro e ele veio ao encontro dela com velocidade total, lhe esbofeteou o rosto e ela caiu no chão, foi levantada pelos cabelos pelo segundo homem e então um pano branco foi colocado em sua boca, ela não sabia o que tinha naquele pano, mas o cheiro forte a fez desmaiar, as imagens após isso foram de um sonho qualquer, nada bom.

No ano de 2017 o Pernambuco ficou em terceiro lugar no nordeste como o lugar com maior índice de exploração sexual infantil, a história de Maria Alice não está computada entre as milhares de histórias, pois quem a  vendeu foi sua própria mãe, nenhum registro, nenhuma denúncia, foi como se ela nunca tivesse existido, pois ela simplesmente desapareceu.

Tempos atuais...

Maria Alice agora é Jennifer...

Debruçada sobre uma espreguiçadeira Jennifer terminava de ler o ultimo capitulo do livro que tinha comprado na semana anterior, era um livro que falava sobre uma história verídica de uma garota brasileira que tinha sido estuprada aos 12 anos de idade pelo padrasto, a tal menina chamada Suélem tinha ficado tão traumatizada que tinha decidido se calar e apenas voltou a falar após muito apoio do irmão e amigos e por isso escreveu o livro para ajudar a dar voz a garotas como ela, Jennifer riu ironicamente da história, ela não tinha tido apoio do irmão, tão pouco sua mãe tinha morrido de preocupação por ela, ninguém tinha se importado, ninguém a tinha procurado, ela tinha sido vendida como um animal para o matadouro, enquanto sua mãe tinha se aproveitado de cada centavo que receberá pelo corpo dela, ao pensar nessas lembranças se sentia enojada, lembrava da primeira vez, daquele velho nojento que a tinha usado, lembrava que depois de uma ou duas noites ele a tinha vendido para outros e esses outros para outros até que finalmente ela caiu nas garras de Marcus, Marcus no começo parecia ser diferente dos caras, nessa época ela já estava com 15 anos já não era mais uma menina inocente, ou melhor até era uma menina, mas não mais inocente, Marcus não abusou dela, não no inicio, ele a levou para sua mansão em Malibu na Califórnia e a deixou lá, ela estava rodeada de luxos, tinha as melhores roupas e joias, sua vida parecia ter finalmente melhorado, porém com o passar do tempo ela aprendeu a conhecer quem Marcus era na verdade, um agiota, vingativo e rancoroso, suas mãos não estavam nada limpas e quando ele bebia ficava violento e era ai que os abusos começavam, no dia seguinte ela acordava rodeada de joias, como um pedido de desculpas, isso já durava 7 anos, ela sabia que ele também vendia crianças e que tinha casas de mulheres espalhadas pelo mundo a fora, certamente meninas como ela , afastadas da família ou iludidas com uma carreira brilhante de modelo ou dançarina, no fundo isso a machucava, porém se resolvesse se rebelar e procurar a polícia o que aconteceria com ela? Marcus tinha status, era muito poderoso, com um simples estralar de dedos ele poderia destruí-la, as meninas teriam que esperar, ela não era uma heroína.

Marcus a viu pela janela e caminhou calmamente até ela.

- Vamos para o Brasil!

- O que? Não! Tudo menos o Brasil, você me prometeu Marcus, o Brasil não, você sabe muito bem que eu odeio aquele país.

- Não seja tola, sua mãe era uma viciada em drogas, a essa altura ela nem viva mais está e você mudou muito com os anos, acha mesmo que ela lhe reconheceria com esse silicone ai?

- Mãe é mãe, não é o que dizem?

- Besteira! E tem outra, não vamos para o Pernambuco, pobre do jeito que ela era ela nunca vai saber que você estará em São Paulo.

- O que tem em São Paulo?

- Uma banda, eles ganharam um premio recentemente e tem feito milhares de shows, o pai dos garotos da banda já teve outra banda e é milionário, então some tudo, pai milionário e dois herdeiros milionários? É ganho triplo!

- Triplo? Não posso me casar com os três!

- Não, claro que não, você fará os filhos dele gostarem de você e deixe que os dois briguem por você até se matarem entre si e depois você consola o pobre pai.

- Não sei Marcus, me parece arriscado demais, quero dizer... São três, não vai ser nada fácil enganá-los.

- Não se preocupe, eu tenho tudo bolado, vou me tornar empresário deles, estarei acompanhando cada passo seu.

Jennifer olhou por cima do livro e o fechou levantando-se para fazer as malas, algo no plano de Marcus não lhe passava segurança, não como nos outros, não era apenas casar e bancar a viúva negra, isso parecia muito mais complicado para ela.

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