Em algum lugar no sertão de Pernambuco há cerca de 10 anos atrás...
- Mãe! Mãe! – Os gritos eram de desespero, as lágrimas estavam perdidas no pânico de ter aqueles braços fortes em volta do seu corpo pequeno e frágil, ela se debatia com todas as forças tentando se livrar daquele homem, mas nada no mundo o faria soltá-la, ele tinha que cumprir com seu trabalho, para ele aquela era só mais uma garota e nada faria diferença, ao longe Maria Alice viu a mãe conversando com outro homem, ele lhe alcançou um envelope de papel pardo que ela abriu instantaneamente e Jennifer pode ver ela retirar o dinheiro, os olhos dela brilhavam diante das notas, ao contrario dela, ela não estava com medo, desesperada, ou triste, na verdade nem um pouco abalada, Jennifer mordeu o braço do homem e ele a largou, nessa hora ela tentou correr e recebeu o olhar da mãe, um olhar perdido, pensou que agora ela iria correr ao seu encontro, se arrepender devolver o dinheiro e dizer que não havia nada que pagasse sua filha, mas não, ela fez sinal para o outro homem que havia entregado o dinheiro e ele veio ao encontro dela com velocidade total, lhe esbofeteou o rosto e ela caiu no chão, foi levantada pelos cabelos pelo segundo homem e então um pano branco foi colocado em sua boca, ela não sabia o que tinha naquele pano, mas o cheiro forte a fez desmaiar, as imagens após isso foram de um sonho qualquer, nada bom.
No ano de 2017 o Pernambuco ficou em terceiro lugar no nordeste como o lugar com maior índice de exploração sexual infantil, a história de Maria Alice não está computada entre as milhares de histórias, pois quem a vendeu foi sua própria mãe, nenhum registro, nenhuma denúncia, foi como se ela nunca tivesse existido, pois ela simplesmente desapareceu.
Tempos atuais...
Maria Alice agora é Jennifer...
Debruçada sobre uma espreguiçadeira Jennifer terminava de ler o ultimo capitulo do livro que tinha comprado na semana anterior, era um livro que falava sobre uma história verídica de uma garota brasileira que tinha sido estuprada aos 12 anos de idade pelo padrasto, a tal menina chamada Suélem tinha ficado tão traumatizada que tinha decidido se calar e apenas voltou a falar após muito apoio do irmão e amigos e por isso escreveu o livro para ajudar a dar voz a garotas como ela, Jennifer riu ironicamente da história, ela não tinha tido apoio do irmão, tão pouco sua mãe tinha morrido de preocupação por ela, ninguém tinha se importado, ninguém a tinha procurado, ela tinha sido vendida como um animal para o matadouro, enquanto sua mãe tinha se aproveitado de cada centavo que receberá pelo corpo dela, ao pensar nessas lembranças se sentia enojada, lembrava da primeira vez, daquele velho nojento que a tinha usado, lembrava que depois de uma ou duas noites ele a tinha vendido para outros e esses outros para outros até que finalmente ela caiu nas garras de Marcus, Marcus no começo parecia ser diferente dos caras, nessa época ela já estava com 15 anos já não era mais uma menina inocente, ou melhor até era uma menina, mas não mais inocente, Marcus não abusou dela, não no inicio, ele a levou para sua mansão em Malibu na Califórnia e a deixou lá, ela estava rodeada de luxos, tinha as melhores roupas e joias, sua vida parecia ter finalmente melhorado, porém com o passar do tempo ela aprendeu a conhecer quem Marcus era na verdade, um agiota, vingativo e rancoroso, suas mãos não estavam nada limpas e quando ele bebia ficava violento e era ai que os abusos começavam, no dia seguinte ela acordava rodeada de joias, como um pedido de desculpas, isso já durava 7 anos, ela sabia que ele também vendia crianças e que tinha casas de mulheres espalhadas pelo mundo a fora, certamente meninas como ela , afastadas da família ou iludidas com uma carreira brilhante de modelo ou dançarina, no fundo isso a machucava, porém se resolvesse se rebelar e procurar a polícia o que aconteceria com ela? Marcus tinha status, era muito poderoso, com um simples estralar de dedos ele poderia destruí-la, as meninas teriam que esperar, ela não era uma heroína.
Marcus a viu pela janela e caminhou calmamente até ela.
- Vamos para o Brasil!
- O que? Não! Tudo menos o Brasil, você me prometeu Marcus, o Brasil não, você sabe muito bem que eu odeio aquele país.
- Não seja tola, sua mãe era uma viciada em drogas, a essa altura ela nem viva mais está e você mudou muito com os anos, acha mesmo que ela lhe reconheceria com esse silicone ai?
- Mãe é mãe, não é o que dizem?
- Besteira! E tem outra, não vamos para o Pernambuco, pobre do jeito que ela era ela nunca vai saber que você estará em São Paulo.
- O que tem em São Paulo?
- Uma banda, eles ganharam um premio recentemente e tem feito milhares de shows, o pai dos garotos da banda já teve outra banda e é milionário, então some tudo, pai milionário e dois herdeiros milionários? É ganho triplo!
- Triplo? Não posso me casar com os três!
- Não, claro que não, você fará os filhos dele gostarem de você e deixe que os dois briguem por você até se matarem entre si e depois você consola o pobre pai.
- Não sei Marcus, me parece arriscado demais, quero dizer... São três, não vai ser nada fácil enganá-los.
- Não se preocupe, eu tenho tudo bolado, vou me tornar empresário deles, estarei acompanhando cada passo seu.
Jennifer olhou por cima do livro e o fechou levantando-se para fazer as malas, algo no plano de Marcus não lhe passava segurança, não como nos outros, não era apenas casar e bancar a viúva negra, isso parecia muito mais complicado para ela.
No Brasil... Suélem desembarcou apreensiva, como seria rever seu irmão, e Sebastien? E Voltar para a escola, ela tinha mudado tanto, estava tão mais madura, tinha aprendido a se valorizar, agora se vestia como uma garota da sua idade e não como alguém com medo do mundo, ela desfilou de cabeça erguida e alcançou o saguão principal, porém não foi Eduardo quem ela encontrou a esperando, Sebastien vestia uma jaqueta de couro preta e calça jeans, estava de óculos escuros e muito mais bonito que o normal, ele tinha cortado os cabelos para combinar com o estilo da banda, tirou os óculos e a encarou demoradamente, como ela estava linda pensou, nem de longe era a menina assustada que ele tinha deixado fugir para os Estados Unidos, Suélen estava com os cabelos mais lisos e longos, nas pontas ainda havia alguns cachos comportados, os olhos chocolate eram tão vivos quanto ele se lembrava, mas tinha algo diferente nela, havia luz, havia brilho, havia confiança, ela caminhou até
Quando Érika chegou em casa ouviu o choro desesperado de Arthur, ela se apressou e correu até o quarto do bebe, mas quando chegou lá Nicholas já estava com ele nos braços, ele olhou com desagrado para a filha. - Onde está sua irmã? Será que não reconhece o choro do próprio filho? - Eu não sei pai, ela deve estar ocupada, me dê ele aqui, vou acalmá-lo... - Não há nada que possa fazer, posso não ter sido o melhor pai do mundo, mas sei reconhecer quando o choro de um bebê é de fome, esse garotão aqui não deve ter se alimentado hoje... Disse ele fazendo graça com o neto nos braços, o menino olhou o avô e pareceu se acalmar, mas logo voltou a chorar novamente. - Eu deveria saber que isso não daria certo. - Acalme-se, tenho certeza de que Stef vai ter uma ótima desculpa, ela apenas não está acostumada com tudo ainda. Érika saiu à procura de Stefany e a encontrou no jardim, ela estava agachada e encolhida ao lado de uma árvore. <
Em São Paulo...Eduardo deu um salto assim que viu Suélen, Tiago olhou de canto para a garota, ela parecia ter crescido uns 20 centímetros e estava muito mais madura, maquiada e bem arrumada, Sebastien caminhou até ele de cabeça baixa.- Foi uma tortura.- Eu imagino, ela ta muito gata, como foi que ela cresceu assim? Tem certeza que só passou um ano?- Nem me fale e além de gata, ela me odeia.- Também pudera néh? O lance no palco foi pesado na época, ainda fico me perguntando como ninguém a reconheceu do videoclipe.- Graças a Deus, se alguém a reconhecesse ai sim seria o fim, será que um dia ela vai voltar a me olhar como gente?- Como gente ou como homem?- Os dois.- Como gente talvez, mas como homem, bem improvável... Mas você ainda é a fim dela?- Sei lá cara, não sei
Em São Paulo Jennifer olhou pela vidraça do hotel que Marcus tinha conseguido para eles. - Até que aqui é legalzinho, mas não sei Marcus, esse seu plano é meio maluco, não acha que estamos indo muito rápido? Ao perceber que não teve resposta ela olhou para trás e viu que o companheiro tinha adormecido no sofá, ela analisou discretamente a barriga dele que se sobressaia pelas calças e pela camisa havaiana pequena demais para ele e torceu a boca. - Deus... Será que a vida é só isso mesmo? Ela vestiu os shorts curto e desceu para o hall do hotel, pegou um taxi e foi para a praia, o lado bom de estar com Marcus e ser a protegida dele é que ele tinha muito dinheiro e é claro que tudo que ele tinha ele gastava com ela e com os planos mirabolantes dele para conseguir mais, o lado ruim era como ele fazia para conseguir dinheiro, Jennifer tentava não se sentir culpada pelas mortes, afinal ela tinha se envolvido com aquelas pessoas, era meio qu
Érika se despediu de Laura e seguiu para o corredor para a próxima aula, seu corpo congelou ao alcançar a porta da sala e reconhecer de imediato o rapaz que estava apoiado a mesa do professor, era Henrique, mas o que ele estava fazendo ali e por que conversava amigavelmente com a turma? Ele não tinha mais idade para ser aluno... Teria deixado o ensino médio incompleto e resolvido completar agora? - Bom dia, Érika junte-se a turma. Ela concordou com a cabeça e depois seguiu em silencio para o seu lugar, ele se dirigiu a lousa e escreveu em letras maiúsculas. - Meu nome é Henrique Teixeira de Borba e eu sou o novo professor de tecnologia digital. Disse ele com um sorriso, Érika sentiu seu coração parar de bater e voltar novamente, seu rosto devia estar muito estranho por que todos a olhavam, mas que diabos ele estava fazendo como professor? Ele tinha uma empresa de robótica! Pedro tinha lhe contato sobre o projeto do irmão que tinha dado certo... <
Apesar de sua carreira como escritora ter decolado Suélen ainda era uma menina em formação, e mesmo tendo estudado muito nesse último ano para recuperar os anos que ficou afastada da escola, agora ela precisava voltar a frequentar uma escola de verdade, ela olhou duas vezes para a mochila para ter certeza de que tinha pegado tudo, Eduardo parou ao seu lado. - Tem certeza que quer ir? Podemos contratar professores particulares. - Edu, eu sei que a banda ta fazendo sucesso e que eu também tenho grana agora, mas sério mesmo, eu quero poder voltar à ativa, quero poder levar uma vida normal, vai me fazer bem, vai me dar ainda mais confiança, eu disse que eu conseguiria lançar meu livro e viver pelas minhas próprias pernas e eu consegui durante um ano, não é algumas garotas malvadas da escola que vão me botar medo agora. - Espero que você tenha razão, mas não pense duas vezes se precisar que eu vá até a escola eu irei sem pensar duas vezes. Ela colocou as m
Seven atendeu o telefone que tinha insistido em tocar o dia todo, esperava que não fosse nenhum show pois a agenda estava lotada e ele não gostava de deixar ninguém na mão.- Oi, maninho.- Chuck, ainda acho estranho quando você me liga.- Para ser sincero também acho estranho ter que ligar, mas é importante.- Aconteceu alguma coisa?- Algumas coisas, lembra da entrevista exclusiva que o Tiago deu pra aquela revista de fofoca sobre a vida dele ?- Vagamente, mas tem tempo isso.- Sim, eu sei, mas fiquei sabendo faz pouco tempo que a entrevista teve umas consequências negativas.- Como assim?- Algumas fãs surtadas resolveram “pegar no pé” de Lílian, tem enviado cartas ameaçando ela e perseguido ela, esses dias picharam o carro dela, frases horríveis, ela ficou péssima, mandou para a pintura e não m
Em São Paulo... Jennifer esperou Marcus acordar, suas mãos tremiam, ela não queria ter que contar para ele o que tinha acontecido, sabia que ele bateria nela, porém se não contasse ele acabaria descobrindo da pior forma, era obvio que os rapazes da banda iriam reconhecê-la se ele visse que o plano tinha ido por terra antes de começar certamente ele a mataria. Marcus acordou rabugento e observou a garota sentada no sofá nervosa, ele sabia que ali vinha alguma coisa. - O que foi? - A banda, aquela que você quer enganar o nome deles é Ravens não é? - Sim, isso está no portfólio que eu passei a você, não está? - Sim, eu sei... É que tem algo que eu preciso contar a você. – Ela falou por fim ainda mais nervosa quase gaguejando, ele deu passos largos até ela e segurou seu braço com força. - O que há afinal?! Alguma você aprontou! Isso é certo... - Ontem à tarde quando sai para dar uma volta, eu esbarrei em um rapaz n