AlexandraEstava sentada no canto da cela, a luz fraca do corredor mal iluminando as páginas do livro que segurava. A cada palavra lida, tentava afastar a raiva e a frustração que sentia. Raphael. Ele era o culpado por eu estar aqui, trancada nessa cela fria e solitária. Não importava o quanto eu tentasse me concentrar na história, meus pensamentos sempre voltavam para ele, para o ódio que crescia a cada segundo.O tempo passava devagar. As paredes de concreto ao meu redor pareciam se fechar um pouco mais a cada dia. Às vezes, a única coisa que me mantinha sã era a promessa de vingança. Eu sabia que, de alguma forma, sairia daqui e faria Raphael pagar por isso. De repente, ouvi passos pesados ecoando pelo corredor. Levantei a cabeça, tentando ver quem se aproximava. Um policial parou diante da minha cela, uma expressão indecifrável no rosto.— Aproxima-se das grades, Alexandra — disse ele, sem qualquer emoção na voz.Levantei-me lentamente, fechando o livro e deixando-o sobre a cama
RaphaelA reunião com os americanos foi um sucesso. Sentado na cadeira de meu escritório, eu ainda podia sentir a adrenalina correndo em minhas veias. A filial nos Estados Unidos era um grande passo para os nossos negócios, algo pelo qual eu tinha trabalhado arduamente. Sentia uma onda de satisfação misturada com alívio, pois tudo estava se encaixando perfeitamente.Enquanto repassava mentalmente os pontos principais da reunião, fui surpreendido por um som estranho. Levantei os olhos da mesa e, antes que pudesse reagir, vi Alexandra na porta do meu escritório, uma arma na mão, apontada diretamente para mim. Meu coração disparou, e a adrenalina da excitação dos negócios transformou-se instantaneamente em uma onda de puro terror.― Raphael, como vai? ― disse ela, com um sorriso cruel nos lábios.Minhas mãos suaram instantaneamente, mas mantive a calma. Precisava ganhar tempo, entender a situação e encontrar uma forma de sair dessa. ― Alexandra, o que você está fazendo aqui? Como você sa
DonatellaCheguei ao hospital com o coração na boca, cada passo parecia uma eternidade enquanto corria pelos corredores. Tudo aconteceu tão rápido. Recebi a ligação informando que Raphael tinha sido baleado em seu escritório, e o mundo ao meu redor simplesmente parou. A imagem dele caído, ferido, não saía da minha mente.Meus olhos buscavam desesperadamente por algum rosto familiar, alguém que pudesse me dar informações. Ao entrar na recepção do pronto-socorro, fui direto ao balcão, onde uma enfermeira ocupada falava com outro paciente.— Com licença, onde está Raphael? Raphael Moretti? Ele foi trazido para cá há pouco tempo! — minha voz saía trêmula, carregada de medo e ansiedade.A enfermeira levantou os olhos e viu meu estado de desespero. Rapidamente, verificou em seu computador.— Ele está na sala de cirurgia. Recebeu um tiro e os médicos estão tentando estabilizá-lo. Por favor, aguarde na sala de espera — disse, apontando na direção do corredor.Meus joelhos quase cederam de alí
DonatellaEnquanto Raphael continuava a se recuperar, nossas vidas começaram a voltar ao normal. A empresa prosperava com a nova filial nos Estados Unidos, e nossas relações pessoais se fortaleciam a cada dia. A ameaça de Alexandra ainda pairava sobre nós, mas estávamos preparados para enfrentá-la de frente.Hoje, ao entrar no quarto de Raphael no hospital, uma onda de alívio me envolveu ao vê-lo sentado na cama, folheando alguns papéis da empresa. Seu semblante estava mais tranquilo, e a cor voltava lentamente ao seu rosto. Ele me olhou e sorriu, um sorriso que aquecia meu coração e dissipava, mesmo que por um momento, as sombras do medo e da incerteza.— Como você está, meu amor? — perguntei, aproximando-me e pegando sua mão.— Melhor a cada dia, Donatella — respondeu ele, apertando minha mão com firmeza. — E como estão as coisas na empresa?— Estão indo bem. A nova filial nos Estados Unidos está se desenvolvendo melhor do que esperávamos. Mas você não deveria se preocupar com isso
RaphaelFinalmente estou de volta ao meu escritório, um espaço que sempre considerei meu refúgio, meu lugar seguro. Mas hoje, ao empurrar a pesada porta de madeira e sentir o cheiro familiar de couro dos móveis, uma onda gelada percorre minha espinha. As lembranças daquele dia, há quase um mês, surgem na minha mente como fantasmas que se recusam a partir. Tento afastá-las, mas elas se agarram a mim com força.A luz suave da manhã atravessa as persianas e cria sombras alongadas nas paredes. Cada detalhe me lembra o que aconteceu aqui. As paredes que já testemunharam tantas reuniões, decisões importantes e conversas confidenciais, agora carregam a marca de um episódio que mudou minha vida. Meus passos ecoam no piso de mármore, e a cada som, sinto como se
AlexandraA tarde estava quente, e eu sentia o sol queimando a minha pele enquanto observava o pátio da prisão. Podia parecer um cenário de tranquilidade forçada, mas o inferno estava à espreita em cada canto. Minhas mãos ainda formigavam com a lembrança do fracasso, da raiva que Raphael provocou em mim, do ódio por tudo o que ele fez e de tudo o que ele me tirou. As grades ao meu redor, as regras, os olhares vigilantes… nada disso poderia segurar o fogo que queimava dentro de mim. Eu precisava de uma oportunidade, algo que me tirasse dessa cela e me permitisse enfrentar Raphael novamente, de uma forma que ele não pudesse prever.Foi quando vi o policial, do outro lado do pátio. Ele estava distraído, observando os detentos com desdém, como se ele mesmo fosse imune a qualquer ameaça. Um sorriso se formou nos meus lábios. Aquele idiota… Mal sabia ele que estava prestes a se tornar a minha próxima jogada.Eu o observei por alguns minutos, esperando o momento em que ele se afastaria da mu
DanteAs luzes da cidade são intensas, mas vistas daqui, da janela do meu escritório, parecem distantes e pequenas. Fico ali por um momento, o olhar fixo no horizonte, mas com a mente ainda carregada de pensamentos. Raphael no Rio, cuidando da empresa que, dizem, está em expansão, mesmo com o susto do atentado. Esse garoto parece inabalável, e talvez por isso papà o tenha escolhido para estar à frente dos negócios da família. Só que é exatamente isso que eu não consigo engolir. O que papà viu nele que eu não tenho? Desde pequeno, fui treinado para esse papel, preparado para assumir tudo que envolve nosso nome. Então por que não fui eu o escolhido?Meus punhos se cerram automaticamente. Respiro fundo, buscando acalmar o que, por dentro, é uma raiva antiga, mas bem escondida. Cuido de tudo aqui na Itália, de todos os detalhes que Raphael nem conhece. Afinal, ele é o rosto da família no Brasil, o escolhido para lidar com o lado mais visível e “aceitável” dos nossos negócios. Eu fico com
DanteA ordem, a firmeza e o peso da tradição — eram esses os princípios que sustentavam nossa família, mas hoje, ao colocar o telefone de volta no gancho, eu sentia mais uma vez o gosto amargo da dúvida. Eliminar essa nova facção na Sicília era apenas mais um dia no escritório, mas, para mim, era uma confirmação de que eu mantinha o poder nas mãos, mesmo que meu pai insistisse em confiar a liderança a Raphael. A questão permanecia: até quando meu pai me veria apenas como uma sombra?Caminhei pelo corredor imponente da casa, o eco dos meus passos ressoando no mármore. As paredes revestidas de quadros antigos e os móveis antigos e robustos faziam lembrar que nossa família não se tratava apenas de negócios; era uma linhagem, uma herança, um legado. Ao chegar à porta do escritório do papà, tomei um segundo para compor o semblante, endireitando o terno e respirando fundo. Eu precisava me lembrar de manter a calma, por mais que suas escolhas me provocassem.Ao entrar, a figura de meu pai e