AlexandraO sol estava forte naquele dia, queimando minha pele pálida enquanto eu me recostava na parede de concreto do pátio. Ao meu redor, outras presas conversavam em murmúrios ou gargalhavam de maneira exagerada, como se aquelas risadas fossem uma espécie de resistência ao ambiente opressivo. Para mim, era só mais um dia. Um dia a menos aqui dentro, ou um dia a mais — dependendo de como se olhava.Fechei os olhos por um momento, tentando me desligar da cacofonia ao meu redor. Mas então ouvi um som distinto: botas batendo no chão. Pesadas, determinadas. Aquele som tinha se tornado familiar, e minha intuição estava certa. Abri os olhos e o vi.O mesmo policial do outro dia, o que parecia saber mais do que deveria. Ele andava com aquele ar de superioridade que a maioria dos guardas adorava ostentar aqui dentro. Mas nele havia algo diferente, algo mais calculado, como se cada passo fosse parte de um plano maior.Levantei-me devagar, limpando a poeira do uniforme cinza que usávamos aqu
AlexandraO silêncio da cela era apenas quebrado pelo som das páginas do livro que eu lia. Ou fingia ler. Meus olhos corriam pelas palavras, mas minha mente estava longe, em qualquer outro lugar que não fosse aquele cubículo claustrofóbico de concreto. As horas se arrastavam, e cada segundo parecia uma eternidade.Eu estava no meio de uma frase quando ouvi passos ecoando pelo corredor. Pesados, firmes, inconfundíveis. Olhei de relance para a porta da cela e vi o mesmo policial de antes. Aquele que adorava bancar o engraçadinho sempre que podia.— Alexandra — chamou, segurando as grades como se fosse o dono do lugar.Levantei os olhos do livro, mas não fiz questão de esconder minha cara de poucos amigos.
AlexandraO silêncio da madrugada era quase reconfortante enquanto eu caminhava pelas ruas do centro, pensando no que faria a seguir. A prisão não me havia ensinado muita coisa além de como ser mais paciente. Antes, minha impulsividade quase me custou tudo, mas agora... Agora eu tinha aprendido a jogar. E Donatella seria meu tabuleiro.Ela estava sozinha, fragilizada. Raphael, o grande estrategista, havia feito o que fazia de melhor: descartado alguém que confiava nele. Eu sabia disso porque já estive no lugar dela. Já senti o peso de ser nada mais do que uma peça descartável para ele. Donatella ainda não sabia disso, mas logo descobriria.***A primeira vez que a vi foi por acaso — ou ao menos parecia. Ela estava no mesmo café onde eu a encontrara semanas atrás. Sozinha, folheando alguns papéis com uma expressão cansada. Ela parecia menor, como se o peso do mundo tivesse encolhido seus ombros. Perfeito.— Donatella? — chamei, hesitando na porta do café, fingindo surpresa.Ela ergueu
DanteO escritório cheirava a couro e cigarro, um resquício de noites mal dormidas e decisões pesadas. As luzes suaves refletiam nos móveis escuros, criando sombras que pareciam ecoar os dilemas que dividiam minha mente. Raphael estava sentado à mesa principal, o local que agora simbolizava seu poder como Don da Cosa Nostra. Ele era meticuloso, frio e calculista. Hoje, porém, sua postura estava longe de exalar confiança.— Eu mandei um dos nossos vigiar o filho mais velho dos Spinelli, Enzo. Assim vamos saber exatamente o que estão planejando — repeti, minha voz baixa, mas firme.Raphael permanecia imóvel, a mão distraída acariciando a barba bem cuidada. Seus olhos estavam perdidos, como se tudo ao redor fosse irrelevante.— Você está me ouvindo? — minha voz saiu cortante, quebrando o silêncio opressivo.Ele ergueu os olhos lentamente, mas não para me encarar. Eles estavam vazios, distantes.— Não. Não estou, Dante. Minha cabeça está em outro lugar — admitiu, um suspiro pesado escapan
RaphaelO ar do sul da Itália tinha um peso diferente. Não era apenas o calor ou a umidade; era o peso da história, das promessas não cumpridas e das alianças forjadas sob ameaça. As ruas estreitas de Nápoles pareciam sussurrar segredos antigos enquanto eu atravessava em um carro preto, acompanhado apenas pelo som discreto do motor e pelo olhar atento de Lorenzo, meu braço direito, no banco do passageiro.Eu não era mais o jovem que seguia ordens. Agora, era Don Raphael Moretti, e o peso desse título era mais pesado do que qualquer um poderia imaginar. Comandar significava tomar decisões que deixavam marcas — algumas visíveis, outras invisíveis, mas todas permanentes. E hoje, eu estava aqui para garantir que a guerra contra os Spinelli não terminasse com o nome Moretti enterrado na história.O carro parou em frente a uma propriedade discreta, mas imponente, no alto de uma colina. Villa Greco, o reduto de Salvatore Greco, um homem que havia sobrevivido a mais batalhas do que a maioria.
RaphaelAo ouvir as palavras de Salvatore, senti uma pontada de alívio, mas também um peso se instalando em meus ombros. Alianças como esta não eram seladas apenas com palavras ou favores, mas com sangue, suor e lealdade absoluta. Eu sabia que Salvatore Greco era um homem de palavra, mas também sabia que ele era um homem de interesses. Assim como eu.— A guerra contra os Spinelli será longa, Salvatore. Precisamos estar preparados para o pior — respondi, mantendo meu tom firme, mas sem deixar de lado a reverência que aquele homem merecia.— O pior já começou, Raphael. Você só precisa garantir que o próximo golpe venha de você — disse ele, guardando o envelope no bolso interno de seu terno.Observei enquanto ele se levantava com a elegância de um predador. Os olhos de Salvatore não deixavam transparecer nada além de controle absoluto.— Vou cuidar disso — garanti.Ele deu um leve sorriso, mas seus olhos permaneciam frios.— Espero que sim. Porque, se falhar, será sua cabeça na bandeja,
RaphaelDe volta ao carro, o motor rugia baixo enquanto Lorenzo mantinha os olhos fixos na estrada. A escuridão envolvia a cidade como um véu, e as poucas luzes que cruzavam nosso caminho pareciam sombras de algo maior, algo que estava apenas começando.O silêncio entre nós era quase palpável, mas carregado de significado. Lorenzo sabia quando falar e quando manter-se calado, uma qualidade rara em homens como ele. Ainda assim, ele finalmente quebrou o silêncio:— Foi uma jogada arriscada, Don Raphael. Salvatore não é homem de esquecer afrontas.Virei o rosto para ele, deixando um sorriso de canto escapar.— Justamente por isso ele agora me respeita. Homens como Salvatore só entendem uma linguagem, Lorenzo: poder. E eu fiz questão de traduzir cada palavra.Ele assentiu, embora eu pudesse notar a tensão em suas mãos, apertadas demais no volante. Não o culpo. Essa vida não é para os fracos de coração, mas Lorenzo tinha aprendido a suportar o peso das escolhas.— E quanto aos Spinelli? —
RaphaelO aroma familiar da villa me envolveu assim que entrei pela porta principal. A mistura do perfume de limão fresco, que minha mãe sempre fazia questão de manter na entrada, e o leve cheiro de madeira polida das colunas imponentes era como um lembrete de que eu estava de volta ao meu reino. Meu retorno era marcado por vitórias, mas também por dúvidas que insistiam em rondar minha mente.— Lorenzo, mande os rapazes descarregarem o carro. Preciso de um banho antes de qualquer outra coisa — ordenei enquanto subia a escadaria principal, cada passo ecoando pelos corredores silenciosos.O corredor que levava ao meu quarto estava exatamente como eu o deixara, mas algo parecia diferente. Talvez fosse o peso das decisões que eu havia tomado nos ú