― Não importa mais, agora que Charlene está morta. ― Deirdre abaixou a cabeça, suspirando. ― O fato de não ter conseguido nenhuma informação sobre meu pai me incomoda. Eu deveria saber que Charlene tinha um alvo pintado nas costas! Se ao menos... Se ao menos eu ficasse lá e esperasse pela resposta dela ali mesmo, em vez de dar a ela alguns dias para refletir sobre o acordo! ―― Ninguém poderia prever que alguém iria silenciá-la. Nem mesmo eu ― respondeu Brendan, seus dedos alisando suavemente as rugas no rosto desanimado de Deirdre. ― Não se culpe. Você lidou com a situação brilhantemente. Pelo menos agora sabemos que há uma espiã entre nós e podemos usá-la. ―― Eu sei. ― Deirdre assentiu cansadamente. Ela desejava que tudo não passasse de pensamentos conspiratórios infundados em sua cabeça e a última coisa que queria era que sua amiga Anna Engel realmente fosse uma traidora.Depois de acalmar os nervos, Deirdre pensou em sua conversa com Charlene, antes que um pensamento a atingiss
― Puxa, Dee! Mas que cara é essa? Você não parece estar muito bem. É o frio? É por isso que eu disse para você trazer mais um agasalho além desse moletom fininho! Ainda bem que preparei esse casaco para você, hein? ― Engel resmungou preocupada, enquanto segurava as mãos de Deirdre nas suas, aquecendo-a.Deirdre baixou os olhos enquanto uma guerra de sentimentos conflitantes assolava sua cabeça. Como ela deveria acreditar que a gentil governanta que conhecia há tanto tempo era uma infiltrada o tempo todo? Como ela podia aceitar que estava afeiçoada ao inimigo?Deirdre podia sentir o cuidado desenfreado que parecia ser sincero. Então, por que a mesma mulher gentil trabalhava para aquelas pessoas para prejudicá-la?Brendan puxou Deirdre em seus braços, em um gesto carinhoso. Foi então que a governanta reparou nele e exclamou:― Senhor. Brighthall! Por que você trocou sua bata? ―― Estou pronto para deixar o hospital. ―― Você recebeu alta? Hoje? ― Engel ficou chocada. ― Mas o médico
Brendan sorriu e puxou Deirdre para seus braços. Então apoiou a cabeça no ombro dela, mas uma sombra encobriu seu semblante.― Você se lembra quando eu disse que Southedge era uma cidade parecida com Eastgene, mas com um desenvolvimento muito atrasado? ―― Lembro... ―― Pois é. Parece que as coisas mudaram. ―Deirdre franziu a testa e lançou um olhar de soslaio.― Ué. Como assim? O que você quer dizer com isso? ―― Southedge é uma ilha, então seu desenvolvimento ecoa o de um pequeno país. É completamente diferente de metrópoles como Neve, especialmente quando sua geografia e recursos não se comparam aos de um grande país. Southedge era, no máximo, uma cidade esquecida pelos investidores. De acordo com a informação que Sam me deu no carro, Southedge está se desenvolvendo em um ritmo que poderia eclipsar Neve. ―Deirdre estava perplexa. Neve era uma grande metrópole e era conhecida por todo o país. Southedge, em comparação, era apenas uma ilha remota. Como poderia, de alguma forma
― Por favor! Anestésicos! Por favor... use anestésico... Aaaaggrrhhh! ― A agonia atormentava Charlene. Ela desejava cair inconsciente, mas a dor a mantinha muito acordada e lúcida. Assim, estava presa, sentindo cada etapa daquela tormenta.Enquanto a provação continuava, o homem misterioso, sentado em um sofá em frente a ela, observava e sorria, sem simpatia.― Ah, você não vai conseguir nenhuma droga ou saída para isso, Charlene. Eu quero que você grave essa dor profundamente nas fendas do seu cérebro. Você nunca vai esquecer quem te empurrou para este inferno. ―Com um último grito excruciante, Charlene finalmente desmaiou.Quando a mulher recobrou a consciência, o homem levou um espelho para ela. A luz fria refletia a joia em seu anel, enquanto entregava para Charlene a ferramenta com que observaria quem se tornara.A mulher aceitou o espelho, hesitante, mas tudo o que viu foi um rosto completamente envolto em bandagens, que deixavam ver apenas olhos vermelhos e inseguros.O ó
Deirdre sentiu que o homem tentava suborná-la com carinho, mas isso só a deixou mais irritada:― Me põe no chão, Brendan. Isso não vai funcionar. ―Ignorando a relutância da jovem, o magnata a segurou pela mão e puxou escada acima, na direção do quarto, então a abraçou mais uma vez:― Eu não queria voltar atrás na minha promessa. Se eu soubesse que você tinha medo do escuro não tinha te deixado sozinha no quarto! ―Deirdre estreitou os olhos, antes de negar, indignada:― Eu não estava com medo! ―Brendan deixou escapar uma risada e se aproximou dos lábios dela. A jovem cedeu ao contato e eles se beijaram por um tempo, antes que ela se lembrasse de algo e o afastasse.― Já chega! Vá dormir. ―Antes que o magnata pudesse reagir, a jovem pulou na cama e se enterrou sob o edredom. Brendan deu de ombros e deitou ao lado dela, passando os braços pelo corpo da jovem.― Não está abafado aí dentro? ―Demorou um pouco antes que Deirdre respondesse:― Não. Agora chega de conversa que e
Assim que fecharam a porta do escritório. Sam mal conseguiu conter a excitação.― Senhor, temos notícias do doutor Hank, o oftalmologista! ―Os olhos de Brendan brilharam em surpresa agradável.― Ele está aqui? ―― Ainda não. Mas encontrei uma pessoa que já trabalhou com ele algumas vezes. É a mesma pessoa que o trouxe para Neve, uns dois anos atrás. Isso significa que ela é capaz de trazer ele para cá, mais uma vez. ―― E quem é ela? ―― Emily Collins. ―― Emily Collins? ― O nome tocou um sino. ― Faz sentido que ela o conheça. A família toda dela é de médicos, inclusive, acredito que seja mais apropriado chamá-la de doutora Collins, não é? ―― Sim, é essa mesmo ― Sam assentiu animadamente. ― Ela estudou no exterior e acabou construindo sua carreira por lá, mas voltou esta semana para o funeral do pai. Esta é a nossa chance de fazê-la entrar em contato com o oftalmologista. ―Brendan refletiu sobre isso por dois segundos.― Entre em contato com ela. Veja se ela está disposta
Brendan franziu a testa.― Não. Tudo isso aconteceu. ―Emily soltou o peso no encosto da poltrona.― Ah, sinto muito. Mas isso não tem nada a ver comigo, não é? Mas aqui está a coisa. Sempre consigo o que quero em um negócio. Eu não me contento com barganhas. ―― Isso não é um problema ― respondeu Brendan. ― Eu não vim até aqui para barganhar. ―A voz de Emily baixou sugestivamente.― E se o que eu quiser... for você? ―Os olhos de Brendan ficaram frios e um sorriso irônico bailou em seus lábios. Um segundo depois, o magnata perguntou:― Você está brincando? ―A severidade em seus olhos fez o coração da médica parar por um milissegundo e, apenas quando se recuperou, percebeu o quanto era incomum que alguém causasse aquela reação nela.‘Uau. Esse olhar é incrível.’ Emily não estava tão acostumada a ser a pessoa mais segura de si em qualquer lugar que frequentava que não estava acostumada a sustentar um olhar como aquele. Ela não conseguia se lembrar da última vez que alguém c
Brendan fechou os olhos, colocando as ideias no lugar. Ele seria a forçado a escolher algo que o desagradava, mas assentiu:― Negócio fechado. Você tem um acordo. Quando é a excursão? ―Emily pensou por um momento.― Vamos marcar outro dia. Meu pai acabou de nos deixar e estamos todos de luto, então não há como eu estar com disposição para passear. Ainda assim, farei isso em breve. Você também mal pode esperar, não é, senhor Brighthall? ―― Você tem razão. Por favor, diga-me assim que estiver livre. ―Sem querer continuar a conversa, o magnata saiu sem pensar duas vezes. Emily olhou para as costas que ultrapassavam o hall da mansão e respirou fundo. Então, algo brilhou em seus olhos, uma sede de conquista. ‘Se ele não demonstrou nenhum interesse por mim, essa mulher, quem quer que seja, deve ser muito importante para ele.’Agora ela estava curiosa. Quando retornou para a sala, a mãe, Madame Collins, estava parada de braços cruzados e, vendo o sorriso no rosto da filha, franziu