A febre de Brendan havia levantado uma névoa cerebral e o homem começou a envolver os braços em volta da cintura de Deirdre enquanto um sorriso fácil e alegre surgia em seu rosto. Ele estava livre e não precisava mais fingir ser um bastardo de terno.― Estou com fome. ― Ele murmurou entre suspiros ofegantes. ― Você pode me fazer outro espaguete vegetariano, como da última vez que você me fez? Foi tão bom! Eu sinto falta. ―O rosto de Deirdre ficou branco. O que ele quis dizer com 'a última vez?' Desde quando ela fazia algo assim para ele? A última vez que ela fez isso foi há dois anos! Por que Brendan se importaria com aquilo, do nada? E a maneira como ele se dirigia a ela, o tom que usava, por que parecia tão familiar?Deirdre sentiu todo o corpo tremer. Seus olhos pareciam estar tremendo nas órbitas. A figura de um homem surgiu em sua mente, contra seus desejos mais profundos... Mas aquilo era impossível. Simplesmente ridículo. Absurdo.Ela mordeu os lábios para manter a calma. N
A indiferença esmagou a tempestade emocional que ele mesmo havia criado em Deirdre. Fechando os punhos, ela se esforçou para suprimir a vontade de não soltar a mão no rosto de Brendan.― Sua consciência? Depois de todos os pecados que você cometeu? Depois de todas as vidas que você arruinou? E tudo o que você consegue é sua consciência fraca queimando um buraco em sua alma inexistente!? Sua consciência não vale nada! ―Havia algo ilegível e nebuloso nos olhos negros de Brendan, mas ele conseguiu manter a língua cáustica guardada dentro da boca.― Tudo isso é passado, então você pode parar de falar sobre isso? O que você quer que eu faça? Rale meus joelhos. implorando por perdão? Cresça! ―― Crescer? ― Deirdre quase podia ver manchas pretas dançando diante de seus olhos de tanta raiva. Ela não pôde deixar de zombar. ― Acho que você está certo. Eu preciso crescer e parar de ser tão ingênua. Como eu poderia exigir que o grande e poderoso Brighthall implorasse pelo meu perdão? Como eu
Segurando o celular contra o ouvido, era como se Deirdre tivesse submergido em água gelada.Não obtendo nenhuma resposta, a voz continuou:― Bren? Você está aí? ―Ainda gentil e amigável como sempre. A única coisa que mudava em seu tom era o leve toque de confusão causado pelo silêncio prolongado de Deirdre. Ela sentiu como se seu peito tivesse explodido e seus olhos estavam vermelhos, enquanto continha as lágrimas.Era Declan. Aquela voz, sem dúvidas, era a voz de seu amigo, Declan.Na primeira vez que falou, Deirdre pensou ter confundido a voz dele com a de outra pessoa, mas a segunda vez dissipou qualquer incerteza. Seu cérebro deu um branco e, em um ataque de ansiedade, a jovem acidentalmente deslizou a tela e fez com que a ligação fosse encerrada.O aquecedor ainda funcionava com força total, mas a jovem sentiu seu corpo devastado por solavancos de frio. Seus dentes batiam e, agachada, sentia como se um ninho de vespas voasse no interior de seu crânio, tamanho era o zumbido.
― Eu sei que o chamei de Bren, mas foi apenas um estratagema para cair nas boas graças dele. Acontece quando você realmente precisa da ajuda de alguém. Antes de pedir um favor, você não pode soar como um desgraçado arrogante. Você se lembra do que eu disse agora, certo? Eu perguntei se ele ainda guarda rancor de mim. Esse é realmente o cerne da nossa discordância. Eu odiava sua coragem, então eu saí. Não tentei me explicar ou resolver qualquer conflito entre nós, o que o deixou ainda mais ressentido comigo. Eu até pensei que ele tinha desligado na minha cara porque se recusou a me ajudar. ―Deirdre estava pregada em seu lugar. Ela se lembrava das palavras que Declan havia usado. Se ela estivesse certa sobre o relacionamento de Brendan e Declan, então o último não teria dito algo como ‘você ainda guarda rancor’, não é? Por isso, sua expressão relaxou. Pressionando os lábios com força, ela perguntou:― Então ... você está em apuros, hein? ―― Sim. ―― É muito sério? ― perguntou Deird
― Não precisa da ambulância ― respondeu Deirdre. ― Vamos ao hospital, sozinhos, assim que ele acordar, muito obrigada pela preocupação. ―― Imagina! Que bom que ele está melhor. ―Antes que a pessoa saísse, Deirdre pediu que chamasse uma camareira, a quem entregou todas as roupas molhadas e pediu que as secasse na máquina. Vinte minutos depois, a mulher entregou as roupas e Deirdre pôde, finalmente tirar o roupão de banho.Ela saiu do banheiro bem a tempo de ouvir uma comoção suave no sofá. Brendan acordava com um ataque de tosse.― Há remédios na mesa e água mineral. Suas roupas secas estão na cama ― disse a jovem.Brendan deu a si mesmo um momento para se reorientar, antes de finalmente acordar e responder.― Obrigado. ―Ele trocou de roupa e tomou alguns comprimidos. Apesar de serem amargos, ele engoliu sem uma ruga na testa, enquanto dizia:― Você vai comigo para Neve, hoje. ―Deirdre colocou uma mão na cabeça e encarou o homem, perguntando:― Por quê? ―Brendan tomou um
Mudando de assunto, dos problemas de Brendan para os de Declan, o magnata perguntou:― O que aconteceu em Eastgene? Deirdre me disse que você tem algo a me perguntar. ―Declan contou tudo o que tinha acontecido em sua família e, no final, implorou:― Você vai ter que me ajudar. Eles sempre me consideraram uma pedra no sapato e têm medo de que eu herde o legado da família King e com certeza farão algo a respeito. Brendan, não posso perder essa herança. ―Declan sempre falava com calma, tato e profissionalismo, mas naquele momento seu tom era gelado, provando sua determinação.― Não se preocupe. Com certeza vou te ajudar. ―Quando ouviu a promessa de Brendan, Declan ficou aliviado:― Que bom, Bren... Que bom. Vou dormir um pouco mais. Não descansei o suficiente depois de conversar o dia inteiro. ―― Claro. ―Ao encerrar a ligação, Brendan não parecia tão relaxado quanto seu tom.Ele estava preparado para se divorciar de Deirdre, mas se ele se divorciasse de Deirdre naquele dia,
O peito de Deirdre arfava e ela teve que respirar fundo algumas vezes para se acalmar. As pontas de seus dedos ainda tremiam, mas ao se lembrar da exaustão e impotência na voz de Declan, só conseguiu acenar com a cabeça em concordância, pois acreditava que Kyran faria o mesmo para o amigo.― Combinado, então. Agora venha comigo para comprar duas passagens aéreas para Eastgene. ―Quando Brendan se virou para abrir a porta, Deirdre o deteve.― Espere. ―Cerrando os punhos, ela disse:― Mas, também tenho uma condição. ― Sob o olhar frio de Brendan, ela continuou. ― A condição é a mesma que a exigida para o encontro. ―― Não tocar em você? ―Deirdre não esperava que Brendan pudesse ser tão direto, e seu rosto ficou branco. Depois disso, ela ouviu Brendan zombando.― Fomos até aquele ponto ontem, mas eu cheguei a um ponto irreversível. Você pode ter certeza de que não é nada atraente para mim. ―Deirdre corou e baixou os olhos enquanto dizia:― Espero que você faça o que prometeu.
Mas ela não era mais aquela Deirdre mesquinha e frágil que não conseguiria sobreviver sem Brendan. Ela tinha Kyran e um novo lar. O passado deveria ser deixado para trás.Quando Brendan adormeceu, depois de tomar água, Deidre ainda não sentia sono. Segurando o telefone, a jovem se levantou e encontrou um lugar conveniente para fazer uma ligação. Cuidadosamente, discou o número do telefone de Kyran e colocou o telefone perto da orelha. Mas ninguém atendeu. A jovem tentou, por duas vezes, antes de colocar o aparelho de volta no bolso, sentindo um desconforto no peito.Kyran nunca perdia suas chamadas. Normalmente, atendia a ligação dela quase imediatamente. Consequentemente, isso deu a Deirdre a sensação errada de que estaria lá para ela, sempre que precisasse.Entretanto, conforme o coração se acalmava, Deirdre chegou à conclusão de Kyran poderia estar dormindo, afinal, em Germia, era meia-noite. Mais tranquila, a jovem voltou para sua poltrona, entretanto, quando se aproximava, perc